O baile (Um último encontro)

Um baile. Um texto sobre um último encontro.

Imagem de Ri Butov por Pixabay

Eu não sabia que seria aquela a última vez que iria te ver
Chovia
O baile que começaria às oito, achava que provavelmente seria adiado
pois a eletricidade em nossa pequena cidade não tem um bom relacionamento com qualquer tipo de chuva
A escuridão queria um pouco mais de espaço

Imaginei…
Ela não deve vir…
Os sapatos e o vestido brancos
E o laço vermelho nos cabelos…
Não queria imaginar os teus olhos

A chuva ficava ainda mais forte
E ainda assim o baile começava
E a banda começava a tocar aquela música

Lá dentro os pares, já não sentiam medo
Dançavam
Deslizavam pelo salão
E eu te imaginava …

Confesso, não estava desapontado
Nem todos tinham carro naquele tempo…
E quanto a mim… nem bicicleta!
Mas, não queria que a chuva fria te molhasse

E a música continuava
E na chuva resolvi dançar sozinho, na chuva
Girava…
Escorregava na rua lisa
De olhos fechados
Aproveitava a festa sozinho
Lá mesmo, lá fora, na chuva

E antes mesmo de a música acabar
abria os meus olhos,
E lá estavas tu…

Me olhando
Sorrindo
De rostinho molhado
De vestido molhado
De sapatinhos molhados…

E de repente, te estenderia a minha mão
E  vinhas…
E lá, sob a chuva
Mas, sobre as nuvens
dançávamos… até o fim

da música, da noite

No que seria a última vez.

Gilson Cruz

Veja mais em:  O tempo ( Contador de histórias) – Jeito de ver.

A mais bela voz ( Uma história)

Escrevendo. Um texto sobre um amigo de verdade.

Imagem de jlxp por Pixabay

Sabe aquele tipo de pessoa que parece que você nunca vai esquecer?
Sim, essas pessoas existem!

Quando eu ainda era jovem ( e isso já faz muito, mas muito tempo!) lembro de um período de depressão.

Era um tempo de perdas, de afastamento da família e, sinceramente, eu não sabia o que fazer…

Morava na cidade da minha paixão, um pequeno município chamado Santa Terezinha, interior da Bahia.

A cidade era pequena, acho que ainda é pequena. A praça tinha grandes árvores, o vento gostava de soprar o meu telhado, eu tinha medo dos raios e trovões e um escorpião resolveu me picar só pra me lembrar que eu não estava sozinho no mundo…e a dengue me pegou de jeito duas vezes!
Mas, o povo era amável e os dias bem ocupados…

Sim, os dias eram ocupados…trabalhava o dia inteiro e jovem então, não tinha muitos amigos.
Até que num desses meses de Junho recebi a notícia de que uma das melhores pessoas que conheci, que amava de coração, havia falecido em seus vinte e poucos anos …
Confesso, que não queria ter amigos por perto! E até hoje não sei o por quê!

E num desses dias, ele aparece.
Me convida a passar em sua casa.
E na maior simplicidade me apresenta aquilo, que um péssimo guitarrista como eu só tinha visto a centenas de quilômetros de distância. Não resisti à tentação, lembro do espanto : “Rapaz, que arsenal!”
Mesas de som, caixas, microfones, gutiarras, baixo, teclado… – ele sabia que eu cantava razoavelmente mal – mas, fazia questão que eu cantasse!
Não dava conselhos, apenas respeitava o silêncio, a dor…e quando podia, me ajudava a desabafar com aquilo que me agradava.

É engraçado que hoje, tenho mais ou menos a mesma idade dele naquela época …e percebo, quanto sofrimento era para aquele sujeito de bom ouvido escutar um moleque tão desafinado!

Mas, ele escutava, escutava, escutava…

Num dia desses, muitos anos mais tarde, encontrei uma daquelas fitas que ele costumava gravar.
Numa das faixas, ele tocava suavemente o piano elétrico, talvez num Dm ( Ré menor) não lembro mais. Enquanto, eu numa guitarra Giannini Craviola fazia o possível para não estrangular a música….
E a música fluía, entre gargalhadas, brincadeiras…
E ele soltava a voz…
A voz mais tranquila e afinada…
Que gostava de rir…
E se calava, quando o silêncio ajudava.

