GTM-N822XKJQ

O drama do músico – As escolhas

 

Gilson Cruz

 

O Desafio de Apresentar Novas Obras

Compor uma música é como trazer algo à vida. A inspiração, as horas de planejamento e, enfim, a hora da execução. Trazer uma obra ao público pode ser uma experiência traumatizante. Imagine as dúvidas que pairam sobre a mente de um artista quanto à aceitação de sua obra, daquilo que envolve tanto de sua personalidade!

No Festival de Música de 1967, Sérgio Ricardo, intérprete de “Beto Bom de Bola”, enfrentou uma situação ilustrativa. Desapontado por não ouvir o retorno do som da banda de apoio devido às vaias incessantes da plateia, o cantor teve um ataque de ira. Em um ato de descontentamento, proferiu as seguintes palavras: “Vocês ganharam, vocês ganharam!”, quebrou seu violão em um banco e o atirou para a multidão.

Nas competições disfarçadas de festivais, os sentimentos de rivalidade e competição superavam o que deveria ser a razão da arte: a apreciação. Muitas belas canções foram vaiadas, refletindo como a reação intempestiva do público resultou no mesmo comportamento do artista.

Essa dinâmica também ecoa nos desafios enfrentados pelos músicos consagrados. Mesmo com o sucesso de suas primeiras canções, surge o anseio de apresentar trabalhos mais recentes. No entanto, a introdução dessas novas músicas no repertório pode se tornar um desafio. Muitos artistas, após obterem sucesso com seus primeiros discos, podem se distanciar dessas músicas, ignorando o desejo do público por elas.

Pode haver uma certa resistência do público às novas canções por causa dos vínculos sentimentais gerados pelas antigas. Por isso, o artista consciente introduz sutilmente o novo repertório, revezando novos e velhos sucessos, de modo a não causar estranheza.

O Drama dos Músicos Anônimos

Músicos anônimos vivem cada apresentação como sendo uma última oportunidade. Não sabem onde estarão no dia seguinte, por isso, cada show se torna uma mistura dos mais variados estilos, na busca de encontrar um que seja a sua marca. Sonham, muitas vezes, em ser descobertos por empresários que os ajudem na busca desses sonhos.

A plateia, por outro lado, se divide em três: uma que preza as habilidades do artista, outra que está lá pela música e a outra que busca um significado nas coisas. Cabe ao artista dar aquilo que se precisa e se espera.

Àqueles que estão pelo artista: a arte – o que há de melhor. Àqueles que estão apenas pela música: a melhor música. Àqueles que buscam um significado: o momento inesquecível.

O público é a vida da arte, é quem se encarregará de não esquecê-la. Por isso, a relação artista-arte encontra a sua finalidade quando alcança o coração do público, que a manterá viva através dos tempos.

 

 

Veja também: Que tal compor a sua obra de arte? ‣ Jeito de ver

 

 

 

Músicos anônimos vivem cada apresentação como sendo uma última oportunidade.

Não sabem onde estarão no dia seguinte, por isso, cada show se torna uma mistura dos mais variados estilos, na busca de encontrar um que seja a sua marca. Sonham, muitas vezes, em serem descobertos por empresários que os ajude na busca desses sonhos.

 

Retratos da vida – o que deixamos passar

Gilson Cruz

A Superficialidade do Cotidiano

Falar sobre tristeza é complicado. Ouvir sobre ela pode ser ainda mais desafiador.

A rotina mecânica do dia a dia nos acostumou a buscar contentamento em coisas superficiais: a TV ligada enquanto arrumamos a casa, o rádio ao fundo com murmúrios que já não nos despertam interesse. As letras e músicas se tornaram meros acompanhamentos para nossas tarefas diárias.

É triste perceber como antigas fotografias, agora, evocam uma felicidade incerta. A lembrança da casa na praia, da família reunida, das crianças tagarelando e dos pais resmungando sob o calor intenso traz um sentimento de felicidade passada. O sol de verão, as risadas… a foto ainda é linda.

Mas o passado parece se assemelhar ao presente de maneira vívida, exceto pela ausência de alguns sorrisos na próxima foto. Assim tem sido a vida. Os momentos bons e antigos parecem congelados no tempo.

