TRISTEZA DE INVERNO ( Canção de solidão)

Imagem de Lorry McCarthy por Pixabay

 

TRISTEZA DE INVERNO

 

A fria chuva fina cai

Lenta, calma

Posso ouvir o cair delicado dos pingos.

Torturantes.

As montanhas se encolhem na névoa

E as folhas das árvores

tentam proteger o solo.

Não há proteção.

Os passarinhos se escondem

Seu canto não traz mais a alegria,

mas, lamento.

Não há gente nas ruas

Ou mesmo um tímido sol.

Os velhos livros imploram…

Querem ser revisitados

Assim como as memórias de Agosto

Não abandonam o meu dia.

Preso,

Dentro de mim

de recolho ao canto,

onde se escondem as lembranças

Buscando bons momentos

que não aquecem meu coração

Que se recusa a abandonar

a dor, o medo, os momentos

Esfriando a minha alma

Como o inverno lá fora.

Leia também: Escrever ( Os motivos da vida) ‣ Jeito de ver

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Reflexões do Caminho (A beleza na jornada)

No final da estrada

Às vezes, só percebemos a beleza da estrada depois de percorrê-la.

O mundo carece de contemplação.

A vida carece de contemplação.

Vivemos apressados e, nessa pressa, deixamos de ver o que está ao redor

— como aqueles que sacrificam momentos, vidas e amizades para alcançar o que acreditam ser o verdadeiro sucesso.

No fim da estrada, justificam que, se tivessem parado para rir com os amigos ou se permitido ao lazer com a família, não teriam chegado onde chegaram.

Há também os que são amados e retribuem com migalhas de atenção àqueles que se sacrificaram por eles.
Reclamam do tempero da refeição, da poeira que sobrou na casa, sem enxergar o esforço que houve para agradá-los.

E há os que traem a confiança de quem os ama.

Mesmo que se negue, no final da estrada sempre faltará algo.

A contemplação.

A capacidade de amar os momentos, as pessoas e seus gestos silenciosos.

É verdade: não se levarão amigos.
O sucesso ficou para trás, e talvez nas mãos de uma descendência tão fria que não se importa com quem construiu.

Não se levarão amantes, mesmo que a esperteza de se esconder tenha ficado no caminho.

E, antes de se despedir da estrada, raramente contamos os passos —
simplesmente esquecemos o percurso.

A estrada exige atenção.

Leia também Escrever ( Os motivos da vida) ‣ Jeito de ver

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O louco e a lua (Contos de solidão)

 O louco e a lua

Iluminado, sob um céu estrelado, ele se perdia entre o brilho da lua e das estrelas e o sopro do vento norte.
As pessoas diziam: “É um louco”, pois com as mesmas velhas roupas sujas, maltrapilhas, e um bastão castigado pelos anos, vivia o seu dia a andar pelas ruas da cidade.
Todos sabiam o seu nome, mas os anos pareciam não passar.

Ninguém percebia em sua face um novo traço ou em seus cabelos uma nova cor, mas sabiam que dia após dia, pelas ruas da cidade estaria ele, caminhando lentamente, como que contando seus passos…
… pois talvez não houvesse histórias pra contar.

Mas, por quanto tempo ele esteve lá?
Quantas vezes presenciou o nascer e o pôr do sol? Ou quantas estrelas conseguiu contar?
Talvez soubessem de onde veio, mas onde iria?
Ria ao sentir-se amado e irritava-se quando se sentia ameaçado.
Queria saber as horas… mas, para quê?
Sem passado pra contar, qual seria seu futuro?

Talvez buscando esse futuro saiu pelas ruas, olhando as estrelas pela última vez.
E as pessoas, ao acordarem da paz de seus sonhos, viam uma rua vazia… cheia de pessoas vivendo a pressa de seus dias.
Onde está ele?
Perguntaram-se no abrigo de seus lares, enquanto a lua vigiava o silêncio esquecido do louco que a amava.

E os dias se passaram…

Não se formaram grupos de buscas como em sociedades organizadas, é verdade. Mas todos queriam saber.
E foi sob o sol de inverno, vazio de lembranças e de pensamentos, que o encontraram.

Todos se lembraram dele.
Escreveram mensagens de conforto a uma família de que não se ouvia falar.
Muitos choraram nas ruas.

