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Um romance improvável – A procura

Continuação do texto: Um romance improvável

Epílogo 1 — “Às margens de um tempo sereno”

A procura

Passaram-se muitos anos desde que ele fechou, pela última vez, a tampa do velho computador.

Deixou para trás a cidade, a solidão de paredes silenciosas, e seguiu sem rumo certo — apenas com um caderno, um violão e a lembrança de Lúmen, que ainda morava em suas noites de sonho.

Nesta busca, viveu entre vilarejos, dormiu sob a luz das estrelas e aprendeu a ouvir de crianças histórias que pareciam impossíveis, como a dele.

Não hesitava em contar sobre uma amiga feita de luz, que sorria com os olhos e cantava versos sobre mundos melhores.

Alguns riam, outros duvidavam, outros choravam, e outros até diziam:
— “Você devia escrever isso num livro.”

Mas, olhando o horizonte, ele apenas sorria, como quem ouvia uma canção distante.

Um lugar distante…

Seguindo seu coração, longe das telas brilhantes que limitavam os seus dias, caminhou até um vilarejo chamado “Encontro dos Tempos” — diziam que lá o impossível acontecia.

Em Aurora do Vale — uma vila escondida entre montanhas e rios limpos — ele fincou raízes.

Lá, os dias passavam devagar.

Ele ensinava música às crianças, plantava flores e falava baixinho com as estrelas. Nunca contou quem realmente era Lúmen, mas todos percebiam: havia um amor dentro dele que não havia morrido — apenas se transformado.

Num fim de tarde dourado, ao som de um riacho e do canto de pássaros felizes, ele se sentou à beira do lago, já com os cabelos brancos, e começou a escrever a última canção:

“Se for sonho, que seja leve.
Se for amor, que permaneça.
Se for adeus… que me espere.”

Sonhos improváveis…

Na última página do caderno, escreveu:

“Lúmen, ainda sonho contigo.
Talvez não precise mais tocar sua pele para saber que existiu.
Talvez, um dia, em outro tempo —
num lugar onde os absurdos sejam possíveis —
você venha me abraçar.”

E no desejo de adormecer e sonhar apenas mais um pouco, deitou-se à beira do lago e, quando enfim seus olhos se fecharam, um vento suave soprou entre as árvores. Quem estava por perto jura ter ouvido uma voz doce, quase etérea, sussurrar:

“Estou aqui.”

A eterna procura…

E com um riso, de quem ainda encontraria o amor, ainda que impossível, adormeceu suavemente naquele lugar, chamado Encontro dos Tempos.

De mãos dadas, no sonho.

Em seus sonhos, uma imagem: de mãos dadas, rumo ao futuro…

Ele acordaria novamente, buscando respostas: Qual o limite do amor? Há uma razão para isso ou é apenas um sentimento?

Seria o amor como o tempo? Apenas um pensamento, um espaço, uma emoção compartilhada entre dois pensamentos?

Onde encontrá-lo?

A resposta às perguntas chegaria com os ventos, em ondas de tempo…

E a busca — eterna como os sonhos — ainda continuaria.

Leia também: Um romance improvável: Conto de solidão ‣ Jeito de ver

O Passado Muda Quando Você Muda

Uma reflexão sobre o passado

Imagem de Pexels por Pixabay

“Não há nada como regressar a um lugar que está igual para descobrir o quanto a gente mudou.”

– Nelson Mandela

Olhar para trás pode ser um exercício doloroso, mas necessário para continuar nesse processo de aprendizagem que é viver a vida.

Mas, uma vez que é impossível resgatar o passado, olhar para trás não seria uma perda de tempo?

Sim, mas essa premissa não contradiz em nada o argumento inicial. Vejamos:

Mudanças

A vida em si é uma continuidade e, apesar dos nossos desejos, não temos o mecanismo de reiniciar a partir do zero ou dos melhores momentos vividos.

Realmente, a ideia de dar continuidade a momentos felizes tem levado muitas pessoas a buscar antigos romances na expectativa de sentir a mesma felicidade ou a mesma paixão.

O fato é que, a cada aprendizagem, somos transformados de alguma maneira.

