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Cinquenta anos – muito ou pouco?

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Imagem de Mircea Iancu por Pixabay

O Tempo na Infância e na Adolescência

O tempo é estranho, e sua noção, perturbadora. Em uma corrente de milhões de anos, cinquenta anos podem não significar nem um único elo sequer. Mas, quando falamos sobre a vida, quantas coisas podem acontecer!

Na infância, geralmente, não se pensa no tempo. As crianças vivem o seu próprio tempo, sem tantas preocupações; a criatividade aflora enquanto o pequeno ser procura dar significado ao mundo ao seu redor. E este mundo, apesar das dificuldades, costuma ser belo. Pequeno, mas povoado por pessoas amadas que, normalmente, estão lá com preocupações e cuidados.

Nessa fase, a idade dos pais não existe, apenas um amor recíproco.

Com a chegada da adolescência, o tempo ganha um novo significado. Os jovens passam a conhecer a pressa e o desejo de realizar sonhos, e o tempo parece não ajudar. Querem dinheiro, liberdade, construir – querem experimentar de tudo. É um período de atitudes rebeldes e desilusões constantes.

É engraçado quando me lembro de quando era um menino de 12 anos e o meu irmão tinha 17; costumava achar a diferença de idade imensa. Como eu disse, as percepções mudam com o tempo.


Reflexões Sobre o Tempo e a História Pessoal

Você já teve a impressão de que o tempo está passando muito mais rápido? Na era da informação e da tecnologia, estamos ocupados e distraídos demais, e isso faz com que percamos a noção do tempo.

Se você, há algum tempo, achava que de um Natal a outro era um intervalo imenso, lembre-se de que as coisas mudaram – ninguém tem mais tempo para uma boa contemplação. Mas, por que é importante tomar tempo para contemplar?

Eu poderia contar um pouco da minha história. Quando nasci, meu pai tinha apenas 31 anos e mais sete filhos. Bem naquele tempo, eles não perdiam tanto tempo! Ele casou-se em 1963 e, em vinte e um anos de vida, já havia presenciado eventos marcantes como:

  • O auge e o fim da Segunda Guerra Mundial,
  • As bombas de Hiroshima e Nagasaki,
  • O suicídio do presidente Getúlio Vargas em 1954,
  • A guerra da Coreia,
  • A derrota do Brasil na Copa de 1950 para o Uruguai no Maracanã,
  • Os dois títulos mundiais da Seleção em 1958 e 1962.

Localmente, meu pai viu o desastre do engavetamento entre os trens Alagoinhas e o Peri-Peri, viu seu pai abandonar a família, trabalhou na infância vendendo cocadas nos subúrbios, até ser admitido na RFFSA, conhecer minha mãe, casar-se e sustentar tanto a nova família quanto a da minha avó.

Milhares de coisas podem acontecer em um espaço curto de tempo! Ele tinha apenas 21 anos. Se pudéssemos listar tudo o que ele vivenciou ao longo dos seus 72 anos, a lista seria imensa. Infelizmente, sua história foi interrompida por um câncer agressivo.

Eu jamais havia pensado nisso durante a adolescência. Costumava olhar meu pai e não o via como um velho. Cabelos brancos, voz firme, ele reclamava e ria. Acreditava que pais não envelhecem!


Ressignificando o Tempo

Os tempos mudaram e o modo como o percebemos também. Hoje sou pai de uma menina de 15 anos, e toda geração de 15 anos quer a mesma liberdade e a experiência de tudo. Fiquei espantado (e confesso, um pouco triste) quando ela, num ato de rebeldia, disse:
– “Você, com essa cara, um velho de 50 anos, não é uma pessoa legal…”

Isso me fez parar para pensar no tempo.

Trabalhamos a vida inteira, estudamos, nos preocupamos e esquecemos que o tempo não parou enquanto tudo isso acontecia. O tempo não parou nos dias de sol abrasador ou durante as tempestades. O tempo não parou quando as pessoas que amávamos partiram – ele continuou, frio, mas cheio de histórias.

A conclusão é que precisamos ressignificar o tempo. Ele não é inimigo, mas um amigo que precisa ser contemplado e aproveitado. Não espere o amanhecer para abraçá-lo. Faça agora!

O amanhã é um rascunho, e haverá muito a ser preenchido se aproveitarmos o tempo. Em um breve espaço de tempo, o mundo estará aberto para aqueles que se derem um pouco de sorte – e souberem contemplar a vida. Aprendam a viver o tempo!