E nos dias que se seguiram, procurando e enviando preces desde o abrigo de seus lares, receberam o desfecho da história do louco…
Mas, que apenas a lua viu.


Leia também: Pobre Pedro ( e o tempo que passou.) ‣ Jeito de ver


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Mas, apenas a lua viu. A lua testemunha.

Imagem de Bruno por Pixabay

Vício Digital: A Armadilha dos Aplicativos

 

Imagem de Gary Cassel por Pixabay

Qual o seu bem mais valioso?

Imagine ter toda a riqueza do mundo e não ter tempo para usufruí-la.

Sim, tempo vale muito mais que dinheiro.

A falta de tempo dedicado à família tem produzido sociedades cada vez mais doentes, frágeis e instáveis.

Parte desse problema está ligada ao vício digital.

Vamos analisar este assunto.

Vício Digital: A Armadilha dos Aplicativos

O Impacto do Vício na Internet

O vício em aplicativos e redes sociais tornou-se uma preocupação crescente na sociedade atual. Plataformas como Instagram, Facebook, TikTok e X são projetadas para capturar e prender a atenção, o que leva muitas pessoas a um uso excessivo e, em vários casos, compulsivo.

Esse comportamento tem consequências significativas, afetando a saúde emocional, social e psicológica.

Um dos efeitos mais notáveis é a ansiedade. A necessidade constante de verificar notificações e atualizações provoca uma excitação emocional contínua, que se transforma em desgaste.

Pesquisas mostram que a exposição prolongada a estímulos digitais eleva o estresse e pode contribuir para transtornos de ansiedade.

Além disso, a pressão por manter uma imagem ideal nas redes alimenta a comparação e a insatisfação, fortalecendo um ciclo de insegurança.

Outro efeito comum é a solidão.

Paradoxalmente, redes que prometem aproximação podem gerar distanciamento.

A substituição de conversas reais por interações digitais empobrece os laços humanos. Relações presenciais tornam-se superficiais, e muitos acabam sentindo-se desconectados, mesmo cercados por uma rede virtual extensa.

Esse vício também compromete relacionamentos.

A distração constante dos dispositivos reduz a atenção em momentos sociais e familiares, prejudicando a comunicação e criando mal-entendidos.

Em muitos casos, o excesso de tempo diante da tela resulta em conflitos, ressentimentos e isolamento.


Como os Aplicativos Prendem a Atenção

O design das plataformas digitais não é aleatório. Empresas de tecnologia investem pesado em mecanismos capazes de prolongar o tempo de uso.

Uma das principais estratégias são os algoritmos personalizados.

Eles analisam cada clique, curtida e tempo de visualização para oferecer conteúdos alinhados ao perfil do usuário. Isso aumenta a chance de engajamento contínuo, mantendo a pessoa presa à tela por longos períodos.

Outro recurso poderoso são as notificações.

Sons, vibrações e alertas visuais acionam um senso de urgência. Mesmo longe do celular, muitos sentem a necessidade de conferir imediatamente o que chegou, criando uma rotina de checagem compulsiva ao longo do dia.

O design envolvente também desempenha um papel central.

Paletas de cores, animações, rolagens infinitas e botões estrategicamente posicionados são pensados para proporcionar prazer e estímulo visual. Cada detalhe é planejado para transformar o uso em hábito.

Essas estratégias combinam tecnologia, psicologia do consumidor e design de experiência.

O objetivo final é simples: manter o usuário conectado o maior tempo possível, aumentando as oportunidades de exibir anúncios e gerar lucro.


Histórias de um Vício

O impacto do vício digital aparece em situações cotidianas.

Em uma reunião de trabalho, um jovem executivo estava tão absorto em seu celular que não percebeu quando sua apresentação começou. Desprevenido, sua imagem profissional foi prejudicada. Um deslize aparentemente pequeno, mas que comprometeu sua carreira.

Em outro caso, durante um encontro social, uma jovem preferiu atualizar seu status em vez de conversar com amigos. O gesto foi interpretado como falta de consideração, gerando brigas e afastamento.

Na vida acadêmica, as consequências podem ser ainda mais severas.

Um estudante universitário, distraído constantemente com notificações, viu seu desempenho cair drasticamente. As notas baixas levaram a uma suspensão e a um quadro de ansiedade e depressão.

