É cedo e alguém no fim da rua lembrou que ainda havia um daqueles foguetes da festa da democracia da noite passada.
Bem, meus tímpanos perfurados não ficaram felizes com os picos de 118 decibéis das cornetas dos carros — sim, falei carros — que passaram em frente à minha casa, assim como também minha pobre cachorrinha quase infartou.
Pois é, os cães não suportam sons altos.
Imagine então os pobres cachorrinhos de rua; não tente imaginar, deve ser difícil. São apenas cachorros.
Enquanto isso, uma fala indecifrável e rouca repete comandos que mais irritam do que encorajam!
É estranho como mostrar força numa campanha se relaciona mais com a intimidação (que nos remete aos belos tempos de bullying escolar…) do que com planos de governo. Não amadurecemos muito nesse aspecto!
E de repente, sem querer nem forçar a barra, me sinto de volta aos tempos em que não havia microfones e alto-falantes modernos e os candidatos se esgoelavam de modo a serem alcançados por todos os ouvintes…
E apesar da modernidade, vejo candidatos gritando desesperadamente nos microfones, e antes que você se diga: “Gritar é necessário para estimular os eleitores…” — já imaginou este tipo de estímulo dentro de casa?
Bem, para ser eloquente e entusiástico não é preciso se esgoelar; um pouco de modulação no tom do discurso teria um efeito mais positivo.
Mas, enquanto escrevo, um amigo diz: “Isso é política!”
Não posso concordar. A arte da negociação e dos debates de propostas, sem as baixarias atuais no mundo inteiro, a definiria melhor.
E enquanto tento argumentar, uma bomba explode próximo ao meu ouvido, já doente, enquanto os cachorrinhos acuados se encostam, tremendo, nas paredes como se tentassem atravessá-las.
Minha amiguinha de quatro patas se encolhe na poltrona.
Quando eu era jovem, costumava ouvir uma música no rádio que me transportava no tempo. A nostalgia e a alegria que sentia eram incríveis!
Mesmo sem entender a letra, a voz suave da cantora aliviava minhas frustrações. Depois de muito tempo, redescobri aquela canção mágica: “Yesterday Once More”, do The Carpenters.
A letra evoca memórias e sentimentos intensos.
O narrador relembra ouvir suas canções favoritas no rádio, revivendo momentos de sua juventude. A música captura a felicidade e a saudade que essas lembranças despertam, ressaltando como as canções antigas nos levam de volta a tempos mais simples e felizes.
O refrão enfatiza a habilidade da música de nos fazer sentir como se estivéssemos revivendo instantes preciosos, expressando o desejo de revisitar esses tempos por meio das melodias e letras que marcaram uma vida.
O reencontro com a voz impecável de Karen Carpenter e as harmonias esplêndidas de Richard me fizeram recordar a história do The Carpenters. Que tal compartilharmos um pouco dessa história?
O Início
O duo The Carpenters, formado pelos irmãos Karen e Richard Carpenter, surgiu na infância de ambos, em New Haven, Connecticut. Richard se destacou como pianista prodígio, enquanto Karen, inicialmente inclinada para esportes, descobriu seu talento para a bateria e o canto.
Em 1963, a mudança para Downey, Califórnia, foi decisiva. Imersos em um ambiente cultural vibrante, dedicaram-se à música. Richard aprimorou suas habilidades na California State University, Long Beach, e conheceram colaboradores importantes.
Em 1969, formaram “The Carpenters” e assinaram com a A&M Records. Lançaram seu primeiro álbum, “Offering” (renomeado “Ticket to Ride”), que abriu caminho para o sucesso subsequente.
Sucesso e Fama Internacional
O sucesso veio com o álbum “Close to You” (1970) e o single homônimo, que alcançou o primeiro lugar nas paradas dos EUA. A combinação da voz suave de Karen e os arranjos sofisticados de Richard criou um som único, cativando uma ampla audiência.
Outro grande sucesso foi “We’ve Only Just Begun”, que se tornou um hino de casamentos e celebrações.
Os Carpenters ganharam popularidade mundial com suas baladas românticas e melodias cativantes.
Embarcaram em turnês internacionais, marcadas pela perfeição vocal e instrumental, ganhando admiração do público e da crítica. Receberam prêmios, incluindo três Grammy Awards, e suas músicas continuam sendo celebradas.
Problemas de Saúde
Karen Carpenter enfrentou críticas severas e preconceitos que afetaram profundamente sua vida pessoal e carreira, contribuindo para sua luta contra a anorexia nervosa. A pressão para manter uma imagem pública idealizada agravou seu estado de saúde. Essa batalha afetou a dinâmica do grupo, com atrasos na produção musical e interrupções nas turnês.
