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A vida e obra de Mary Star

Um Sonho Nasce na Adversidade

Marilene Santos, como tantas outras crianças, nasceu num lar pobre, carente de amor. Seus pais trabalhavam o dia inteiro, dedicando pouco tempo a ela.

Nas manhãs, Marilene costumava ouvir no rádio as canções que sonhava um dia cantar. Rádios não têm rostos, apenas vozes – muitas vozes. E Marilene tinha uma linda voz.

Sua voz doce combinava naturalmente com quase todo estilo musical, e nos karaokês da vida, a cidade descobria um novo talento. Batizaram-na de Mary Star, pois ela certamente seria uma estrela que brilharia acima dos holofotes!

A Jornada de Mary Star

Mary evoluiu, estudou música e, inspirada em sua própria vida, compôs canções de superação, amores não correspondidos e esperança. Mary certamente estava destinada a ser uma estrela!

Na pequena cidade onde morava, havia poucos cantores. Breno se destacava por fazer mais apresentações. Se você quer saber, ele não tinha uma voz agradável, mas tinha um ótimo empresário que sabia colocá-lo em todos os eventos, e assim ele ganhou fama.

Talvez o fato de seu empresário ser filho do administrador público tenha ajudado um pouco em sua carreira. Mas, se for para subir na vida, toda ajuda é bem-vinda!

Mary, porém, acreditava que um dia seria descoberta por seu talento. Quem sabe um dia, um empresário também se encantaria com sua voz, e ela poderia então viver daquilo que amava…

Com o seu violão, no meio da praça, microfone ligado, enquanto alguns passavam e depositavam moedas de pequeno valor no case à frente do palco improvisado, Mary soltava a voz em busca de mais um sonho!

E um dia, o sonho esteve prestes a acontecer!

Num desses belos domingos, alguém ouviu sua voz e também se encantou!

Mary transbordava de alegria. Sua voz estaria nos rádios, ela brilharia nos programas de televisão. E o teste para a gravadora Beauty Records foi agendado para a semana seguinte.

Ela escolheu suas melhores composições, seus melhores amigos e músicos e, antes da hora marcada, se apresentou na Beauty Records!

Muito bem ensaiados, os músicos fizeram as gravações em apenas um take. Músicos, cantores e produtores estavam entusiasmados!

Por fim, Mary foi chamada para assinar o tão desejado contrato.

O Preço do Sonho

Ansiosa, ela leu apressadamente as primeiras linhas e seus olhos marejaram.

À medida que a leitura avançava, entrou na sala Deisy, uma linda jovem, também aspirante à carreira musical. Mary não percebeu.

E entre as muitas frases enroladas nas nove páginas, uma calou fundo na alma de Mary:

“A artista Marilene Santos, conhecida como Mary Star, aceita de livre e espontânea vontade ceder as gravações e o uso de sua voz a favor da Beauty Records, que se encarregará de impulsionar a sua arte por meio de Deisy, que se chamará Deisy Star. Receberá um salário mensal estipulado por esta gravadora, por cinco anos ou pelo tempo que durar o contrato”.

Sem entender a cláusula, perguntou a Fred Brandão, dono da Beauty Records:

“Por que eu mesma não posso interpretar as minhas canções?”

A resposta do diretor soou fria, mas era a mais absoluta verdade no mundo da música:

“Marilene, você canta bem e tem boas músicas! Mas isso é menos do que necessário para fazer sucesso! Você precisa ter uma aparência sexy, pois isso vende. A Beauty Records já tem a sua cota de diversidades preenchida por aquilo que a sociedade e os meios de comunicação cobram. Não há necessidade de mais.”

Doeu ouvir aquelas palavras.

“O único modo de você viver de sua arte é aceitando essa proposta! É pegar ou largar!”

Atordoada, sem entender nem mesmo o que sentia, Marilene recolheu as partituras, desejando rasgá-las. Seus olhos lacrimejavam enquanto ela e os músicos se dirigiam à saída do escritório.

