Ou, talvez, o incentivo que falta aos músicos anônimos…
O lado músico
Apaixonado por música, costumo sair às noitinhas ouvir os sons nos bares dos centros da cidade.
O som produzido por músicos ainda anônimos me atrai, esses músicos que tocam por trocados para alimentar o sonho e a família, dando o seu melhor.
Enquanto isso, clientes conversam entre si, bebem, falam de futebol, novelas, filmes, falam de tudo – menos da canção que vem do pequeno palco, cuidadosamente preparado para o artista, o cachê é pequeno – pequenas cidades significam pequenos movimentos.
Em cada canção , uma emoção diferente.
Tudo que ele aguarda são aplausos, pois bem sabem os verdadeiros músicos , são os aplausos que alimentam sonhos. E, como diz a canção, sonhos não envelhecem.
Mas, os sonhos também precisam ser alimentados com o uso correto de incentivos, também pelo poder público, que pode organizar festivais municipais e eventos culturais.
A Lei Rouanet
A lei Rouanet, de 1991, foi criada com o objetivo de incentivar e fortalecer a arte e a cultura.( Lei 8.313 de 23/12/1991).
Por quê?
Bem, apesar de muitos porquês, lembre-se:
O primeiro objetivo de um conquistador e colonizador, é sobrepor a sua cultura aos nativos – pois, a cultura é a raiz, a força de uma sociedade.
A cultura é identidade de um povo.
A música norte americana domina o mundo inteiro. Mas, não é apenas pela qualidade, há também a questão o interesse em sua divulgação.
O mesmo pode pode ser dito nas propagandas do American way of life (o modo de vida americano) por meio dos filmes hollywoodianos.
Nesta mesma linha testemunhamos a explosão K-POP ( cultura POP Sul Coreana) por meio de grupos super bem coreografados, filmes e séries.
Os Governos desses países, citados como exemplo, apoiam a cultura pois sabem que o fortalecimento da imagem vai gerar retorno, em maior exposição, resultando em um maior interesse de outros países em sua cultura e consequentemente aumento em vendas e turismo.
Dominando a cultura, será mais fácil dominar as outras coisas – principalmente o modo de pensar.
AS LEIS DE INCENTIVO À CULTURA – Um pouco de História
A lei de fomento à cultura já existe há muito tempo no Brasil, por exemplo, foi criada em 1967 uma lei que abatia do ICM qualquer gasto com gravações de artista nacionais.
Os aprovados recebiam o Selo “DISCO È CULTURA”, frase comum em quase todos LongPlays (LP’s).
O “Disco é Cultura ” – fazia parte do incentivo do Governo para disseminação da música e de artistas nacionais.
Os benefícios seriam imensos à arte, história e à economia do País.
Artistas nacionais dos mais variados estilos, eram descobertos e divulgados, numa troca cultural e econômica.
A Lei Rouanet sofrendo ataques
A lei Rouanet tinha objetivos semelhantes.
O valor que empresários investissem na cultura seria deduzido no imposto de renda.
Resultando em ganhos para o investidor, para o artista e para a cultura.
Esta foi duramenteada e distorcida por que ou não a entendiam ou talvez tivessem a intenção de enfraquecer a cultura.
Saiba mais nos links. – Lei Rouanet: conheça a lei de incentivo à cultura | Politize!, Lei Rouanet: O que é, Como Funciona e Mitos – FIA
Tornou-se lugar comum se referirem a artistas que faziam uso desta lei, como vagabundos, mamateiros ( termo usado para insinuar que aqueles que faziam uso da lei Rouanet eram “privilegiados”).
Alguns artistas passaram a ser humilhados por isso.
A população mal informada comprou a ideia, mas não percebeu o que acontecia nos bastidores.
Enquanto criticavam uma lei, que apesar de imperfeita era legítima, aconteciam as verdadeiras distorções.
As distorções
A crítica à Lei Rouanet tornou-se cortina de fumaça para casos escabrosos como o exemplo a seguir:
Pequenos municípios no interior do Brasil faziam contratos de shows, por valores absurdos, shows de artistas medíocres, divulgados por uma imprensa massiva como o SUCESSO do momento.
