De repente, voltei a ser o assunto principal nas conversas…
Estava em paz, no meu cantinho do universo, e lá vem vocês com um tal de “apareceram lá em New Jersey, Massachusetts, Connecticut, Pensilvânia, Virgínia e até lá no Pará”.
Vocês acham que a minha vida é de viagens eternas?
Desafios Terráqueos e a Realidade Alien
Tanta estrela por aí… e eu vou cair na tolice de entrar num planeta onde os seres só pensam em dominar os mais fracos e acabar com todos os recursos?
Veja só, dia desses inventei de alugar uma casa em Londres, estava disfarçado. Lá os preços estão os três olhos da cara… desculpe, são apenas dois!
É que por lá “os mercados” (vocês adoram essa expressão por aqui), o nome que se dá às poderosas instituições financeiras e comerciais, compraram tudo, e são eles que determinam o valor do aluguel de imóveis. E sabe no que resultou?
O preço subiu tanto, que acredito que sou o primeiro alien caloteiro das galáxias! Tive que sair antes de ver a polícia chegar…
Eu tenho certeza de que esses malditos têm profundo interesse em perpetuar a pobreza e as diferenças sociais. A lógica é: quanto mais terráqueos carentes, maior a concorrência por trabalho.
E, quando a busca é maior que a oferta, o valor cai…neste caso, a mão de obra fica baratinha…
Mão de obra barata também é uma forma de escravizar (o povo daqui não sabe!).
Veja você, enquanto isso, aqui do outro lado vejo países em guerra, outros massacrando seus vizinhos… Lá no Brasil, um tal de “orçamento secreto”, computadores emprestados a ONGs por mais de R$ 30 mil a unidade… da última vez que estive lá, eu podia comprar um por uns 2 mil.
Reflexões de um Alienígena
Fui esperar e olha o quanto inflacionou.
Lá também “os mercados” querem matar os pobres…
Veja você, um país com orçamento secreto, morte ficta, emenda PIX, pensão para filhas de militares — está pressionando o governo a cortar “benefícios” dos mais pobres.
Por meio de especulação, estão tentando desestabilizar o governo eleito.
Sinceramente… não consigo falar de tudo!
Aí, de repente, alguns engraçadinhos resolvem brincar com seus drones, e vocês começam a fazer piadinhas a meu respeito! Vocês não têm nada mais interessante pra pensar?
Por exemplo… vocês não fazem pesquisas meteorológicas? Fotos panorâmicas? Espionagem?
Por que tudo tem que ser… o ET aqui, o ET acolá?
Enquanto vocês olham para o céu, as coisas acontecem aqui embaixo!
Vão continuar roubando, matando, escravizando… distraindo a sua atenção.
Portanto, mantenha o foco em seus problemas — resolva-os primeiro!
Deixe-me voltar à minha nave-mãe… é hora dos comprimidos para dormir!
“Aquele que tem um porquê para viver pode suportar quase qualquer como.” – Nietzsche
Escrever textos para um blog, montar e trabalhar edição e composição de música, um monte de livros pra ler, enquanto se trabalha oito horas por dia…
E no final, aquela sensação decepcionante de que não fez o melhor…
Tudo ao mesmo tempo, sem foco definido!
Você talvez diga: – “Ou você é ocupado demais, ou sofre de déficit de atenção… TDAH.”
Talvez, mas o que é TDAH?
Antes de analisar a resposta, saiba que, de acordo com o site www.gov.br, estima-se que entre 5% e 8% da população mundial apresenta Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade.
Nos últimos anos, percebemos que houve uma mudança nos números de portadores desse transtorno… O que isso significa?
É o que vamos entender nesta matéria.
Entendendo o TDAH
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neuropsiquiátrica que impacta o comportamento, a capacidade de atenção e a autorregulação.
A capacidade de atenção e a autorregulação são habilidades fundamentais para o desenvolvimento humano, e estão relacionadas a diversos aspectos da vida, como desempenho acadêmico, saúde mental e bem-estar geral.
Geralmente diagnosticado na infância, o TDAH é caracterizado por três traços principais: desatenção, hiperatividade e impulsividade, que variam de pessoa para pessoa.
Essa desatenção se traduz em dificuldades para se concentrar, ser facilmente distraído e ter problemas em finalizar tarefas.