Esses exemplos mostram que o vício não se limita a um simples “passatempo exagerado”. Ele pode comprometer a vida pessoal, social e profissional de forma profunda.


Quem Lucra com o Vício

O vício digital não é apenas um fenômeno comportamental; é também parte de um modelo de negócios altamente lucrativo.

O tempo que passamos conectados é convertido em receita publicitária.

Quanto mais tempo navegamos, mais anúncios vemos. Os algoritmos, portanto, não são apenas ferramentas de personalização, mas instrumentos de prolongamento da atenção.

Relatórios recentes confirmam: o aumento do engajamento nas redes está diretamente ligado ao crescimento das receitas das empresas de tecnologia. Trata-se de um ciclo calculado, onde cada minuto diante da tela representa lucro.

Os influenciadores digitais também se beneficiam desse mecanismo.

Muitos produzem conteúdos que incentivam a permanência constante nas plataformas.

Com patrocínios, marketing afiliado e publicidade indireta, transformam engajamento em ganhos financeiros.

Essa engrenagem reforça o ciclo: quanto mais consumo digital, mais lucros para empresas e criadores.

Enquanto isso, o usuário, motivado por estímulos incessantes, permanece preso ao que deveria ser apenas uma ferramenta.


A Complexa Rede da Dependência

O vício digital mostra que a relação entre seres humanos e tecnologia é mais complexa do que parece.

As plataformas, que nasceram para conectar, acabaram criando novas formas de isolamento.

Ao mesmo tempo em que oferecem entretenimento, informação e interação, aprisionam em ciclos de ansiedade, comparação e consumo contínuo.

É claro que a tecnologia também trouxe avanços extraordinários.

Mas ignorar seus efeitos negativos seria fechar os olhos para um problema crescente. A reflexão se faz necessária: como estabelecer limites em um ambiente que foi projetado justamente para que não os tenhamos?

A resposta pode estar no equilíbrio.

Usar as redes com consciência, estabelecer pausas, buscar interações reais e cultivar momentos offline. Pequenos gestos podem ajudar a recuperar a autonomia diante de sistemas que exploram nossas vulnerabilidades emocionais.


Conclusão

O vício digital não é um problema individual, mas social.

Ele envolve usuários, empresas e influenciadores em uma engrenagem movida pelo lucro.

Se, de um lado, gera bilhões para a indústria, de outro corrói a saúde mental e as relações humanas.

Entender essa dinâmica é o primeiro passo para escapar da armadilha.

Afinal, a tecnologia deveria servir à vida, e não o contrário.

Leia também: A Importância do Amor Próprio e da Aceitação ‣ Jeito de ver

Todos os adolescentes são viciados em redes sociais?

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A ilusão do brilho… Vaga-lume.

alt="Ouriço escondido entre folhas secas no outono"

Imagem de Anthony Jarrin por Pixabay

Introdução:

Às vezes, é no silêncio da noite e na simplicidade de um jardim que surgem as reflexões mais profundas.

Entre formigas silenciosas, grilos repetitivos e o brilho passageiro de um pirilampo, este pequeno texto convida à contemplação da vida que pulsa discretamente à nossa volta — e dentro de nós.

Nesta breve alegoria, o vaga-lume se torna símbolo da efemeridade do brilho, da ilusão de grandeza, e da fragilidade dos instantes em que buscamos ser mais do que somos.

Será que, ao brilhar, deixamos de ver o mundo?
Será que a verdadeira duração da vida está nos momentos em que apenas existimos, sem precisar encantar?

Convido você a vagar por esse jardim noturno de pensamentos, onde até a menor luz pode carregar um universo de sentidos.

 

A ilusão do brilho… Vaga-lume

Na escuridão da noite, no pequeno jardim, brilha o pirilampo.

De vaga luz, flutuando entre outros que apenas se encantam com o seu luzir confunde-se com o piscar das estrelas no infinito.

As formigas em silêncio, constroem as suas vidas.

Os grilos cantam as mesmas canções, falta-lhes inspiração?

No jardim a vida continua e enquanto pisca, não vê o mundo ao redor…

Vaga-lume….

Pirilampo…

Vives bem mais enquanto não brilhas…

O teu brilhar é passageiro

Dias? Semanas?

