Brincavas de escrever, desenhar, até de estudar… (Mas estudar é coisa séria, menina!)
E já rias… da minha cara de tédio, das chatices das aulas de EMC, matemática, filosofia… Meu Deus, quanta agonia!
Mas rias…
E quando estavas calada, brincavas de sonhar. (Sonhar é bom, é bom sonhar, não posso te culpar.)
E eu me escondia nas folhas do caderno, entre desenhos de montanhas, casas, borboletas, flores… Me escondia em páginas de velhos livros, das goteiras na sala, nas chuvas de inverno. Me escondia nas linhas, não é exagero. (Mas rimar com livros ainda é terrível!)
Éramos jovens, bem jovens… E tanto tempo passou. (Mas teus risos não passam com o tempo, são jovens, são eternos… como um sorriso do tempo!)
E versos simples eu fiz. Mas, para quê tantos versos? Para quê tantos versos tão simples? – você diz.
Sim… Menininha, o motivo é tão simples quanto os versos…
“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto, Que, para ouvi-las, muita vez desperto E abro as janelas, pálido de espanto…
E conversamos toda a noite, enquanto A via-láctea, como um pálio aberto, Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto, Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: “Tresloucado amigo! Que conversas com elas? Que sentido Tem o que dizem, quando estão contigo?”
E eu vos direi: “Amai para entendê-las! Pois só quem ama pode ter ouvido Capaz de ouvir e de entender estrelas.”
(Poesias, Via-Láctea, 1888.)
Olavo Bilac
Comentando a poesia
Esse é um dos sonetos mais belos e conhecidos de Olavo Bilac, extraído do livro Via Láctea (1888).
Este soneto carrega a essência do Parnasianismo na forma impecável e no rigor métrico, mas também transborda lirismo e subjetividade, flertando com o Simbolismo.
Aqui, Bilac constrói uma metáfora poderosa sobre a sensibilidade e a capacidade de perceber a beleza e o mistério do universo.
O eu lírico enfrenta a incredulidade daqueles que não compreendem sua comunhão com as estrelas, representando a oposição entre razão e emoção, lógica e sentimento.
Ao que a resposta final—”Amai para entendê-las!”—é um convite à sensibilidade, sugerindo que só através do amor é possível captar o que é invisível aos olhos e inalcançável pelo intelecto frio.
Sim, essa ideia de que o amor é a chave para compreender o sublime é profundamente tocante.
O poema sugere que há mistérios no mundo—representados pelas estrelas—que a razão sozinha não pode desvendar. Só quem sente profundamente, quem ama, pode realmente “ouvir” e entender essas verdades mais sutis.
Melancolia e Solidão
Além disso, há algo de melancólico e solitário no eu lírico, que passa a noite em vigília, encantado com as estrelas, mas também enfrentando a incompreensão dos outros. Esse contraste entre a frieza da razão e o calor da emoção torna a mensagem ainda mais envolvente.
A superficialidade e a pressa da vida moderna tornam essa contemplação cada vez mais rara.
Parece haver uma desconexão entre o sentir e o viver, como se as pessoas estivessem sempre correndo atrás de algo—sucesso, status, prazer imediato—mas sem realmente se permitirem sentir com profundidade.
O amor, como Bilac sugere, não é apenas um impulso ou um desejo, mas uma forma de percepção. Ele nos dá um olhar mais sensível sobre o mundo, nos permite “ouvir estrelas”, ver a beleza onde outros veem apenas o banal.
Cabe a seguinte reflexão: “Será que ainda há espaço para esse tipo de sensibilidade no mundo de hoje? “
Olavo Bilac (Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac -1865-1918 ), foi um dos maiores poetas do Brasil, principal nome do parnasianismo, e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, criou a cadeira nº. 15, que tem como patrono Gonçalves Dias. – Olavo Bilac | Academia Brasileira de Letras
Sua atuação não se restringiu à literatura, destacando-se também pelo forte engajamento cívico e político. Defensor do serviço militar obrigatório, escreveu a letra do Hino à Bandeira e fez oposição ferrenha ao governo de Floriano Peixoto, chegando a ser preso em 1891.
Desde jovem, Bilac mostrou talento para as letras. Ingressou na faculdade de Medicina por influência do pai, mas abandonou o curso para se dedicar ao jornalismo e à literatura. Trabalhou em diversos periódicos e publicou seu primeiro soneto, Sesta de Nero, em 1884, recebendo elogios de Artur Azevedo.
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Em 1907, foi eleito “Príncipe dos Poetas Brasileiros” pela revista Fon-Fon.
Frequentador de rodas literárias e boêmias no Rio de Janeiro, Bilac teve uma vida social intensa. Ocupou cargos públicos e dedicou-se à produção de poemas, crônicas, livros escolares e até textos publicitários.
Curiosidade: Em 1897, sofreu o primeiro acidente automobilístico registrado no Brasil.
Bilac viveu sozinho, após dois noivados desfeitos, e faleceu em 1918, vítima de edema pulmonar e insuficiência cardíaca. Sua influência no cenário literário e cívico é eterna, imortalizando-o como um dos grandes nomes da poesia brasileira.
Explicando o Parnasianismo
O parnasianismo foi uma escola literária surgida na França, no século XIX, como uma reação ao sentimentalismo e subjetividade do romantismo. Caracterizou-se pelo rigor formal, objetividade e busca da perfeição estética na poesia.
Os parnasianos valorizavam a métrica rígida, as rimas ricas e a linguagem refinada, muitas vezes explorando temas clássicos e mitológicos.
A poesia parnasiana enfatizava a arte pela arte, ou seja, o compromisso maior era com a estética, e não com emoções ou engajamentos sociais.
Os policiais olhavam perplexos…
Não havia nenhum trabalhador protestando contra a reforma da previdência,
como atirar?
Não havia professores a pedir melhoras salariais
e um tratamento digno,
o que fazer?
Não havia alunos protestando contra a farinata,
a ração para alunos…
como usar a força necessária?
Não havia ninguém pedindo reforma agrária,
nem Herzogs, Jobins,
ou estudantes de medicina lutando por liberdade e dignidade.
Então, como agir?
O que se via era cidadãos de bem
dispostos a destruir tudo o que vissem pela frente…
Tudo o que, a duras penas,
fora construído com luta e impostos.
Dispostos a rasgar leis,
destruir obras de arte
e até mesmo roubar portas.
Eram cidadãos de bem,
desrespeitando aquilo que os humanos civilizados
lutaram por um dia, de 21 anos.
Poucos policiais tentaram cumprir suas missões,
mas foram derrubados de suas montarias
e talvez espancados.
E os outros, o que poderiam fazer,
se eram homens de bem?
E o exército levantou sua voz:
“Não serão presos, são pessoas de bem!”
E no oitavo dia,
passei a temer as pessoas de bem.