Quanto à hiperatividade, ela se expressa através de uma inquietação constante e uma necessidade incessante de movimentação, enquanto a impulsividade leva a ações precipitadas, sem pensar nas consequências.
Diagnóstico
A psicologia aborda o TDAH considerando fatores biológicos, psicológicos e sociais, além do contexto familiar e social.
Uma análise multidisciplinar é essencial para intervenções que vão de terapias comportamentais a medicamentos, promovendo melhor funcionamento diário.
O diagnóstico segue critérios como persistência dos sintomas por mais de seis meses em diferentes ambientes, como escola e casa, segundo diretrizes da American Psychiatric Association e da Organização Mundial da Saúde.
Conscientização
O aumento de diagnósticos de TDAH nas últimas décadas reflete mudanças nos critérios diagnósticos e maior conscientização sobre o transtorno.
Campanhas de sensibilização e debates públicos ampliaram o reconhecimento dos sinais de TDAH, indicando mais detecção do que um real aumento na incidência.
Pressões sociais e acadêmicas modernas também contribuem para maior atenção aos sintomas, muitas vezes interpretados como um fenômeno recente.
Estudos apontam a importância de analisar cuidadosamente as causas desse aumento, diferenciando entre diagnósticos precisos e avaliações excessivas.
Desafios
Indivíduos com TDAH enfrentam desafios que afetam suas relações pessoais, acadêmicas e profissionais. Em interações sociais, podem ter dificuldades em manter o foco, causando mal-entendidos e isolamento.
No contexto acadêmico, problemas com organização e gerenciamento de tempo impactam o desempenho e podem gerar estigmatização e baixa autoestima.
No trabalho, impulsividade e dificuldade em cumprir prazos podem criar obstáculos, mas muitos indivíduos mostram resiliência e criatividade excepcionais quando suas habilidades são reconhecidas e apoiadas.
Estratégias como comunicação aberta, ajuda profissional e desenvolvimento de habilidades interpessoais ajudam a construir relações significativas e uma vida equilibrada.
Tratamento
O tratamento do TDAH exige uma abordagem multifacetada, incluindo terapias psicológicas, intervenções comportamentais e, em alguns casos, medicamentos.
Terapias como a cognitivo-comportamental ajudam a desenvolver estratégias para lidar com os sintomas, melhorar a organização e a gestão do tempo.
Intervenções comportamentais reforçam comportamentos positivos em ambientes estruturados, enquanto medicamentos estimulantes podem melhorar concentração e reduzir impulsividade, sob supervisão médica.
O suporte contínuo de familiares, educadores e profissionais é vital para fortalecer autoestima e resiliência, encorajando indivíduos a reconhecerem seus pontos fortes.
O TDAH não define a identidade de uma pessoa, e os desafios podem levar a crescimento pessoal e realizações significativas, mostrando que há esperança e possibilidades em todas as circunstâncias.
Há Aspectos Positivos?
Você talvez se pergunte se há aspectos positivos. A resposta é sim. Alistamos algumas abaixo:
Muitas pessoas com TDAH têm mentes criativas e abordam problemas de maneiras inovadoras.
Quando engajadas em algo que amam, demonstram foco intenso e paixão.
Lidar com desafios diários desenvolve adaptabilidade e força emocional.
A criatividade, o engajamento e a resiliência são características de pessoas com este tipo de transtorno. São coisas boas, não é verdade?
Estratégias para Viver Bem com TDAH
Alistamos abaixo algumas estratégias:
Autoconhecimento: Entender como o TDAH afeta você ajuda a encontrar estratégias personalizadas.
Rotinas estruturadas: Usar lembretes, calendários e listas pode minimizar distrações.
Terapia e suporte profissional: Terapias como TCC e intervenções específicas ajudam a desenvolver habilidades práticas.
Comunicação aberta: Compartilhar desafios com pessoas próximas reduz julgamentos e promove empatia.
Como afirmou Nietzsche: “Aquele que tem um porquê para viver pode suportar quase qualquer como.”
Bem, isso aconteceu há muito, muito tempo, enquanto eu ainda trabalhava na Agência de Correios e Telégrafos, no município de Santa Terezinha.
A cidade era pequena, mas eu amava aquele cantinho do mundo!