 

Leia também Retratos da vida – o que deixamos passar ‣ Jeito de ver

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Meu Triste Sertão (a última seca)

 

 

O chão sofrido era sépia,
As plantas  tristes, cinzas
Azul era o céu, sem nuvens…
A pele queimada era marrom
As folhas secas, eram pretas

E verde eram as barragens
Onde o gado se deitava
Em preces, para dormir,
e que jamais acordava

Onde os meninos pescavam
sonhos em improvisos.
Onde insetos moravam
O sol era de um eterno amarelo,
assim como o meu sorriso.

Como a estrada que deixamos para trás
Queimava a pele
Devorava matos, sonhos não vividos
E que não sonho jamais

Dos vagos espaços no teto
Por onde as estrelas passavam
Fugia também a esperança
De quem a chuva aguardava

E fugia do sertão,
Para sofrer n’outras paragens
Onde a sede não matava
E a água seria a bênção,

não a miragem…

Na velha carroça
Levava o quase nada
Só a vida…
Só os sonhos…
E a esperança da chegada

Ao lugar do outro lado
onde se encontrassem as cores,
E a primavera como um rio
que levasse as lembranças sépias
da tristeza, da morte…das dores.

Gilson Cruz

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Programa Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca | Portal SEIA

 

O chão sofrido era sépia,
As plantas  tristes, cinzas

Banda Acordes – a Banda que não aconteceu

A história da banda que não acconteceu.

A história da banda que não acconteceu.

Imagem de Cristhian Adame por Pixabay

 

Quando alguns sonhos não se realizam, nascem histórias que alimentam novos sonhos”

– Gilson Chaves

 

Permita-me contar um pouco da História da Banda Acordes – A Banda que não aconteceu.
O mês de Dezembro de 1987, foi marcado por uma tragédia familiar, a perda do Tio Salomão, aos 36 anos de idade, vítima de um AVC.
Naquele verão, fui ao rio Paraguaçu para espairecer, aquele era o melhor lugar do mundo pra isso. No verão, as pessoas fugiam dos fornos de suas casas e mergulhavam naquelas águas escuras.
Havia um lugar conhecido como “a Prainha”, era um espaço de aproximadamente 50 metros, situado à margem esquerda, onde aos domingos as famílias iam para pequenas partidas de futebol de areia, para a prática da capoeira ou para piqueniques, quando as duas primeiras opções permitiam.
Duzentos metros à esquerda deste lugar, as mulheres tratavam “o fato” dos bois ao amanhecer, deixando no ar da região um “perfume” característico. Provavelmente nenhum outro lugar no mundo tinha aquela fragrância, levemente desagradável…
Não à toa, os cachorrinhos da região olhavam e cheiravam, com uma certa admiração e desejo, os banhistas daquele lugar!

O Início

Naquele lugar, se deu o primeiro contato com o Valdomir.
A gente tinha a mesma idade e  ele tinha um conhecimento básico de violão.

A memória me trai, mas de algum modo ele sabia que uma das lembranças que eu guardava do meu tio era uma “dedeira” – um adaptador que ajudava a extrair um som mais acentuado dos bordões do violão.

Me perguntou naquele dia se poderia levar o violão e testar a dedeira. Consenti.

E naquele dia ouvi pela primeira vez um dedilhado perfeito de The House of the Rising Sun.
Não conhecia nenhum acorde no violão e o novo amigo, com o tempo, me ensinou a tocar “Meu Pequeno Cachoeiro”, em três acordes.

A amizade se desenvolvia e consequentemente os planos de montar uma banda também também cresciam.

Ele tinha um violão Tonante, boca de osso, como era conhecido – cujo timbre se assemelhava ao das guitarras sessentistas.
Ganhei de meu Pai, com uma certa dificuldade, um velho Di Giorgio, segunda mão, que tinha uma aparência sofrida, castigada pelo uso dos velhos seresteiros, mas uma sonoridade maravilhosa.

O vendedor conseguiu vender caro o violão moribundo, mas não enriqueceu com a façanha.

A formação

Paralelamente, Pedrinho, o irmão de Valdomir, se tornava um dos melhores baixistas da época.

