O Termo “Brega”, para se referir a certas músicas, tornou-se popular na década de 1970, ganhou força nas décadas de 1980 e 1990 e é, hoje, um estilo musical no Pará.
Mas, calma… as coisas não são tão simples assim…
Um pouco de história.
Das décadas de 1940 a 1960, na era de ouro do Rádio, as canções mais populares eram as românticas. As interpretações transmitiam o sentimento por trás das letras nas melodias românticas e o drama em letras bem tristes (é verdade que às vezes, até exageravam um pouquinho no modo de expressar – “Tornei-me um ébrio”, Vicente Celestino é um excelente exemplo de interpretação dramática!).
Você consegue imaginar a dor imposta por Silvinho ao cantar: “Essa noite eu queria que o mundo acabasse, e para o inferno o Senhor me mandasse, para pagar todos os pecados meus...”(?)
Ou o Orlando Silva ” Tu és a criatura mais linda que meus olhos já viram, tu tens a boca mais linda, qua a minha boca beijou…” (?)
O estilo de canto nas décadas anteriores eram influenciados pelo modo de cantar italiano e de países latinos, quanto aos arranjos musicais orquestrais eram também simples, as letras eram bem trabalhadas, lindas, poéticas.
Por fim, na década de 1960, o aparecimento de novos estilos como o Rock’n roll, Bossa Nova e a Tropicália (já quase no fim da década) despertou o desejo de partir para novas experiências.
E então, os jovens de classe média e alta passaram a se referir às canções e ao a estilo dos cantores das décadas passadas como sendo cafonas (que vem do italiano cafone, que significa camponês, indivíduo rude, estúpido), que significa de “péssimo gosto, sem elegância, espalhafatoso”.
A moda agora era a bossa nova, com arranjos marcados pela dissonância dos acordes, num estilo que soava semelhante a uma mistura do samba nacional desacelerado com o jazz americano.
As canções que não se ajustavam aos sofisticados novos arranjos não eram aceitas por essa “nova elite” como sendo música de qualidade.
Enfim, com a chegada da Tropicália, que fundia as influências regionais com o Rock, o declínio do Iê-iê-iê (conhecido hoje como Jovem Guarda) e da Bossa Nova, a música brasileira ganhava agora uma marca pela qual é conhecida até hoje: MPB.
MPB, Música Popular Brasileira, é o termo que define canções com arranjos melódicos um tanto mais complexos e letras bem trabalhadas.
A “elite” amava a MPB (alguns militares nas décadas de 1960 e 1970 não, mas isto é outra história! – Pra não dizer que não falei de flores…) e olhava a música mais popular com um certo desprezo.
Canções com arranjos simples, que falavam de amor de modo simples, canções engraçadas ou que não se ajustassem a determinados gostos perderam a alcunha de “Cafonas” e passaram a ser chamadas “Bregas”.
Mas, por que Brega?
A origem da palavra Brega é controversa, uma das explicações é que ela é derivada de Chumbrega que significa “de má qualidade, ordinário, reles”.
Sentiu um pouco do preconceito? – Pois era isso mesmo!
Mas eram essas canções que vendiam MUITO!
As grandes gravadoras mantinham, às vezes, dois selos, como a Poligram, que tinha a Polidor. Enquanto um selo era responsável pelas gravações de cantores da chamada MPB a outra era especializada em gravar músicas mais comerciais.
O interessante da história é que os chamados cantores bregas vendiam muito mais que os cantores MPB e as gravadoras sabiamente usavam o lucro dessas vendas para produzir novas obras de arte, de cantores de vendagens menos expressivas.
A palavra brega como adjetivo é usada de modo depreciativo, mas quando usada como substantivo designa um ritmo paraense que tem influências nas músicas caribenhas, na lambada e na jovem guarda.
Resumo: O que ficou conhecido pelo nome Música brega não é um estilo ou um ritmo.
A música brega é na verdade um conjunto de canções populares, com arrranjos simples, que falam de amor de forma simples e que tratam da realidade de pessoas comuns. Por isso são canções bem comerciais.
São canções diferentes – como as canções devem ser.
E quando se trata de gostar… quem se ousa a dizer que um estilo é superior a outro?
Música é música.
– Você pode gostar ou não. Ouvir ou não!
E como dizia o Cazuza: “O amor é brega”.
Então… esqueça o rótulo!
Curta as suas músicas preferidas.
Gilson Cruz
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