Prefeitura Municipal SantaTerezinha
A população na época era de aproximadamente 8.000 habitantes, início da administração de Maria Cardoso de Lima.
Uma característica dessa administração foi a mudança e valorização daquele município, ruas pavimentadas e foco na Saúde.
Mulher de pulso forte, disposta a servir – tinha um coração imenso. Seu Vice era Lourinho, um dos rapazes mais amáveis que conheci, o secretário da Prefeitura, o senhor Francisco Sales, Pai do Jota, era um dos melhores sujeitos da região! Super prestativo!
O trabalho
Trabalhava numa Agência pequena, compartilhava os sofrimentos do dia a dia com Luciene, certamente a pessoa mais dócil que conheci naqueles tempos, sofria na época com um problema auditivo, casada com o Manoel, um sujeito tímido e amoroso, super boa praça, e Damiana, uma pessoa linda e tímida, casada com João de Nonô, um excelente comerciante e bom sujeito, mãe de três meninos que me faziam rir por causa das diferenças de personalidade.
Aprendi os apelidos, graças ao Bia, amante da Legião Urbana e artilheiro do futebol nos torneios dos fins de semana – que trabalhava no turno matutino, e nunca os esqueci.
O trabalho costumava ser uma loucura, o embarque dos malotes com as correspondências acontecia diariamente às cinco da manhã.
A agência abria para atendimento ao público às oito e encerrava o expediente às 5:30 da tarde.
Quando se diz atendimento ao público, entenda-se pagamento de aproximadamente 1.600 beneficiários do INSS que eram moradores locais, e das zonas rurais, outros 800 benefícios sociais, de combate a fome e incentivo à educação, pois o País ainda enfrentava as consequências da má administração do período do regime militar e que não foram sanadas nos primeiros anos do regime democrático.
O balcão favorecia às dores no pescoço e problemas na coluna., não eram apropriados!
E a história começa aqui.
Além disso, havia entrega de correspondências comuns e urgentes e a espera do ônibus que trazia diariamente as correspondências para entrega no suposto horário de 4:30 da tarde -suposto, pois raramente retornava no horário. Normalmente retornava entre as cinco da tarde e as sete da noite.
Como não havia um ponto de ônibus na época, o lugar de espera do retorno dos malotes era um velho banco improvisado ao lado de uma amendoeira, à beira da pista, em minha memória era uma amendoeira (risos) e sob as sombras dessa árvore costumava levar meus livros, pois sabia que a espera provavelmente demoraria um pouco…
Falando um pouco sobre o povo da cidade de Santa Terezinha, na época conheci pessoas naturalmente hospitaleiras, amorosas, observadoras e prestativas. Sempre dispostas a um bom diálogo.
Inventando Passados
Como de costume, no mesmo horário me dirigia ao ponto de ônibus improvisado e enquanto lia o meu livro, alguns moradores sentavam ao redor e as histórias começavam. Piadas, dramas, risos, notícias – Seu Deodato era o maior “falador” – gostava de falar da vida em São Paulo.
Entre Marcelinos e Josés, havia um Senhor chamado Firmino, um senhor de pequena estatura, olhos numa variação dum verde, difícil descrevê-los. Não costumava falar uma palavra.
Apenas ouvia as histórias… até que um certo dia, alguém deixa escapar um: “Todo mundo aqui conta a sua história, menos seu Firmino!”
Os olhos verdes daquele senhor brilharam, mas ele disse não ter muita coisa a contar.
Foi quando resolvi dizer: – ” Está bem, Seu Firmino, deixa que eu conto a sua história…”
Resumo da História do Cangaço
E comecei: – ” Nos anos 1840, surgiu uma forma de banditismo social, político e cultural, uma “praga” chamada Cangaço…
– “Não se enganem, não há nada romântico no banditismo que eles praticavam… aterrorizavam quase todo o Nordeste, exceto o Piauí e o Maranhão. O primeiro a agir como cangaceiro, foi o Cabeleira, Pernambucano, nascido José Gomes em 1751.
Eu realmente gostava do asssunto!
-“Mas, foi só perto dos 1900 que Lampião, Antonio Silvino e Corisco popularizaram o Cangaço.
