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A mesma lua ( Um Poema simples)

A lua. Um texto sobre as memórias de um belo tempo.

A lua como que observando a vida na Terra…

Imagem de Robert Karkowski por Pixabay

O cenário

A lua ainda é a mesma,
apesar de nós.

Contávamos histórias, estrelas…

E quando ela surgia entre os montes
as palavras se calavam, por instantes…

E era neste instante que os namorados passavam de mãos dadas
e paravam juntos na ponte
que separava as duas partes da cidade, sobre o riacho.

Os momentos…

E como numa fotografia,
beijavam-se timidamente
e era possível, amar o cenário.

Enquanto isso o velho músico se dirigia ao abrigo escuro
das sombras das árvores,
daquelas árvores imensas que ficavam próximas à igreja,
e dedilhava acordes mágicos
dando ao cenário o fundo musical necessário para eternizá-lo.

E amigos se aproximavam,
para cantar canções de amor,
cantar paródias, piadas…
canções que se perderam no tempo.

E as meninas passavam brincando com os pequeninos,
enquanto os pais, aproveitavam para esquecer seus problemas
dentro de suas casas
e saíam para contemplar o instante.

De mãos dadas,
aproveitavam para lembrar do começo
e se comprometiam a recomeçar todos os dias.

As recordações…

Hoje, velhas fotografias acordam velhas recordações
e te vejo,
no mesmo banco da praça naquele momento
em que passavam as crianças e os casais.

Enquanto, o músico tocava
e o casal se abraçava
rindo…

admirando a mesma lua.

Gilson Cruz

Leia mais em Versos sem destino ( um conto ) – Jeito de ver

Presos ( Onde está a tua liberdade?)

Um dilema filosófico: A verdadeira liberdade

Imagem de LIMAT MD ARIF por Pixabay

Não te gabes da tua liberdade

não és tão livre quanto pensas…

Quando não estás preso à rotina,

teu tempo se torna escasso

e a tua vida se perde…

perde o norte.

E ainda gabas a tua liberdade?

Como é que gabas esta liberdade

quando teus ressentimentos

te prendem ao passado, quando não perdoas.

Quando esta raiva e angústia te escravizam, estás preso

e não é por que ris que és livre…

Estás preso.

Como te autoproclamas livre

quando teus pés fingem não pisar o chão?

quando estás preso a este desejo inútil

de se destacar?

Não voas… e mesmo se voasse, não serias livre.

Estás preso.

Liberta-te do medo

dos vícios

liberta-te de ti mesmo…

te aprimoras, por ti.

Admite a tua prisão,

abre a porta.

Saia.

Estarás livre então.

Veja mais em: Viver Plenamente o Presente – Jeito de ver.

Por Luciana ( Versos simples)

O mundo não era tão chato… Teus risos entravam na sala antes mesmo de a professora entrar.

Parecias em outro mundo: calma, serena, pequena, inocente no olhar.

Nada parecia tão difícil, tão escuro… Iluminavas.

Teus risos, sorrisos, pezinhos apressados. Brincavas.

Brincavas de escrever, desenhar, até de estudar… (Mas estudar é coisa séria, menina!)

E já rias… da minha cara de tédio, das chatices das aulas de EMC, matemática, filosofia… Meu Deus, quanta agonia!

Mas rias…

E quando estavas calada, brincavas de sonhar. (Sonhar é bom, é bom sonhar, não posso te culpar.)

E eu me escondia nas folhas do caderno, entre desenhos de montanhas, casas, borboletas, flores… Me escondia em páginas de velhos livros, das goteiras na sala, nas chuvas de inverno. Me escondia nas linhas, não é exagero. (Mas rimar com livros ainda é terrível!)

Éramos jovens, bem jovens… E tanto tempo passou. (Mas teus risos não passam com o tempo, são jovens, são eternos… como um sorriso do tempo!)

E versos simples eu fiz. Mas, para quê tantos versos? Para quê tantos versos tão simples? – você diz.

Sim… Menininha, o motivo é tão simples quanto os versos…

Quero te ver feliz.

Gilson Cruz

Veja mais em  O tempo ( Contador de histórias) – Jeito de ver

O mundo anda bem complicado…

Jornais. As notícias afetam o nosso humor e a nossa saúde.