Ao chegar em casa, ligou a televisão, enquanto o apresentador (logicamente pago) anunciava a mais bela voz do país: Breno Silva, agora com a alcunha: Breno Silva, o Romântico!

Enquanto a voz fraca e desafinada ecoava pela sala, Marilene sentou-se nos degraus em frente à sua casa e entendeu o porquê de tantos cantores ruins aparecerem tanto na mídia.

Talvez você me pergunte: “Onde posso encontrar a Mary Star? Talvez ainda haja uma chance…”

Ela pode ser encontrada nas belas vozes que lutam por um lugar ao sol, sem o apoio de empresários, de políticos e de pessoas que idolatram cantores ruins… por serem belos!

Mary ainda canta nas praças.

Leia também: A música atual está tão pior assim? ‣ Jeito de ver

De Degraus e Silêncios – Um Pai Solitário

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Imagem de Paul Sprengers por Pixabay

Sentado sozinho, nos degraus em frente a sua casa, ele passava os dias.
Há pouco tempo, seu filho deitado num velho sofá, na sala, dormindo, confiando no poder amoroso da cura, na presença dos pais.
Ainda sonhava com os tempos em que um beijo no machucado aliviava as dores e fechava as feridas, embora isso já fosse há mais de quarenta anos no passado.
Mas, filhos não envelhecem…
E sentado sozinho nos degraus, o pai não olha para trás, para não lembrar do amor de sua mocidade, já cansada de carregar o peso do tempo, indo e vindo entre a cozinha e a sala onde o eterno menino dormia.
Relembra as primeiras quedas, os abraços e os planos para o futuro…
E acredita no ciclo natural…em que os mais velhos preparam o mundo para os novos.
Mas, desta vez não foi assim…
E ele sentado nos degraus, sem olhar para trás, tenta questionar o tempo. Como se estivesse ansiosamente esperando uma resposta do futuro.
Pois desta vez, a sala vazia e o silêncio na cozinha, lembram quantas adversidades um homem só – neste mundo tão grande – pode enfrentar, sem entender o motivo.
E ele jamais entenderá…

Gilson Cruz

Veja também Noites de outono (Poema Simples) ‣ Jeito de ver

Solidão: o que é, causas, sintomas e tratamento (indicedesaude.com)

Canções do Silêncio e das Estrelas

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Imagem de 2341007 por Pixabay

A Inspiração que Falta

O que mais tortura um escritor, se não a falta do que escrever?
Bem, quando se refere a este trabalho, até a falta de inspiração é objeto de escrita.

Me fogem ideias, me faltam palavras…

Poderia falar sobre aquele jovem senhor que cuidava de sete cachorrinhos e que, diariamente, repetia a Deus que ficaria rico. Que seria um dia cantor de músicas internacionais, ficaria famoso e ganharia também numa dessas loterias da vida.

As estações pareciam longas e intensas…

O fato é que todos os dias, antes mesmo de o sol sorrir, ele, acompanhado de seus amiguinhos, revirava os recicláveis para lotar o seu carrinho e extrair das sobras dos restaurantes o alimento dos pequenos companheiros.

Alguns poucos anos se passaram, e num desses invernos, os cachorrinhos vagavam pelas ruas, procurando amizade e, consequentemente, um pouco de alimento.

Cães também comem, é verdade!

O amigo dos cães desaparecera! Ele abandonara os seus amiguinhos. Segundo alguns, “a vida lhe sorriu”.

Diziam que aquele homem, sem nome, estava agora bem de vida. “Que Deus lhe ouvira as preces…” Que bom! Mas não digam isso aos cachorrinhos… estavam sozinhos agora!


Entre o Palco e as Ruas

Agora que as noites de inverno passavam, os bares da cidade passaram a contar com música ao vivo.
A praça lotada, pessoas felizes, aplaudiam a linda voz do cantor que sonhava em um dia poder mostrar seu talento a públicos maiores.

E depois de horas, a apresentação chegava ao fim.
Namorados passeavam a contemplar um último brilho da lua e, quem sabe, levar um último beijo de boa noite.