–“Dizem alguns que Lampião promoveu saques, torturas, mutilações e estupros para vingar as torturas que sua família sofrera nas mãos de famílias poderosas, que seu pai fora assassinado por um policial – mas, o detalhe é que ele atacava muitas e muitas vezes “aqueles que não podiam se defender”, na maioria pobres.
Ele também tinha muitos amigos ricos e os favorecia.
Heróis ou Justiceiros?
Então afirmarem, ser ele, um Herói , um Justiceiro, é questão de interpretação, pois moldamos nossos heróis conforme aquilo que admiramos … eles agiam nos moldes dos sequestradores e traficantes atuais.
-“Eram covardes. Ele e seus bandidos atacavam em grupo e se escondiam na Caatinga. Não suportavam contrariedades e matavam sem piedade.
-” A razão de existência do Cangaço, segundo alguns, era a injustiça social, o poderio dos grandes proprietários de terra e a falta de justiça comum. Os Coronéis tinha suas terras e seus servidores, denominados Jagunços…
-“Os Cangaceiros agiam em grupos pequenos, pois isto facilitava a emboscada. Diz-se que parte das coisas roubadas pelos Cangaceiros era distribuída aos pobres.
Bem, nós gostamos de criar nossas versões de heróis… esse seria o Robin Hood do Nordeste, aquele que roubava dos ricos pra dar aos pobres. – Mas, quando se trata de lendas, não se pode acreditar ou duvidar de tudo.
A visão de quem conta a História, costuma romantizar um pouco…
– “Por fim, um grupo militar treinado, conhecido como a Volante, em 1938, acabou com a turnê de sucesso da turma…
Até que, de repente, o seu Marcelino pergunta: -“ Mas, o que é que Seu Firmino tem a ver com isso?”
Surge o Jagunço Firmino, o Herói
-“Bem como disse, os Cangaceiros, cujo nome vem de Canga, aquela madeira utilizada na cabeça do gado e que servia para transporte, espalhou o terror por quase todo o Nordeste, com exceção do Piauí e do Maranhão…mas, o que ninguém nunca contou é que numa pequena cidade, aqui da Bahia, um pequeno Jagunço impediu a entrada dos bandidos”.
-“Quem foi esse corajoso?” – Perguntavam
-“Vocês não sabem? O jagunço Firmino! O homem mais corajoso da região Norte e Nordeste!”
Nascia ali a “lenda” do Jagunço Firmino!
E passei a narrar as façanhas daquele pequeno grande homem, que ria como criança das novas aventuras e fazia questão de ouvir suas proezas…principalmente, contra os Cangaceiros!
Aquilo se tornou costume, e todos os dias, Seu Firmino e mais e mais pessoas vinham para ouvir as fabulosas histórias de como um só homem desafiou o Cangaço!
Um dia, ele me agradeceu pelos risos.
O homem Firmino
E numa Sexta ( estou incerto, quanto ao dia), por volta das Sete e Meia da manhã, enquanto conversava com meu saudoso Pai em frente a casa 114, da Rua Ápio Medrado, Seu Firmino passava por mim, em passos lentos, respondia com risos ao meu: “Bom dia, meu jagunço Favorito!”
Passava rindo, dizendo: -“Esse Menino, esse menino…”
E naquela Sexta, por volta das oito da manha enquanto ainda tomava o seu costumeiro café, seu coração valente parou de bater.
Lembro, ainda, de vê-lo ao chão, com uma breve expressão de dor e também de ter chorado naquele dia.
Lembrei também de alguns costumarem descrevê-lo, como o homem sem passado.
Solitário e Prestativo
É verdade, que inventei um passado pra ele, mas com o tempo, pesquisando mais a respeito , descobri que ele era um homem muito bom e que não hesitava em ajudar a quem precisasse tampos atrás, não sei se a morte da esposa mudou a sua personalidade…
Talvez, não tivesse a fama de ser aquele que desafiou os bandidos do cangaço ou de outros atos heróicos, que são ampliados por cada boca que reconta a história…
Ele era um homem bom.
Solitário, calado, cheio de defeitos como todos são…mas, era um homem bom.
Lembrar de seu riso tímido enquanto eu inventava um passado para ele, me trouxe de volta às palavras e a ideia de descrevê-lo como aquele que mais me inspirou histórias!
– Rapaz, próximo ao antigo Clube de Ferroviários, havia um largo, um espaço onde há muito tempo os parques e circos itinerantes ficavam por um tempo. Lembra daquele tempo?
