Não tínhamos tanto medo, não desconfiávamos do escuro. A velha praça era mal iluminada, podíamos ver estrelas e ouvir as meninas cantando.
Elas ensaiavam uma canção de setembro. Era lindo ouvi-las cantar…
Os casais caminhavam de mãos dadas e havia tanta vida pra viver. O tempo parecia parar, para que eles passassem e para que também ouvissem as meninas naquela canção de setembro.
Os bares desligavam seus aparelhos sonoros para que as vozes tomassem o ambiente. As pessoas sabiam que seria apenas uma música, um instante na hora, na história. Por isso, não tinham pressa… e por coincidência, era setembro.
O Maldito Tempo
Maldito tempo, por que tinha que passar, ainda que devagar? Maldito tempo!
Quem dera aquele momento fosse eterno e as pessoas não vivessem como vivem hoje, com essa pressa, trancadas em telas de aparelhos, escravas da pressa e dessa impaciência…
Quem dera aquele tempo lançasse uma semente no vento, e as pessoas aprendessem um novo instrumento e cantassem juntas.
Quem dera não vivessem isoladas nesta multidão, como vivem hoje. Quem dera os músicos pudessem cantar nas ruas e que poesias pudessem ser decantadas… Sem pressa, no devido tempo.
E que as belas meninas, sentassem novamente, naquele mesmo lugar, na velha praça, e cantassem novamente e semeassem no ar as velhas canções de setembro.
Nem todo dia começa com sol alto ou ânimo de sobra.
Às vezes, é só mais uma manhã apressada, dessas que parecem iguais a tantas outras. Mas, se a gente repara bem, até numa sexta-feira comum o tempo desacelera e revela pequenas belezas — um céu azul quieto, o som dos passarinhos, o silêncio que antecede a cidade.
Este poema é isso: uma travessia entre o automático e o instante presente, entre a pressa e a pausa. Porque, no fundo, a vida vai passando… e nem sempre com pressa.
Sexta-feira
Acordei numa pressa daquelas e o sol ainda dormia A cidade estava silenciosa, meu cachorro não latia Não senti um dia especial, nem era carnaval. Seria apenas mais um dia. Levantei, tropecei nos chinelos que dormiam aos pés da cama, caí e nem pensei na semana… Apenas, mais um dia normal. Mas, é verão e a manhã mais uma vez, como disse o Caetano, nasceu azul. Olhei o violão no cantinho da sala, não pude compor, cantar ou tocar o instrumento e saí enquanto poucos estavam acordados. E o sol começou a brilhar. As cores se assentaram, as nuvens se assentaram lá no horizonte e a minha pressa acabou. Os passarinhos na praça acordaram, Os cachorrinhos no quintal também despertaram e as vozes tomaram conta das ruas… e a minha pressa acabou. E à noite, um céu de estrelas sem pressa, sem som, sem nada enquanto as estrelas dançam e me recuso a olhar a estrada o tempo passa… a vida passa.
Estação Ferroviária reformada em Marcionílio Souza, Bahia
Dados do Município de Marcionílio Souza
A história de Marcionílio Souza remete à era colonial do Brasil, época em que a região era povoada pelos índios Pataxós.
Com a chegada dos portugueses, a área foi incorporada ao sistema de sesmarias, iniciando a exploração de recursos naturais, como a extração de madeira e a criação de gado.
Em divisões territoriais datadas de 31 de dezembro 1936 e 31 de dezembro de 1937, figura no município de Maracás o distrito de Tamburi, permanecendo assim até 1° de Julho de 1960.
A alteração toponímica de Tamburi para Marcionílio Souza foi oficializada pela lei estadual nº 1761, de 27 de Julho de 1962.
Marcionílio Souza foi elevado à categoria de município pela mesma lei, desmembrado do município de Maracás.
A sede está no atual distrito de Marcionílio Souza (ex-Tamburi).
O município foi instalado em 07 de abril de 1963 e constituído de 2 distritos: Marcionílio Souza e Juraci, ambos desmembrados de Maracás.
Na divisão territorial de 31 de dezembro de 1963, o município era composto pelos distritos de Marcionílio Souza e Juraci, configuração que se manteve em divisões territoriais subsequentes, até a de 2007.
LOCALIZAÇÃO
Marcionílio Souza localiza-se na Chapada Diamantina, uma área montanhosa famosa por sua beleza natural.
O município faz fronteira com as cidades de Maracás, Itaetê, Planaltino, Iaçu e Boa Vista do Tupim.