Imagem de Luisella Planeta LOVE PEACE 💛💙 por Pixabay

Um Dia de Desafios e Reflexões

O dia não estava bom…

O intestino me lembrou de sua existência, gritando e exigindo atenção, enquanto o estômago, enciumado, também queria um pouco de amor — e resolveu protestar.
Para completar, a otite resolveu me visitar justamente um dia após a vacina.

Meu pobre cérebro, sem muita paciência para administrar esses egos, decidiu medicar-se e, logo depois, entregou-se ao sono. Acordou com uma disposição imensa para ver o que estava acontecendo no mundo.

Decidiu me distrair nos portais de notícia, em busca de algo interessante que pudesse dar aquela moral. “Quem sabe uma boa notícia?”, pensou.

E assim, começou a aventura.

Entre Clickbaits e Ecossexualidade

Os sites traziam propostas nada interessantes: o antes e depois de um ator famoso ou os destaques de outro ator que se declara ecossexual (um termo que eu não conhecia).

“— Deve gostar da natureza…”, pensei, quase acertando.

Descobri que ecossexualidade é a fusão entre ambientalismo e sexualidade, focada no amor pelo planeta.
E não é que as piadinhas tolas da quinta série fizeram a festa na minha cabeça? Mas, convenhamos: a quem interessa esse assunto?

Resolvi esquecer as piadas e seguir em frente. Novos quadros falavam sobre biquínis de famosos, feitos de lã, crochê, fios de ouro, couro, cordas de guitarra, contrabaixo, ukulele… ou quase isso. Empolguei-me um pouco, admito.

“— Mas a quem interessa tudo isso?”, perguntei novamente.

Notícias Seriam Notícias?

A busca continuava. Lá estavam algumas tragédias perdidas entre um mar de futilidades:

  • “Corpo de criança de dois anos, desaparecida, é encontrado no Paraná.”
  • “CPI’s e CPMIs.”
  • “Mísseis da Coreia do Norte caem no Japão.”
  • “Grampo telefônico confirma participação de jogador brasileiro em estupro.”
  • “Ciclista cai em curva durante corrida e morre.”
  • “Congresso pressiona por mais recursos e cargos e reclama que o governo não sabe dialogar.”

Isso cansa!

“Seleção fará partida amistosa e usará uniforme preto contra o racismo.” Pensei: “Vão exibir aquela faixa: ‘Diga Não ao Racismo’ ou ‘Com Racismo Não Tem Jogo’ e, como sempre, não farão nada além disso.” Hipocrisia! Não consigo acreditar que haja algum interesse maior que dinheiro nessas instituições.

Meu cérebro, no entanto, me corrigiu: “O objetivo é distrair, não se estressar.”

E as notícias continuaram:

  • “Goleiro se machuca, será substituído.”
  • “Governo incentiva aumento na venda de carros” (com o meu salário, nem dá pra imaginar comprar um).
  • “Ciclones no Sul.”
  • “MC, cujo nome lembra os palhacinhos da infância, tem show cancelado novamente.”
  • “Modelo tem galinheiro com piscina, poleiro e iluminação.”

“Mudou a minha vida”, ironizou meu cérebro.

Um Mundo Complicado

Informações sérias e banais lutam pelo mesmo espaço, e eu me sinto cansado.
Clickbaits, anúncios sem sentido e muitas notícias que nem deveriam estar lá. Afinal, a palavra “notícia” vem do latim notitia, que significa algo que merece notoriedade.

“Informam, mas não acrescentam em nada. Não precisavam estar lá”, reclamou meu cérebro, já impaciente.

Mas os portais precisam sobreviver, e por isso as notícias sensacionalistas estão sempre de mãos dadas com algum anúncio.

Depois de perder meia hora buscando distrações, meu cérebro descobriu: dormir é um excelente remédio!

E no que ainda restava do dia, ele me entregou aos sonhos. Pois, nem sempre, viver é melhor que sonhar.

Gilson Cruz

Leia mais em  Perigo nas redes sociais – como o se proteger – Jeito de ver

Zé da Ladeira – uma história de futebol.

Uma bola. Um conto bem humorado sobre o menino Zé da Ladeira, o Rei do Futebol ( - que não foi!)