Tocou em bandas como a Eclyps ( sim, essa era a grafia,  e que ninguém se ouse a dizer que está errada!) e na Fluid’ Energy (sei lá o que é isso! Mas, esse era o nome, ou algo parecido) que era praticamente a mesma banda Eclyps, com um nome diferente.

Pedro era guitarrista e baixista virtuoso.
Não cantava bem, mas tocava MUITO, muito bem.

Para a bateria, o amigo Dilson Borges.

Dilson era o mais experiente de todos. Já havia trabalhado em bandas como a Doce Magia e, se não me falha a memória, na Legenda.
Apesar de intuitivo, improvisava tranquilamente do Rock ao Jazz. A marcação e as viradas perfeitas eram a sua marca.

Era então início da década de 1990 e a base estava formada. Mas, havia um porém… nenhum dos membros tinha dinheiro para comprar instrumentos, nem sequer usados!

A aquisição de instrumentos musicais não era tão fácil como é hoje.

Costumávamos treinar usando velhas caixas de repique e pratos para percussão ( emprestados de escolas) e os violões Tonante e Di Giorgio, na marcação de baixo e guitarra.

O repertório era vasto. Trazia desde clássicos dos anos 60 até o Pop do início dos anos 80 e 90.

As dificuldades

A inocência às vezes beira a burrice, como diziam os antigos da cidade.
Depois de muitos ensaios decidimos produzir uma fita demo. E a peregrinação atrás de quem pudesse emprestar alguns instrumentos começou.

Convenhamos, os músicos da época, que batalharam por seus instrumentos, ou que receberam de seus pais que podiam lhes bancar,  tinham um ciúme especial e natural por estes, não era muito agradável emprestá-los a possíveis concorrentes.

Por isso a negativa costumava vir de modo disfarçado, no ditado quase popular: “Quem quiser também fazer um som, deveria também trabalhar para conseguir os seus próprios instrumentos”.

A Banda Acordes conseguiu um dia numa sede de uma bandinha, ainda início de carreira, a permissão para usar os instrumentos e a aparelhagem para gravar uma demo.

Dilson não estava presente e foi o melhor que poderia acontecer, pois durante os ensaios o dono dos equipamentos desregulava intencionalmente, causando sons extremamente desagradáveis.

O desapontamento só foi maior quando ele se dirigiu em particular ao Pedrinho nas seguintes palavras: -“Eu NÃO gosto de emprestar meus equipamentos. Quem quiser gravar ou fazer algo bom, que lute pra comprar os seus…” (Olha o dito quase popular!)

– Um NÃO mais objetivo doeria bem menos!

A peregrinação voltaria acontecer, desistir não era a opção. A demo deveria sair.

E assim se deu.

Sem instrumentos e sem lugar para tentar gravar uma fita apresentação. As coisas estavam realmente difíceis.

Três anos de lutas e quase sem esperança, nos dirigimos ao Senhor Adalberto de Freitas, o Bugaiau, o principal comunicador e incentivador da cultura da cidade, pedindo uma oportunidade de gravar umas canções em seu estúdio.

Contrariando as expectativas, o senhor Adalberto riu e concordou. Ficamos em êxtase!
Até esquecemos que não tínhamos os instrumentos!

A gravação no Studio Som da Cidade, do Bugaiau, começaria às 13 horas.
E então a romaria atrás de pessoas que talvez  cedessem os benditos instrumentos, começou.
Zé da Leste, cedeu um pequeno teclado de 3/8, os meninos dos Bárbaros do morro emprestaram uma guitarra, a bateria não me lembro de quem Dilson conseguiu, mas era boa.

Consertamos, então, um velho e lindo contrabaixo vermelho, de sonoridade horrível, mas que funcionou, para a sessão. 

O repertório trazia The Beatles, Procol Harum, Jovem Guarda e algumas canções românticas.
A sessão foi marcada pelo entusiasmo, pelos vocais de Juarez e com exceção do Dilson, nós três revezávamos nos demais instrumentos, de acordo com a música. O dia foi longo, cansativo e posso dizer, um dos melhores dias da minha vida – até então.

Ao sair dos estúdios do Som da Cidade, a realidade caiu como uma tempestade no inverno, gelada e triste.

O fim

O amigo que cedeu a bateria explicou ao Dilson, que não mais a emprestaria, e talvez estivesse correto, era difícil também para ele!

Os meninos dos Bárbaros continuaram dispostos a ajudar, essa sempre foi uma característica deles.