–Lembro, sim… – disse o outro.
–Pois é, os circos traziam leões, palhaços, equilibristas e até cantores…
–Lembro, sim…
–Numa daquelas visitas, trouxe o Menino da Garganta de Ouro. Lembra?
–Lembro, sim… O Donizetti.
–Pois é, rapaz, eu não acreditava que o moleque tinha uma garganta potente como falavam, achava que era só propaganda. Mas, um dia…
Era Oito da noite da Terça-Feira e o apresentador disse: -“E COM VOCÊS, DONIZETTI…O MENINO DA GARGANTA DE OURO…”
E o menino começava a cantar “a Galopeira”:
-“Foi num baile em Assunção, capital do Paraguai…” Lembra?
-Ô, se lembro… – Dizia o outro
– Pois é, na hora do grito Galope-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-ira era Oito e cinco da noite. E eu falei, esse moleque não vai aguentar!
Só que deu 8:10, 8:15, 8:30,9:00 da noite e o menino não parava.: “ê-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-…
“Dez da noite fui pra casa. E ele não parava…
Passou a madrugada inteira e o menino : ‘ê-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-…’
Fui pro trabalho de manhã e ele estava lá: ‘ê-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e…’
Hora do almoço, descanso da tarde – e a música não parou.
Deu Oito da noite da Quarta, resolvi voltar lá pra ver o que tinha acontecido e o moleque estava lá tranquilo cantando.
Lembra?
E o amigo…
–Lembro, sim. Incrível mesmo foi a plateia depois de tudo gritar: -“De novo! De novo!”
Deste lado do mundo as estações não são bem definidas…
O outono, parece o verão e o inverno se alternando num ritmo frenético…
O inverno convida o verão para participações especiais durante a sua turnê
E na primavera, esqueça as flores.
A primavera traz a estrela maior para o show…
O sol
E você pensa em flores, que cantem as flores
( pra não dizer que não falei de flores)
Aqui primavera, não é prima…é irmã do verão
e traz pólens maravilhosos para a minha alergia…
Ah! O verão?
Acabei de chegar à conclusão:
-É aqui que ele mora!
Havia uma barraquinha próxima ao muro da igrejinha, na praça que hoje é conhecida como a Praça dos Ferroviários. Era o ponto de encontro dos velhos seresteiros!
Chegavam aos poucos, cada um trazendo o seu próprio instrumento: violões, pandeiros, cavaquinhos… e enquanto a cidade se preparava para dormir, a melodia ditava o ritmo dos sonhos.
Ser menino era meio complicado.
Eu ficava à distância, sentado à porta da minha casa, observando cuidadosamente a entonação e decorando quase todo o repertório.
A “Morena Bela do Rio Vermelho” se envaidecia, mas não podia ouvir o clamor de “Fica comigo esta noite” ou a angústia apaixonada de “Onde estás agora?”
Seu Júlio puxava o coro: “Hoje que a noite está calma…” e, num Sol Maior perfeito, as vozes se encaixavam, dando à noite a impressão de harmonia entre lua, estrelas e apaixonados.
“Maria Helena” era a verbena daquela noite. “Meu Grito” era a oportunidade de desabafar entre “Os Verdes Campos da Minha Terra”. Às vezes, os músicos cansavam. Então, Seu Júlio, amigavelmente, trazia água para os amigos.
Prontinhos, agora hidratados, voltavam risonhos e com muito mais empolgação e emoção para cantar.
Entre “Negue”, “Ronda” e “Vou Sair Para Buscar Você”, chegava a hora de partir. E cantavam “A Volta do Boêmio”.
Era uma reunião de amigos.
Era um show de amigos para amigos.
O Fim de Uma Era
Esses encontros aconteciam apenas nos finais de ano. A cada ano, porém, o número de velhos amigos da serenata diminuía.
Eram quase trinta no início. No último encontro que pude contemplar, restavam apenas seis.
Músicos passam. Músicos morrem.
Por fim, Seu Júlio também faleceu. As serenatas acabaram.
A barraca foi demolida e, em seu lugar, construíram uma linda pracinha. Não há marcas ou lembranças daquele terreno onde a velha barraca resistia entre velhos arames.