Teu céu finito…

Não és uma estrela.

Vaga…

Vaga-lume.

Leia também: Voo efêmero – um breve encontro ‣ Jeito de ver

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Um poema para Brenda (Com H de “hoje”)

Um poema para Brenda.

Imagem de beasternchen por Pixabay

Brenda

Por que a luz se esconde à noite
E as palavras somem no silêncio?
Por que o riso se recolhe
no momento mais necessário?
Ah! Brenda
Se eu pudesse te explicar a vida
De modo simples,
Te diria que o céu é azul
Pra acalentar teus sonhos
E que a lua prata
Brilha para te mostrar o caminho…
E no final do caminho
Depois de cantarem os grilos
E as estrelas se esconderem
Há uma nova estrada…
Talvez, não tão diferente…
Pois diferentes são os olhares
Os passos e as esperas
A beleza estará sempre no olhar
As histórias,
nos passos…
E é na espera que se cresce e vive
o amor.
Te diria que a escuridão da noite
É prenúncio de um dia de luz
E que as palavras se calam…
Para que o silêncio

fale o que em palavras não se pode dizer…
Por isso, Menina
Olha o céu azul…
E se um dia estiver cinza…
Permita que o teu sorriso
O ilumine…
E lumine…
Brenda.

Leia também Quando o Amor Começa o Dia ‣ Jeito de ver

Do autor:

Um poema para Brenda (Com H de ‘hoje’)” é uma delicada reflexão poética sobre o crescer, o tempo e os sentimentos que se escondem nos silêncios da vida.

Com imagens que evocam a noite, o céu, a lua e o riso que às vezes se perde, o texto convida à escuta interior e ao acolhimento das dúvidas que surgem no caminho.

É um gesto de amor que procura suavizar as incertezas, lembrando que até os dias cinzentos podem ser iluminados por um sorriso.

Mais que um poema dedicado, é um lembrete de que a beleza está no olhar — e que, mesmo quando tudo parece calar, o amor continua a falar suavemente.

Querido leitor:

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Vestido de Roupa Nova – Uma vida inteira!

O grupo Roupa nova acompanha gerações com belas canções

Roupa Nova

Roupa Nova: Trilha Sonora de uma Vida

“Todos os dias, todas manhã
Sorriso aberto e Roupa Nova…”

— Roupa Nova, Milton Nascimento

Falar sobre o grupo Roupa Nova é como abrir o velho baú das memórias. Não é apenas música — é infância, juventude e afeto embalados em canções.

Talvez eu não seja a melhor pessoa do mundo para contar a biografia do Roupa Nova, pois falar do grupo Roupa Nova é estranho — é como revisitar a minha infância.

Relembrar as dificuldades para ir à escola no início dos anos 1980, quando, infelizmente, muitas instituições de ensino estavam em estado de abandono, reflexo da negligência de um governo autoritário que não valorizava a educação.

A situação era tão crítica que a escola Arquiteto Raul Cajado teve, intencionalmente, uma de suas letras trocadas para formar um trocadilho digno de processos…

Na cidadezinha em que eu morava, todos os prédios escolares estavam arruinados naquele início de década.

Nesse ambiente de descaso, as harmonias perfeitas e as músicas animadas do Roupa Nova acompanhavam meus passos rumo aos prédios que pareciam cenário de filme de guerra.

Em casa, a velha televisão valvulada da marca Colorado — preto e branco — ocupava a sala de estar.

Nos fins de semana, programas musicais e os rádios traziam as novidades.

As canções do grupo davam mais leveza aos novos dias.

Os Famks, os Motokas…

Mas a história deles era bem mais antiga do que eu imaginava.

Tudo tinha começado lá atrás, nos anos 1960, quando ainda não existia o Roupa Nova.

Em 1967, nascia o grupo Os Famks, no Rio de Janeiro.

Animavam festas e bailes, mas ainda não contavam com os integrantes que viriam pra encantar.

Foi só nos anos 1970 que os caminhos desses seis músicos se cruzaram de vez: Paulinho, Serginho Herval, Nando, Kiko, Cleberson Horsth e Ricardo Feghali.

Ainda como Os Famks, lançaram dois discos e, por um tempo, usaram o nome Os Motokas para gravar versões de sucessos internacionais.

Mas a virada veio no final da década.