O dono do contrabaixo, ao saber do conserto, pediu de volta imediatamente…

Infelizmente, a vida testava a paciência da banda.

Com o tempo o Valdomir encontrou a mulher que se tornaria a mulher de sua vida, o Pedro voou para São Paulo, Dilson desistiu da Banda e quanto a mim, fui trabalhar nos Correios, lá em Santa Terezinha.

15 anos depois resolvi voltar e investir nos instrumentos e tocar um pequeno projeto com o meu baterista favorito: o Dilson.
Ele costumava rir e dizer: – “Mané, você não desiste nunca”
E a resposta: “Pois é, Mané…Como é que se desiste? A gente não pode desistir..”

Numa desses diálogos repetitivos, dos manés, a gente tocava Reflections of my life, do grupo The Marmalade.

E as horas se apressaram, os dias correram desesperados, para que em poucas semanas, um acidente vascular cerebral respondesse a pergunta: “Como é que se desiste?”
E o sonho de fazer a banda, acabava ali.

Na morte do irmão e melhor amigo.

As lembranças

Apesar de não ter sido, a Acordes foi uma boa Banda. Os ensaios eram engraçados e as canções soam maravilhosamente bem em minhas memórias afetivas.

Depois de 33 anos, de fato, um longo tempo, voltei a ouvir a algumas daquelas fitas.

Não chorei, apesar da vontade. Algumas lembranças me fizeram esquecer as dificuldades e extrair um pouco daquela alegria, do tempo em que o sonho era apenas fazer música.

Ao ouvir hoje as velhas gravações, um misto de emoções invadem a minha mente.

Vocais desencontrados, guitarras desreguladas, contrabaixos às vezes exagerado, as brincadeiras do Valdomir fazendo palhaçadas, conseguindo rir da falta de condições, o olhar desiluidido do Pedrinho imaginando o fim do projeto e o Dilson  fazendo milagres numa caixa improvisada…

É verdade que hoje, a saudade é o melhor palco que existe, os subtons se transformam em estilos – e o pequeno público, na maior multidão.

A banda Acordes ainda vive quando lembro de quatro amigos, que mesmo contra os ventos e tempestades, estavam juntos planejando fazer algo diferente.  O que de algum modo, fizeram.

 

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Infelizmente, a vida testava a paciência da banda…

Até esquecemos que não tínhamos os instrumentos!

Ele costumava rir e dizer: – “Mané, você não desiste nunca”

E a resposta: “Pois é, Mané…Como é que se desiste? A gente não pode desistir..”

O pequeno mundo de Lis ( Poema à Felicidade)

 

“Lis,
Me diz,  menininha levada
O que te deixa feliz?

“Besouros no Jardim?
Flores vermelhas?
Ou achas as mais belas
Rosas amarelas?

“Existem rosas amarelas?
Me permita, então, vê-las!
Seriam as mais serenas
que as margaridas vermelhas?

“Neste universo do existe
nunca, nada permita
bichinhos, carinha triste…

“Nem gritos no ar
Ou luzes no céu
Nem flores caídas
em meio ao papel…

“Ria com as flores
com as cores
Sorria…

“E quando faltarem palavras
Nessa cabecinha agitada
Me mostra, pequena Lis
na dança, no canto
No sonho…
O que te deixa feliz…”

Gilson Cruz

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Vivendo sem Roteiro – Os Desafios da vida

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Imagem de Tumisu por Pixabay

A Vida Não é um Roteiro de Ficção

A vida não segue um roteiro pré-escrito; a ideia de que ela deve ser capítulos de eternas emoções e reviravoltas pode ser um mero delírio. Nas novelas, filmes e seriados, há sempre uma trama entre mocinhos, vilões, suspenses e desfechos resolvidos em poucas horas, dias ou meses.

Na realidade, muitas vezes criamos nossos próprios vilões, projetando mágoas e desapontamentos em pessoas que não compartilham das mesmas afinidades ou não correspondem às nossas expectativas. Assim, acabamos roteirizando nossas vidas com intrigas e a busca incessante por um final feliz, como se estivéssemos presos a uma narrativa dramática que nos privasse da espontaneidade de simplesmente viver.