E enquanto todos se deslocavam para suas casas, satisfeitos, não percebiam os mesmos cães deitados ao redor do que seria um novo amigo.

As noites de inverno não são românticas, nem mesmo nos nordestes do Mundo.
Por isso, as pobres criaturas envolviam agora o seu novo dono, alguém de olhar triste e pele sofrida, que, para fugir da vida ou das memórias, adormecia no meio da praça e despertava com o auxílio daquilo que o inebriava.

Há alguém que não leve consigo um passado? Alguns o temiam, acreditavam ser um fugitivo – mas todos são fugitivos de algum modo!
Não falava muito sobre família, amigos – nada. Apenas dizia ao carteiro que esperava um cartão que viria de um antigo lugar chamado Mimoso.

Diziam nas ruas que conversar com bêbados ou cuidar deles era trabalho para heróis, e que nem mesmo ambulâncias seriam deslocadas quando se tratasse de acidentes com eles.
Línguas maldosas!


A Brevidade da Vida

Um dia o encontrei dormindo, cansado de esperar o movimento lento das coisas e, enquanto ele dormia, coloquei em suas mãos um desses lanches que não sustentam um dia inteiro, mas que era bem melhor que o álcool.

É estranho perceber que hoje, não consigo lembrar o nome dele.
Mas, num dia desses, cansado de viver esperando por ninguém sabe exatamente o quê, seu coração decidiu parar…

Aqueles que criticavam o seu modo de vida estavam atônitos, de certo modo, tristes.
Me faltam palavras para descrever o que senti. Sei que a vida lhe foi breve.

Quando percebo como alguns sobrevivem com tão pouco, sinto a vergonha alheia de ver como outros estão dispostos a prejudicar centenas em fraudes por atitudes egoístas.

Não ouvi anúncios de sepultamento. Alguém, talvez, chore a sua falta e lamente a sua vida ausente.
O universo, porém, continuará frio e inóspito. Não se apagarão estrelas por ele…

O verão chegaria há apenas quatro dias… e novamente os pets andariam sozinhos nas mesmas praças.
Enxotados e maltratados, como pessoas ignoradas.

Me tortura a alma não saber o que dizer.

Gilson Cruz

Veja também Retratos da vida – o que deixamos passar ‣ Jeito de ver

Those were the days… My Friend!

Dedicated to the best Teacheres  Ever…

Those were the days…
Have you ever heard an old song that brings you back wonderful memories? Oh! Yes, it sometimes happens to everyone.
But today, I would like to tell you about one little experience I had…
Some years ago (about 14 years ago) I was kind of depressed, tired of years of hard working and so sad about a great loss in my family.
So I decided to study English.
Well, Itaberaba City wasn’t too near my house, but I decided to learn something new.
And what I found there? I started studying English at CCAA. I confess, I was a little ashamed because of the young class I found there.
The only guy older than 16 was I (I was only 38…lol) And as an old saying here, in Brazil “Old parrots don’t learn talkings”, something like that.
But then a Young and wonderful teacher came into the class. He had the brightest smile I’ve ever seen and he was always kidding about things, life and stories.
And then he took us to know all the CCAA Crew. Meire, Cátia, Cláudia and Libério, the great. That team was like a family to me. I found a reason to keep on studying.
Patient, wise and with a lot of stories about travels around the world he used to make the students dream about the possibilities of knowledge.
A great methodology, but kind above the greatest wish of helping us to learn.
The First semester flew like a wind and so did the other semester… A wonderful crew I found there. And as all in life the time I had to go has come.
I confess, I was sad (and the teacher was relieved! Lol)
As I remember teacher Parísio as the greatest teacher and Friend ever (he’s really an amazing person!), Libério, as great as Parísio, a wonderful and inspiring storyteller, Jamille a friend, why shouldn’t I say she was an angel? And about Meire, the sweetest and the most lovely person I knew.
And now…the old parrot is speaking! Lol
Perhaps 13 years is a long time and I may have forgotten loads of things.
But how can I forget those days?
Oh, My! Those were the days…as the music said!”

