Um novo tempo – Parte 2 ( Repensar)

Uma velha televisão. Não havia liberdade de expressão quando o Brasil esteve sobre o Regime Militar.

Imagem de StockSnap por Pixabay

Um novo tempo…

As décadas de 1960 e 1970 foram marcadas pela repressão à liberdade de expressão e o controle da informação.

As informações que chegavam por meio dos veículos de comunicação eram controladas por um regime, que ditava o que deveria ser noticiado e como deveria ser anunciado. O sistema educacional seguia nos mesmos trilhos.

Àqueles que prezavam a liberdade de pensamento e o direito à liberdade o bordão: “Brasil, ame-o ou deixe-o”, algo como o atual: “Se não gostou, pede pra sair…”

Sim, o sistema educacional era também moldado por esta filosofia.

O lema “a Pátria acima de Tudo” era repetido nas TV’s, nas rádios e nas escolas.

Tal controle transmitia a falsa impressão de não haver nenhum motivo para manifestações ou reclamações por parte do povo e que  o governo da época não cometia absolutamente nenhum crime.

Não havia quem investigasse o desvio de recursos por parte do governo como, por exemplo, na construção da Usina de Itaipu. Aqueles que investigassem ou questionassem teriam o mesmo destino que o embaixador José Jobim. Veja o link CORRUPÇÃO NA CONSTRUÇÃO DA USINA DE ITAIPU PODE TER MOTIVADO A MORTE DO EMBAIXADOR JOSÉ JOBIM – Documentos Revelados.

Os perseguidos, desaparecidos e mortos pelo sistema não eram mencionados e quando mencionados era sob manchetes falsas. Por exemplo: a morte de Wladimir Herzog, professor, jornalista, assassinado nos porões da Ditadura após intensa tortura, foi noticiada como suicídio.

A ignorância era requisito para não ser classificado como inimigo do Estado. – Era uma bênção! – Razão por que muitos dos que viveram naquela época ainda acreditam não haver corrupção ou violência nos governos militares.

A educação, a base, era moldada aos interesses do Governo.

Observe abaixo um trecho extraído do site Le Monde Diplomatique:

Um Brasil em construção neodesenvolvimentista para a formação profissional, técnica, sem estudos de formação crítica. História e geografia, por exemplo, eram substituídas por “estudos sociais” com destaque para nenhum tipo de alusão ao escravismo, ao colonialismo, e às contínuas invisibilidades das lutas sociais e populares ao longo dos mais de quatrocentos anos de invasão sob diversas expressões políticas que tendem a expressar, sem discussão, uma ideia de soberania e autonomia nacionais.

Isso sem falar que nesse período, jamais saberíamos logo disto, muitos grandes nomes de pensadores e militantes já estavam mortos. Outros tantos exilados, tendo passado antes por torturas, interrogações, desaparecimentos. Tudo isso compunha um álbum maior do que o retrato 3×4. Mas ele não está presente nas casas de parte expressiva da classe trabalhadora, equivocadamente tratada como média no Brasil. Se de média se trata, nem a da escola, nem a dos valores a tornou de fato consciente sobre esse período que precisa, de fato, ser tirado a limpo por essa mesma geração, agora entre 40 e 50 anos”. – Veja : A torturante função da educação na década de 1970 – Le Monde Diplomatique

Você pode ler o inteiro artigo citado acima no link do  Le Monde diplomatique.

A disciplina na época era bem semelhante ao que acontece hoje em países ditatoriais: “Aprenda o que queremos, nos seja útil” .

Os alunos, assim como todos os brasileiros, eram disciplinados a seguir um padrão condicionado por uma elite militar, que moldava TUDO conforme os seus próprios interesses, ao passo que as benesses eram dadas a SEUS filhos, a militares e a “amigos do sistema” – para quem a pátria era realmente a mãe gentil.

O sistema educacional se resumia aprender o suficiente para uma profissão mediana, decorar preceitos e datas, cantar hinos nacionais mesmo sem entender uma frase sequer do que se cantava, sem nenhum espaço à criação ou ao imaginário.

O popular sistema ‘flor vermelha de caule verde’, ilustrado no conto do artigo anterior.

Os conceitos de livre pensamento, de livre expressão – de liberdade, eram definidos por aqueles que lucraram com o golpe militar em 1964.

Poetas e Compositores tinham que usar e abusar da criatividade para criticar o sistema, como Chico Buarque nas canções “Vai Passar”, “Cálice” e muitas outras , Caetano em “Tropicália”, bem como muitos outros artistas. – 18 músicas famosas contra a ditadura militar brasileira – Cultura Genial

Uma das mais belas canções compostas neste período, a canção “Novo tempo”, 1980, de Ivan Lins, sinalizava a mudança, a esperança e a incerteza do que viria após este período de trevas.

Pensar além dos muros da repressão poderia resultar em prisão ou mesmo em morte.

A disciplina era pelo medo de cair nas mãos de uma polícia que era famosa pela violência*, os alunos era condicionados ao comportamento “bom rapaz, direitinho”, da música do Tom Zé e não à reflexão, “raciocinar” em tais períodos era um ato desafiador, marginal.

Nessa década a literatura marginal surgiu como um desafio às convenções, mostrando que a arte de escrever poderia e deveria assumir outras formas.

E enquanto isso, nas cidades do interior, alunos eram moldados por mestres, muitas vezes impacientes, que não hesitavam em usar de violência física para “facilitar a entrada do conhecimento” nas cabecinhas machucadas.

Um episódio marcante já próximo ao fim do período militar, se deu em 1982, numa cidade do interior da Bahia, quando um aluno de oito anos perguntou à Professora após observar num desfile de 7 de Setembro, que havia muitos símbolos que representavam a cultura estadunidense, como bonecos do Universo Disney. Não havia referências à escravidão ou a indígenas.

A professora chateada esbravejou: “ ISSO É CULTURA”, chamando-o de burro!

E aquele aluno, para o bem de sua vida, calou-se, AGRADECENDO a resposta.

A liberdade daquele desfile celebrava o domínio e influência cultural dos Estados Unidos, país que financiou o golpe de 1964 no Brasil e em outros países na mesma década. A verdadeira cultura, a verdadeira origem do povo, as verdadeiras influências eram renegadas.

Então, em 1985, o regime militar e  seu desprezo pela cultura, pela individualidade e pelo acesso à informação chegou ao fim.

Enfim, “um novo tempo” precisava ser pensado, o sistema educacional precisava ser repensado para a que formação de verdadeiros cidadãos ganhasse força. Era preciso construir um novo pensamento.

Algo deveria ser REFEITO!

Leia  Um novo tempo – Parte 3 Refazer – Jeito de ver

É sobre o que falaremos na PARTE 3.

* A truculência da sistema policial da época moldou o temor e a confiança que muitos na atualidade têm da Polícia na atualidade.

Em muitos casos verifica-se, ainda hoje, a típica ação violenta comum no Regime Militar nas abordagens a pobres e a negros, ao passo que

mantém  a discrição e respeito no tratamento a bandidos ricos e de pele clara.

Comentário (1)

  • Márcia Chaves| 5 de novembro de 2023

    https://youtu.be/0s2Gs_LTUCw?feature=shared

    Cada parte do texto UM NOVO TEMPO merece rever a situação através do link compartilhado.

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