Um novo tempo… A ditadura
As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas pela repressão à liberdade de expressão e o controle da informação.
As informações eram controladas por um regime, que ditava o que deveria ser noticiado e como deveria ser anunciado.
O sistema educacional seguia nos mesmos trilhos.
O lema “Brasil, ame-o ou deixe-o”, soava como o atual: “Se não gostou, pede pra sair…”
Sim, o sistema educacional era também moldado por esta filosofia.
O lema “a Pátria acima de Tudo” era repetido nas TV’s, nas rádios e nas escolas.
A imprensa acorrentada
A censura tranmitia a falsa impressão de paz, não haver motivos para manifestações, o governo da época não “cometia absolutamente nenhum crime”.
Não havia como divulgar livremente os desvios de recursos públicos, por exemplo, na construção da Usina de Itaipu.
Aqueles que investigassem ou questionassem teriam o mesmo destino que o embaixador José Jobim.
Veja o link CORRUPÇÃO NA CONSTRUÇÃO DA USINA DE ITAIPU PODE TER MOTIVADO A MORTE DO EMBAIXADOR JOSÉ JOBIM – Documentos Revelados.
Perseguidos, desaparecidos e mortos pelo Ditadura não eram mencionados e quando mencionados era sob manchetes falsas.
Por exemplo: a morte de Wladimir Herzog, professor, jornalista, assassinado nos porões da Ditadura após intensa tortura, foi noticiada como suicídio.
A ignorância era requisito para não ser classificado como inimigo do Estado. – Era uma bênção!
Esta é a razão por que muitos dos que viveram naquela época ainda acreditam não haver corrupção ou violência nos governos militares.
A educação, a base, era moldada aos interesses do Governo.
Um excelente resumo
Observe abaixo um trecho extraído do site Le Monde Diplomatique:
“Um Brasil em construção neodesenvolvimentista para a formação profissional, técnica, sem estudos de formação crítica.
História e geografia, por exemplo, eram substituídas por “estudos sociais” com destaque para nenhum tipo de alusão ao escravismo, ao colonialismo, e às contínuas invisibilidades das lutas sociais e populares ao longo dos mais de quatrocentos anos de invasão sob diversas expressões políticas que tendem a expressar, sem discussão, uma ideia de soberania e autonomia nacionais.
Isso sem falar que nesse período, jamais saberíamos logo disto, muitos grandes nomes de pensadores e militantes já estavam mortos. Outros tantos exilados, tendo passado antes por torturas, interrogações, desaparecimentos.
Tudo isso compunha um álbum maior do que o retrato 3×4.
Mas ele não está presente nas casas de parte expressiva da classe trabalhadora, equivocadamente tratada como média no Brasil.
Se de média se trata, nem a da escola, nem a dos valores a tornou de fato consciente sobre esse período que precisa, de fato, ser tirado a limpo por essa mesma geração, agora entre 40 e 50 anos”.
– Veja : A torturante função da educação na década de 1970 – Le Monde Diplomatique
A educação e a arte
A disciplina na época era a mesma de países ditatoriais: “Aprenda o que queremos, nos seja útil” .
Os alunos eram disciplinados a seguir um padrão condicionado por uma elite militar, enquanto as benesses eram dadas a quem a pátria era realmente a mãe gentil.
O sistema educacional se resumia aprender o suficiente para uma profissão mediana, decorar preceitos e datas, cantar hinos nacionais mesmo sem entendimento de uma frase sequer das letras.
Os conceitos de livre pensamento, de livre expressão – de liberdade, eram definidos por aqueles que lucraram com o golpe militar em 1964.
Poetas e Compositores tinham que usar e abusar da criatividade para criticar o sistema, como Chico Buarque nas canções “Vai Passar”, “Cálice” e muitas outras , Caetano em “Tropicália”, bem como muitos outros artistas. – 18 músicas famosas contra a ditadura militar brasileira – Cultura Genial
Uma das mais belas canções compostas neste período, a canção “Novo tempo”, 1980, de Ivan Lins, sinalizava a mudança, a esperança e a incerteza do que viria após este período de trevas.
A mudança era necessária, a disciplina era pelo medo de cair nas mãos de uma polícia que era famosa pela violência.* Apesar dos perigos…
Nessa década a literatura marginal surgiu como um desafio às convenções, mostrando que a arte de escrever poderia e deveria assumir outras formas.
A educação pelo constrangimento
E enquanto isso, nas cidades do interior, alunos eram moldados por mestres impacientes, que não hesitavam em usar de violência física para “facilitar a entrada do conhecimento” nas cabecinhas machucadas.
Um episódio marcante já próximo ao fim do período militar, se deu em 1982, numa cidade do interior da Bahia:
Um aluno de oito anos perguntou à Professora após observar num desfile de 7 de Setembro, o por quê de haver muitos símbolos que representavam a cultura estadunidense, como bonecos do Universo Disney.
Não havia referências à escravidão ou a indígenas.
A professora chateada esbravejou: “ ISSO É CULTURA”, chamando-o de burro!
E aquele aluno, para o bem de sua vida, calou-se, AGRADECENDO a resposta.
A liberdade daquele desfile celebrava o domínio e influência cultural dos Estados Unidos, país que financiou o golpe de 1964 no Brasil e em outros países na mesma década.
A verdadeira cultura, a verdadeira origem do povo, as verdadeiras influências eram renegadas.
Então, em 1985, o regime militar e seu desprezo pela cultura, pela individualidade e pelo acesso à informação chegou ao fim.
A necessidade de repensar e refazer
Enfim, “um novo tempo” precisava ser pensado, o sistema educacional precisava ser repensado para a que formação de verdadeiros cidadãos ganhasse força. Era preciso construir um novo pensamento.
Algo deveria ser REFEITO!
Leia Um novo tempo – Parte 3 Refazer – Jeito de ver
É sobre o que falaremos na PARTE 3.
Notas
* A truculência da sistema policial da época moldou o temor e a confiança que muitos na atualidade têm da Polícia na atualidade.
Em muitos casos verifica-se, ainda hoje, a típica ação violenta comum no Regime Militar nas abordagens a pobres e a negros, ao passo que
mantém a discrição e respeito no tratamento a bandidos ricos e de pele clara.