A Vida como uma Maratona

Em vez de compará-la a um espetáculo para as telonas, talvez seja mais justo ver a vida como uma maratona. Nessa jornada, apesar de todo o preparo, há incertezas sobre o final. O maratonista sabe que há outros ao seu lado, com os mesmos objetivos, e que os “adversários” não são inimigos, mas companheiros que também lutam por seus sonhos.

O verdadeiro protagonista não despreza seus adversários e, em momentos de necessidade, pode até abrir mão do primeiro lugar para ajudar outro em dificuldade. Na vida real, nem tudo é sobre vencer, mas sobre seguir em frente respeitando as regras e reconhecendo o valor do outro.

Ao contrário do roteiro de um filme, que colocaria obstáculos épicos como traições extremas ou desastres naturais, a vida real é mais sutil e complexa. Ela oferece a chance de se apaixonar e amar de forma genuína, sem a presença de vilões tentando destruir tudo. Erros e recomeços fazem parte da caminhada, sem um script pré-definido.


Monotonia e o Ritmo da Vida

A vida não tem pressa em resolver todos os problemas em um curto espaço de tempo; seu ritmo é definido pela maturidade de cada um. Monotonia não é o fim, mas uma oportunidade de reflexão e planejamento. Há quem deseje emoções constantes, vivendo em busca de adrenalina e prazeres instantâneos, caindo em um ciclo vicioso de insatisfação.

No entanto, os momentos de aparente calmaria são valiosos para o autoconhecimento. Aceitar a monotonia é parte do amadurecimento, uma chance de enxergar que a vida é muito mais do que episódios cheios de ação.

A liberdade de viver cada dia como se escolhe é o que torna a vida única e especial. E, diferente das novelas e filmes, a vida real não precisa de roteiros para ser extraordinária – basta ser vivida.

Gilson Cruz

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Trem da vida (uma mensagem simples) ‣ Jeito de ver

Ao Lado nos Belos Instantes

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Imagem de Catkin por Pixabay

 

Nos mais belos momentos de sua vida, de quem você se recordou?

Quem você gostaria que estivesse lá, ao seu lado,

contemplando o sol ao amanhecer ou o mesmo observando o despontar da lua atrás das montanhas?

Quem você gostaria que estivesse ao seu lado,

celebrando todas as conquistas,

dividindo as esperanças,

ou apenas abraçando sem motivo algum – se o amor não for o motivo?

Nos momentos mais extraordinários da vida,

de quem seria o riso, ou as palavras que você gostaria de ouvir?

De quem seriam as mãos e o rosto que você desejaria tocar?

Mesmo que pareça insano…

Ela esteve lá...sempre esteve lá.

Ela te acompanhou por todos estes momentos e em tuas alegrias ou frustrações esteve presente…

Ainda que apenas em teus pensamentos… em tuas memórias… em teus sonhos!

Gilson Cruz

 

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Ao vizinho do 61 – Muito Obrigado!

Uma porta marrom, uma parede cinza. Um texto para reflexão.

Imagem de Arek Socha por Pixabay

 

 

A Primeira Impressão 

Meu caro vizinho da casa 61

Sei que a vida anda apressada ultimamente, é verdade, e são raras as vezes que tenho a oportunidade de te encontrar — sem essa pressa maldita, tão comum às pessoas.

Mas quero te agradecer.

Confesso que, vendo a disposição e a força com que realizas tão bem os teus trabalhos, sempre acreditei que eras um Super-Homem.

Por isso, quando te cumprimentei com aquele simples “bom dia”, eu não esperava ouvir tantas histórias.

Saber que tu enfrentas sentimentos como a solidão, a depressão e problemas da natureza humana diariamente me ajudou a considerar melhor a minha vida. Eu, que vivo entre livros e músicas, que torço por um time que não ganha um título nacional desde 1989 e que sempre acreditei também não haver nada errado com o Senhor.

Percebi que, constrangido, narravas um pouco dos teus problemas de infância e quantas visitas ao hospital a tua saudosa mãe se via obrigada a fazer. Chorar ao recordar alguém que te amava e que também se importava tanto contigo não é crime. Fez muito bem!

Eu jamais saberia, é certo, que, apesar dessa força que mostras nos teus passos, há um ser humano mais forte ainda. Pois lidar com certos problemas pode ser desgastante e desanimador — e alguns, infelizmente, desistem no caminho.

Não, eles não são fracos! Eles lutaram, também!

Talvez, não encontrassem ouvidos sinceros, de pessoas que se importassem.

