A serra era e ainda é verde
E havia e ainda há uma estrada
E do outro lado
Havia um pequeno lago
E as pequenas meninas saíam para brincar
Sim, na serra verde
Havia um lago
E as duas irmãs mergulharam
Para não mais voltar…
E para não esquecer
O povoado
Um trágico nome recebeu.
Cada novo dia que se apresenta é como um esboço a ser preenchido com os detalhes.
Se rabiscos errados acontecerem ou se as cores perderem o tom, haverá a possibilidade da inovação.
Sim, quando cometemos equívocos é natural gastarmos tempo e energia, pensando naquilo que poderia ter sido feito.
Muito mais, porém, conseguiremos se canalizarmos nossas preocupações naquilo que podemos fazer para melhorar numa próxima tentativa ou em uma próxima oportunidade.
Traços ondulares podem se transformar em belas montanhas ou incríveis ondas do mar…dependerá daquilo que se imaginar!
Assim, aproveite os deslizes e transforme cada movimento numa particularidade nesse novo esboço.
Cada erro, deve seer transformado numa lição.
Mas, não apague os detalhes!
Eles serão úteis na continuação deste esboço amanhã.
E quando a obra da vida estiver completa, se entenderá como cada traço contribuiu para uma arte única: A arte de viver.
“Se me ponho a cismar em outras eras Em que ri e cantei, em que era bela, Parece-me que foi noutras esferas, Parece-me que foi numa outra estrela”.
“A Rua” – Mario Quintana
Não sei se o prédio da Prefeitura era cinza ou se essa é a cor da minha memória, mas era verão quando lá cheguei, há muito tempo.
Os velhos bancos deteriorados numa velha praça de imensas árvores nativas, sem ladrilhos, castigada pelo andar de milhares de pessoas ao longo dos velhos anos.
De frente com a praça, a tradição de Seu João do Bar, a meiguice da Professora Marlene e os doces risos iluminados de Dona Lourdes.
Senti-me bem-vindo.
Dona Maria Medrado e as velhas fotografias falavam um francês perfeito e um belo inglês – privilégio de uma antiga elite.
Lembro das histórias que contava…
Suas fotografias me deixaram apaixonado e as histórias de sua vida, seu primeiro amor, seus pais, primos e irmãos me mostraram o quanto a vida muda em tão pouco tempo.
Caminhando mais à frente, havia o Paço Municipal e um espaço que seria, no futuro, a Câmara Municipal dos Vereadores.
Antes, as sessões eram realizadas num velho espaço na Praça da Bandeira, vizinho ao cadastro de Serviço Militar, de onde podia ver o Clemenceau Teixeira.
O Clemenceau era o antigo colégio onde os alunos pareciam felizes por estudar.
Aquele prédio onde, havia muito tempo, tratavam as folhas do fumo, lá conheci a Nair.
Nair era jovem, linda, como era também lindo o seu jeito de falar. Amava o Fernando Mendes e Giz, da Legião Urbana.
Amiga das melhores histórias e que jovem se foi.
Na mesma rua havia a Delegacia de Polícia e o delegado Joanito e o cabo Bellini.
Joanito era amável e corajoso.
Disfarçado, em uma ocasião, conseguiu abater um bandido extremamente violento.
Mas era paciente.
De lá havia uma subida para a rua, que seria o alto do sossego, e descia a Rua da Casa Forte… onde morei e descobri os escorpiões…
Não, não sou amigo deles. Era lá que moravam as crianças Yana, Everaldo, Nil… e no número 16, a Nair.
Naquela rua havia ainda o rebuliço; uma pessoa querida havia perdido a vida. Afogado.
Triste começo.
Descendo a Rua da Casa Forte, havia a entrada para a rua do Minadouro, ou Minador, onde sempre morará em minhas memórias a Professora Dinalva.
Ela amava me presentear com mangas e mangas.
Eu amava Dona Dinalva e Dona Edite, a encarregada de me entregar.
As velhas e belas árvores embaladas pela ventania me encantavam tanto quanto me assustavam.
Como era uma rua sem saída, então costumava voltar e andar em nova direção pelas ruas 2 de Julho, onde morava o Bigu e o meu amigo Nereu.
Nereu morava no Rio, amava o Vasco e me explicava política… se tornou colega de trabalho.
Havia também um campo próximo à Rua 2 de Julho, e por isso chamavam-na também de Rua do Campo (e isso me enlouquecia; numeração repetida era sinônimo de confusão…)
A rua de cima era a Rua Elísio Medrado, tio da Dona Maria, da primeira rua em frente à praça, que me disse uma vez ser este uma pessoa muito bondosa.
Que ajudava os doentes.
Não sei se, por coincidência, esta rua levava ao município com o mesmo nome, mas antes, na metade do caminho, me permitia descer e visitar Pedra Branca, onde conheci a Almerinda.
Impossível não amar a Almerinda… sempre preocupada com os filhos.
Mas, desta vez, voltei da Rua e encontrei a Rua das Pedrinhas e, de lá de cima, vi a pequena ponte entre as ruas 2 de Julho, Pedrinhas e a Praça da Bandeira, vizinha à Duque de Caxias.