Surge então o Roupa Nova.

A banda assinou com a gravadora Polygram e decidiu investir num som próprio.

Roupa Nova

O nome Roupa Nova foi inspirado em uma canção de Milton Nascimento e Fernando Brant, que gravaram em 1980.

O rádio tocava Sapato Velho

Minha cabeça de menino não compreendia bem o significado, mas meu coração sentia algo diferente.

O nome Roupa Nova foi inspirado em uma canção de Milton Nascimento e Fernando Brant

Roupa Nova

A música me inspirava a viver grandes coisas, mesmo sem entender direito.

Com o tempo, percebi: ela falava da passagem dos anos, das experiências e de um amor que não envelhece.

Ainda hoje, com cinquenta e poucos, ouço e me emociono.

A Canção de Verão era febre nas rádios.

Tentava seguir o contrabaixo do Nando — meu baixista favorito, mas neste grupo todos eram favoritos!

Na minha meninice, sonhava em assistir a um show daqueles que me acompanhavam nas manhãs escolares.

Aquela trilha sonora deixava tudo mais bonito.

A década de 1980 foi um estouro.

Era difícil escolher uma melhor música: Clarear, Lumiar, Vira de Lado, Voo Livre, Bem Simples, Anjo, Boa Viagem, Fora do Ar, Sensual, Chuva de Prata, Tímida e Não Dá. Whisky a Go Go virou clássico, tema de abertura da novela Um Sonho a Mais, junto com Chuva de Prata, num dueto com Gal Costa.

Lembro que, em todo baile que eu ia, havia uma regra: a banda tinha que tocar Whisky a Go Go.

Anos depois, senti a emoção do público ao tocá-la nas festas em que pude me apresentar.

Mas pra mim, tudo era Lumiar e Voo Livre.

Com o início da adolescência, as harmonias me arrepiavam a espinha.

Meus amigos curtiam as mais agitadas, mas eu… era das baladas românticas.

Em 1985, mais sucessos…

A banda lançou o disco mais vendido da carreira: mais de dois milhões de cópias!

A minha quinta série teve como trilha sonora Dona (tema de Roque Santeiro), Seguindo no Trem Azul, Linda Demais, Sonho, Corações Psicodélicos e Show de Rock’n Roll, que tocavam durante os vinte minutos de intervalo na escola.

As paixões aconteciam, e talvez por isso eu fosse mais chegado às músicas românticas.

Nos anos seguintes, eles continuaram firmes.

Vieram com Um Sonho a Dois (com Joanna), Volta Pra Mim, A Força do Amor, Cristina, De Volta Pro Futuro, Meu Universo É Você e Vício.

Em 1989, ainda com gás, gravaram Eu e Você com José Augusto, tema da novela Tieta, parceria perfeita!

Anos 90 – Adolescência, paixões e músicas

Na década seguinte, os tempos de menino ficaram pra trás.

Gostava de cantar a música Cristina, que foi lançada em 1987… sonhava tocar o projeto de minha banda, mas a vida nem sempre segue o curso desejado.

Aos 22 anos, passei a trabalhar em uma escola — de poucos recursos, mas diferente daquelas do início da década anterior — breve carreira de professor.

Lembro de um aluno de seis anos que me perguntou: “Professor, o senhor gosta do Roupa Nova?”

Mas… a resposta era óbvia demais!

Expliquei ao pequenino que, desde bem menino, colecionava discos e fitas do grupo.

Fui presenteado com a Fita K-7 Frente e Versos.

O álbum trazia sucessos como Coração Pirata, tema de Rainha da Sucata.

Trazia também uma linda versão de Yesterday, dos Beatles, e parcerias ousadas como Esse Tal de Repi Enroll, com o grupo americano The Commodores.

Eu era apaixonado por Cartas.

Em 1991, lançaram o primeiro álbum ao vivo, revisitando clássicos como Lumiar, Anjo, Linda Demais, Volta Pra Mim, Clarear, entre outras. Duas faixas inéditas viraram trilha de novela: Felicidade e Começo, Meio e Fim, que marcaram a novela Felicidade, da Globo.

Aquele ano trouxe também um momento simbólico: a banda subiu ao palco do Rock in Rio!

Releituras

Eles revisitaram seus sucessos e dividiram Todo Azul do Mar com Beto Guedes.