Imagem de brokerx por Pixabay

 

A Ascensão do Zezinho

Ninguém jogava tão bem quanto o Zezinho, que morava lá no fim da vila, no pé da ladeira, na casa 113. Poucas pessoas acreditavam que aquele magricela, driblador, faria tanto sucesso no bairro. Mas seu pai, o senhor José, o levava diariamente para os testes, pois sabia que ele era realmente bom.

O tempo o preparava… até que o dia chegou. Robson, o principal jogador da vila, torceu o tornozelo numa dividida com Marquinhos. Era apenas um treino, mas Robson não conseguiu tirar o pé do quarto buraco na lateral da grande área. E lá ficou o moleque, chorando e desesperado, pois o encontro dos bairros aconteceria e ele não jogaria.

Era a chance do Zezinho. Seu Lourival não tinha reservas no banco e, vendo o menino franzino ansioso por entrar, pensou: “É apenas um treino!” Convidou o Zé e, em tom de brincadeira, disse: “Arrasa aí, moleque!”

E o moleque arrasou. Na primeira bola, soberbo, driblou seu próprio companheiro de time, enganando os adversários que não entenderam aquilo. Desafiando as leis da gravidade, voou até a entrada da grande área e chutou suavemente a pelota, que morreu no ângulo direito. O goleiro voou ao máximo, mas onde a bola entrou, nem o Zetti chegaria.

O Fenômeno da Ladeira

O Zezinho arrasou, mas algo chamava a atenção. Sempre que ameaçado, ele rolava, se contorcendo, como se estivesse morrendo. Quando o treinador, convencido, assinalava a falta, ele levantava feliz, zombando do adversário. “Antipático”, diziam os colegas, e entre estes ele ganhou o nome de Zezinho da Ladeira, pois rolava como se estivesse descendo a ladeira da rua onde morava toda vez que esbarrava em alguém.

E os juízes sempre expulsavam o adversário, mesmo nos treinos! Seu Lourival ficou encantado: o time da vila teria agora um gênio, uma arma secreta contra as defesas dos outros bairros. E assim aconteceu. Nos torneios do bairro, aquele menino brilhava e o time ganhava tudo e de todos: 10×1 nos Pernas Quebradas Esporte Clube, 9×3 no Tamanco Social e incríveis 7×1 na seleção de Pardais Famosos, o maior campeão dos torneios.

A fama crescia. Todos queriam falar do Zé, a maior promessa do futebol. O pai do Zé via o futuro: oceanos de dinheiro na conta dele e do Júnior. Os músicos cantavam “Tocou no Zé é gol”, e os locutores dos torneios bajulavam o moleque até mais do que os políticos e patrocinadores. Para os locutores, ele não era mais o Zé da Ladeira; era o Menino Zé.

A Queda do Ídolo

O Zé cresceu mais que o time. Começou a humilhar os colegas, não respeitava os adversários e chegou a contratar locutores para cantar suas vitórias, ganhando mais fãs. Mandou até o seu Lourival calar a boca! Depois dos torneios de bairro, a meta era o título da cidade. Eles ganharam, mas os locutores, comprados, transformaram os onze que se mataram em campo em meros coadjuvantes. Graças ao Zé da Ladeira, o time da rua era agora campeão municipal.

Era a hora de enfrentar as potências do estado. Com fama e dinheiro, o Zé descobriu que bastava se jogar e rolar pelo chão para garantir vantagem. Ou o adversário ficava irritado e o agredia, sendo expulso, ou o juiz expulsava o adversário antes mesmo disso acontecer. Expulsando a todos e rolando pelo gramado, o Zé ganhou títulos, dinheiro e comprou tudo que o dinheiro podia comprar: casas, barcos, aviões, carros e até um caminhão cheio de amigos.

E foi embora do time do bairro, que acreditava que ganharia algo por descobrir aquele talento. Desde então, o time foi definhando aos poucos, vivendo apenas das memórias de um menino magricela que rolava como uma bola nos gramados. Restam agora apenas um campinho seco, traves quebradas, e nem mesmo o Sr. Lourival desfila por lá.

Hoje, para mostrar que ainda lembra a sua origem, Zé da Ladeira contrata cineastas para produzir um lindo documentário sobre sua vida, com depoimentos inventados, arrancando lágrimas dos antigos torcedores. E, claro, enchendo a pança de dinheiro.