Novos e belos músicos nasceram, mas jamais saberão o que era sentar entre amigos, rir das próprias falhas, cantar no mesmo tom sem competir. Eles não compreenderão como é bom cantar junto, dividir o prestígio, a emoção, o momento. Assim como deve ser a arte.
A Celebração da Amizade
Talvez a lua não provoque mais a mesma emoção. As pessoas mudam com o tempo e podem pensar que seria tolice cantar sob noites enluaradas.
Mas os seresteiros sabiam: não era a lua em si. Era a celebração da amizade, do amor, em belas e antigas canções. Eles sabiam que um dia tudo aquilo passaria e, por isso, precisavam se encontrar. A lua era apenas um pretexto.
Que os novos amigos encontrem sempre um motivo para se reunir, para celebrar. A vida passa.
Hoje, depois de tanto tempo, me pergunto: “Os velhos, incansáveis seresteiros quase não paravam. O que será que tinha naquela água que Seu Júlio servia?
Imagem de Luisella Planeta LOVE PEACE 💛💙 por Pixabay
Um Dia de Desafios e Reflexões
O dia não estava bom…
O intestino me lembrou de sua existência, gritando e exigindo atenção, enquanto o estômago, enciumado, também queria um pouco de amor — e resolveu protestar.
Para completar, a otite resolveu me visitar justamente um dia após a vacina.
Meu pobre cérebro, sem muita paciência para administrar esses egos, decidiu medicar-se e, logo depois, entregou-se ao sono. Acordou com uma disposição imensa para ver o que estava acontecendo no mundo.
Decidiu me distrair nos portais de notícia, em busca de algo interessante que pudesse dar aquela moral. “Quem sabe uma boa notícia?”, pensou.
E assim, começou a aventura.
Entre Clickbaits e Ecossexualidade
Os sites traziam propostas nada interessantes: o antes e depois de um ator famoso ou os destaques de outro ator que se declara ecossexual (um termo que eu não conhecia).
“— Deve gostar da natureza…”, pensei, quase acertando.
Descobri que ecossexualidade é a fusão entre ambientalismo e sexualidade, focada no amor pelo planeta.
E não é que as piadinhas tolas da quinta série fizeram a festa na minha cabeça? Mas, convenhamos: a quem interessa esse assunto?
Resolvi esquecer as piadas e seguir em frente. Novos quadros falavam sobre biquínis de famosos, feitos de lã, crochê, fios de ouro, couro, cordas de guitarra, contrabaixo, ukulele… ou quase isso. Empolguei-me um pouco, admito.
“— Mas a quem interessa tudo isso?”, perguntei novamente.
Notícias Seriam Notícias?
A busca continuava. Lá estavam algumas tragédias perdidas entre um mar de futilidades:
“Corpo de criança de dois anos, desaparecida, é encontrado no Paraná.”
“CPI’s e CPMIs.”
“Mísseis da Coreia do Norte caem no Japão.”
“Grampo telefônico confirma participação de jogador brasileiro em estupro.”
“Ciclista cai em curva durante corrida e morre.”
“Congresso pressiona por mais recursos e cargos e reclama que o governo não sabe dialogar.”
Isso cansa!
“Seleção fará partida amistosa e usará uniforme preto contra o racismo.” Pensei: “Vão exibir aquela faixa: ‘Diga Não ao Racismo’ ou ‘Com Racismo Não Tem Jogo’ e, como sempre, não farão nada além disso.” Hipocrisia! Não consigo acreditar que haja algum interesse maior que dinheiro nessas instituições.
Meu cérebro, no entanto, me corrigiu: “O objetivo é distrair, não se estressar.”
E as notícias continuaram:
“Goleiro se machuca, será substituído.”
“Governo incentiva aumento na venda de carros” (com o meu salário, nem dá pra imaginar comprar um).
“Ciclones no Sul.”
“MC, cujo nome lembra os palhacinhos da infância, tem show cancelado novamente.”
“Modelo tem galinheiro com piscina, poleiro e iluminação.”
“Mudou a minha vida”, ironizou meu cérebro.
Um Mundo Complicado
Informações sérias e banais lutam pelo mesmo espaço, e eu me sinto cansado.
Clickbaits, anúncios sem sentido e muitas notícias que nem deveriam estar lá. Afinal, a palavra “notícia” vem do latim notitia, que significa algo que merece notoriedade.