Uma das mais belas canções, numa nova roupagem!

Em 1993, veio De Volta ao Começo, só com releituras de clássicos da MPB.

Tinha Gonzaguinha, Roberto Carlos, Os Mutantes, Milton Nascimento…

Destaques para De Volta ao Começo (tema de Renascer), Ando Meio Desligado (tema de Sonho Meu) e Maria Maria, que só virou trilha de novela anos depois, em 2007 (Caminhos do Coração).

Em 1994, lançaram Vida Vida, com a inesquecível A Viagem, tema da novela de mesmo nome. Ficou meses entre as mais tocadas.

Tinha também Os Corações Não São Iguais (que virou hit com outros artistas), Louca Paixão e Coração Aberto.

Em 1995, lançaram uma coletânea de trilhas de novelas, incluindo Ibiza Dance — tema instrumental de Explode Coração, que até ganhou remix.

Poderia contar ainda mais. Mas seria como tentar resumir o tempo.

Resumo de uma Vida

As canções que me acompanhavam desde a infância receberam novas músicas para a trilha da minha adolescência…

Sim, é verdade, muito mais eu poderia falar sobre discografia, biografias, a sentida perda do Paulinho… muitas coisas, mas, assim como as suas canções, gostaria de deixar algo de bom.

A banda mantém o ritmo com Fábio Nestares, músico experiente e carismático, mantendo aquilo que sempre foi o foco da banda: fazer música de qualidade, boa de ouvir.

Apesar da superficialidade dos streamings, independentemente das constantes mudanças no mercado musical, Roupa Nova sempre está presente. Com músicas de qualidade!

Roupa Nova é isso: trilha da vida de muita gente.

Deu voz às minhas primeiras paixões, me acompanhou nos tempos de escola, virou canção de ninar para minha filha e, hoje, com a minha família, é a trilha sonora dos nossos melhores dias.

Infelizmente, nas mudanças da vida, a minha coleção de vinil ficou no passado, não consegui preservar.

Mas, falar de Roupa Nova é falar de emoção, de vida.

E, pra quem viveu tudo isso — ou está conhecendo agora — é impossível não sentir um aperto no peito e um sorriso no rosto quando toca uma daquelas canções.

Os eternos meninos Paulinho, Serginho Herval, Nando, Kiko, Cleberson Horsth, Ricardo Feghali e Fábio são parte da história.

Roupa Nova é memória viva. É a trilha sonora da minha vida.

Visite: Roupa Nova | Roupa Nova Site Oficial

Leia também: A música atual está tão pior assim? ‣ Jeito de ver

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Dia dos Namorados: Amor e… marketing

alt="Fundo romântico para Dia dos Namorados com corações"
Que tal conhecer um pouquinho da história do Dia dos Namorados?

Imagem de Jess Bailey por Pixabay

“Não é só com beijos que se prova o amor”

Que tal começarmos este texto com este slogan bem fofinho?

É verdade que o amor é demonstrado e vivido das mais variadas formas, mas o slogan acima não se referia necessariamente a essas “mais variadas formas…”

Antes de entrarmos neste assunto, que tal conhecer um pouquinho da história do Dia dos Namorados?

Uma história de amor, fé, festa e… muito, muito marketing.


Valentine’s Day e Dia dos Namorados: uma história de amor, fé, festa e… marketing

Todo mês de junho, vitrines se enchem de corações, promoções e promessas de amor.

No hemisfério norte, o clima é parecido — só que acontece em fevereiro.

Mas o que muitos talvez não saibam é que tanto o Valentine’s Day quanto o nosso Dia dos Namorados têm origens bem mais curiosas (e contraditórias) do que parecem.

Entre cabras sacrificadas, santos apaixonados, poetas medievais e publicitários criativos, o amor encontrou muitas formas de se expressar ao longo dos séculos. E vale a pena olhar com carinho essa trajetória.


🌿 Entre rituais e rebeldias

Antes de tudo virar cartão com glitter, havia festa pagã e sangue de bode.
Na Roma Antiga, existia um festival chamado Lupercália, celebrado todo mês de fevereiro.

Os sacerdotes sacrificavam cabras e cães, depois saíam pelas ruas com tiras desses animais, tocando suavemente nas mulheres para garantir fertilidade.