Hoje em dia, quando as pessoas perguntam “Como está?”, o fazem por formalidade, muitas vezes sem nenhum interesse nos outros. Querem ouvir a única resposta que as agrade, para se isentarem do peso de serem úteis!

Quando te cumprimentei e ouvi a tua história, ganhei muito mais do que motivos para acreditar.

Ganhei uma razão para continuar.


Lições de Alguém que Escuta

Disseste-me sentir a falta de teu pai, tua irmã, teus amigos — me identifiquei, pois os meus livros, apesar de maravilhosos, não compartilham os meus sentimentos.

Por favor, peço apenas que não desanimes ao encontrares aqueles que querem apenas ouvir um “estou bem”, por estarem ocupados demais com os seus próprios egos. É duro admitir, essas pessoas existem e pouco se importam com os outros. Vão te dizer que falar dos teus problemas é fraqueza, que existem coisas mais importantes pra pensar, mas não esmoreça.

Entenda: desabafar é também uma maneira de reorganizar os pensamentos, e aquele que te escuta, se for sincero, terá o privilégio de aprender e crescer junto contigo.

Te peço perdão por não ter me lembrado de perguntar o teu nome, mas a tua história de lutas e sofrimento ainda me comove e me inspira. Continue a luta.

Agradeço por ter confiado a tua história e a tua voz a um desconhecido que também nem sabias o nome. Acredito que todo o altruísmo foi teu. E, numa próxima ocasião, espero encontrar-te novamente e conversarmos um pouco mais, compartilharmos experiências e termos a chance de conhecer também a tua família, tocarmos algo em meu velho Di Giorgio e descobrirmos os teus talentos.

Agradeço e até uma próxima oportunidade,

Pedro,
Teu vizinho do Nº 15

Como seria … (O Poema de um novo dia). ‣ Jeito de ver

O Mundo Pequeno de Mundinho – um conto ‣ Jeito de ver

Gilson Cruz

 

O Mundo Pequeno de Mundinho – um conto

A comovente história de um menino, o Mundinho e seu pequeno mundo.

Imagem de Charles Nambasi por Pixabay

Memórias de Infância

Sabe aquelas histórias que só acontecem na infância e que você jamais esquece? Muitos anos se passaram, e hoje, a minha mente cansada se confunde sobre o que foi real e o que foi imaginado, na busca de um sentido.

Lembrei hoje de uma velha amizade… velha como o tempo.

Na minha infância, não conheci ninguém tão arisco quanto o Mundinho. O moleque era desconfiado. Ninguém sabia ao certo se isso se devia aos pais, que não eram lá muito dados ao diálogo, ou ao uso inovador do chinelo e do cipó das folhas de araçá, que costumavam soar como tambores nas pernas e costas do menino ao menor sinal de travessura.

Eles eram pessoas horríveis!

“Ah! Mas, naqueles dias, todos os pais eram meio carrascos”, você talvez argumente. Era comum, mas não precisavam ser assim.

Apesar dos pais, o mundo parecia bom e pequeno para ele. E, embora eu tivesse apenas nove anos de idade (a mesma idade que ele), eu já sabia que, quando ele aparecia lá em casa, pouco depois do almoço, alguma coisa ruim tinha acontecido!

A gente costumava compartilhar o pouco que tinha. Apesar das dificuldades que a pobreza, a falta de compreensão e a violência dos pais traziam, Mundinho era um bom amigo.


O Menino Mais Rápido da Cidade

Nas brincadeiras de correr, ninguém lhe alcançava. O pobre batedor de latas sabia que adivinhar onde se escondia o pequeno arredio era missão quase impossível. Ele se escondia nos lugares mais improváveis: sob os bancos da praça, no topo dos postes ou nas árvores mais altas. Não havia lugar impossível para ele.

Eu, nas minhas limitações, costumava dizer:
— Meu irmão, eu queria ser como você. O carinha mais rápido da cidade. Você pode ser atleta, policial, o que quiser ser quando crescer.

Mundinho ria. Alguém o admirava, e isso acalentava a dor de ser chamado de “inútil”, “preguiçoso”, “erro de Deus” ou coisas piores.

Mas, naquela tarde específica, ele apareceu lá em casa amedrontado como nunca. Disse que não mais voltaria para casa, pois seus pais iriam tirar-lhe a vida. Seus pais jamais lhe deram presentes, jamais lhe abraçaram. Não percebiam que as marcas das surras estavam agora gravadas na pele como tatuagens na alma.