A Automação das Emoções

Vivemos de forma automática. Ignoramos aqueles e aquilo que consideramos menos relevantes no momento. Deixamos de responder a quem se importa conosco e, quando essas pessoas se vão, talvez finjamos ou realmente nos sintamos tristes.

Falar sobre tristeza não é simples. Assim como não foi para um homem que se aposentou após anos de trabalho árduo e descobriu uma doença, percebendo que talvez não desfrutaria seus últimos anos como planejara: ao lado da mulher amada, com menos preocupações, sem a angústia do hoje e a incerteza do amanhã.

Ou para um amigo que, ao sair do consultório médico, chorava e murmurava: “É a vida… o pobre vive para trabalhar. E quando velho, a cura é o buraco (a cova)!”

Sem palavras, os dois se abraçavam, incapazes de oferecer consolo além de concordar um com o outro.

Histórias Que Passam Despercebidas

Enquanto os ouvia, eu tentava encorajá-los a não desistir, embora soubesse que palavras de conforto não corrigem injustiças.

E os últimos dias deles seriam uma luta para encontrar plenitude, mesmo nos momentos finais, ao lado da amada que os acompanhou por tantos anos. Seriam dias para lembrar de um passado guardado na carteira, em uma foto preto e branco de um jovem casal, no dia do noivado, repleto de sonhos, risadas e olhares enamorados para a câmera.

Essas histórias se desenrolam todos os dias, enquanto nós, ocupados demais para pensar e demasiadamente egoístas para além de nossos próprios problemas, deixamos passar despercebidos os momentos e as pessoas. Agimos como se fossem eventos secundários na televisão, enquanto mecanicamente cuidamos das tarefas em nossas casas.

Veja mais em Vamos falar de amor? (Muito além da paixão) › Jeito de ver

Fim de uma paixão (e o céu continuava azul)

Imagem de Hans por Pixabay

Gilson Cruz

Não sei o que ardia
naquele momento
Se a ansiedade de continuar tentando
ou o medo…
de aceitar que sonhos,
na maioria das vezes não se realizam.
E naquele momento,
que precisava acordar, acordei.
E o céu continuava azul.

Gilson Cruz

Leia também:  O tempo ( Contador de histórias) – Jeito de ver

Ao mesmo lugar (onde eu possa voltar)

Criança corre nos campos. Uma poesia de nostalgia e saudade. Se emocione também.

Imagem de andreas160578 por Pixabay

Gilson

Quero voltar ao lugar

onde as crianças brincam, e esquecer a minha pressa…

Contemplar os risos, esquecer dos riscos e da dor que me atravessa.

Lembrar que um dia naquele mesmo lugar ouvi os acordes suaves de um violão ressoar.

O balançar dos cabelos, o amor a sorrir, a inspiração, os apelos… que não voltasse a partir.

Quero voltar ao lugar

E reviver o medo de não acertar, de não merecer… Reviver a voz suave, poder viver…

Quero voltar ao lugar onde as crianças brincam e trazer de volta as memórias e fazer as pazes comigo…

E lembrar aquele dia, marcado, riscado no tempo… da menina que sorria, linda, livre, lindo firmamento.

Lembrar dos céus de primavera que nascera em outra estação, do amor que se espera, o infinito, a liberdade, a mão…

Outras crianças hoje brincam. Sim, no mesmo lugar… Venham, ouçam os risos… esqueçam os riscos… É onde quero voltar e ficar.

E recordar aqueles risos… De quem vivo a sonhar.

Leia também : O tempo ( Contador de histórias) – Jeito de ver

E quando a infidelidade acontece?

Imagem de Melk Hagelslag por Pixabay

Uma canção antiga pergunta a um tal de Sr. James: “Te envio esta carta pra saber, seus conselhos… e por que as pessoas brincam e nos chutam como se fôssemos pequenas pedras, eles esquecem que temos um coração…”

Tradução livre de My Dear, Manchester.

As pessoas realmente esquecem os sentimentos de outros…

Como discutimos anteriormente em um artigo, tem sido comum às pessoas viverem “relacionamentos abertos” (em que o casal está livre para se relacionar com quem quiser), e a matéria a seguir não é para estes.

É para aqueles que investem tempo e energia em um relacionamento e são vítimas de traição.