Ah! Antes que eu me esqueça, estraguei a música pra variar…mas, só um pouco!

Hoje, um  tanto mais velho e com a audição comprometida… consigo ouvir em meu coração cada nota, cada palavra…cada silêncio daquela pessoa, daquele amigo lá da minha juventude…

É bom ter pessoas para não esquecer, essa é a mais bela voz que pode existir.

Ao meu amigo, irmão
Rogério Alves.

Veja mais em Depressão – como ajudar? (Informativo) – Jeito de ver.

Se pudesse voltar no tempo

Um por de sol e alguém refletindo. Se você pudesse voltar no tempo e dar um conselho a si mesmo, que conselho daria? - Para reletir.

Imagem de PublicDomainPictures por Pixabay

Se você pudesse voltar no tempo e dar um conselho ao você jovem, que conselho daria?

Se isso acontecesse comigo…

Sei que antes de tudo eu me daria um abraço…
sim, me daria um abraço, pois sinto saudades daquele jovem.
Lembro sua inocência, seus sonhos e até mesmo das besteiras que fez ( ou, que fiz!)

…e como foi difícil para ele (para mim).

Diria a ele, (isto é, a mim mesmo) que não tivesse medo de se apaixonar tantas vezes,
E de passar por tolo, várias vezes …

Diria que aquela tristeza seria superada, e que com o tempo ele iria até achar engraçado…

Diria também que não tivesse medo de dançar
De parecer ridículo, e de ser menino várias vezes na vida…

Diria também que ele (eu) chorasse sempre que tivesse vontade, pois os humanos choram
E que aquele papo de homens não choram, é conversa de imbecil insensível.
Que ele se (eu me) permitisse chorar

Ah! Eu diria àquele jovem
Que não tivesse medo do estranho, e que fosse paciente com os carentes…
Pois todos são carentes em alguns momentos

Se eu pudesse voltar no tempo
E me dar um conselho
Diria a mim mesmo, que me permitisse amar e ser amado
Pois, ainda que clichê, amar é um privilégio dos vivos…

E se aquele jovem curioso me indagasse sobre o futuro, eu não o diria.
Diria apenas que não tivesse medo do futuro…
Que não temesse noites sem sono, não falaria a respeito da filha que viria a nascer quando ele menos esperasse…

Não falaria sobre perdas…
As perdas  aconteceriam – mas, ele não precisaria saber,
Isso o permitiria amar espontaneamente…

Que não tivesse medo dizer eu te amo
E que não deixasse passar as oportunidades
Pois, ele ainda teria várias oportunidades, então que amasse…

Não diria que aqueles seus amigos, só estariam até a página 12

e que eles precisariam seguir suas vidas

Também não não falaria dos falsos amigos…

Eles o ensinariam muito sobre a vida…

E  que doenças acontecem.

Que se permitisse chorar
Sorrir…
Mas que não ficasse ansioso
Pois tudo aconteceria em sua vida…
E ele precisaria disso tudo…

E se ele, isto é, eu chorasse
Eu o (me) diria…
Não tenha medo…nem fique triste
Eu vou estar olhando para você,  em seus olhos todos os dias
Todos os dias, esperando para ser quem sou

Todas as vezes que ele  se olhar no espelho.

Veja mais em:  Conselhos a um jovem (pra quê a pressa?) – Jeito de ver

Palavras de 2023 – o ano que passou! ‣ Jeito de ver

E LÁ ESTAVA ELE! ( um dia incomum)

Um Velho Senhor parado no tempo.

E lá estava ele.

GChaves

Sempre a passeio pelas ruas da cidade, contemplando momentos de descontração, reduzindo obrigatoriamente no trajeto urbano (devido aos quebra-molas), os pensamentos fluíam numa concentração necessária, pois assim, quem sabe o estresse e ansiedade diminuíssem, proporcionando àquela mente um pouco de alívio.

