Mais um dia… ( Um dia quase normal!)

Levantei cedo, antes do sol.

Algumas estrelas ainda me esperavam do lado de fora.

O céu estava indeciso

como se despedir das estrelas?

Românticas, serenas…

Como deixar a lua partir?

Os seresteiros cansados se arrastavam pela longa praça,

realizados depois de uma noite tão romântica

As amadas tiveram seus próprios spectacle privé,

puderam sonhar com os velhos tempos

puderam debruçar nas janelas imaginárias

O céu abraçava as cores

lilás, rosa, traços amarelos e vermelhos

e imponente, surgia o sol.

O poeta recluso, não escrevia mais seus pensamentos

e o compositor

abraçava a solidão da cama

podia agora dormir.

De longe,

o atleta corria na direção oposta

desbravando novas metas, novos horizontes

E quanto a mim…

Parei no tempo.

Enquanto lembrava dela

dos cabelos negros

dos olhos verdes

da voz macia

do riso lindo

E guardava cada instante desse dia para poder contar…

Veja mais em: O tempo ( Contador de histórias) – Jeito de ver

Para te ver ( Versos Simples )

Os caminhos se tornam belos quando amamos o destino. Veja a poesia.

Imagem de Iso Tuor por Pixabay

 

A cidade era fria, no caminho, cansava, chovia.

A neblina cegava, mas mesmo assim, eu te via.

A chuva gelava, o tempo apertava, a distância, cegava…

Mesmo assim, te via.

Te via de riso solto, aberto, no mesmo portão, de braços abertos e olhos fechados, como numa oração.

Te via sorrindo, na mesma distância. Que lindo!

Na mesma esperança, na mesma ilusão de que o tempo não bastaria…

Que algo cresceria, duraria, viveria por mais um verão.

Mas era inverno em teu coração, e de modo terno…

dizias: não

aos sonhos, às estradas… a ilusão.

E nas noites de estrelas, sem palavras, sem trelas, passei com elas aquela estação…

Em que tu te afastavas, como o horizonte, cada vez mais distante, e em nenhum instante imaginei que acabavas.

E na cidade fria, que no caminho a chover, meu coração apertava ao lembrar da distância que eu vencia para poder te ver.

E de longe as belas serras, imagino um portão… sem palavras e sem estrelas, sem braços abertos, que não mais me esperam.

Mas que ainda me conta sorrindo, e a saudade não faz doer de frio, das estradas, dos caminhos… que eram lindos… para poder te ver.

 

Veja mais em Versos sem destino ( um conto ) ‣ Jeito de ver

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Caminhos de ferro ( Um conto)

Uma lembrança antiga...Leia

Imagem de SnottyBoggins por Pixabay

Lembro o misto, aquela composição que nas Quintas-feiras levava pessoas e cargas para o leste, às 13:15. Você lembra?

Partir nunca foi o momento mais alegre da vida, mas aquele momento era especial.

Sandrinha, vestida de verde, acenava e deixava nos lindos lábios o mais belo sorriso.

Então, o trem seguia, rumo ao leste.

Constante.

Trilhos, pedras, paisagens secas às margens de um rio e antigas pequenas cidades às margens da ferrovia.

As pessoas que viam o passar do trem, acenavam ao maquinista que respondia com risos, longos e estrondosos apitos, daquela buzina escandalosa.

Crianças viam heróis. Moças viam paixões e aventuras, mas dentro da composição, as pessoas esqueciam de contemplar o tempo que agora era disponível e também as histórias ao redor, estavam ocupadas com a pressa.

Então decidi voltar novamente a minha atenção ao mundo lá fora.

E vi o por do sol.

Montanhas, descidas incrivelmente lindas e assustadoras anunciavam a chegada a Contendas do Sincorá.

Era noite, as pessoas corriam para receber parentes, para vender seus produtos e outras para embarcar.

As horas passavam e a velha cidade ficava pra trás.

Trilhos, pedras, montanhas e novas paisagens.

A saudade e a despedida

Até o bendito trem resolver descarrilar… e longas três se passaram.

As queixas não eram tão interessantes…

Reclamações, queixas, um reggae no toca-fitas do Nilson e a expectativa ansiosa.

E chegamos, madrugada de Sexta. Brumado estava quente.

Dois dias, passaram como segundos e hoje, não lembro absolutamente nada do que aconteceu neste período – são longos 37 anos… mas lembro de querer voltar e ver novamente aquele sorriso, o sorriso de Sandra.