 

Read more:  “How It Would Be… – Poem of a New Day” ‣ Jeito de ver

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CCAA em Itaberaba, Bahia.

 

 

A chuva, as lágrimas (Poema a Mariana)

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Imagem de Jim Black por Pixabay

 

Enquanto a chuva caía e
os passos se apressavam
A Mariana sorria
Enquanto meus olhos choravam

As gotas da chuva que caía
Escondiam o meu pranto
E enquanto Mariana sorria
Eu disfarçava num canto

Cantava os dias de sol
e olhava nos rastros os meus passos
E enquanto ela sorria
Esqueci-me dos abraços

E esqueci na fonte do tempo
moedas de emoção
E do outro lado, a Mariana
Levava meu coração

E enquanto os passos corriam
Nas horas que a chuva caía
De riso triste, Mariana
Longe… de longe… partia.

Adeus,
Mariana.

Gilson Cruz

Leia também  Poema para Aline (Carinha amarrada) ‣ Jeito de ver

 

Banda Acordes – a Banda que não aconteceu

A história da banda que não acconteceu.

A história da banda que não acconteceu.

Imagem de Cristhian Adame por Pixabay

 

Quando alguns sonhos não se realizam, nascem histórias que alimentam novos sonhos”

– Gilson Chaves

 

Permita-me contar um pouco da História da Banda Acordes – A Banda que não aconteceu.
O mês de Dezembro de 1987, foi marcado por uma tragédia familiar, a perda do Tio Salomão, aos 36 anos de idade, vítima de um AVC.
Naquele verão, fui ao rio Paraguaçu para espairecer, aquele era o melhor lugar do mundo pra isso. No verão, as pessoas fugiam dos fornos de suas casas e mergulhavam naquelas águas escuras.
Havia um lugar conhecido como “a Prainha”, era um espaço de aproximadamente 50 metros, situado à margem esquerda, onde aos domingos as famílias iam para pequenas partidas de futebol de areia, para a prática da capoeira ou para piqueniques, quando as duas primeiras opções permitiam.
Duzentos metros à esquerda deste lugar, as mulheres tratavam “o fato” dos bois ao amanhecer, deixando no ar da região um “perfume” característico. Provavelmente nenhum outro lugar no mundo tinha aquela fragrância, levemente desagradável…
Não à toa, os cachorrinhos da região olhavam e cheiravam, com uma certa admiração e desejo, os banhistas daquele lugar!

O Início

Naquele lugar, se deu o primeiro contato com o Valdomir.
A gente tinha a mesma idade e  ele tinha um conhecimento básico de violão.

A memória me trai, mas de algum modo ele sabia que uma das lembranças que eu guardava do meu tio era uma “dedeira” – um adaptador que ajudava a extrair um som mais acentuado dos bordões do violão.

Me perguntou naquele dia se poderia levar o violão e testar a dedeira. Consenti.

E naquele dia ouvi pela primeira vez um dedilhado perfeito de The House of the Rising Sun.
Não conhecia nenhum acorde no violão e o novo amigo, com o tempo, me ensinou a tocar “Meu Pequeno Cachoeiro”, em três acordes.

A amizade se desenvolvia e consequentemente os planos de montar uma banda também também cresciam.

Ele tinha um violão Tonante, boca de osso, como era conhecido – cujo timbre se assemelhava ao das guitarras sessentistas.
Ganhei de meu Pai, com uma certa dificuldade, um velho Di Giorgio, segunda mão, que tinha uma aparência sofrida, castigada pelo uso dos velhos seresteiros, mas uma sonoridade maravilhosa.

O vendedor conseguiu vender caro o violão moribundo, mas não enriqueceu com a façanha.

A formação

Paralelamente, Pedrinho, o irmão de Valdomir, se tornava um dos melhores baixistas da época.

Tocou em bandas como a Eclyps ( sim, essa era a grafia,  e que ninguém se ouse a dizer que está errada!) e na Fluid’ Energy (sei lá o que é isso! Mas, esse era o nome, ou algo parecido) que era praticamente a mesma banda Eclyps, com um nome diferente.