Resolvi não voltar pelo mesmo caminho; segui em frente e cheguei à rua Alto da Boa Vista.
De lá de cima, olhei a primeira rua.
O grande prédio da Igreja.
A minha praça favorita, onde fui vizinho por um tempo.
Fotografia por Jeitodever.
A Praça Ápio Medrado.
Fotografia por Jeitodever.
Vi a Rua José Batista, Castro Alves, Armando Messias…
Não havia muitas ruas.
Talvez o casarão em frente à agência onde trabalhei por dez anos ainda guarde as memórias de uma linda bailarina que um dia passou as férias naquela pequena cidade.
Ou a pequena agência da época guarde a tristeza de estar só, por tanto tempo.
Talvez pareça estranho lembrar tanta coisa depois de quase trinta longos anos…
Recordo a Moreninha, a prefeita eleita na ocasião, Clemente, o ex-prefeito da época, Dona Antonia, Dona Margarida, meu irmão Rubão e a estrada que levava a Castro Alves…
Onde os moradores revoltados um dia queimaram pneus em protesto pelas péssimas condições da pista…
Dia histórico!
Quando cheguei, a cidade era pequena e talvez não tenha crescido tanto.
Tive receios de voltar e encarar as memórias.
A cidade era pequena e grande para mim, que não conhecia muitas pessoas e que se apaixonou por todos de uma maneira bem especial, embora vivesse sozinho, longe da família e dos velhos amigos.
O vento soprava nas minhas madrugadas e, por muitos anos, foi o som das minhas noites.
Me traziam versos que não pude compartilhar e que destruí quando chegou a hora de partir.
E parti.
E a imagem daquela pequena cidade ainda permanece gravada, como uma fotografia, em minha mente.
Impossível não recordar a Ene se preocupando em ajudar as pessoas, o amor entre as famílias com quem pude trabalhar, a Ellis que amava a Argentina, o incrível Doutor Marcos…
Impossível esquecer o céu e a lua, nascendo brilhantes no horizonte, entre os montes, fazendo companhia a mim e aos meus livros e ao violão, naquela mesma velha praça. Cheia de árvores.
Fotografia por Jeitodever
Há muitos ainda na memória, se transformando em palavras, na minha saudade…
Muitos ainda habitam as minhas memórias e sonhos.
As recordações me arrebatam aos meus vinte e três anos, quando a cidade apenas começava a despertar.
Onde a lua, as ruas escuras e a solidão de minha pequena casa me ensinavam o duro processo de crescer.
E meus passos se apagaram, como os passos daqueles que caminharam na velha praça antes de mim.
Talvez, no futuro, com cabelos ainda mais grisalhos, eu volte e trabalhe apenas mais um dia na terra em que comecei… faça as pazes comigo mesmo e abrace pela última vez, para sempre, o meu pequeno lar.
A cidade de Santa Terezinha.
“Mas, as coisas findas, Muito mais que lindas, estas ficarão”
– Carlos Drummond de Andrade
Não me refiro apenas ao envelhecimento natural que vem com o tempo, mas ao processo em que, apesar das histórias que carregamos, tentamos disfarçar com tinturas e atitudes que não combinam mais com o nosso verdadeiro eu.
Como assim? A pessoa não deve tentar se manter jovem ou cuidar da aparência?
Permita-me explicar…
Na infância, somos naturalmente engraçados, desde o jeito de andar até as primeiras palavras e a inocência que nos define. Esta fase é frequentemente a mais bela da vida, enquanto a inocência ainda nos envolve.
No entanto, a infância passa rápido e, às vezes, resiste em dar lugar à adolescência, e essa transição pode ser difícil.
Durante a adolescência, as primeiras paixões podem ser tão comuns quanto músicas ruins em dia de feira – uma experiência inevitável!
Essas primeiras paixões vêm acompanhadas de solidão, insegurança, medo e, muitas vezes, baixa autoestima.
Parece que estamos em um curso intensivo para enfrentar a vida adulta e suas responsabilidades, e talvez para encontrar a companhia que estará ao nosso lado até o fim.
Não estou sendo romântico (apesar de ser naturalmente assim…), mas é exatamente como nos sentimos.
Durante a fase adulta, nossas percepções da realidade mudam. Os sonhos de criança e a dor que se curava com um beijo carinhoso já não têm o mesmo efeito.
As paixões eternas da juventude podem se tornar velhas lembranças, nem sempre tão belas quanto antes.
Percebemos que nem todos os sonhos se realizam e que a vida é uma mistura de ganhos e perdas.
Essas experiências moldam quem somos.
Envelhecer é lembrar que o livro da vida ainda está aberto e deve ser escrito com alegria e vontade – até que a tinta se acabe.
Às vezes, perdemos nossos sonhos e ambições. Na tentativa de esquecer o que não pode acontecer, podemos tentar apagar tudo o que remete ao passado, o que pode nos afastar das pessoas que amamos.
Esquecemos das virtudes que nos aproximavam e começamos a olhar com desprezo até mesmo para aquilo que nos alegrou por muito tempo.