E depois dos trilhos, das pedras, das velhas cidades, eu estava de volta.

E ela estava lá, de blusinha verde, de short vermelho e de riso nos lábios.

Rindo, brincando e a dizer: ” Agora é a minha hora de partir…”

E de longe, vi o carro, estradas para o Sul… montanhas…céus… não consegui sorrir.

Senti falta dos risos.

Ela jamais voltou.

Gilson Cruz

Veja mais em: O tempo ( Contador de histórias) – Jeito de ver.

Lembrando os velhos seresteiros

O Último Encontro dos Velhos Seresteiros

Havia uma barraquinha próxima ao muro da igrejinha, na praça que hoje é conhecida como a Praça dos Ferroviários. Era o ponto de encontro dos velhos seresteiros!

Chegavam aos poucos, cada um trazendo o seu próprio instrumento: violões, pandeiros, cavaquinhos… e enquanto a cidade se preparava para dormir, a melodia ditava o ritmo dos sonhos.

Ser menino era meio complicado.
Eu ficava à distância, sentado à porta da minha casa, observando cuidadosamente a entonação e decorando quase todo o repertório.

A “Morena Bela do Rio Vermelho” se envaidecia, mas não podia ouvir o clamor de “Fica comigo esta noite” ou a angústia apaixonada de “Onde estás agora?”

Seu Júlio puxava o coro: “Hoje que a noite está calma…” e, num Sol Maior perfeito, as vozes se encaixavam, dando à noite a impressão de harmonia entre lua, estrelas e apaixonados.

“Maria Helena” era a verbena daquela noite. “Meu Grito” era a oportunidade de desabafar entre “Os Verdes Campos da Minha Terra”. Às vezes, os músicos cansavam. Então, Seu Júlio, amigavelmente, trazia água para os amigos.

Prontinhos, agora hidratados, voltavam risonhos e com muito mais empolgação e emoção para cantar.

Entre “Negue”, “Ronda” e “Vou Sair Para Buscar Você”, chegava a hora de partir. E cantavam “A Volta do Boêmio”.

Era uma reunião de amigos.
Era um show de amigos para amigos.

O Fim de Uma Era

Esses encontros aconteciam apenas nos finais de ano. A cada ano, porém, o número de velhos amigos da serenata diminuía.

Eram quase trinta no início. No último encontro que pude contemplar, restavam apenas seis.
Músicos passam. Músicos morrem.

Por fim, Seu Júlio também faleceu. As serenatas acabaram.

A barraca foi demolida e, em seu lugar, construíram uma linda pracinha. Não há marcas ou lembranças daquele terreno onde a velha barraca resistia entre velhos arames.

Novos e belos músicos nasceram, mas jamais saberão o que era sentar entre amigos, rir das próprias falhas, cantar no mesmo tom sem competir. Eles não compreenderão como é bom cantar junto, dividir o prestígio, a emoção, o momento. Assim como deve ser a arte.

A Celebração da Amizade

Talvez a lua não provoque mais a mesma emoção. As pessoas mudam com o tempo e podem pensar que seria tolice cantar sob noites enluaradas.

Mas os seresteiros sabiam: não era a lua em si. Era a celebração da amizade, do amor, em belas e antigas canções. Eles sabiam que um dia tudo aquilo passaria e, por isso, precisavam se encontrar. A lua era apenas um pretexto.

Que os novos amigos encontrem sempre um motivo para se reunir, para celebrar. A vida passa.

Hoje, depois de tanto tempo, me pergunto: “Os velhos, incansáveis seresteiros quase não paravam. O que será que tinha naquela água que Seu Júlio servia?

Gilson Cruz

Leia mais em O tempo ( Contador de histórias) – Jeito de ver

Ouvir estrelas (Poesia clássica)

“Ora (direis) ouvir estrelas! CertoPerdeste o senso!

Imagem de Neverlan por Pixabay

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”

(Poesias, Via-Láctea, 1888.)

Olavo Bilac

Comentando a poesia

Esse é um dos sonetos mais belos e conhecidos de Olavo Bilac, extraído do livro Via Láctea (1888).

Este soneto carrega a essência do Parnasianismo na forma impecável e no rigor métrico, mas também transborda lirismo e subjetividade, flertando com o Simbolismo.

Aqui, Bilac constrói uma metáfora poderosa sobre a sensibilidade e a capacidade de perceber a beleza e o mistério do universo.