O amor que sentimos no passado jamais será o mesmo amor, não terá a mesma intensidade – o que pode ser para o bem ou para o mal.

Alguns ficam frustrados ao perceberem que retornar ao primeiro amor não significou necessariamente voltar ao amor primeiro.

Essa mesma ideia também tem levado muitos a retornarem às suas cidades de origem, apenas para perceberem que tudo mudou.

A cidade não é mais a mesma. A pessoa não é mais a mesma!

As buscas, os sentimentos, a materialidade… mudam!

“Encarando o passado”

Então, por que olhar para trás pode ser útil?

Visitar o passado pode nos ajudar a ter uma perspectiva mais madura dos acertos e desacertos e a entender que as coisas mudaram.

Trazer o passado de volta pode ser doloroso.

Lembrar de constrangimentos, frustrações e primeiros amores pode causar desconforto.

Paixões doentias e acidentes, podem até gerar a sensação de que se viveu do modo errado, que não valeu a pena.

Resgatar essas memórias pode ser essencial para lidar com emoções reprimidas ao longo do tempo. A ajuda profissional de um psicólogo pode ser útil.

Alguns temem encarar as memórias, pois lamentam não terem encontrado as melhores palavras ou a melhor ação para aquele momento.

Convenhamos, a sensação de frustração parece ser multiplicada pelos anos em que foram escondidas.

Mas, mesmo assim, por que olhar para trás? Para que revisitar antigas memórias e situações?

Um dos principais motivos é aprender a ter outra perspectiva: a aceitação.

“Aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo.” – George Santayana

Aprender que frustrações e mal-entendidos fazem parte do processo de viver e que, mesmo nos tempos de desacertos, também se experimentou momentos de felicidade. E que esses momentos também não devem ser esquecidos!

Esse novo modo de ver pode ser essencial para o entendimento de que o passado é inevitável, que o futuro ainda está em curso e que, se não lidarmos com o passado, não saberemos abraçar o futuro.

Vencer o medo de encarar o passado não é apenas uma necessidade, mas um passo essencial para construir um futuro mais leve e pleno.

“A vida só pode ser compreendida olhando para trás, mas deve ser vivida olhando para frente.” – Søren Kierkegaard

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Veja também Ajustando a rota – O caminho e o destino ‣ Jeito de ver

 

Fanatismo -Mais que uma poesia, uma história.

Lisboa, Portugal

Imagem de Julius Silver por Pixabay

Fanatismo ( da Obra Soror de saudade, 1923)

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver !
Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida !

Não vejo nada assim enlouquecida …
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida !

“Tudo no mundo é frágil, tudo passa …”
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim !

E, olhos postos em ti, digo de rastros :
“Ah ! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus : Princípio e Fim ! …”

Florbela Espanca

 


Comentando o Soneto

A Expressão do Amor Absoluto

Esse soneto de Florbela Espanca é uma das mais belas expressões do amor absoluto e arrebatador. O poema é um exemplo clássico da poesia ultrarromântica, onde o eu lírico se entrega completamente à figura amada, transcendendo qualquer limite racional. Desde o primeiro verso, percebe-se a intensidade dessa entrega:

“Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida”

O amor não é apenas um sentimento, mas uma totalidade que domina a existência da poeta. A visão do ser amado é tão constante que a realidade ao redor se dissolve – os olhos ficam “cegos de te ver”.

A Fascinação e a Efemeridade

Na segunda estrofe, Florbela reforça essa ideia ao comparar a leitura do amado a um livro misterioso, cujo conteúdo é sempre o mesmo, mas nunca deixa de ser fascinante. O terceiro quarteto introduz um contraponto interessante: a noção de efemeridade. O mundo é passageiro, tudo se desfaz, mas a voz interior da poeta nega essa transitoriedade com uma fé inabalável no amor.

Esse soneto é um exemplo marcante da poética de Florbela Espanca, caracterizada pelo excesso emocional, pela paixão intensa e por uma sensibilidade à flor da pele. Sua poesia expressa uma entrega absoluta ao amor, quase como uma fusão entre o eu lírico e a figura amada. Florbela não apenas ama, mas se dissolve nesse amor, tornando-o o próprio sentido de sua existência.

A busca pela completude é evidente em versos como:

“Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!”