O entusiasmo inicial

O início de um relacionamento é marcado pelo entusiasmo e pela ideia de dar início a algo novo, de construir juntos — cria um vínculo que se fortalece à medida que as coisas acontecem.

A construção de um lar, o ocupar dos espaços e a elaboração de planos para o futuro podem transmitir ao jovem casal a confiança de que lutar vale a pena. Essa confiança faz com que ambos vejam sentido no dia a dia.

Há muito tempo, uma jovem senhora de origem humilde me disse as seguintes palavras: “Realmente, às vezes é bom encontrar tudo pronto… Mas, nada se compara a construir juntos! E algumas pessoas jamais entenderão o que é isso!”

O construir juntos traz aquela sensação de que tudo valeu a pena!

E acontecem os reveses…

Mas, mesmo relacionamentos aparentemente sólidos sofrem reveses.

Veja, por exemplo, na linda e triste canção Sonhos, do ano de 1977, composição de Peninha. Observe os versos que expressam bem a sensação de uma vítima de traição:

“Quando uma canção se fez mais forte E mais sentida Quando a melodia fez folia em minha vida Você veio me contar Dessa paixão inesperada por outra pessoa…”

A péssima surpresa e a perplexidade do eu lírico. A sensação de ter os sentimentos traídos pode ser extremamente dolorosa.

O fim da confiança, o golpe na autoestima e a desilusão… são, às vezes, mortais.

A traição tem sido normalizada

Vivemos numa sociedade misógina, e não é incomum ouvir alguns homens falarem: “Eu sou homem, eu posso trair… Quem não pode é ela, que é mulher!” Alguns que pensam dessa maneira, quando recebem de volta o troco na mesma moeda, recorrem à violência e, muitas vezes, ao crime “pela honra”.

Do ponto de vista emburrecido pela tradição, os sentimentos do outro não têm nenhuma importância!

Mas o ponto a ser estudado é: por que as pessoas traem?

Por que as pessoas traem?

É verdade que a falta de um diálogo franco tem sido usada como pretexto para traição. A falta de diálogo apenas mostra a distância que o casal precisa percorrer para que as coisas se ajustem — não um atalho para ser infiel.

As pessoas traem, em primeiro lugar, por serem egoístas! Isso mesmo, egoístas!

O traidor sabe os danos emocionais que causa, mas os seus desejos egoístas estão à frente disso.

Não importa se a vítima de traição sofrerá com a perplexidade de não entender o porquê das coisas — às vezes até desenvolvendo sentimentos de culpa e impotência, ou mesmo se esta culpará a si mesma buscando uma possível razão que justifique a culpa do outro.

O traidor, em algumas situações, demonstrará uma preocupação aparentemente genuína, mas, por ser, na maioria das vezes, um narcisista, esta preocupação tem um propósito que não é o bem da vítima.

Não são altruístas!

Como se fôssemos pequenas pedras…

A ênfase que se dá atualmente à satisfação dos instintos pessoais atingiu um nível quase animalesco! As pessoas foram, de certo modo, reduzidas a meros objetos! Materiais a serem usados e dispensados — quase recicláveis! (risos)

O narcisista

Os narcisistas encaram outros como escravos de suas vontades. Não há amanhã, os desejos são urgentes!

O traidor, por ser egoísta e muitas vezes narcisista, jogará o seu jogo, com arte, até estar pronto para uma nova partida. Por um tempo, jogará o jogo da manipulação. Reconquistar a confiança, fingir se importar — e como “mentiras sinceras me interessam” pensa a pessoa fragilizada, o maior abandonado, é quase certo que ele conseguirá seus objetivos.

E quanto à vítima? O que fazer?

O primeiro passo é lembrar que cada pessoa tem seu valor, e se alguém não valoriza você, está mostrando seu próprio preço. Não tenha medo de reconhecer seu valor.

A falha não é do traído. Perdoar é pessoal, mas desistir de um relacionamento abusivo pode ser necessário, por mais doloroso que seja.

Não tenha medo! A falha de caráter não é do traído!

Não tema recomeçar.

A experiência ensina lições valiosas, entre elas a percepção de traços desejáveis em futuros relacionamentos. Um bom relacionamento é construído por duas pessoas dispostas a se adaptar e serem francas uma com a outra.