O eu lírico enfrenta a incredulidade daqueles que não compreendem sua comunhão com as estrelas, representando a oposição entre razão e emoção, lógica e sentimento.

Ao que a resposta final—”Amai para entendê-las!”—é um convite à sensibilidade, sugerindo que só através do amor é possível captar o que é invisível aos olhos e inalcançável pelo intelecto frio.

Sim, essa ideia de que o amor é a chave para compreender o sublime é profundamente tocante.

O poema sugere que há mistérios no mundo—representados pelas estrelas—que a razão sozinha não pode desvendar. Só quem sente profundamente, quem ama, pode realmente “ouvir” e entender essas verdades mais sutis.

Melancolia e Solidão

Além disso, há algo de melancólico e solitário no eu lírico, que passa a noite em vigília, encantado com as estrelas, mas também enfrentando a incompreensão dos outros. Esse contraste entre a frieza da razão e o calor da emoção torna a mensagem ainda mais envolvente.

A superficialidade e a pressa da vida moderna tornam essa contemplação cada vez mais rara.

Parece haver uma desconexão entre o sentir e o viver, como se as pessoas estivessem sempre correndo atrás de algo—sucesso, status, prazer imediato—mas sem realmente se permitirem sentir com profundidade.

O amor, como Bilac sugere, não é apenas um impulso ou um desejo, mas uma forma de percepção. Ele nos dá um olhar mais sensível sobre o mundo, nos permite “ouvir estrelas”, ver a beleza onde outros veem apenas o banal.

Cabe a seguinte reflexão: “Será que ainda há espaço para esse tipo de sensibilidade no mundo de hoje? “

Conheça O poeta ( Uma poesia simples) – Jeito de ver

Resumo biográfico

Olavo Bilac (Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac -1865-1918 ), foi um dos maiores poetas do Brasil, principal nome do parnasianismo, e um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, criou a cadeira nº. 15, que tem como patrono Gonçalves Dias. – Olavo Bilac | Academia Brasileira de Letras

Sua atuação não se restringiu à literatura, destacando-se também pelo forte engajamento cívico e político. Defensor do serviço militar obrigatório, escreveu a letra do Hino à Bandeira e fez oposição ferrenha ao governo de Floriano Peixoto, chegando a ser preso em 1891.

Desde jovem, Bilac mostrou talento para as letras. Ingressou na faculdade de Medicina por influência do pai, mas abandonou o curso para se dedicar ao jornalismo e à literatura. Trabalhou em diversos periódicos e publicou seu primeiro soneto, Sesta de Nero, em 1884, recebendo elogios de Artur Azevedo.

Olavo Bilac, principal nome do Parnasianismo no Brasil

Wikipedia

Em 1907, foi eleito “Príncipe dos Poetas Brasileiros” pela revista Fon-Fon.

Frequentador de rodas literárias e boêmias no Rio de Janeiro, Bilac teve uma vida social intensa. Ocupou cargos públicos e dedicou-se à produção de poemas, crônicas, livros escolares e até textos publicitários.

Curiosidade: Em 1897, sofreu o primeiro acidente automobilístico registrado no Brasil.

Bilac viveu sozinho, após dois noivados desfeitos, e faleceu em 1918, vítima de edema pulmonar e insuficiência cardíaca. Sua influência no cenário literário e cívico é eterna, imortalizando-o como um dos grandes nomes da poesia brasileira.

Explicando o Parnasianismo

O parnasianismo foi uma escola literária surgida na França, no século XIX, como uma reação ao sentimentalismo e subjetividade do romantismo. Caracterizou-se pelo rigor formal, objetividade e busca da perfeição estética na poesia.

Os parnasianos valorizavam a métrica rígida, as rimas ricas e a linguagem refinada, muitas vezes explorando temas clássicos e mitológicos.

A poesia parnasiana enfatizava a arte pela arte, ou seja, o compromisso maior era com a estética, e não com emoções ou engajamentos sociais.

O baile (Um último encontro)

Um baile. Um texto sobre um último encontro.

Imagem de Ri Butov por Pixabay

Eu não sabia que seria aquela a última vez que iria te ver
Chovia
O baile que começaria às oito, achava que provavelmente seria adiado…

Este é um trecho da crônica presente no livro
Crônicas do Cotidiano – Um Novo Jeito de Ver
Disponível na Amazon e Clube dos Autores

Gilson Cruz

Veja mais em: O tempo ( Contador de histórias) – Jeito de ver.