Não sabemos mais o que amamos, o que esperamos ou por que amamos e esperamos.
Nos tornamos pessoas impacientes!
Assim, quando a velhice chega, pode parecer que toda a nossa história, com erros e acertos, não valeu a pena. Tornamo-nos rabugentos e solitários.
Sim, a consciência da brevidade da vida pode encurtar a nossa visão. Não enxergamos mais horizontes e passado, que são rascunhos da nossa história. As linhas escritas parecem esboços inúteis.
Essa experiência é comum a todos, e a forma como a encaramos pode fazer a diferença.
Os sonhos não precisam ser os mesmos, assim como a aparência também não é mais a mesma.
No entanto, a velhice não significa o fim da capacidade de amar e de sentir alegria. É uma oportunidade para repensar.
Houve perdas e ganhos!
Saber rir, aceitar os novos traços e fios descoloridos pode ser o caminho para abraçar a si mesmo e valorizar as pessoas que amam você.
Não são tinturas ou procedimentos estéticos que nos manterão jovens para sempre!
Envelhecer e permanecer jovem é lembrar que o livro da vida ainda está aberto e deve ser escrito com alegria e vontade – até que não haja mais tinta.
O quadro do dia amanheceu como todos os outros: sol, nuvens, ventania… mas algo está diferente!
Não me refiro às nuvens de inverno desta manhã. O sol volta a aparecer a qualquer momento…
Digo que a cada dia, mudamos um pouco…
As experiências deixaram marcas… de uma forma ou de outra. Mas, ainda nos resta o hoje!
As histórias de ontem já estão escritas e é impossível apagar mesmo um traço daquilo que está registrado.
Se no ontem houve tropeços, choros, lágrimas, sorrisos, risos ou muita alegria, as telas do hoje já estão prontas para receber novas matizes. Sim, ainda há a possibilidade de assentar contornos àquilo que não foi completado ontem.
As pedras em que tropeçamos ontem, podem ser reajustadas. O choro e as lágrimas podem ser a marca daquilo que se precisava para preencher a arte do novo dia.
O riso, o sorriso e a alegria são as recompensas daquilo que deu certo – e que deve ser relembrado, celebrado, para a beleza do hoje.
No quadro de hoje surgirão novas tintas, novos rabiscos, novas ideias…
Tudo pode acontecer, assim como o nada também pode acontecer – e que isso não signifique ansiedade, tédio ou medo de não estar vivendo o que desejaria viver.
O sol, as nuvens, a ventania estão – no mesmo lugar… faça a diferença hoje.
Adicione as cores, o brilho e a nitidez e mesmo as sombras.
Saber que nem sempre conseguiremos alcançar as nossas metas parece fácil.
Por exemplo, às vezes, percebemos que o esforço por algo valeu à pena. Quando os resultados são perceptíveis, nós ficamos felizes.
Mas, em algumas situações tudo que fazemos se parece um mero rascunho, sim, as coisas parecem não estar no lugar correto… ficamos desanimados. E agora?
Isso acontece quando sentimos a falta de encorajamento, elogios e apoio.
O encorajamento é o ato de inspirar, motivar ou dar apoio a alguém, incentivando a continuar em direção a seus objetivos ou a superar desafios. A falta desse apoio pode gerar sentimentos de insegurança e desânimo.
Elogios podem ser definidos como expressões de apreço, admiração ou reconhecimento dirigidas a alguém por suas habilidades, realizações ou comportamento positivo.
A competitividade atual tornou a chamada “crítica construtiva” mais comuns que elogios sinceros. Isso talvez porque o crítico muitas vezes se apresente como alguém em uma posição superior à do criticado.
O elogio quando dado de forma correta pode surtir efeitos bem mais positivos do que as chamadas críticas construtivas. Quando o elogiado entende o motivo do elogio, isso o motivará a repetir ou melhorar ainda mais o desempenho.
O elogio quando dado de forma correta pode surtir efeitos bem mais positivos do que as chamadas críticas construtivas.
Por outro lado, o que fazer quando há algo a ser aprimorado?
Mostrar o caminho, dar o exemplo é muito mais produtivo do que gastar todo o vernáculo do mundo em “críticas construtivas”.
E enfim, apoio.
Este pode ser definido como suporte físico, moral ou emocional para ajudar a alguém em necessidades, nos objetivos ou desafios. Fornecendo recursos, encorajamento, orientação ou assistência prática.
A falta destes três elementos pode gerar a sensação de que todo o esforço, não foi o bastante.
Aprender que nem sempre se chegará ao fim do percurso é essencial para ter um conceito correto a respeito de si mesmo. Mas, não se deve desprezar aquilo que foi alcançado ou parcialmente alcançado.
No dia a dia, aplique o princípio dos três elementos citados (encorajamento, elogio e o apoio). Seja você mesmo aquilo que se espera nos outros. As boas atitudes, também são contagiantes!
Lembre, na teia em que vivemos, cada movimento afetará, de forma positiva ou negativa, a vida de quem nos cerca.
Que cada vibração que dermos nesta teia espalhe a energia necessária para que cada um possa espelhar e espalhar a mesma força também aos demais.