“Informam, mas não acrescentam em nada. Não precisavam estar lá”, reclamou meu cérebro, já impaciente.
Mas os portais precisam sobreviver, e por isso as notícias sensacionalistas estão sempre de mãos dadas com algum anúncio.
Depois de perder meia hora buscando distrações, meu cérebro descobriu: dormir é um excelente remédio!
E no que ainda restava do dia, ele me entregou aos sonhos. Pois, nem sempre, viver é melhor que sonhar.
Ninguém jogava tão bem quanto o Zezinho, que morava lá no fim da vila, no pé da ladeira, na casa 113. Poucas pessoas acreditavam que aquele magricela, driblador, faria tanto sucesso no bairro. Mas seu pai, o senhor José, o levava diariamente para os testes, pois sabia que ele era realmente bom.
O tempo o preparava… até que o dia chegou. Robson, o principal jogador da vila, torceu o tornozelo numa dividida com Marquinhos. Era apenas um treino, mas Robson não conseguiu tirar o pé do quarto buraco na lateral da grande área. E lá ficou o moleque, chorando e desesperado, pois o encontro dos bairros aconteceria e ele não jogaria.
Era a chance do Zezinho. Seu Lourival não tinha reservas no banco e, vendo o menino franzino ansioso por entrar, pensou: “É apenas um treino!” Convidou o Zé e, em tom de brincadeira, disse: “Arrasa aí, moleque!”
E o moleque arrasou. Na primeira bola, soberbo, driblou seu próprio companheiro de time, enganando os adversários que não entenderam aquilo. Desafiando as leis da gravidade, voou até a entrada da grande área e chutou suavemente a pelota, que morreu no ângulo direito. O goleiro voou ao máximo, mas onde a bola entrou, nem o Zetti chegaria.
O Fenômeno da Ladeira
O Zezinho arrasou, mas algo chamava a atenção. Sempre que ameaçado, ele rolava, se contorcendo, como se estivesse morrendo. Quando o treinador, convencido, assinalava a falta, ele levantava feliz, zombando do adversário. “Antipático”, diziam os colegas, e entre estes ele ganhou o nome de Zezinho da Ladeira, pois rolava como se estivesse descendo a ladeira da rua onde morava toda vez que esbarrava em alguém.
E os juízes sempre expulsavam o adversário, mesmo nos treinos! Seu Lourival ficou encantado: o time da vila teria agora um gênio, uma arma secreta contra as defesas dos outros bairros. E assim aconteceu. Nos torneios do bairro, aquele menino brilhava e o time ganhava tudo e de todos: 10×1 nos Pernas Quebradas Esporte Clube, 9×3 no Tamanco Social e incríveis 7×1 na seleção de Pardais Famosos, o maior campeão dos torneios.
A fama crescia. Todos queriam falar do Zé, a maior promessa do futebol. O pai do Zé via o futuro: oceanos de dinheiro na conta dele e do Júnior. Os músicos cantavam “Tocou no Zé é gol”, e os locutores dos torneios bajulavam o moleque até mais do que os políticos e patrocinadores. Para os locutores, ele não era mais o Zé da Ladeira; era o Menino Zé.
A Queda do Ídolo
O Zé cresceu mais que o time. Começou a humilhar os colegas, não respeitava os adversários e chegou a contratar locutores para cantar suas vitórias, ganhando mais fãs. Mandou até o seu Lourival calar a boca! Depois dos torneios de bairro, a meta era o título da cidade. Eles ganharam, mas os locutores, comprados, transformaram os onze que se mataram em campo em meros coadjuvantes. Graças ao Zé da Ladeira, o time da rua era agora campeão municipal.
Era a hora de enfrentar as potências do estado. Com fama e dinheiro, o Zé descobriu que bastava se jogar e rolar pelo chão para garantir vantagem. Ou o adversário ficava irritado e o agredia, sendo expulso, ou o juiz expulsava o adversário antes mesmo disso acontecer. Expulsando a todos e rolando pelo gramado, o Zé ganhou títulos, dinheiro e comprou tudo que o dinheiro podia comprar: casas, barcos, aviões, carros e até um caminhão cheio de amigos.