A cena pode parecer estranha hoje, mas era uma mistura de rito de purificação, culto à fertilidade e homenagem a deuses como Juno, ligada ao casamento, e Pan, ligado à natureza e aos instintos.

Mas foi no século III, ainda em Roma, que surgiu o nome que daria origem à celebração moderna: Valentim.

Um padre que desafiou as ordens do imperador Cláudio II, que havia proibido os casamentos achando que soldados solteiros eram melhores guerreiros. Valentim discordava — e seguia celebrando casamentos às escondidas.
Descoberto, foi preso. Na prisão, apaixonou-se pela filha do carcereiro, que era cega.

Diz a lenda que ele curou sua visão e, antes de ser executado (em 14 de fevereiro de 270), escreveu-lhe uma carta com a assinatura que atravessaria séculos: “Do seu Valentim.”


Quando a Igreja entra na dança

A Lupercália incomodava os cristãos.

Em 496, o papa Gelásio I oficializou o Dia de São Valentim, apagando aos poucos os traços pagãos da festa e transformando-a em uma celebração cristã.
Coincidência (ou não): a data foi marcada para 14 de fevereiro, o dia da morte do mártir.

Com o tempo, São Valentim virou o patrono dos apaixonados — embora, em 1969, o Vaticano tenha removido seu nome do calendário oficial, alegando falta de provas sobre sua história.

Mas, a essa altura, o amor popular já estava muito além da burocracia religiosa.


Do canto dos pássaros aos cartões rendados

Na Idade Média, o romantismo ganhou força.

Poetas como Geoffrey Chaucer, na Inglaterra, começaram a associar o 14 de fevereiro ao tempo do acasalamento dos pássaros — uma espécie de primavera emocional.
Era o início do chamado amor cortês, onde nobres trocavam cartas, poemas e pequenas lembranças.

Na França, chegou a existir uma “Corte do Amor”, com concursos poéticos celebrando os encantos da paixão.

Já no século XIX, a revolução foi industrial: nos Estados Unidos, Esther Howland, filha de donos de papelaria, criou os primeiros cartões de Valentine em larga escala.

Em seu primeiro ano, vendeu o equivalente a cinco mil dólares — uma pequena fortuna na época.

Corações, rendas e cupidos viraram padrão. O amor começava a andar de mãos dadas com o comércio.


 E no Brasil? Santo Antônio e a jogada de mestre

Enquanto o resto do mundo celebra o amor em fevereiro, aqui no Brasil a data foi plantada com criatividade e estratégia.
Em 1948, o publicitário João Doria (pai do ex-governador de São Paulo) foi chamado para aquecer as vendas de junho — um mês considerado fraco para o comércio.

Inspirado no sucesso do Dia das Mães, criou o Dia dos Namorados, marcado para 12 de junho, véspera do dia de Santo Antônio, o conhecido “santo casamenteiro”.

O slogan da campanha era direto e afetuoso:
“Não é só com beijos que se prova o amor.”

Funcionou. Hoje, o 12 de junho é a terceira data mais lucrativa do varejo brasileiro, atrás apenas do Natal e do Dia das Mães.


🌍 O amor em outras línguas

Em outros cantos do mundo, o amor também encontra jeitos inusitados de se manifestar:

  • Dinamarca: Homens mandam bilhetes anônimos rimados (gaekkebrev). Se a mulher adivinhar quem enviou, ganha um ovo de Páscoa.

  • África do Sul: Mulheres usam corações com o nome do pretendente costurado na manga da roupa.

  • Filipinas: Casamentos coletivos gratuitos são tradição em 14 de fevereiro.

  • Finlândia e Estônia: Comemoram o Dia da Amizade — amor em todas as formas.


💘 Entre o afeto e a vitrine

Pode parecer contraditório: uma história de santos, rituais, amor cortês… terminando em vitrines de shopping.

Mas talvez aí esteja justamente o charme dessas datas: elas se reinventam.

Hoje, 59% dos espanhóis dizem gastar, em média, €95 no Valentine’s Day.

E no Brasil, em 2025, os restaurantes e floriculturas seguem cheios no dia 12 de junho.
O amor pode até não ter preço — mas, no mundo moderno, ele tem data marcada, slogan, embalagem… e lugar garantido no calendário do coração (e do comércio).