Romântico (Uma poesia simples)

 

 

Ser romântico

É poder sonhar, ao menos um pouco,
e planejar,
mesmo sabendo que a realidade não é um sonho.

É acreditar que é possível,
é ter uma razão para ser otimista
quando as luzes apagam
e acreditar na luz
quando outros se escondem na escuridão.

É acreditar…

Ser romântico é parecer tolo
aos insensíveis,
cegos aos hedonistas
e irreal aos vazios de alma,
aos que sobrevivem apenas ao dia.

É ter no riso uma razão a mais,
e nas palavras algo certo a dizer,
nas mãos a simplicidade,
mas ter algo,
ter algo sempre…

Ser romântico
é não desejar mais que o possível,
é não desprezar o que se tem.
Sim… é amar o que se tem.

É poder sonhar e lutar
quando outros se escondem,
e talvez parecer tolo aos insensíveis.

É valorizar o riso da pessoa amada…
e amar tudo, tudo que se pode ter.

 

Leia mais Versos sem destino ( um conto ) ‣ Jeito de ver

 

Tanto pra falar (Música de Alan Sampaio)

Violão. A Canção no Post "Tanto pra Falar". Composição Alan Sampaio e Gilson Cruz. Divulgue a sua Obra.

Imagem de Firmbee por Pixabay

Sobre a Música

Inspirado na Jovem Guarda e nas melodias românticas dos anos 1970, o compositor Alan Sampaio trabalhou em mais uma de suas belas melodias.

Conheça e prestigie a sua obra.

Tema: Tanto pra falar

De: Alan Sampaio/Gilson Cruz

Intérprete: Grupo Terra

Edição: Jeito de Ver

Leia também:

Que tal compor a sua obra de arte? ‣ Jeito de ver

 

 

 

Rosa Negra – Música de Ranne Ramos

Um homem, um violão, a arte A canção "Rosa Negra" é uma bela composição de Ranne Ramos. Divulgue a sua obra.

Imagem de Firmbee por Pixabay

 

 

 

Informações sobre a Música

ROSA NEGRA

Autor: Ranne Ramos

Ano : 2010-2011

Intérprete: Grupo Terra

A canção é uma homenagem a uma colega dos tempos de escola que costumava se vestir de preto, recebendo o apelido de Rosa Negra.

A gravação foi realizada durante o ensaio do Grupo Terra, preservando erros da sessão.

 

 

Rosa Negra

 

A cor do som

na tristeza de um acorde menor

Da inocência, enclausurada ao riso, presa por um nó

 

E a minha dor, o meu amor

andam lado a lado com as estrelas

E ao deserto, fui atrás de uma miragem para que eu te esqueça

Rosa Negra

 

Te ver sorrir é melhor que contemplar o mar

E um universo sem razão

ri, como o seu olhar

E a vida flui como um Jazz, meio desconexo

E eu encontro a paz, que me traz enfim

um sentimento, complexo…

 

Rosa Negra…

Veja mais Veja mais em

 

Veja também Rosa Negra – Videoclipe da canção ‣ Jeito de ver

 

 

 

Aqueles olhos – Apenas mais uma poesia

Uma jovem em um jardim. Uma poesia sobre os olhos inesquecíveis.

Imagem de Екатерина Александровна por Pixabay

Gilson Cruz

Jamais me esquecerei,

aqueles olhos que traziam brilhos de esperança

Não eram pretos, como a noite

castanhos, ou azuis como o céu no verão…

eram verdes

Mas, não era um verde qualquer

era um verde que apaixonava

cada vez que sorria.

Que me fazia esquecer das letras de músicas

dos poemas que escrevia…

e que me fazia tímido…

Ah! não bastavam serem verdes

eram também mágicos…

Falavam milhares de coisas – sem palavras

Traziam melodias prontas – mesmo sem notas

Fazia que desejasse que os segundos, fossem séculos…

Triste, que até mesmo séculos passam…

Mas, sinto falta daquele olhar

que trazia brilhos de esperança,

melodias, desejos e poesias…

E que não eram pretos, lindos como a noite

ou castanhos como eram seus cabelos…

Eram verdes…

Sim, eram verdes.

Leia mais em Teus olhos verdes (Menina) – Jeito de ver

© Gilson da Cruz Chaves – Jeito de Ver Reprodução permitida com créditos ao autor e ao site.