Canção para Tainan (Para acalentar o coração)

Uma terna poesia para Tainan.

Imagem de dae jeung kim por Pixabay

Tay, regando as plantas

e cantando uma canção

Existe memória mais doce

que acalente o coração?

Musiquinhas de borboletas

trocando o “C” por “T’

Na “tasinha das borboetas’

Tay começa a aprender

A rir,

dançar,

cantar,

e chorar

Menininha sem juízo,

sempre errava a flor

Também não era preciso,

pras gargalhadas do vovô…

Mas, o tempo passa, Tay

e o coração pode sofrer

Não olhe apenas pra trás

deixe a vida acontecer…

Regue as plantas  com o novo dia…

Cante uma nova canção

E se faltarem alegrias

você tem memórias doces

pra acalentar teu coração.

Viva seu dia,, mesmo em manhãs sombrias,

Viva, enfim

Sorria…

Leia também

Poema para Aline (Carinha amarrada) ‣ Jeito de ver

Conheça o nosso blog.

Abordamos aqui os mais variados temas.

Compartilhe.

 

O Laço de Fita – Poesia de Castro Alves

Pelourinho, Salvador-Bahia

Imagem de digasalinas por Pixabay

O Laço de Fita

Castro Alves

Não sabes criança? ‘Stou louco de amores…
Prendi meus afetos, formosa Pepita.
Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas?!
Não rias, prendi-me
Num laço de fita.
Na selva sombria de tuas madeixas,
Nos negros cabelos da moça bonita,
Fingindo a serpente qu’enlaça a folhagem,
Formoso enroscava-se
O laço de fita.
Meu ser, que voava nas luzes da festa,
Qual pássaro bravo, que os ares agita,
Eu vi de repente cativo, submisso
Rolar prisioneiro
Num laço de fita.
E agora enleada na tênue cadeia
Debalde minh’alma se embate, se irrita…
O braço, que rompe cadeias de ferro,
Não quebra teus elos,
Ó laço de fita!
Meu Deus! As falenas têm asas de opala,
Os astros se libram na plaga infinita.
Os anjos repousam nas penas brilhantes…
Mas tu… tens por asas
Um laço de fita.
Há pouco voavas na célere valsa,
Na valsa que anseia, que estua e palpita.
Por que é que tremeste? Não eram meus lábios…
Beijava-te apenas…
Teu laço de fita.
Mas ai! findo o baile, despindo os adornos
N’alcova onde a vela ciosa… crepita,
Talvez da cadeia libertes as tranças
Mas eu… fico preso
No laço de fita.
Pois bem! Quando um dia na sombra do vale
Abrirem-me a cova… formosa Pepita!
Ao menos arranca meus louros da fronte,
E dá-me por c’roa…
Teu laço de fita.

Comentando o Poema

A quem foi dedicado?

Este belo poema certamente tinha de ser dedicado a alguém.

É contado em alguns lugares que o poema “O Laço de Fita” foi dedicado a uma formosa jovem paulistana chamada Maria Amália Lopes de Azevedo:

“Não sabes, criança? ‘stou louco de amores… Prendi meus afetos, formosa Pepita. Mas onde? No templo, no espaço, nas névoas? Não rias, prendi-me num laço de fita…”

A bela jovem mais tarde se tornaria dona das terras que hoje compõem o bairro do Tremembé, cuja principal avenida leva seu nome. Essa versão, porém, que faz dela a musa inspiradora de “O Laço de Fita”, não é confirmada pelos historiadores.

Simbolismos

Essa poesia de Castro Alves é um belíssimo exemplo do lirismo romântico, repleto de musicalidade, imagens vívidas e uma intensa entrega sentimental.

A repetição do símbolo do “laço de fita” confere unidade ao poema, transformando um simples adorno em um poderoso emblema da paixão e do aprisionamento amoroso.

O eu lírico se declara enfeitiçado por Pepita, e sua paixão não está presa a conceitos abstratos como templo ou névoas, mas sim a um elemento concreto e delicado: o laço de fita nos cabelos da amada.

O laço adquire um simbolismo duplo, representando tanto a suavidade do amor quanto a força de sua escravidão sentimental. A metáfora da serpente que se enrosca na folhagem reforça essa ideia de encantamento e domínio.