E foi embora do time do bairro, que acreditava que ganharia algo por descobrir aquele talento. Desde então, o time foi definhando aos poucos, vivendo apenas das memórias de um menino magricela que rolava como uma bola nos gramados. Restam agora apenas um campinho seco, traves quebradas, e nem mesmo o Sr. Lourival desfila por lá.
Hoje, para mostrar que ainda lembra a sua origem, Zé da Ladeira contrata cineastas para produzir um lindo documentário sobre sua vida, com depoimentos inventados, arrancando lágrimas dos antigos torcedores. E, claro, enchendo a pança de dinheiro.
Os trouxas, enganados, continuarão cantando: “Tocou no Zé é gol” e, ao assistir à sua trajetória, dirão: “Pobre Zé da Ladeira”. Enquanto isso, o pobre Zé, rolando e enrolando a todos, continuará enchendo ainda mais a pança de dinheiro!
A cidade se aglomerava e, de repente, Dona Margarete gritava: “Eu falei Faraó…”
Automaticamente, a multidão seguia naquela mais que animada romaria, cantando: “Ê Faraó… Ê Faraó…”
Mas sou capaz de apostar que a maioria das pessoas não sabia cantar metade daquela letra complicada e imensa! Os compositores eram realmente geniais. Para a multidão, o importante era tentar cantar as frases ou mesmo as sílabas que conseguiam lembrar, esbarrar nos outros, dançar e, na maioria das vezes, apenas pular!
E por falar em dançar, a cada nova estação surgia uma nova dança: a dança da galinha, o Fricote, o Tchu-tchu, a manivela… Não dá pra lembrar de tudo! Esse era o Carnaval na capital e no interior da Bahia.
No interior, havia a micareta (e no momento NERD do dia, lembro que micareta vem de uma palavra francesa que significa “meio de quaresma”, período entre os dias 14 de fevereiro e 28 de março) e o trio elétrico tocando canções nordestinas animadas, arrastando um monte de gente pela cidade, num tour divertido, mas barulhento pra caramba!
O Trio Elétrico: A Invenção que Fez História
A banda Bamda Mel (isso mesmo, BaMda) puxava o “Prefixo de Verão” e pregava a paz na “Baianidade Nagô”. Um Cometa mambembe atingia em cheio a multidão que só queria “botar o bloco na rua”, enquanto o Frenesi balançava a massa.
Cabia tudo naquelas ruas: de Senegal, Moçambique, Madagascar e Bagdá a “Egito, Egito ê!” Quando a rodinha apertava, Sara Jane pedia que abrisse, mas era um “Auê” quando faltava freio no trio elétrico!
E por falar em falhas mecânicas, um dia os freios do trio foram curtir no meio do povo, e o caminhão desceu a ladeira desgovernado. Acho que os músicos ou se empolgaram demais ou se borraram de medo, pois o axé soou como um perfeito heavy metal! Poucas pessoas tiveram as pernas quebradas e, por sorte, não entraram para o grupo dos que “não iam atrás do trio elétrico” por motivos óbvios, como cantava Moraes Moreira.
Tudo começou na década de 1950, quando Dodô e Osmar colocaram aparelhos de som em um Ford 1929, conhecido como Fobica. No início, eram a Dupla Elétrica. Viraram Trio Elétrico ao convidar Temístocles Aragão, e o nome pegou. Na década de 1970, Moraes Moreira tornou-se o primeiro cantor de trios, e Armandinho Macêdo revolucionou com sua guitarra baiana.
Transformações e Nostalgia
Os blocos começaram a contratar artistas para animar seus associados protegidos por cordas, enquanto os “pipocas” aproveitavam o espaço que sobrava. O repertório do Carnaval mudou, e artistas de outros estilos foram incorporados. No interior, o prefeito pedia ao trio elétrico que parasse perto do cemitério para homenagear os foliões de outros tempos.
Quando as coisas esquentavam no centro, o guarda Miguel dava três tiros para o alto, lembrando que a homenagem aos antigos foliões já havia acontecido e que os brigões poderiam ser os homenageados do ano seguinte.
A Banda Doce Magia seguia com sua música, patrocinada pelo “costumeiro” apoio à cultura das pequenas cidades. Ah, como era bom quando tudo parecia ser mais simples, leve e cheio de histórias para contar.
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Foto Almeida NO YOUTUBE, do pesquisador Ananias Almeida.