Os trouxas, enganados, continuarão cantando: “Tocou no Zé é gol” e, ao assistir à sua trajetória, dirão: “Pobre Zé da Ladeira”. Enquanto isso, o pobre Zé, rolando e enrolando a todos, continuará enchendo ainda mais a pança de dinheiro!

Gilson Cruz

 

Veja também:  Quiprocuó Esporte Clube – Falando de futebol ‣ Jeito de ve

 

 

 

E LÁ ESTAVA ELE! ( um dia incomum)

Um Velho Senhor parado no tempo.

E lá estava ele.

GChaves

Reflexões no trajeto urbano

Sempre a passeio pelas ruas da cidade, contemplando momentos de descontração e reduzindo obrigatoriamente a velocidade no trajeto urbano (devido aos quebra-molas), os pensamentos fluíam em uma concentração necessária. Talvez, assim, o estresse e a ansiedade diminuíssem, proporcionando àquela mente inquieta um pouco de alívio.

Porém, num certo dia, enquanto seguia o mesmo caminho, algo chamou a atenção. Uma cena, aparentemente familiar, repetia-se.

O senhor do tempo

No passeio de uma humilde residência, lá estava ele!
Um senhor que imediatamente capturou o olhar. Sentado com o olhar fixo no vazio do tempo, suas pernas cruzadas, jeans surrado, camisa de mangas compridas, sandálias Havaianas pretas e um relógio — talvez um Oriente — compunham sua figura serena.

Era perceptível que ele pertencia àquela humilde residência e ao mesmo tempo transcendia o lugar, perdido em pensamentos que só ele compreendia. A imobilidade daquele corpo contrastava com a intensidade de sua mente, que parecia viajar para lugares desconhecidos.

Seu semblante carregava o cansaço de um passado que provavelmente o marcara profundamente. A pele enrugada revelava o tempo vivido, enquanto a falta de expectativas no olhar sugeria que ele aceitara o ritmo lento e descompromissado dos dias. Era como se o senhor e o tempo compartilhassem o mesmo espaço vazio e sem pressa de avançar.

A companhia inesperada

Dias depois, em outro passeio pela cidade, o cenário se repetiu — mas com um detalhe novo e surpreendente.
Era um dia chuvoso, com chuviscos escorrendo pelo para-brisa. E lá estava ele novamente, sentado na mesma posição serena, como se nada pudesse perturbar sua paz.

Dessa vez, porém, havia um companheiro: um cão vira-lata de pelagem branca com manchas pretas — ou preta com manchas brancas, isso pouco importava. O que realmente fazia diferença era o vínculo entre o homem e o animal. Sob as gotas de chuva, enquanto o senhor olhava para o vazio do tempo, o cão deitava-se ao seu lado, compartilhando o momento de calma e silêncio.

Parecia que o homem, envolto em suas realidades internas, havia encontrado em seu fiel amigo uma presença que o conectava ao mundo exterior. Uma parceria simples, mas carregada de significado.

O que virá depois?

Certamente, ao passar novamente por aquela rua, a cena se repetirá: o senhor no mesmo lugar e talvez seu companheiro ao lado.

E, quem sabe, o observador ansioso e estressado tomará coragem para se aproximar, descobrir um pouco mais daquela mente que tanto despertou sua curiosidade, e aprender algo sobre a quietude que tanto busca.

Gilmar Chaves 21/05/2023

Gilmar Chaves, Professor, Poeta, Conselheiro e membro da formação inicial da Banda Experiência. A arte de observar e fazer parte da história.

Veja  mais em:  O tempo ( Contador de histórias) – Jeito de ver.

Contos de Carnaval (uma história com H)

Máscaras de carnavais e bailes de fantasia. Um texto bem humorado sobre o carnaval no interior.

Imagem de Adriano Gadini por Pixabay

A Multidão e o Ritmo do Carnaval

A cidade se aglomerava e, de repente, Dona Margarete gritava:
“Eu falei Faraó…”

Automaticamente, a multidão seguia naquela mais que animada romaria, cantando:
“Ê Faraó… Ê Faraó…”

Mas sou capaz de apostar que a maioria das pessoas não sabia cantar metade daquela letra complicada e imensa! Os compositores eram realmente geniais. Para a multidão, o importante era tentar cantar as frases ou mesmo as sílabas que conseguiam lembrar, esbarrar nos outros, dançar e, na maioria das vezes, apenas pular!