Esse jogo entre liberdade e cativeiro é um dos grandes temas do poema.

O eu lírico começa como um pássaro que voa livremente, mas é subitamente capturado.

Ele compara sua paixão a uma cadeia quase invisível, pois, embora sua força possa romper cadeias de ferro, ele é incapaz de se libertar do suave e frágil laço de fita. Essa contradição ressalta o poder avassalador do amor.

Romantismo

Na última estrofe, o tom se torna mais melancólico, evocando a morte como o destino final.

Mesmo após a morte, ele deseja que o laço esteja presente como sua coroa fúnebre, demonstrando a ideia romântica da paixão eterna, que transcende a vida.

Castro Alves, com sua habilidade descritiva, transforma um detalhe aparentemente simples — um laço nos cabelos — em um elemento que amplifica o fascínio de Pepita. O “laço de fita” não é apenas um símbolo de aprisionamento amoroso, mas também um adorno que intensifica a beleza da amada.

O verso “Na selva sombria de tuas madeixas, / Nos negros cabelos da moça bonita” destaca como o laço não apenas enfeita, mas dialoga com a imagem dos cabelos negros, criando um contraste e um jogo de luz e sombra que potencializam o magnetismo da personagem.

Esse detalhe sugere que a beleza de Pepita não está apenas em sua aparência, mas também no efeito que ela causa no olhar do apaixonado.

A eternidade

O laço, por ser um objeto delicado e passageiro, torna-se um símbolo da efemeridade dos momentos de encanto.

A forma como ele se movimenta na dança, como é beijado pelo vento (e não pelos lábios do eu lírico), reforça a ideia de que o desejo e a adoração se voltam para algo quase etéreo, um detalhe que, paradoxalmente, aprisiona e liberta ao mesmo tempo.

Os últimos versos:

“Pois bem! Quando um dia na sombra do vale Abrirem-me a cova… formosa Pepita! Ao menos arranca meus louros da fronte, E dá-me por c’roa… Teu laço de fita.”

O poeta dramatiza o amor como algo tão essencial que ele quer levá-lo consigo para a eternidade.

Não é apenas a lembrança de Pepita que ele deseja no túmulo, mas o próprio laço, símbolo de sua submissão apaixonada, de sua prisão voluntária nos encantos da amada.

Esse pedido final torna o poema mais intenso e sentimental porque sugere que o amor não termina com a vida, mas permanece como um desejo derradeiro, uma espécie de última vontade sagrada.

Essa visão reforça o tom romântico exacerbado de Castro Alves, onde o sentimento amoroso é vivido com tal plenitude que não há distinção entre amor e destino.

A força da poesia vem justamente desse exagero belo e arrebatador, onde um simples ornamento se transforma no emblema de um amor que transcende tempo e matéria.

Resumo biográfico

Castro Alves: O Poeta da Liberdade
Castro Alves é um representante importante do romantismo no Brasil.

O poeta Castro Alves foi uma grande expressão do Romantismo no Brasil.

Antônio Frederico de Castro Alves (1847-1871) foi um dos maiores poetas românticos do Brasil, destacado por seu engajamento social e político.

Nascido na Fazenda Cabaceiras, na Bahia, cresceu em um ambiente culto e, desde cedo, demonstrou talento para a poesia. Iniciou sua produção literária ainda adolescente e, aos 17 anos, já escrevia os versos de Os Escravos, tornando-se um ícone da luta abolicionista.

Publicou Espumas Flutuantes em vida, mas sua morte prematura, aos 24 anos, interrompeu uma carreira brilhante. Seu legado, no entanto, permanece vivo, inspirando gerações com sua poesia apaixonada e combativa.

Eugênia Câmara, grande amor do poeta

A vida intensa, somada às circunstâncias da época, contribuiu para seu declínio e, posteriormente, sua morte.

Castro Alves foi um homem de muitas paixões, apaixonando-se intensa e constantemente. Podemos citar Leonídia Fraga, que o amou desde o início sem ser correspondida, como merecia, ou mesmo sua primeira mulher, Idalina, e as irmãs hebreias.

Sua última paixão não correspondida foi a cantora italiana Agnese Trinci Murri.

Aquela que, porém, refletia seu espírito intenso e aventureiro foi a atriz Eugênia Câmara. Talvez por isso tenha sofrido tanto com as consequências da separação, marcada por brigas e traições.