Pedro era guitarrista e baixista virtuoso.
Não cantava bem, mas tocava MUITO, muito bem.

Para a bateria, o amigo Dilson Borges.

Dilson era o mais experiente de todos. Já havia trabalhado em bandas como a Doce Magia e, se não me falha a memória, na Legenda.
Apesar de intuitivo, improvisava tranquilamente do Rock ao Jazz. A marcação e as viradas perfeitas eram a sua marca.

Era então início da década de 1990 e a base estava formada. Mas, havia um porém… nenhum dos membros tinha dinheiro para comprar instrumentos, nem sequer usados!

A aquisição de instrumentos musicais não era tão fácil como é hoje.

Costumávamos treinar usando velhas caixas de repique e pratos para percussão ( emprestados de escolas) e os violões Tonante e Di Giorgio, na marcação de baixo e guitarra.

O repertório era vasto. Trazia desde clássicos dos anos 60 até o Pop do início dos anos 80 e 90.

As dificuldades

A inocência às vezes beira a burrice, como diziam os antigos da cidade.
Depois de muitos ensaios decidimos produzir uma fita demo. E a peregrinação atrás de quem pudesse emprestar alguns instrumentos começou.

Convenhamos, os músicos da época, que batalharam por seus instrumentos, ou que receberam de seus pais que podiam lhes bancar,  tinham um ciúme especial e natural por estes, não era muito agradável emprestá-los a possíveis concorrentes.

Por isso a negativa costumava vir de modo disfarçado, no ditado quase popular: “Quem quiser também fazer um som, deveria também trabalhar para conseguir os seus próprios instrumentos”.

A Banda Acordes conseguiu um dia numa sede de uma bandinha, ainda início de carreira, a permissão para usar os instrumentos e a aparelhagem para gravar uma demo.

Dilson não estava presente e foi o melhor que poderia acontecer, pois durante os ensaios o dono dos equipamentos desregulava intencionalmente, causando sons extremamente desagradáveis.

O desapontamento só foi maior quando ele se dirigiu em particular ao Pedrinho nas seguintes palavras: -“Eu NÃO gosto de emprestar meus equipamentos. Quem quiser gravar ou fazer algo bom, que lute pra comprar os seus…” (Olha o dito quase popular!)

– Um NÃO mais objetivo doeria bem menos!

A peregrinação voltaria acontecer, desistir não era a opção. A demo deveria sair.

E assim se deu.

Sem instrumentos e sem lugar para tentar gravar uma fita apresentação. As coisas estavam realmente difíceis.

Três anos de lutas e quase sem esperança, nos dirigimos ao Senhor Adalberto de Freitas, o Bugaiau, o principal comunicador e incentivador da cultura da cidade, pedindo uma oportunidade de gravar umas canções em seu estúdio.

Contrariando as expectativas, o senhor Adalberto riu e concordou. Ficamos em êxtase!
Até esquecemos que não tínhamos os instrumentos!

A gravação no Studio Som da Cidade, do Bugaiau, começaria às 13 horas.
E então a romaria atrás de pessoas que talvez  cedessem os benditos instrumentos, começou.
Zé da Leste, cedeu um pequeno teclado de 3/8, os meninos dos Bárbaros do morro emprestaram uma guitarra, a bateria não me lembro de quem Dilson conseguiu, mas era boa.

Consertamos, então, um velho e lindo contrabaixo vermelho, de sonoridade horrível, mas que funcionou, para a sessão. 

O repertório trazia The Beatles, Procol Harum, Jovem Guarda e algumas canções românticas.
A sessão foi marcada pelo entusiasmo, pelos vocais de Juarez e com exceção do Dilson, nós três revezávamos nos demais instrumentos, de acordo com a música. O dia foi longo, cansativo e posso dizer, um dos melhores dias da minha vida – até então.

Ao sair dos estúdios do Som da Cidade, a realidade caiu como uma tempestade no inverno, gelada e triste.