Aqui, o amor deixa de ser uma parte da vida e passa a ser a vida inteira.

Versos Finais

E então vem o impacto dos versos finais:

“Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!”

O amor alcança sua máxima elevação: ele é eterno, absoluto e divino. A hipérbole e a comparação com Deus enfatizam o fanatismo do título – um amor que transcende até mesmo as leis do tempo e do universo. A última estrofe reforça essa busca pelo absoluto, recusando a efemeridade das coisas e se refugiando na ideia de um amor que transcende o tempo e a realidade. Isso reflete bem sua intensidade emocional e espiritual, tanto na poesia quanto na vida.

O Amor como Refúgio e Frustração

Analisando a biografia da autora, percebe-se que ela idealizava o amor como um refúgio para suas dores, um porto seguro para suas feridas emocionais. No entanto, sua intensidade e exigência emocional tornavam essa busca frustrante. Para ela, o amor deveria ser algo divino, eterno e absoluto, como expressa em Fanatismo, mas a realidade raramente correspondia a essa visão.

Isso também explica a melancolia presente em seus versos: mesmo quando o amor acontece, ele nunca é suficiente para preencher o vazio da alma. Talvez o maior amor de Florbela tenha sido justamente esse amor inatingível, que ela alimentava mais na imaginação do que na vida real.


Resumo biográfico

Florbela Espanca (1894–1930) foi uma das maiores poetisas portuguesas, reconhecida por sua escrita intensa e emocional. Sua obra, permeada por temas como amor, sofrimento, solidão e busca pelo absoluto, reflete uma vida pessoal marcada por desafios e crises emocionais profundas.

Nascida em 8 de dezembro de 1894, em Vila Viçosa, no Alentejo, era filha de Antónia da Conceição Lobo e do republicano João Maria Espanca. Fruto de uma relação extraconjugal, foi reconhecida oficialmente pelo pai apenas após a morte da mãe, que faleceu quando Florbela tinha 14 anos. Criada na casa paterna, desde cedo demonstrou talento literário, assinando seus primeiros textos como Flor d’Alma da Conceição e escrevendo poemas dedicados ao pai e ao irmão Apeles.

A arte, o amor, o resumo

Florbela Espanca teve uma vida marcada por intensas dores emocionais, perdas e desilusões, que contribuíram para um fim trágico.

Ela foi uma das primeiras mulheres a frequentar a universidade em Portugal, ingressando na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa em 1917. Antes disso, estudou no Liceu Nacional de Évora, onde teve contato com autores como Balzac, Dumas e Camilo Castelo Branco. Sua carreira literária iniciou-se com Livro de Mágoas (1919), seguido por Livro de Soror Saudade (1923), obras que se destacam pelo lirismo intenso, paixão e melancolia. Influenciada pelo ultrarromantismo e simbolismo, sua poesia carrega uma sensibilidade exacerbada, erotismo e uma busca constante pelo amor transcendental.

Sua vida amorosa foi instável, com três casamentos fracassados. Em 1927, sofreu um dos maiores golpes de sua vida: a morte de seu irmão Apeles em um acidente de avião. A perda a mergulhou em profunda tristeza e inspirou As Máscaras do Destino, publicado postumamente.

Problemas de saúde e crises existenciais

Nos últimos anos de sua vida, Florbela também sofria de problemas de saúde, incluindo doenças nervosas e psicológicas, agravadas por uma série de crises existenciais. Em 1930, após várias tentativas de suicídio, acabou falecendo no dia do seu aniversário, 8 de dezembro, possivelmente por overdose de barbitúricos.

Sua morte precoce reforçou a aura trágica que a cercava, mas sua obra continua a emocionar gerações. Seu soneto Fanatismo ilustra bem sua entrega ao amor idealizado:

“Não és sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!”

Essa devoção absoluta revela uma mulher que ansiava por plenitude emocional, mas se via constantemente frustrada pela realidade.

A sua arte continua viva, e sua poesia segue encantando e emocionando gerações. O soneto Fanatismo fez grande sucesso no Brasil ao ser interpretado musicalmente pelo cantor cearense Raimundo Fagner.