Esconde-esconde

Naquela noite, durante as brincadeiras de esconde-esconde, todos foram encontrados. Exceto ele. O Mundinho. A busca se tornou uma peregrinação. Procuramos em todas as árvores, postes e bancos da cidade. Mas não buscamos nas nuvens, esquecemos de olhar para o céu.

Era tarde, desistimos da procura.
— Ele já deve estar em casa e dormindo — dizíamos.
Voltamos todos para nossas casas.

Confesso que não dormi em paz naquela noite. A imagem do Mundinho, dizendo que ganharia o mundo e desapareceria, me atormentou. Quando finalmente adormeci, já era quase manhã.


O Adeus de Mundinho

Poucos dias depois, as chuvas trouxeram mais que água às margens do rio. Um grupo de pescadores encontrou o corpo de um menino preso entre as pedras, envolto em roupas abóbora e vermelhas. Não podia ser ele. Ele era esperto demais para estar ali.

Mas era.

A escola seguiu seu curso, e as aulas na turma dele não foram suspensas. Talvez para preservar os coleguinhas. Não sei. Desde então, nunca mais vi seus pais. Mas ainda recordo as marcas dos cipós e chinelos em suas pernas e braços.

Hoje, depois de muito tempo, ainda penso naquela noite e naquele início de dia. Não sei se ele brincava de esconder quando desapareceu, se havia decidido se despedir da tristeza ou se se escondeu nas nuvens e de lá nos olhava.

O mundo parecia pequeno demais para ele. Merecia algo melhor.


Nota Final

Pais, amem seus filhos! As cicatrizes da infância podem ser eternas.

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As mudanças na mente e no corpo.

O Encanto do Passado e as Memórias Selecionadas

Já se perguntou alguma vez: “Por que o passado parece tão melhor que o presente?”

Para responder a esta pergunta, é necessário mergulhar com sinceridade nas memórias e entender que as nossas concepções e perspectivas de mundo se adaptam a novas experiências.

Na infância, a vida se resume a brincadeiras e à proteção de pais e parentes. Nas memórias dessa fase, os momentos mais difíceis – como quedas, perdas, doenças e situações semelhantes – tendem a ser ofuscados por lembranças marcantes, geralmente felizes.

Por outro lado, a puberdade traz a ebulição hormonal, a instabilidade emocional e as atitudes rebeldes que, muitas vezes, resultam em situações que serão motivos de vergonha por anos a fio.


O Caminho do Amadurecimento

As mudanças e transformações no corpo e na mente fazem parte de um processo que chamamos de amadurecimento. Durante essa fase, o vigor da juventude, aliado ao entusiasmo e ao fogo da infância, cria a ilusão de que tudo é possível!

Por isso os exageros: cada paixão é um amor eterno; cada erro, um desastre imperdoável; cada crítica, uma punhalada; e cada rejeição sofrida, um pecado sem perdão. O curioso é que essas paixões, tão intensas e sofridas, logo são substituídas por novas – com as mesmas características.

A adolescência é como um reflexo exagerado do que alguém será ao amadurecer. Com o tempo, o ex-adolescente poderá refletir as atitudes que tanto criticava nos pais:

  • A seriedade diante da vida,
  • A preocupação com as contas da casa,
  • E o foco em questões mais importantes.

Enfim, aprenderá a perdoar os erros do passado, aceitar as críticas e lidar com as próprias falhas. Descobrirá que rejeições são necessárias e que muitas vezes é preciso aprender a dizer “não”.


A Aceitação das Mudanças

Com o tempo, talvez não se reconheça mais o brilho no olhar, os traços no rosto ou a energia de outrora. Perceberá que para estar no presente, relembrando e questionando o passado, foi necessário mudar, aceitar transformações e amadurecer – mesmo que isso significasse abrir mão de desejos e traços da própria personalidade.

Chegará o momento de perdoar paixões infelizes, livrar-se de remorsos e abraçar a compreensão de que assim é a vida. Cada tempo trouxe sua parcela de experiências e ensinamentos, e ainda há muito por viver.

Assim, finalmente, viverá a maturidade – um estágio que permite valorizar o presente, sem as ilusões do passado, mas com a sabedoria que ele proporcionou.