Márcia Chaves, Educadora em Marcionílio Souza.
A cidade é costumeiramente chamada de Tamburí, nome que se refere a uma árvore comum na Região do Baixo Amazonas até o Sul do Brasil.
Essa árvore era citada como referência pelos tropeiros que passavam pela região.
A população avaliada em 2004 era de 9.294 habitantes.
Segundo o último censo realizado pelo IBGE, Marcionílio Souza possui uma população superior a 10.900 habitantes.
Em 2022, o município celebrou seus 60 anos de emancipação política, com uma população de 9.267 habitantes, conforme o censo de 2022, e uma densidade populacional de 8 hab./km².
NOTAS
A principal fonte de renda vem do funcionalismo público, dos aposentados e pensionistas e dos pequenos proprietários de terras que criam e negociam animais como ovelhas, cabras e bovinos. A economia local provém majoritariamente da criação de ovelhas, cabras e bois.
Dados Gerais:
Área Total: 1.162,138 km²
IDH (PNUD/2010): 0,561 (baixo)
PIB (IBGE/2016): R$ 76.873 mil
PIB per capita (IBGE/2016): R$ 7.026,15
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Fontes:
IBGE
Site oficial da Prefeitura de Marcionílio Souza
Que tal um poema?
De longe vejo a terra
P. Cruz
De longe vejo a terra Solo seco, almas secas Aguardando chuvas que abençoem a terra Como lágrimas de uma mãe na alegria de um filho que nasce
No ar, a vontade O calor que afasta o frio E que não permite O caminhar das vidas como risos estridentes Que isolam, o espaço a compartilhar
Terra que os poetas não encontraram palavras para descrever Que num dia de verão Viu de longe Um circo chegar O palhaço sorrir… E se perder…
Digo sobre a morte com ênfase eterna Num gosto intragável de amianto Em tese profunda abandono a vida Em grito silencioso sufoco o pranto
De alma degradada e aflita Uma foice rompeu as minhas veias Tenho um arame entrelaçado ao peito E uma agonia morbida que me rodeia
Bebo o formol que me conserva E fumo passados em tragos finos Escrevo poesias com faca em minha carne E o sangue que sobra eu rego destinos
O meu cadáver será esquecido Em cheiro pútrido esperando virar pó Em menos de uma semana os vermes Comerão um corpo inchado sob o sol
Nos olhos fundos de uma alma fria Estarão ecos em presságios funestos Diante de todos negarei a vida E ante ao caderno confessarei os versos
Perdido em uma densa floresta de ideias Que em todo conceito é um repúdio a vida Espero que meus ossos virem fogueira Em minha carne apodrecida
Serei alimento para as flores De um jardim frio e oculto Estarei livre entre as gramas Que rodeiam meu sepulcro
Parecem até espelhos abandonados Algo vomitado sem nenhum critério Mas é só um clamor tácito De uma alma que vaga em um cemitério.
Observação do site:
Este poema aborda temas sensíveis relacionados à morte, depressão e autodestruição. Recomendamos sensibilidade ao ler ou compartilhar, especialmente se você ou alguém próximo estiver enfrentando dificuldades emocionais.
Ao ler este texto, incentivamos a reflexão sobre saúde mental e a busca por apoio profissional, se necessário. Lembre-se de que você não está sozinho e que há recursos disponíveis para ajudar durante momentos difíceis.
Sentado sozinho, nos degraus em frente a sua casa, ele passava os dias. Há pouco tempo, seu filho deitado num velho sofá, na sala, dormindo, confiando no poder amoroso da cura, na presença dos pais. Ainda sonhava com os tempos em que um beijo no machucado aliviava as dores e fechava as feridas, embora isso já fosse há mais de quarenta anos no passado. Mas, filhos não envelhecem… E sentado sozinho nos degraus, o pai não olha para trás, para não lembrar do amor de sua mocidade, já cansada de carregar o peso do tempo, indo e vindo entre a cozinha e a sala onde o eterno menino dormia. Relembra as primeiras quedas, os abraços e os planos para o futuro… E acredita no ciclo natural…em que os mais velhos preparam o mundo para os novos. Mas, desta vez não foi assim… E ele sentado nos degraus, sem olhar para trás, tenta questionar o tempo. Como se estivesse ansiosamente esperando uma resposta do futuro. Pois desta vez, a sala vazia e o silêncio na cozinha, lembram quantas adversidades um homem só – neste mundo tão grande – pode enfrentar, sem entender o motivo. E ele jamais entenderá…