Após uma vida intensa, faleceu em 1871.

A sua vida e importãncia serão abordados em futuros posts.

No centenário de sua morte, em 1971, decidiu-se pelo traslado de seus restos mortais para o monumento na Praça Castro Alves, em Salvador, sob determinação do então prefeito Antônio Carlos Magalhães.

A decisão contrariou um sobrinho-neto do poeta, que defendia a construção de um panteão. A transferência ocorreu sem cerimônia especial no dia 6 de julho daquele ano.

Veja também: Poeta (Sinfonia de asas e versos) ‣ Jeito de ver

Casca de banana (Acidentes acontecem…)

Imagem de G.C. por Pixabay

Casca de banana…

Jurei por tudo,
Prometi que jamais iria cair novamente…
Paixão faz sofrer,

Faz chorar…
Nos deixa com cara de bobos,
Nos rouba o sono,

Faz perder noites,
até mesmo sumir o apetite!

Jurei,
Nunca, jamais…
Paixão é doença
Que mata a gente,

de tanto sonhar, de planejar,
E que não dá futuro.
Atrapalha a concentração…
E até revira o estômago.

Nos deixa bobos e ainda mal-humorados.

Maldita paixão…

E de repente você aparece…
E lá estou eu, no mesmo caminho, escorregando de novo,
Com a mesma carinha de bobo!
Fazendo as mesmas bobagens! De novo!

Leia também: Versos sem destino ( um conto ) ‣ Jeito de ver

O tempo ( Contador de histórias)

Imagem de Annette por Pixabay

 

Num dia sem sentido,

me sentei

E o tempo sentou-se ao meu lado.

E a história amou acontecer…

E o tempo adorou contá-la.

 

Gilson Cruz

Veja mais em  A esperança (Poesia de resistência) ‣ Jeito de ver

📝 Se você gosta das nossas postagens e deseja apoiar o blog, em breve lançaremos o e-book “Crônicas do Cotidiano” — uma coletânea com alguns dos melhores textos do site, acompanhados de comentários inéditos e reflexões que ampliam o olhar sobre o cotidiano.

Este espaço é feito com carinho para compartilhar cultura e reflexão.

Se você gosta do conteúdo e quiser apoiar para que o projeto continue, pode contribuir com qualquer valor pelo Pix: jeitodever2023@gmail.com

O tempo ( Como se mede o tempo?)

Imagem de Annette por Pixabay

Me perguntas, como se mede o tempo?
Milésimos?
Segundos?
Minutos?
Horas?
Dias?
Semanas?
Meses?
Anos?
Décadas?
Séculos?
Milênios?

E eu te digo:
Não se mede o tempo
Não se conta as horas…

O tempo só existe de verdade
Para quem sabe o que é saudade…

Gilson Chaves

Veja mais O tempo ( Contador de histórias) › Jeito de ver

Difícil (Poesia da saudade)

 

Difícil era não  olhar…

a tua pele rosada

teus  olhinhos claros

e eras pequena…

éramos pequeninos.

Difícil era não se perdoar,

por tropeçar cada vez que te via.

Timidez não era privilégio

e ser bela, não era pecado…

Difícil era saber que ao partir

não te veria…

além dos meus sonhos.

E que os sonhos, nem sempre se realizam.

Difícil

foi te ver partir…

Gilson Cruz

 

Veja também: O fim (Cenas de um último encontro) ‣ Jeito de ver

 

.

 

O fim (Cenas de um último encontro)

Um barco num lago. O cenário de um fim, nesta poesia!

Imagem de Mike Goad por Pixabay

As águas claras do pequeno lago, eram tão claras que ainda posso ver os peixinhos nadando entre as pequenas pedras onde costumávamos sentar nas manhãs de verão.

Eles não temiam, havia um silêncio ensurdecedor de quem não sabia explicar o que tinha acontecido ou mesmo o por quê.

Teu vestido branco, sandálias pretas combinavam com teus cabelos escuros, mas contrastavam com o vermelho em teu rosto.

Não sabia por onde começar e, muito menos, como terminar.

Estava tudo tão bonito naquele dia, tão perfeito, que a mera ideia de se desistir assustava.

E o “Bom  dia” foi frio, sem abraços.