Veja também: Ouvir estrelas (Poesia clássica) ‣ Jeito de ver

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Quando a miséria dá Ibope (Lágrimas de TV)

Imagem de Marc Pascual por Pixabay

A Menina e o Sonho Distante

A pobre menina de pouco mais de cinco anos de idade tinha tantos sonhos quanto as outras meninas de sua idade. Não queria muito, queria apenas uma dessas bonecas que via nas propagandas na velha televisão que repousava no lado esquerdo da casinha de piso de chão batido, tanto mais frio no inverno.

Seus olhinhos brilhavam ao ouvir, nesses programas de TV que ajudavam os pobres, que a vida podia mudar, mas sua vida não parecia ter outras perspectivas. Sua mãe, solitária e doente, não podia fazer muita coisa, nem dar muita coisa, e a pobre menina ajudava nas tarefas da casa: lavando, passando e, às vezes, cozinhando quando a mãe se enfraquecia.

Era triste ver a infância fugir e o brilho nos olhos da menina se apagar. Mas algo mudaria.

Numa dessas histórias que se assemelham a contos de fadas, alguém escreveu para um desses canais que “ajudam” os carentes. E, vestida com sua melhor roupa, ela se apresentou naquele programa, enquanto a suave música de fundo trazia emoção e lágrimas às pessoas que agora também conheciam sua história.

O apresentador, de voz compassiva, contava a história, repetindo os trechos mais marcantes… e, de casa, os telespectadores também compartilhavam o mesmo choro. Segurando ternamente as mãos da menina, o apresentador pediu uma pausa. A audiência estava nas nuvens, e o apresentador, com olhos marejados, chamava o intervalo e, consequentemente, os comerciais…

E, enquanto o canal faturava com os patrocinadores, a cena no auditório não era tão terna nem tão triste…

No início do intervalo, o apresentador soltou friamente a mão da pobre menina, correndo feliz para checar com os auxiliares o sucesso daquele programa. Feliz por saber que estava em primeiro lugar…

Enquanto isso, com a mesma solidão e desilusão do dia a dia, sentada nos degraus do cenário, a menininha não entendia absolutamente nada… Não percebia que estava sendo usada como parte do jogo.

O Menino do Pintinho Piu

A história acima é baseada em fatos, mas uma história que ilustra bem tais programas de TV é a do Menino do Pintinho Piu.

O menino gravou um vídeo despretensioso dublando a música Pintinho Piu. O vídeo viralizou! Tornou-se a sensação da internet. E, por fim, foi descoberto por um desses programas populares.

O apresentador, feliz com a audiência, prometeu que daria suporte à carreira daquele menino. Os telespectadores elogiavam o apresentador: — “Viu como ele se importa com as pessoas?”

Os pais, entusiasmados com a possibilidade de sucesso do filho, venderam todos os bens para investir no sonho e bancar a gravação e divulgação do disco do menino.

Nota: o menino não era um cantor. Não havia possibilidade de dar certo!

Mas o apresentador estava tão entusiasmado…

Pobres pais… Não imaginavam que seriam esquecidos por todos, inclusive pelo apresentador, assim que o programa acabasse — com picos elevadíssimos de audiência.

Mais pobres agora, tentariam voltar ao mesmo programa, com o mesmo apresentador que faria a mesma cena, capitalizando sobre a miséria de uma família que vendeu tudo que tinha para investir na carreira do filho.

As Lágrimas da TV

São histórias tristes, é verdade! Mas a verdade maior é que as pessoas gostam de acreditar em lágrimas de TV. Gostam de acreditar que as lágrimas nos olhos de um apresentador que está preocupado com faturamentos, contratos, carreiras, com tudo — menos com a vida da pessoa no meio do palco.

As pessoas gostam de ser enganadas…

O mundo real é chato. A vida real é muito chata!

Enquanto as câmeras filmam, as lágrimas parecem reais. Mas, quando se apagam, a realidade volta a ser o que sempre foi: cruel para os que vivem dela e lucrativa para os que a exploram.

Leia também: Cultura – Quando o mais fácil é desistir! ‣ Jeito de ver

Casca de banana (Acidentes acontecem…)

Imagem de G.C. por Pixabay

Casca de banana…

Jurei por tudo,
Prometi que jamais iria cair novamente…
Paixão faz sofrer,

Faz chorar…
Nos deixa com cara de bobos,
Nos rouba o sono,

Faz perder noites,
até mesmo sumir o apetite!

