Os amigos conversavam:
– Rapaz, próximo ao antigo Clube de Ferroviários, havia um largo, um espaço onde há muito tempo os parques e circos itinerantes ficavam por um tempo. Lembra daquele tempo?
–Lembro, sim… – disse o outro.
–Pois é, os circos traziam leões, palhaços, equilibristas e até cantores…
–Lembro, sim…
–Numa daquelas visitas, trouxe o Menino da Garganta de Ouro. Lembra?
–Lembro, sim… O Donizetti.
–Pois é, rapaz, eu não acreditava que o moleque tinha uma garganta potente como falavam, achava que era só propaganda. Mas, um dia…
Era Oito da noite da Terça-Feira e o apresentador disse: -“E COM VOCÊS, DONIZETTI…O MENINO DA GARGANTA DE OURO…”
E o menino começava a cantar “a Galopeira”:
-“Foi num baile em Assunção, capital do Paraguai…” Lembra?
-Ô, se lembro… – Dizia o outro
– Pois é, na hora do grito Galope-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-ira era Oito e cinco da noite. E eu falei, esse moleque não vai aguentar!
Só que deu 8:10, 8:15, 8:30,9:00 da noite e o menino não parava.: “ê-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-…
“Dez da noite fui pra casa. E ele não parava…
Passou a madrugada inteira e o menino : ‘ê-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-…’
Fui pro trabalho de manhã e ele estava lá: ‘ê-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e-e…’
Hora do almoço, descanso da tarde – e a música não parou.
Deu Oito da noite da Quarta, resolvi voltar lá pra ver o que tinha acontecido e o moleque estava lá tranquilo cantando.
Lembra?
E o amigo…
–Lembro, sim. Incrível mesmo foi a plateia depois de tudo gritar: -“De novo! De novo!”
Gilson Cruz
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