Alguns exemplos nos links. – Megacachês: Agropop surpreendido de calça curta – Outras Palavras, Sobre o desvio de recursos públicos para cachês milionários em shows de cantores Sertanejos – CTB
Distorções no Uso da Lei Rouanet
Distorções realmente aconteceram no uso da lei Rouanet, que poderia ter sido melhor usada em espetáculos e artistas em início de carreira.
Para que qualquer Lei funcione plenamente é preciso que haja o básico: HONESTIDADE!
Muitos empresários fizeram mal uso da lei, por exemplo, sob o pretexto de incentivar um novo cantor ou a arte.
Um empresário poderia declarar gastos exorbitantes. – Veja os lins no final da matéria.
Muitos políticos, empresários e mesmo artistas, fizeram mal uso desta lei, por promoverem shows de artistas agenciados por eles próprios.
Seria leviano acusar a Lei Rouanet, uma vez que as leis abordam intenções e quando alguém burla uma lei – o defeito e o crime está no fraudador!
Havendo honestidade TUDO funciona.
Mau uso de dinheiro público em outras situações
Situações tão absurdas quanto à de um município brasileiro, com população de pouco mais de 8.000 habitantes, que contratou um show de um cantor amplamente divulgado na mídia por mais de R$800.000, de recursos que poderiam ser melhores aplicados nas áreas de Saúde e Educação, tão precárias naquele município. – Show de Gusttavo Lima em cidade de 8 mil habitantes é alvo de investigação do MP – Justiça – CartaCapital
Que moral teria um cantor que se beneficiou de contratos absurdos e vergonhosos de tal magnitude para criticar a Lei Rouanet?
PANEM ET CIRCENSES…
“Dêem Pão e Circo e o povo estará satisfeito…”
Como na canção “Panis et Circenses”, do Gilberto Gil, “as pessoas estão ocupadas em nascer e morrer “.
As pessoas estão condicionadas a achar que estão recebendo benesses de Prefeituras por receberem tais “artistas”superfaturados, não questionam o mal uso de recursos públicos.
Diferentes das plantas da canção, “cujas folhas procuram o sol e as raízes procuram no solo seus nutrientes”.
Não conseguem supor que, às vezes, quando não são vítimas, são participantes de uma fraude!
Contentam-se apenas com a ilusão de dizer ter assistido a um show de um cantor famoso, não importando a qualidade da música.
Foram condicionados a acreditar que são bons, por serem famosos e não são instruídos o bastante, para se preocupar também com os custos à saúde do município ( pois não foram educados para isso!).
E os pequenos músicos, talentos que resistem a uma sociedade míope, dão o melhor, na esperança de serem descobertos e patrocinados neste sistema já corrompido.
Que a cada canção, bem executada, espera além do pequeno cachê – espera o reconhecimento de todo artista tanto em aplausos quanto em incentivos para viver da arte e para a arte.
REVISÃO:
. Investir em festivais municipais, eventos culturais e programas de apoio é essencial para alimentar o florescimento da cultura musical local.
. Mencionou-se anteriormente a Lei Rouanet, uma iniciativa que, apesar de suas imperfeições, buscava apoiar a arte e a cultura.
. É fundamental que, em vez de difundir desinformação e estigmatizar os artistas que dela se beneficiaram, a sociedade compreenda os reais propósitos dessas leis de fomento cultural.
. Enquanto criticamos leis legítimas, distorções reais ocorrem nas sombras.
Para não esquecer:
O exemplo de pequenos municípios que gastam recursos consideráveis em shows de artistas famosos, em detrimento de áreas cruciais como Saúde e Educação, é um lembrete de como uma visão de curto prazo pode prejudicar o bem-estar da comunidade.
A música é uma força vital que transcende gêneros e fronteiras.
Os músicos anônimos nas noitinhas dos bares das pequenas cidades merecem nosso apoio e reconhecimento, pois eles carregam sonhos e constroem uma cultura rica e diversificada.
Quando não se apoia a cultura, perde-se a identidade!
Gilson Cruz