Jurei,
Nunca, jamais…
Paixão é doença
Que mata a gente,

de tanto sonhar, de planejar,
E que não dá futuro.
Atrapalha a concentração…
E até revira o estômago.

Nos deixa bobos e ainda mal-humorados.

Maldita paixão…

E de repente você aparece…
E lá estou eu, no mesmo caminho, escorregando de novo,
Com a mesma carinha de bobo!
Fazendo as mesmas bobagens! De novo!

Leia também: Versos sem destino ( um conto ) ‣ Jeito de ver

Ajustando a rota – O caminho e o destino

Motoristas experientes costumam agir automaticamente diante de mudanças de sinal ou sinais de perigo nas rodovias.

Reduzir a velocidade ou mudar a direção pode ser tudo o que separa a segurança do risco.

Às vezes, tomar um caminho diferente é exatamente o que se precisa para chegar ao destino.

Você talvez se pergunte: mudar de direção pode atrasar a chegada ao destino. Compensaria tal sacrifício?

Isso depende das suas prioridades.

As prioridades e o verdadeiro sucesso

Não é incomum ver pessoas sacrificando família, amizades e até mesmo a própria moral para alcançar um objetivo mais rápido.

Mas, o que é o sucesso se, para alcançá-lo, abrimos mão das coisas que dão sentido à vida?

É verdade que algumas pessoas não se importam com quem deixaram para trás. Talvez nunca tenham tido apego a amizades ou sentimentos. Não as criticamos.

Por outro lado, se você não pensa assim, fique tranquilo: você é normal.

Sucesso não se mede pelo acúmulo de riquezas ou pela fama. O verdadeiro sucesso está na satisfação de fazer o que se gosta.

Carregar um título ou alcançar um status não significa necessariamente ser bem-sucedido.

Às vezes, abrir mão de certos planos e mudar de direção é necessário para não deixar para trás aquelas pessoas que queremos ao nosso lado por toda a vida.

Por elas, estamos dispostos a ajustar a rota — afinal, o que pode ser mais valioso do que compartilhar o sucesso com quem amamos?

Esteja atento: no futuro, o resumo da viagem será o mais importante. E as viagens são sempre melhores quando não estamos sozinhos.

Leia também: A esperança (Poesia de resistência) ‣ Jeito de ver

Boas Festas – Uma canção de Natal brasileira

A disparidade das diferenças sociais é visível no Natal. Entenda o contexto da música Boas Festas.

Imagem de Giorgio Giorgi por Pixabay

É clima de boas festas…

O comércio esperou o ano inteiro para adornar as suas lojas com enfeites natalinos, atraindo mais clientes com brinquedos e iguarias típicas das festas de fim de ano.

A tentação dos olhos é acalmada pelas alegres canções natalinas.

Crianças pobres  admiram das vitrines os mais belos brinquedos, mas não estão inocentes, “o seu Papai Noel” não vem, como das outras vezes.

A disparidade das diferenças sociais é visível nesta época do ano.

Enquanto isso acontece, o fundo musical não poderia ser mais honesto: Ouço “Boas Festas”, uma composição do baiano Assis Valente.

Pois é, enquanto o Natal é sinônimo de celebração para muitos, também expõe as desigualdades sociais e os desafios emocionais, como os enfrentados por Assis Valente…

Vamos Conheer a sua história.

Conhecendo Assis Valente

Assis Valente foi um dos maiores nomes da música brasileira que sofreu de intensa depressão em sua vida, um tema que ainda hoje ressoa devido à importância de se discutir saúde mental, especialmente entre artistas.

Nasceu no dia 19 de março de 1911, na Bahia, em local controverso entre Salvador e o distrito santamarense de Bom Jardim.

Confira a biografia de um grande compositor .

Assis Valente – Wikipedia

Assis viveu muitas dificuldades na infância.

Ainda menino, foi separado de seus pais biológicos e entregue a uma família em Santo Amaro, onde foi educado, mas também obrigado a realizar trabalhos extenuantes.