A luta de Karen destaca a necessidade de um ambiente mais compassivo e de apoio na indústria musical. A história dos Carpenters enfatiza a importância de abordar questões de saúde mental e bem-estar com seriedade, oferecendo lições valiosas para jovens artistas.
Maiores Sucessos
O grupo deixou uma marca indelével na música pop com sucessos como “Close to You”, “We’ve Only Just Begun”, “Top of the World” e “Rainy Days and Mondays”. Essas músicas definiram a carreira dos Carpenters e ajudaram a moldar o cenário musical dos anos 70.
A história dos Carpenters é fascinante por várias razões. Mesmo em uma era dominada pela cultura hippie e pelo novo rock, destacaram-se com um estilo único, oferecendo um contraste notável.
A marca dos Carpenters na indústria musical é profunda e duradoura, inspirando lições sobre perseverança, resistência e autocuidado.
Ouvir “Yesterday Once More” ainda me proporciona belas emoções.
Não me refiro apenas ao envelhecimento natural que vem com o tempo, mas ao processo em que, apesar das histórias que carregamos, tentamos disfarçar com tinturas e atitudes que não combinam mais com o nosso verdadeiro eu.
Como assim? A pessoa não deve tentar se manter jovem ou cuidar da aparência?
Permita-me explicar…
Na infância, somos naturalmente engraçados, desde o jeito de andar até as primeiras palavras e a inocência que nos define. Esta fase é frequentemente a mais bela da vida, enquanto a inocência ainda nos envolve.
No entanto, a infância passa rápido e, às vezes, resiste em dar lugar à adolescência, e essa transição pode ser difícil.
Durante a adolescência, as primeiras paixões podem ser tão comuns quanto músicas ruins em dia de feira – uma experiência inevitável!
Essas primeiras paixões vêm acompanhadas de solidão, insegurança, medo e, muitas vezes, baixa autoestima.
Parece que estamos em um curso intensivo para enfrentar a vida adulta e suas responsabilidades, e talvez para encontrar a companhia que estará ao nosso lado até o fim.
Não estou sendo romântico (apesar de ser naturalmente assim…), mas é exatamente como nos sentimos.
Durante a fase adulta, nossas percepções da realidade mudam. Os sonhos de criança e a dor que se curava com um beijo carinhoso já não têm o mesmo efeito.
As paixões eternas da juventude podem se tornar velhas lembranças, nem sempre tão belas quanto antes.
Percebemos que nem todos os sonhos se realizam e que a vida é uma mistura de ganhos e perdas.
Essas experiências moldam quem somos.
Envelhecer é lembrar que o livro da vida ainda está aberto e deve ser escrito com alegria e vontade – até que a tinta se acabe.
Às vezes, perdemos nossos sonhos e ambições. Na tentativa de esquecer o que não pode acontecer, podemos tentar apagar tudo o que remete ao passado, o que pode nos afastar das pessoas que amamos.
Esquecemos das virtudes que nos aproximavam e começamos a olhar com desprezo até mesmo para aquilo que nos alegrou por muito tempo.
Não sabemos mais o que amamos, o que esperamos ou por que amamos e esperamos.
Nos tornamos pessoas impacientes!
Assim, quando a velhice chega, pode parecer que toda a nossa história, com erros e acertos, não valeu a pena. Tornamo-nos rabugentos e solitários.
Sim, a consciência da brevidade da vida pode encurtar a nossa visão. Não enxergamos mais horizontes e passado, que são rascunhos da nossa história. As linhas escritas parecem esboços inúteis.
Essa experiência é comum a todos, e a forma como a encaramos pode fazer a diferença.
Os sonhos não precisam ser os mesmos, assim como a aparência também não é mais a mesma.
No entanto, a velhice não significa o fim da capacidade de amar e de sentir alegria. É uma oportunidade para repensar.
Houve perdas e ganhos!
Saber rir, aceitar os novos traços e fios descoloridos pode ser o caminho para abraçar a si mesmo e valorizar as pessoas que amam você.
Não são tinturas ou procedimentos estéticos que nos manterão jovens para sempre!
Envelhecer e permanecer jovem é lembrar que o livro da vida ainda está aberto e deve ser escrito com alegria e vontade – até que não haja mais tinta.
Sabe aquelas pessoas que estampam em seus rostos reluzentes os mais belos sorrisos, mas que no fundo carregam o peso de estar em outra realidade?
Há muito tempo, ouvi a história do Palhaço, conhecido pelo dom de trazer alegria e risos a todos que assistiam aos seus espetáculos.
Dizia o conto que uma pessoa muito triste procurava por muito tempo a ajuda de profissionais sem alcançar resultados.