E o diálogo, sem palavras.

E falar do passado, sem alegria, sinalizava – não haveria futuro.

E sentados juntos, no mesmo lugar, sem palavras, sem reações fingíamos contemplar a relva que cercava o pequeno lago, as flores brancas lá do outro lado e admirar os peixinhos prateados pelo reflexo de um sol aconchegante que se tornara, então, frio como o inverno que chegaria em poucos dias.

O que se ouvia, era o som do vento.

E sem palavras, levantamos, damos as mãos pela última vez, sem entender e saber explicar como tudo acabou.

Gilson Cruz

Veja atambém  Difícil (Poesia da saudade) › Jeito de ver

Naquele dia (as últimas mudanças)

Imagem de Hans por Pixabay

 

Aquele dia,

não trouxe o sol costumeiro

nem um amanhecer,

ou crianças brincando nas ruas

e nem os passos apressados do carteiro

Não se ouvia o riso

nas padarias,

nem nos bancos das praças

A melodia na voz do cantor,

silenciara

Tudo era tristeza

Aquele dia, não trouxe rosas

e os últimos românticos

não puderam ofertá-las

E era triste encarar a noite,

sem estrelas

foi estranho anoitecer

naquele dia.

Grandes se apequenaram,

covardes orgulhosos…

pequeninos não entendiam,

onde estavam os heróis?

– todos se escondiam

Aquele dia

trouxe o resumo da ganância

e as selvas de pedra,

aquecidas

diziam não haver outra chance

Dinheiro não comprava o tempo perdido

nem  o futuro,

mas fugir pra onde?

Aquele dia,

ensinou o que era o medo…

Aquele dia,

não trouxe nuvens

pássaros de primavera.

E as lágrimas

não encheram os rasos rios

onde morriam peixes

Aquele dia

lembrava

o que havia se esgotado

e que agora…

sem homens,

sem ganância

a Terra precisava descansar.

Naquele dia.

Leia também  Canções de Guerra – o jogo da desinformação › Jeito de ver

A Marionete ( por um sorriso)

Uma Marionete. Num poema simples e animador.

Imagem de Else Siegel por Pixabay

Andando neste pequeno espaço
em mil piruetas, o que faço?
Canto de um jeito engraçado…

Só para te fazer sorrir
Balançando meus braços
Mas, preso em cordas
Passo a passo em controles
Mas, não ris… insistes em partir!

Menininha de olhos tristes
Que se recusam a sonhar
Me diz…vieste de longe?
O que estás a procurar?
Eu, eu daria o espaço, o meu mundo
Pra não te ver chorar

Faço carinha de triste
Simulo um choro sem lágrimas
E timidamente te olho
Carinha de choro,
no canto
Cena tão bela e triste, existe?

Invento uma dança maluca
Me liberto das  cordas
Me empolgo e…
Destruo cenário… tudo

Nem assim, tu te importas?

E então, ao juntar os pedaços
de um cenário que se foi
Vejo os teus olhos, brilhando
A esquecer o que te dói.

E nesses rompantes malucos

Para te dar alegria

Te vejo sorrir,

Gargalhar, e com isso volto a pensar…

Ganhei o meu dia…

Ganhei o meu dia.

Gilson Cruz

 

Leia mais em:  O valor das coisas simples – Jeito de ver

Insônia (Poema das minhas noites em claro)

Um lindo por de sol. Um poema sobre a angústia causada pela insônia.

Imagem de Leopictures por Pixabay

O corpo dói
o sono vai
a ansiedade chega
e os pensamentos voam

As horas passam sem pressa
e os sonhos dão adeus
a mais uma noite

A tosse no quarto ao lado
a tristeza acordada sem motivos
e uma madrugada inteira, sem estrelas, sem lua…

feita para lamentar o cansaço…

Os grilos cantam
Os galos respondem
e a sinfonia parece não ter fim…

E a noite pesa
como a escuridão em Saturno
pois a vontade de dormir

já não é suficiente…

Os milésimos
Os segundos
Os minutos
As horas…
A noite finda.
E enfim,

o dia.

Triste dia…

Leia mais em: Corre, Menino (Seja feliz, hoje) – Jeito de ver.

© Gilson da Cruz Chaves – Jeito de Ver Reprodução permitida com créditos ao autor e ao site.