Apesar dos percalços… amar ainda vale a pena.

Gilson Cruz

Leia mais em: Amar novamente (acreditar sempre) – Jeito de ver

Amar novamente… ( e sempre)

Alguém solitário num banco. É possível amar novamente após uma perda ?

Imagem de Melk Hagelslag por Pixabay

“Foi Deus que fez a gente, somente para amar… só para amar!”

Foi Deus Quem Fez Você – Canção de Luiz Ramalho, 1980, interpretada por Amelinha.

Os mais românticos costumam dizer:

  • “Só se ama uma vez na vida!”

Embora exista uma verdade por trás destas palavras, o fato é que é possível amar várias vezes na vida.

Parece contraditório? Explicamos…

A verdade é que o amor é um sentimento complexo e pode se manifestar de diversas maneiras ao longo da vida. Não deve ser confundido com paixão ou fascínio, que, por vezes, são definidos como uma “falsificação” do amor, por se basearem em coisas superficiais e passageiras.

Como o amor é algo mais maduro, ele se desenvolve em momentos distintos, com diferentes intensidades e direções.


Amor e suas nuances no cinema

Para entender melhor, vamos relembrar dois clássicos do cinema (com um pouco de spoiler!):

O clássico de 1970, Love Story (Uma História de Amor), conta a história de Oliver, um jovem de família rica inglesa, sem muita graça ou objetivos na vida, que se apaixona por Jennifer, uma jovem estudante de música. Eles se casam.

Os pais de Oliver são contra o relacionamento, pois Jennifer é de família humilde, e deserdam o filho.

O casal tenta ter um filho, sem êxito, e, ao realizarem exames, descobrem uma doença gravíssima em Jennifer. Essa doença tira sua vida. (Eu falei que teria spoiler! Mas, mesmo assim, vale a pena assistir ao drama; há muitas lições!).

O filme A História de Oliver (1978) pode ser descrito como uma continuação de Love Story e mostra os desafios de um amadurecido Oliver à frente dos negócios da família, enquanto aprende a amar novamente. (O drama também merece atenção!).

Esses filmes mostram as dificuldades de amar e amar novamente após uma perda.


A vida precisa seguir: amar é natural

Na vida real, algumas pessoas que perderam quem amavam podem nutrir sentimentos de culpa ao desenvolverem sentimentos românticos por outro alguém e, muitas vezes, sabotam a si mesmas. Não se permitem uma nova chance.

Amar faz parte da natureza humana, embora vivamos num tempo em que os relacionamentos são frequentemente marcados pela falta de substância, de compromisso, e a experiência de amar é confundida com a satisfação instintiva dos próprios desejos.

Mas não é sobre este tipo de relacionamento que estamos falando aqui.

Falamos sobre o compromisso entre duas pessoas, em que ambas têm um sentimento de pertencimento, sem culpa e sem pressão.

Algumas pessoas amaram tanto que, após a morte da pessoa amada, acreditam ter vivenciado o amor eterno e não desenvolvem mais sentimentos românticos ou desejos por mais ninguém – e são felizes assim!

Embora seja difícil resistir à tentação de julgar, quem somos nós para determinar o que é bom para os outros, não é verdade?

Outras pessoas passam a desenvolver sentimentos, mas temem reviver experiências dolorosas ou esquecer a pessoa que ocupou um espaço tão importante em suas vidas.

Mas a vida precisa ser vivida.

Não há erro em tentar!

Nessa situação, a pessoa não deve se sentir culpada. Querer amar alguém é algo natural, e passar a gostar de outra pessoa não significa que o primeiro amor não foi verdadeiro.

Cada pessoa é diferente, e cada uma é amada por motivos distintos. À medida que vivemos novas experiências, crescemos e mudamos, e, com isso, nossas capacidades de entender e amar também evoluem.

Portanto, é vital entender que vivemos em constante aprendizagem. Na vida, podemos amar pessoas diferentes por motivos distintos – e isso também será amor. Não significa apagar uma história vivida, mas dar continuidade àquilo que é essencial: a vida.

Gilson Cruz

Veja mais em Amar novamente (acreditar sempre) – Jeito de ver

Optimized by Optimole