Um profissional amigo, preocupado, sugeriu: – “Olha, soube que na cidade há um palhaço capaz de alegrar o dia de todo mundo. Que tal assistir à sua apresentação?”
Ao que o amigo respondeu: – “Não posso, Doutor. Eu sou o Palhaço!”
Cada pessoa carrega seus próprios sonhos e dramas.
Cada pessoa carrega seus próprios sonhos e dramas.
Alguns desses dramas são imperceptíveis aos olhos de outros e, convenhamos, alguns desses dramas nem mesmo elas conhecem a origem.
Experiências traumatizantes na infância, que deveria ser a mais bela fase da vida, podem trazer reflexos na vida adulta.
Bullying, abuso psicológico, físico, rejeição, abandono e humilhação podem deixar marcas profundas, resultando em crises de ansiedade e outros problemas emocionais na vida adulta.
O fato de tais experiências estarem escondidas no labirinto da memória pode externar a impressão de que nada está acontecendo, o que agrava ainda mais o desespero de não saber a origem dos gatilhos.
E lá no fundo, os dramas que não conhecemos estão cobrando um preço!
Segundo alguns pesquisadores, até mesmo problemas durante a gestação podem moldar a saúde mental de um adulto.
Mas, o que fazer?
Primeiro, esteja presente. Seja companheiro, aprenda a ouvir.
Lembre: costumamos ser míopes quando olhamos o sofrimento dos outros. A humanidade precisa de empatia.
Segundo: Apoie.
O tratamento profissional é necessário e, por se tratar de algo desenvolvido por toda uma vida, não haverá solução rápida. É necessário ter paciência. – Não é isso que a gente espera do mundo e o mundo espera de nós?
Não se trata de uma questão de fé ou crença, é uma questão de saúde.
Esteja atento, seja companheiro, apoie e incentive a busca profissional. Não critique!
Caso estes dramas também o aflijam, busque a ajuda de verdadeiros amigos e profissionais da área.
O quadro do dia amanheceu como todos os outros: sol, nuvens, ventania… mas algo está diferente!
Não me refiro às nuvens de inverno desta manhã. O sol volta a aparecer a qualquer momento…
Digo que a cada dia, mudamos um pouco…
As experiências deixaram marcas… de uma forma ou de outra. Mas, ainda nos resta o hoje!
As histórias de ontem já estão escritas e é impossível apagar mesmo um traço daquilo que está registrado.
Se no ontem houve tropeços, choros, lágrimas, sorrisos, risos ou muita alegria, as telas do hoje já estão prontas para receber novas matizes. Sim, ainda há a possibilidade de assentar contornos àquilo que não foi completado ontem.
As pedras em que tropeçamos ontem, podem ser reajustadas. O choro e as lágrimas podem ser a marca daquilo que se precisava para preencher a arte do novo dia.
O riso, o sorriso e a alegria são as recompensas daquilo que deu certo – e que deve ser relembrado, celebrado, para a beleza do hoje.
No quadro de hoje surgirão novas tintas, novos rabiscos, novas ideias…
Tudo pode acontecer, assim como o nada também pode acontecer – e que isso não signifique ansiedade, tédio ou medo de não estar vivendo o que desejaria viver.
O sol, as nuvens, a ventania estão – no mesmo lugar… faça a diferença hoje.
Adicione as cores, o brilho e a nitidez e mesmo as sombras.
Refletir sobre o amor pelo nosso trabalho é essencial para uma vida repleta de significado. Realizar tarefas que não nos satisfazem torna cada momento um fardo pesado, com os minutos se arrastando e afetando nosso ânimo e relações.
Em contraste, ao encontrar propósito no trabalho e perceber seus benefícios coletivos, ele se torna mais leve e gratificante. O sentimento que nutrimos pelo nosso trabalho e o propósito que lhe atribuímos são determinantes para os resultados alcançados.
Por exemplo, se filhos ajudam na limpeza da casa sentindo-se explorados, o trabalho é feito com ressentimento, prejudicando a todos e desperdiçando energia. Mas se entendem que estão contribuindo para o bem-estar comum, a tarefa é realizada sem frustração.
Da mesma forma, um funcionário que resiste a vender um produto por desconforto pessoal pode até ter sucesso nas vendas, mas sem satisfação.
Conhecer e refletir sobre os benefícios do produto pode mudar essa percepção, facilitando o amor pelo trabalho.
A forma como executamos nossas tarefas espelha o amor que temos por elas, e esse amor é necessário para dar sentido à nossa existência.
Portanto, ressignificar é a palavra.
Seja no trabalho ou nas adversidades da vida, há sempre algo a se aprender.
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