O fim

O amigo que cedeu a bateria explicou ao Dilson, que não mais a emprestaria, e talvez estivesse correto, era difícil também para ele!

Os meninos dos Bárbaros continuaram dispostos a ajudar, essa sempre foi uma característica deles.

O dono do contrabaixo, ao saber do conserto, pediu de volta imediatamente…

Infelizmente, a vida testava a paciência da banda.

Com o tempo o Valdomir encontrou a mulher que se tornaria a mulher de sua vida, o Pedro voou para São Paulo, Dilson desistiu da Banda e quanto a mim, fui trabalhar nos Correios, lá em Santa Terezinha.

15 anos depois resolvi voltar e investir nos instrumentos e tocar um pequeno projeto com o meu baterista favorito: o Dilson.
Ele costumava rir e dizer: – “Mané, você não desiste nunca”
E a resposta: “Pois é, Mané…Como é que se desiste? A gente não pode desistir..”

Numa desses diálogos repetitivos, dos manés, a gente tocava Reflections of my life, do grupo The Marmalade.

E as horas se apressaram, os dias correram desesperados, para que em poucas semanas, um acidente vascular cerebral respondesse a pergunta: “Como é que se desiste?”
E o sonho de fazer a banda, acabava ali.

Na morte do irmão e melhor amigo.

As lembranças

Apesar de não ter sido, a Acordes foi uma boa Banda. Os ensaios eram engraçados e as canções soam maravilhosamente bem em minhas memórias afetivas.

Depois de 33 anos, de fato, um longo tempo, voltei a ouvir a algumas daquelas fitas.

Não chorei, apesar da vontade. Algumas lembranças me fizeram esquecer as dificuldades e extrair um pouco daquela alegria, do tempo em que o sonho era apenas fazer música.

Ao ouvir hoje as velhas gravações, um misto de emoções invadem a minha mente.

Vocais desencontrados, guitarras desreguladas, contrabaixos às vezes exagerado, as brincadeiras do Valdomir fazendo palhaçadas, conseguindo rir da falta de condições, o olhar desiluidido do Pedrinho imaginando o fim do projeto e o Dilson  fazendo milagres numa caixa improvisada…

É verdade que hoje, a saudade é o melhor palco que existe, os subtons se transformam em estilos – e o pequeno público, na maior multidão.

A banda Acordes ainda vive quando lembro de quatro amigos, que mesmo contra os ventos e tempestades, estavam juntos planejando fazer algo diferente.  O que de algum modo, fizeram.

 

Veja também É hora de ouvir o “MADDS” – se permita ‣ Jeito de ver

 

Infelizmente, a vida testava a paciência da banda…

Até esquecemos que não tínhamos os instrumentos!

Ele costumava rir e dizer: – “Mané, você não desiste nunca”

E a resposta: “Pois é, Mané…Como é que se desiste? A gente não pode desistir..”

O pequeno mundo de Lis ( Poema à Felicidade)

 

“Lis,
Me diz,  menininha levada
O que te deixa feliz?

“Besouros no Jardim?
Flores vermelhas?
Ou achas as mais belas
Rosas amarelas?

“Existem rosas amarelas?
Me permita, então, vê-las!
Seriam as mais serenas
que as margaridas vermelhas?

“Neste universo do existe
nunca, nada permita
bichinhos, carinha triste…

“Nem gritos no ar
Ou luzes no céu
Nem flores caídas
em meio ao papel…

“Ria com as flores
com as cores
Sorria…

“E quando faltarem palavras
Nessa cabecinha agitada
Me mostra, pequena Lis
na dança, no canto
No sonho…
O que te deixa feliz…”

Gilson Cruz

Leia também Poema para Aline (Carinha amarrada) ‣ Jeito de ver

 

O goleiro que pegava até pensamentos!

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Imagem de jotoya por Pixabay

 

A Origem do XV de Setembro e Seu Goleiro Lendário

Poucos goleiros foram tão bons na história do futebol quanto João Rodrigues, lá do XV de Setembro, embora muito poucos o saibam. Mas, XV de Setembro? Não seria mais apropriado e significativo o XV de Novembro, data em que foi proclamada a República naquele país?