Gilson Cruz

Amizade ao Longo da Vida – definições ‣ Jeito de ver

E esquecemos as Guerras …

Novas notícias substituem as velhas, que acabamps esquecendo.

Imagem de hosny salah por Pixabay

Gilson Cruz

A Perda de Importância aos Acontecimentos

Você já percebeu que, à medida que os eventos se desenrolam e se tornam de certo modo corriqueiros, passamos a dar-lhes menor importância? Quantos de nós se recordam que, na quinta-feira, 24 de fevereiro de 2022, os russos invadiram territórios ucranianos?

Revisando: em dezembro de 2021, o presidente russo, Vladimir Putin, apresentou à Otan algumas exigências de segurança, entre elas que a Ucrânia nunca integrasse o bloco militar oriental, pois, segundo ele, a expansão de tal grupo significaria uma ameaça à sua integridade territorial. As notícias da guerra bombardeavam os telejornais, que, por meses, se dedicaram a contar as várias versões dos motivos da guerra.

Tal guerra continua e já ceifou aproximadamente 200 mil vidas. Porém, à medida que os dias passam, as notícias tornam-se uma alternância de “velhas” novidades e já não prendem mais os telespectadores, saturados de péssimas notícias. Esperam algo mais: uma solução, talvez.

Pode ser desanimador saber que a violência cresce sem motivos legítimos, somada à falta de confiança nas motivações dos líderes envolvidos na guerra e à consequente sensação de impotência causada por tais notícias. Enquanto isso, os jornais precisam anunciar para continuar a existir e, para divulgar seus anunciantes, precisam de público. Por isso, passam a transmitir aquilo que interessa ao telespectador.

Corrupção, violência, casos de xenofobia, preconceito, inflação e até mesmo algumas reportagens fofinhas antes do fim do dia tentam lembrar que coisas boas ainda existem — tudo para não perder audiência.

Novas Tragédias Ganham os Holofotes

Até que, de repente, surgem novas notícias terríveis. No dia 7 de outubro de 2023, um grupo terrorista que já vinha ensaiando um ataque contra Israel, e sendo observado, executa o seu plano sem resistência alguma. Jovens que participavam de uma rave no deserto foram executados. A indignação tomou conta do mundo, pois os telejornais cumpriram o seu papel de divulgar o incidente.

A resposta do governo israelense foi, e tem sido, a mais perversa possível. Apesar de o governo israelense vilipendiar já há muitos anos o povo palestino, encontraram desta vez “o motivo” para levar adiante seus atos violentos. Com o apoio dos Estados Unidos e sob o pretexto de caçar os terroristas, o exército de Israel vem bombardeando e exterminando uma parte da população palestina.

Estima-se que a população palestina, em Gaza, seja de aproximadamente dois milhões, enquanto os terroristas associados ao grupo do ataque sejam entre vinte e cinco e quarenta mil. O número de vítimas inocentes tem aumentado a cada dia. Por exemplo, quando as vítimas chegaram a 15.900, cerca de 6.000 eram crianças e 4.000 eram mulheres. Destes, aproximadamente 800 militantes terroristas foram mortos.

Investiu-se muito na propaganda de que se trata de uma guerra contra o terrorismo. Contudo, os fatos mostram que se trata de uma ação de extermínio de um povo. Os palestinos, que já eram tratados como subumanos pelo governo israelense, receberam tratamento similar de alguns órgãos de imprensa mundial. Alguns tentaram justificar as mortes dos inocentes.

O Peso do Esquecimento

E como muitas outras vezes, o leitor pode ter se cansado de ver e ouvir falar das péssimas notícias. Atendendo à demanda, o noticiário faz a sua parte em vender notícias como entretenimento. Enquanto param de pensar, crianças e inocentes continuam a ser sacrificados e humilhados, sem direito a alimento, água ou luz em meio aos escombros.

Condenadas a levar em suas memórias a imagem de milhares de corpos enrolados em tecidos brancos, enterrados em valas comuns, e o som das bombas ao anoitecer — imagens que condenarão outras ao mesmo destino. Sem o direito de serem crianças.

Esquecer tais fatos favorece apenas ao agressor. E, mesmo que as notícias se calem e esfriem, as vítimas estarão lá. Sempre lá.

Não as esqueçamos.

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*Atualização 24/12/2023.

o número de vítimas dos ataques do  exército de Israel  à Palestina já ultrapassa 20 mil.

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