E por falar em dançar, a cada nova estação surgia uma nova dança: a dança da galinha, o Fricote, o Tchu-tchu, a manivela… Não dá pra lembrar de tudo! Esse era o Carnaval na capital e no interior da Bahia.

No interior, havia a micareta (e no momento NERD do dia, lembro que micareta vem de uma palavra francesa que significa “meio de quaresma”, período entre os dias 14 de fevereiro e 28 de março) e o trio elétrico tocando canções nordestinas animadas, arrastando um monte de gente pela cidade, num tour divertido, mas barulhento pra caramba!


O Trio Elétrico: A Invenção que Fez História

A banda Bamda Mel (isso mesmo, BaMda) puxava o “Prefixo de Verão” e pregava a paz na “Baianidade Nagô”. Um Cometa mambembe atingia em cheio a multidão que só queria “botar o bloco na rua”, enquanto o Frenesi balançava a massa.

Cabia tudo naquelas ruas: de Senegal, Moçambique, Madagascar e Bagdá a “Egito, Egito ê!” Quando a rodinha apertava, Sara Jane pedia que abrisse, mas era um “Auê” quando faltava freio no trio elétrico!

E por falar em falhas mecânicas, um dia os freios do trio foram curtir no meio do povo, e o caminhão desceu a ladeira desgovernado. Acho que os músicos ou se empolgaram demais ou se borraram de medo, pois o axé soou como um perfeito heavy metal! Poucas pessoas tiveram as pernas quebradas e, por sorte, não entraram para o grupo dos que “não iam atrás do trio elétrico” por motivos óbvios, como cantava Moraes Moreira.

Tudo começou na década de 1950, quando Dodô e Osmar colocaram aparelhos de som em um Ford 1929, conhecido como Fobica. No início, eram a Dupla Elétrica. Viraram Trio Elétrico ao convidar Temístocles Aragão, e o nome pegou. Na década de 1970, Moraes Moreira tornou-se o primeiro cantor de trios, e Armandinho Macêdo revolucionou com sua guitarra baiana.


Transformações e Nostalgia

Os blocos começaram a contratar artistas para animar seus associados protegidos por cordas, enquanto os “pipocas” aproveitavam o espaço que sobrava. O repertório do Carnaval mudou, e artistas de outros estilos foram incorporados. No interior, o prefeito pedia ao trio elétrico que parasse perto do cemitério para homenagear os foliões de outros tempos.

Quando as coisas esquentavam no centro, o guarda Miguel dava três tiros para o alto, lembrando que a homenagem aos antigos foliões já havia acontecido e que os brigões poderiam ser os homenageados do ano seguinte.

A Banda Doce Magia seguia com sua música, patrocinada pelo “costumeiro” apoio à cultura das pequenas cidades. Ah, como era bom quando tudo parecia ser mais simples, leve e cheio de histórias para contar.

Conheça mais a história dos micaretas no Canal MICARETAS ANTIGAS

Foto Almeida NO YOUTUBE, do pesquisador Ananias Almeida.

https://www.youtube.com/@micaretasantigasfotoalmeid7790

Veja mais em Um pouco de exagero (Humor) – Jeito de ver

Tradições – o que se precisa saber? ‣ Jeito de ver

O ontem ( um conto simples )

O Início do dia

Acordei meio desesperado, era o dia do meu casamento e quase perdi o horário, de novo.

Levantei às pressas e vi que as coisas estavam bem diferentes.

A casa, a cama, a escrivaninha, o gato, a cachorrinha – não eram mais os mesmos…

Corri até a sala que não era mais a mesma e vi o calendário que não era mais o mesmo, que marcava uma data, que lógico… não era mais a mesma.

As mesmas pessoas passavam com a mesma pressa, fugindo do mesmo calor – torcendo pelas mesmas nuvens de chuva, que certamente não desaguariam …

Parecia o ontem…

Então resolvi fazer um exercício, pensei:  – “Acho que já vi este dia…”

E comecei a narrar as coisas de que me lembrava…

“Daqui a pouco, a vizinha vai colocar o lixo no lugar errado novamente…”

“Seu Carlos, o carteiro, vai me trazer a mesma carta… e também vai reclamar do sol e vai me falar de sua aposentadoria que esta se aproximando…”

“Meu amigo Tomaz, retornará da maratona – com mais uma medalha…”

“Ranne fará novamente ( ou pela primeira vez) aquele blues…”

“Paulinho me convidará para o lançamento do livro “Minhas poesias”…”

“O ônibus vai atrasar novamente, então vai dar tempo…”

E as coisas iam acontecendo conforme eu previa – ou sei lá, conforme eu já tinha visto.