Creio que ou o Sr. José Rodrigues não era muito bom em memorizar datas ou, quem sabe, na hora de registrar o nome do clube, Aurelino, o escrivão, não escutou muito bem. Por causa da animação de ver o novo time da cidade ganhar corpo, as conversas fluíram sem que ninguém percebesse o erro na bendita data! Apenas na hora de inscrever o XV no campeonato é que perceberam o equívoco.

Apesar disso, João Rodrigues, que por coincidência era filho do Sr. José, dono do time, era o goleiro. Antes que alguém fale de nepotismo, ele realmente era um grande goleiro! Enquanto a maioria dos goleiros reagia aos lances, João parecia adivinhar os pensamentos dos atacantes adversários. Jogadores mais inteligentes ficavam frustrados, pois nenhuma estratégia ou improviso funcionava. Como diziam: “Ele pegava até pensamento!”


As Primeiras Partidas e o Dom Misterioso

Na estreia contra o 2 de Novembro, famoso por “enterrar” adversários, a pressão era intensa. Aos 44 minutos do segundo tempo, o artilheiro Mestre Jorge teve a chance de consagrar-se frente a frente com João. No entanto, algo improvável aconteceu: Jorge parou, sentou no gramado e, visivelmente abalado, deixou a bola para trás. Depois, confessou que João havia capturado todos os seus pensamentos, deixando-o completamente desnorteado.

A vitória do XV no último minuto tornou-se um marco. A partir daí, o time continuou vencendo, frustrando adversários como Barra Rasa e Barra Funda. Contra o Barra Funda, um pênalti duvidoso foi marcado. Porém, mesmo diante das tentativas de suborno, nenhum jogador conseguiu superar João. Todos pareciam perder o foco no momento decisivo, e o XV saiu vitorioso novamente.


O Encontro Final com o Inerte Futebol Clube

Na final do campeonato, o XV enfrentou o Inerte Futebol Clube, considerado o time mais fraco do torneio. O Inerte era tão ruim que os jogadores eram conhecidos pela improdutividade em campo e por perderem todas as partidas por goleadas absurdas.

Surpreendentemente, o jogo começou com o Inerte marcando gols inesperados. João Rodrigues, o apanhador de pensamentos, ficou perdido. O motivo? Não havia nada para “pegar” das mentes vazias dos jogadores do Inerte. Eles simplesmente não pensavam! O XV venceu o campeonato, mas levou 11 gols e ficou claro que João precisaria ajustar suas habilidades.

João aprendeu uma grande lição: nem toda mente tem algo de valor para ser capturado. Para o próximo campeonato, ele decidiu estudar melhor seus adversários. Afinal, algumas mentes não oferecem absolutamente nada a aproveitar!

Gilson Cruz

 

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Quiprocuó Esporte Clube – Falando de futebol ‣ Jeito de ver

Zé da Ladeira – uma história de futebol. ‣ Jeito de ver

Itaberaba -Uma pedra que brilha!

À distância, as luzes pareciam estrelas que descansavam sobre a terra.

E ao passo que me aproximava,

percebia que o verdadeiro brilho

não era originário das estrelas.

Vinha também das pessoas que passavam na pressa de seus dias,

mas não esqueciam o riso em casa ou no trabalho…

Pessoas que sonhavam numa rara tarde fresca de domingo,

visitar a praça do Rosário para ouvir e contar histórias.

Saber da antiga feira e as origens do Rosarinho…

E quando a noite chegasse,

procurar o brilho que emanava distante.

Bem além dos morros, dos ares.

O brilho distante, de Itaberaba…

Como esmeraldas verdes,

ou como o colar na Terra

de apenas uma só pedra.

Uma pedra que brilha…”

Gilson Cruz

UM POUCO DE HISTÓRIA

“A história de Itaberaba remonta à Capitania de Todos os Santos nos anos 1535-1548.