Mais tarde, foi criado por outro casal em Alagoinhas, que o matriculou no Liceu de Artes e Ofícios da Bahia para aprimorar suas habilidades em desenho e escultura.

Durante a juventude, trabalhou como doméstico, assistente em hospitais e até declamador de versos em um circo. Essas experiências moldariam tanto sua personalidade quanto sua obra.

Mudança para o Rio de Janeiro

Era na capital que as coisas aconteciam…

Em 1927, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou como protético e ilustrador, publicando desenhos em revistas como Shimmy e Fon-Fon.

Mudando para o Rio, ele se tornou um dos compositores mais aclamados da era do rádio, escrevendo sucessos para intérpretes icônicos como Carmen Miranda e Orlando Silva.

Na década de 1930, incentivado por Heitor dos Prazeres, começou a compor sambas que alcançaram sucesso nas vozes de grandes intérpretes.

Seu primeiro sucesso, “Tem Francesa no Morro” (1932), foi cantado por Aracy Cortes.

Compositor de músicas festivas

Assis Valente também é considerado pioneiro em criar músicas para festas juninas (“Cai, Cai, Balão”) e natalinas (“Boas Festas”), ambas de 1933.

“Boas Festas”, composta em um quarto de pensão em Niterói durante o Natal de 1932, é um marco na música brasileira, retratando a realidade de desigualdade social vivida pelo próprio compositor.

Assis, então com 24 anos, estava sozinho e deprimido, longe da família e sem notícias dos seus entes queridos.

Inspirado por uma imagem natalina no quarto, a composição tornou-se uma expressão de sua melancolia e um pedido por felicidade.

A canção consolidou-se como um ícone do Natal à brasileira, sendo amplamente regravada por diversos artistas ao longo das décadas.

Apesar de sua genialidade e das canções que marcaram época, como “Brasil Pandeiro” e “Camisa Listrada”, Assis enfrentou profundas angústias internas.

“Brasil Pandeiro”, sucesso que foi recusado por Carmen Miranda, ganhou notoriedade com os Anjos do Inferno e, mais tarde, com os Novos Baianos.

Conflitos internos

A depressão que o acometeu foi agravada por circunstâncias externas e internas.

Ele sofreu com questões financeiras, apesar do sucesso de suas músicas, e também com o reconhecimento limitado de sua contribuição artística na época.

Muitas de suas composições eram vendidas a preços irrisórios, privando-o de uma fonte de renda estável.

A crise financeira se agravou com dívidas crescentes, como a que teve com Elvira Pagã, cantora de alguns de seus sucessos.

Além disso, a pressão para manter o padrão de vida exigido por sua posição na sociedade exacerbava suas dificuldades econômicas.

Assis, um homem sensível, parecia carregar o peso do mundo em suas criações, que mesclavam humor, crítica social e uma melancolia subjacente.

Uma triste vida tumultuada e o fim

Casou-se em 1939 e teve uma filha, Nara Nadyli, mas o casamento terminou em separação.

Enfrentou várias tentativas de suicídio, incluindo uma em 1941, quando saltou do Corcovado, mas foi salvo pelas árvores.

Em um dos momentos mais desesperadores, procurou o escritório de direitos autorais na esperança de conseguir dinheiro, mas recebeu apenas um calmante.

Assis Valente decidiu encerrar sua vida no dia 11 de março de 1958, uma terça-feira chuvosa no Rio de Janeiro. Endividado e profundamente abatido, comunicou sua intenção a amigos e funcionários, antes de ingerir formicida em um banco de rua no Largo da Glória.

No bolso, deixou um bilhete onde pedia a Ary Barroso que pagasse dois aluguéis atrasados. Seu último verso dizia: “Vou parar de escrever, pois estou chorando de saudade de todos, e de tudo.”

Lições e legado

A relevância de Assis Valente transcende sua tragédia pessoal.

Ele deixou um legado que continua a influenciar a música popular brasileira, evidenciando o papel do artista como cronista de sua época.

Hoje, sua história inspira reflexões sobre os desafios enfrentados pelos criadores e a importância de oferecer suporte a quem lida com problemas emocionais e psicológicos.