Rodrigo me dizia: -“Cara, pensa bem…”

E enquanto ele falava novamente, as mesmas coisas, a minha mente narrava os passos seguintes daquele dia…

As mesmas coisas

O carro atrasado…

Minha mãe desesperada…

A incerteza do futuro…

A certeza de que eu não saberia mais narrar o amanhã.

E novamente. o carro das oito passou às onze e meia, em ponto! Meu Deus, não atrasou nem um segundo!

E entrei no mesmo ônibus, rumo à mesma cidade.

Passando pelas mesmas curvas, ouvindo as mesmas queixas do motorista, que dizia ao Fabrício – o jovem cobrador:

-“A gente não vai ter tempo nem pra almoçar…”

As mesmas pequenas cidades passavam e as mesmas pessoas embarcavam. Por um momento, pensei: -“Acho que vou fazer algo diferente…vou mudar este dia!” – Comecei a contar piadas, entreter os passageiros que riam, a cantar com os bêbados que se divertiam nas últimas poltronas…

E quando me dei conta, foi exatamente isso o que fiz, ontem!  Eu estava preso!

Desesperado, pensei em sair do carro, sair correndo e quando levantei, percebi – o ontem não se muda, ainda que acorde nele!

Não daria para mudar o ontem, o ontem já estava moldado.

O futuro ainda era incerto…

Então, resolvi deixar o o ontem acontecer.

Novamente, coloquei o lixo da vizinha no lugar certo, agradeci ao Seu Carlos e desejei a felicidade que ele merecia, após tantos anos de serviço…- Eu não sabia que seu coração não resistiria por mais quatro anos, o futuro era incerto.

Ele faleceria aos 54 anos.

Chorei novamente com o blues na voz do Ranne e me emocionei novamente com as poesias do Paulinho.

Contemplei cada curva da estrada, rindo do incentivo do Rodrigo.

E quando cheguei ao destino, o destino me aguardava com um lindo sorriso.

Chateada, estressada, com uma irmã maluquinha pela casa, enlouquecendo todo mundo…

E as coisas aconteceram novamente naquele ontem cheio de surpresas, que eu não poderia mudar –  mesmo que tentasse por milhares de vezes.

E assim para sempre seria a minha vida.

O futuro certamente traria novas e belas histórias, que seriam contadas num  dia – como um dia, o ontem.

Veja mais em: O tempo ( Contador de histórias) ‣ Jeito de ver

O dia a dia (Um poema simples)

O maratonista e sua rotina, em uma poesia.

Imagem de kinkate por Pixabay

Gilson Cruz

A madrugada

os pés

os passos que se alternam

a velocidade

A estrada

O caminho

as curvas

as nuvens

o sol

eu sozinho

O suor

O cansaço

A alegria

O melhor

A meta

Os sonhos

A vida

A seta

Correr

Sentir o vento

Tocar os sonhos

Respirar…

Viver…

Veja mais em O dia a dia (Mais um poema simples) – Jeito de ver.

O dia a dia (Mais um poema simples)

Despertador. Um poema do dia a dia, em poucas palavras.

Imagem de Jan Vašek por Pixabay

 

Gilson Cruz

 

O despertador

O sono

A preguiça

O espreguiça

Os pés caindo da cama

o tropeçar nos chinelos

As mãos buscando a parede

As luzes acesas

A escova

O creme dental

Os olhos pregados

a camisa ao avesso

Os pés buscando a cozinha

as luzes acesas

As meias, os sapatos, o cadarço

e as horas voando

As notícias, o tempo

o sono ainda na cama

Um até logo

A porta aberta,

os pés na rua

As ruas, os cachorros, o peso

e as pessoas vivendo os seus dias

As horas, o cansaço, a pressa, o retorno

o abraço, a meditação, o sono…

E os sonhos…

E novamente

o despertador…

e tudo de novo.

 

O dia a dia (Um poema simples) ‣ Jeito de ver

 

 

 

 

 

 

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