Em 1768, as terras foram adquiridas por aventureiros após a venda pelos sucessores do Senhor João Peixoto Veigas.

Em 1806, Antônio de Figueiredo Mascarenhas comprou uma fazenda, onde construiu uma capela central dedicada a Nossa Senhora do Rosário.

Ao redor dessa capela, surgiu um núcleo de moradores que, em 1817, passou a ser conhecido como Orobó.

O povoado cresceu e foi reconhecido como Freguesia e Distrito de Paz de Nossa Senhora do Orobó. Em 1877, o município alcançou o status de Vila do Orobó, obtendo autonomia político-administrativa com a instalação da primeira Câmara em 30 de junho. Finalmente, em 1897, duas décadas após sua emancipação, foi elevada à categoria de cidade.”

Curiosidades: Orobó é uma árvore, mesmo que “Oribi”, a palavra também significa bumbum, ouro etc.

Saiba mais. IBGE | Cidades@ | Bahia | Itaberaba | História & Fotos

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Antiga Praça do Rosário – Extraída do Site Cultura Patrimonial

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Gilmar Fotografias & História LTDA.

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Gilmar – Fotografias & História LTDA.

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A velha praça (um texto para te lembrar!) ‣ Jeito de ver

O mundo dos robôs – um pesadelo futurístico

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Imagem de Pete Linforth por Pixabay

O  Declínio da Humanidade

E no futuro, os robôs substituirão o trabalho humano…

Ninguém mais será escravizado.
Todos terão tempo para dedicar à família, aos amigos… à vida.

Assim, o primeiro trilhardário do planeta esbanjava seu otimismo para o futuro.

Suas imensas pastagens, antes cuidadas por humanos que reclamavam das péssimas condições de trabalho, que reclamavam do salário que não dava para comprar aquilo que eles ajudaram a plantar… e que adoeciam por causa disso – causando prejuízo ao amoroso patrão que, por anos, era, apenas, um pobre bilionário.

O mundo agora arruinado, com a população reduzida e ocupado apenas pelos que se beneficiaram da escravidão ao longo dos séculos, era um lugar tranquilo – sem pobres.
Os rios e mares agora tinham donos. Assim como os países e as cidades.

Marte não chegou a ser ocupado. A nave explodira com os primeiros bilionários que tentaram colonizar o planeta vermelho; ninguém soube o motivo.
A base lunar também não fora ocupada. Ficou apenas no sonho de veraneio de quem tinha muito a gastar.

Enquanto isso, um pobre milionário talvez não tivesse os robôs da última geração e comprasse, dos pobres bilionários, robôs usados.


Os Subumanos e o Ciclo da Exploração

Os subumanos, por outro lado, viviam à margem de tudo.
Antes conhecidos como pobres, agora não se designavam mais humanos.
Escondidos em territórios estéreis e abandonados, sobreviviam de restos que sobravam das máquinas ou das mãos generosas de algum “pobre bilionário”.
Eram menores que os robôs, que ao menos tinham tarefas definidas.

Agora, menos importantes que as máquinas, faziam o impossível para sobreviver…
Eram explorados nos limites da vida, forçados a realizar tarefas brutais, sem um propósito além da sobrevivência. Mas, mesmo assim, ainda sonhavam. Uma utopia esquecida, perdida no que restava da memória humana.

As máquinas do futuro eram condicionadas, assim como os pobres do passado.
Não tinham direito a sonhar, às aspirações que todo ser humano precisa ter para crescer, para se realizar. Recebiam ordens e distrações necessárias à cegueira de uma vida sem sentido – enquanto eram gradativamente substituídas!

Mais tarde, enquanto as máquinas faziam o trabalho, as fontes de energia cessaram – e elas pararam!
Pararam como humanos, mortos pelo cansaço e pela exploração.

Os subumanos foram então lembrados… quais escravos!
E voltaram a ser os escravizados, que se queixavam, que reclamavam – que eram condicionados, programados para isso!

E a vida continuou assim, sem rumo, até o fim – até que o pesadelo acabasse!

Gilson Cruz

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