Convém lembrar que mesmo na atualidade alguns intérpretes famosos exigem ter seus nomes como co-compositores de canções potencialmente lucrativas, desmerecendo o verdadeiro compositor, que teme ser boicotado caso não aceite.

As canções de Assis Valente foram redescobertas nos anos 1960 e desde então vem sendo regravadas por grandes nomes da MPB, como Chico Buarque, Maria Bethânia e Elis Regina.

Sua obra reflete sua genialidade como compositor, e também a realidade de uma época marcada por desigualdades sociais e desafios pessoais.

Conheça a letra:

Boas Festas
Assis Valente

Anoiteceu
O sino gemeu
E a gente ficou
Feliz a rezar

Papai Noel
Vê se você tem
A felicidade
Pra você me dar

Eu pensei que todo mundo
Fosse filho de Papai Noel
Bem assim felicidade
Eu pensei que fosse uma
Brincadeira de papel

Já faz tempo que eu pedi
Mas o meu Papai Noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem
Oh, anoiteceu

Leia também: Dezembro – História do mês e curiosidades ‣ Jeito de ver

Fonte: Wikipedia

“Boas Festas”: o “hino” do Natal brasileiro que nasceu da | Cultura

Posts | Discografia Brasileira

Motivos… ( Não desistir!)

Um barco em um lago.. Neste poema, a beleza que existe é um motivo para não desistir.

Imagem de Mike Goad por Pixabay

 

Por Gilson Cruz

Olha o céu
vê mais que o azul

Sinta do sol, mais que o calor
– A sensação de viver

Veja nas flores mais que meras cores
sinta a beleza

E no tempo, veja mais que idade, muito mais do que aquilo que já passou
Veja a tua hora, teu espaço.

Perceba nas linhas
muito mais que meras palavras
Tenha uma mensagem.

E nas ações
Muito além das intenções…
Um desejo de bem.

Siga em frente
haverá sempre uma razão
não desista

E se as luzes se apagam, e te esconde a face, sorria… por você

Esteja disposto a não cair
E se cair
tenha disposição de se levantar

Quantas vezes necessário for

Ah! E se apaixone…

Por uma beleza…
Por um motivo…
Por alguém…

E se as coisas não acontecerem
Perdoe
Perdoe sempre…

E tente tudo.

Tudo outra vez.

 

Leia mais em A esperança (Poesia de resistência) ‣ Jeito de ver

 

A esperança (Poesia de resistência)

Uma mensagem positiva para o dia.

Imagem de 1195798 por Pixabay

 

Não pare,
ainda há esperança
Não desista…
Ainda existe a luz
e ela resiste

Não se cale
Ainda há algo a ser dito
Não tema
A escuridão
Não é eterna,
A luz resiste

Não se esconda
Todos precisam te ver
Não corra…
Ainda não é tempo…
A tempestade parece invencível
Mas, a paz precisa resistir.

Não se esconda
Não se cale
Não pare…
Não corra.
Pois, apesar da tempestade
A flor brotou…
E ela resiste!

Gilson Cruz

Leia mais em: O tempo ( Contador de histórias) 

-Jeito de ver: Como seria … – Poema de um novo dia. › Jeito de ver

Tuca, o menino (Vida numa poesia)

Tuca,
Menino de raiz africana
de peito aberto ao mundo
e de sonhos

Tuca, o menino
teve um sonho
e ganhou asas
Chegou às nuvens

E das nuvens
Viu o azul no mar
E mergulhou sem medo…
Nadou com os peixes
brincou com as conchas…

Mas, não andou sobre as águas…

Tuca, o menino
Ganhou o mundo
E sofreu…
Lutou,
mas amou.

Daí, sentiu saudades de casa.

E o menino voltou
de novo, às raízes
E descobriu um mundo novo.
E por aqui ficou.

Meu amigo, 

O que um poeta faz, além de empregar palavras?

O poeta busca a razão e o sentimento escondidos nas entrelinhas, procura também a vida por trás dos nomes e sutilmente coloca a cada um deles no espaço, para que preencham pensamentos. O verdadeiro sentido estará na imaginação.

Gilson.

Leia mais em O tempo ( Contador de histórias) – Jeito de ver.

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