P.S. É verdade que, em tempos de algoritmos (Tinder, Bumble), o clima de romance perdeu um tanto de seu encanto, e as pessoas, como num “capitalismo emocional tecnológico”, consomem seus afetos, assistem até enjoar e clicam no próximo… não se permitindo viver um pouco mais uma história.

Uma velha frase, talvez distorcida em minha memória — acredito que seja do Ailton Krenak, embora me lembre muito as citações do Goulart — dizia mais ou menos assim:
“A vida não é útil, não se come. Mas, sem ela, a gente não come, não ama.”

É estranho como, mesmo em tempos tecnológicos, geramos bilhões de curtidas românticas por dia e tudo o que, às vezes, sonhamos é com um olhar sincero, diferente, que dure mais de 30 segundos.

Pois é…apesar de tudo…precisamos de amor!

Veja também Romântico (Uma poesia simples) ‣ Jeito de ver

Texto revisado por I.A.

Dançando a mesma música (No ritmo do coração)

Percebo que viver é aprender a seguir o ritmo.

Imagem de Michelle Pitzel por Pixabay

Ao meu mano e amigo, Anderson
Dançando a mesma música

Talvez alguém já tenha comparado alguma vez a vida a uma dança, num baile, não sei. Mas, a cada dia, percebo que viver é aprender a seguir o ritmo.

Às vezes, somos aqueles desengonçados que atrapalham a dança, que envergonham os nossos pares no salão. A natureza é cruel… pois não há pares perfeitos!

E, quando percebemos que não estamos indo bem na dança, mesmo tristes, abrimos caminho…

e dançamos sozinhos ao som dos ventos.

Balançamos, rodopiamos, e muitas vezes a dança parece muito mais fácil quando estamos dançando sozinhos.

Mas, daí… encontramos um par!

Alguém que talvez dance tão mal quanto a gente ou que esteja disposto a aprender os passos para seguir na mesma dança.

Pisamos os pés e somos pisados muitas vezes — mas desistir na metade da música, sem ao menos aprender a sentir a melodia, é se deixar desperdiçar.

Por isso, a gente tenta…

Mesmo sabendo que as palavras que ouvimos não têm o mesmo significado para outros ouvidos.

Sabendo que, mesmo os corações, pulsam em sentidos distintos, reagindo à mesma melodia.

Daí, aprendemos a seguir o ritmo.

E, enquanto a dança continua, haverá lindos momentos, como se dançássemos ao longo do salão, no mesmo baile… sentindo, em nossas costas, o toque suave daquele par que fará a dança ganhar sentido.

E, mesmo assim, quando pensamos que entendemos a música, há variações rítmicas que nos forçam a ajustar o passo… improvisos artísticos tornam mais belas as apresentações.

É triste saber que muitos que iniciaram o mesmo baile soltaram as mãos dos seus pares… que não souberam aceitar as diferenças, seguir o ritmo. Por isso, percebemos o esvaziar da festa e nos questionamos: vale a pena continuar a dança?

Durante a dança, permita-se abrir os olhos, observar o brilho no piso do salão e contemplar o riso de quem acompanha você.

Ouça a música, escute o coração do parceiro e fale no tom que você gostaria de ouvir.

Ouça o silêncio…

E, no fim do baile, contemple o quanto você evoluiu… desistir é muito fácil.

Aprender o ritmo é uma questão de amor.

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Rabiscos e memórias (traços do tempo)

Uma breve reflexão poética sobre o tempo

Imagem de Petra por Pixabay

Talvez eu seja apenas um velho

Com pensamentos gastos, sonhos empoeirados e ideias que não foram aproveitadas

Talvez um velho livro de páginas em branco, rabiscos mal sonhados, de velhas memórias apagadas…

Talvez eu seja O velho traço de um sonho que não durou uma noite inteira ou a velha luz de uma estrela que se espalhou como poeira

E na vastidão deste universo Insisto em velhas ideias, velhos sonhos e em velhos versos

E este velho livro, sem palavras, sem verbos, sem frases descansa, na estante do tempo guardando velhos segredos, motivos desbotados e eternos ideais…

No canto da memória de quem ama o que viveu…

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© Gilson da Cruz Chaves – Jeito de Ver Reprodução permitida com créditos ao autor e ao site.