O tempo é estranho, e sua noção, perturbadora. Em uma corrente de milhões de anos, cinquenta anos podem não significar nem um único elo sequer. Mas, quando falamos sobre a vida, quantas coisas podem acontecer!
Na infância, geralmente, não se pensa no tempo. Nesta fase, as crianças vivem o seu tempo, sem tantas preocupações; a criatividade aflora enquanto o pequeno ser procura dar significado ao mundo ao redor. E este mundo, apesar das dificuldades, costuma ser belo. Pequeno, mas povoado de pessoas amadas que, normalmente, estão lá com preocupações e cuidados.
Nessa fase, a idade dos pais não existe, apenas um amor recíproco.
Com a chegada da adolescência, o tempo ganha um novo significado.
Os jovens passam a conhecer a pressa e o desejo de realizar sonhos, e o tempo parece não ajudar. Querem dinheiro, liberdade, construir – querem experimentar de tudo. Neste período, as atitudes rebeldes e as desilusões são constantes.
É engraçado quando me lembro de quando ainda era um menino de 12 anos e o meu irmão tinha 17; eu costumava achar a diferença de idade imensa. – Como eu disse, as percepções mudam com o tempo.
Você já teve a impressão de que o tempo está passando muito mais rápido? – Na era da informação e da tecnologia – estamos ocupados e distraídos demais e isso faz com que percamos a noção do tempo.
Se você há algum tempo achava que de um Natal a outro era um tempo imenso, lembre-se de que as coisas mudaram – ninguém tem mais tempo para uma boa contemplação. Mas, por que é importante tomar tempo para contemplar?
Bem, eu poderia contar um pouco da minha história. Quando nasci, meu pai tinha apenas 31 anos e mais sete filhos (bem naquele tempo, eles não perdiam tanto tempo!).
Ele casou-se em 1963 e daí veio uma escadinha de crianças. Em vinte e um anos de vida, na ocasião em que se casou, já havia presenciado o auge e o fim da Segunda Guerra Mundial, as bombas de Hiroshima e Nagasaki, e pouco tempo depois aconteceu uma tentativa de golpe político que culminou no suicídio do presidente Getúlio Vargas em 1954. A guerra da Coreia, a derrota do Brasil na copa de 1950, no Maracanã, para o Uruguai, e os dois títulos mundiais da Seleção em 1958 e 1962.
Localmente, viu o desastre do engavetamento entre os trens Alagoinhas e o Peri-Peri, viu o seu pai abandonar a família, trabalhou na infância vendendo cocadas nos subúrbios, até ser admitido na RFFSA, conhecer a minha mãe, casar-se e sustentar tanto a nova família quanto a da minha avó.
Milhares de coisas acontecem num espaço curto de tempo! – Muito mais que isso aconteceu, e ele tinha apenas 21 anos!
Se pudéssemos alistar todas as coisas que ele pode vivenciar ao longo dos 72 anos, quão longa seria a lista dos fatos. Mas, a sua história foi interrompida em decorrência de um câncer agressivo!
– Jamais havia pensado nisso na minha adolescência.
Costumava olhar meu pai e não o encarava como um velho. Cabelos brancos, voz firme, ele reclamava e ria. – Acreditava que pais não envelhecem!
Os tempos mudaram e o modo como o percebemos também. Sou hoje, pai de uma menina de 15 anos, e toda geração de 15 anos quer a mesma liberdade e a experiência do tudo. E me deparei com espanto (e confesso, um tanto de tristeza) quando ela, num ato de rebeldia, disse:
–“Você com essa cara, um velho de 50 anos, não é uma pessoa legal…” – Palavras de uma adolescente.
E parei para pensar no tempo…
Trabalhamos uma vida inteira, estudamos, nos preocupamos e esquecemos que o tempo não parou enquanto essas coisas aconteciam. O tempo não parou para que você descansasse nos dias de sol abrasador ou quando as tempestades caíram. O tempo não parou quando as pessoas que você amava partiram – ele continuou, frio – mas, cheio de histórias.
A conclusão é que as pessoas precisam ressignificar o tempo. Ele não é inimigo! É um amigo que precisa ser levado em conta, contemplado e aproveitado! Não espere amanhecer para abraçá-lo. Faça agora!
O amanhã é um rascunho e haverá muito o que se preencher se aproveitarmos o tempo, pois nm espaço breve de tempo, o mundo estará aberto para outros que se derem um pouco de sorte – contemplem a vida. Aprendam a viver o tempo!
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Comentário (1)
Gilmar Chaves| 19 de março de 2024
O tempo perguntou pro tempo:
-Quanto tempo tem o tempo?!
O tempo respondeu ao tempo:
-O tempo tem o tempo que o tempo tem!
Nessa fase de lembranças, gosto e sinto falta do tempo em que tive 17 anos de idade. Marcou muito a minha vida. Como mencionado no supracitado, a adolescência faz com que às vezes falemos ou façamos coisas instantaneamente, como um estalar de dedos, ações que surgem repentinamente. Mas os 17 têm um pouco de anseio de chegar aos 18.
Boas recordações nos fazem reviver! Forte abraço.