Porém, num certo dia, passando pelas mesmas ruas, uma cena, aparentemente vista antes, repetia-se.

No passeio de uma humilde residência “lá estava ele! ”

Um senhor que chamara a sua atenção, pois, aquela matéria, ali sentada, com o olhar fixo ao vazio do tempo, com suas pernas cruzadas, vestindo jeans, camisa de mangas compridas, sandálias havaianas pretas e um relógio (talvez oriente), o caracterizavam.

Era perceptível naquela humilde residência aquele humilde cidadão.O que despertara a atenção era o fato de aquele corpo imóvel, estar fixando o olhar no vácuo do tempo, mas, com certeza a sua mente o estava direcionando para algum lugar.
O semblante mostrava naquele senhor o cansaço que o passado lhe causara. A pele enrugada e um ar de nenhuma perspectiva para o futuro, aqueles momentos já lhe pareciam necessários para o vazio e o tempo sem pressa passar.

Curiosidade ainda maior, quando, em outro dia de passeio e contemplação pelas ruas da Cidade, num dia chuvoso, nublado e os chuviscos batendo e escorrendo pelo para-brisa, naquela rua, naquele passeio, notoriamente, LÁ ESTAVA ELE, nas mesmas condições serenas, clima de paz interior ou preocupações “só ele poderia revelar”.

Mas, para aliviar as preocupações de um observador ansioso e estressado, melhor pensar e crer na paz interior, só que dessa vez, ao seu lado, compartilhando das mesmas gotas de chuva e deitado enquanto ele olha para o tempo, um cão vira-lata, branco com machas pretas, ou preto com manchas brancas, isso até nem importa tanto, mas o que valeu mesmo naquele momento, foi saber que, com aquele senhor envolvido nas suas realidades internas e numa ótica externa de uma realidade imaginária, havia com ele um verdadeiro amigo.

Com certeza, ao passar novamente por lá, ele ou eles estarão repetindo a mesma cena curiosa.

E, quem sabe, o ansioso e estressado se aproximará para saber um pouco daquela mente que tanto despertou a curiosidade.

Gilmar Chaves 21/05/2023

Gilmar Chaves, Professor, Poeta, Conselheiro e membro da formação inicial da Banda Experiência. A arte de observar e fazer parte da história.

Veja  mais em:  O tempo ( Contador de histórias) – Jeito de ver.

Qual o preço de uma amizade?

Pessoas solitárias são vulneráveis a aproveitadores.

Imagem de Mandy Fontana por Pixabay

 

A EPIDEMIA DA SOLIDÃO

A solidão tem sido descrita como uma das mais graves epidemias do século XXI, além da depressão e obesidade.

Há uma crescente tendência a esse mal em muitos países do mundo. Isso tem se agravado depois da pandemia da COVID-19. O fato é que a solidão está relacionada a grandes males. Observe o destaque do site CENTRO INTERNACIONAL SOBRE O ENVELHECIMENTO):

“Está associado a baixa auto-estima, angústia, ansiedade e depressão.

Gera dor física: a alma dói e as reações cerebrais são desencadeadas nas mesmas regiões que são ativadas pela dor corporal.

Está associado à morte prematura e por vezes aumenta as hipóteses de morrer de um ataque cardíaco ou sofrer acidentes cardiovasculares e cerebrovasculares (AVC).

Provoca uma diminuição e enfraquecimento do sistema imunitário.

Está associado à aquisição de hábitos nocivos. Entre os mais comuns encontram-se o alcoolismo (que pode ser uma causa, uma consequência, ou ambas) e os distúrbios alimentares (que contribuem negativamente para tudo o resto).

Gera perceções curiosas (faz-nos sentir mais frios, ouvir ruídos…).

Gera sociopatia e atrofia capacidades de socialização, hábitos e capacidades relacionais.

Pode ser um precursor de doenças de tipo: diabetes e doenças do sistema endócrino, artrite, Alzheimer ou inflamações de todos os tipos. Como exemplo, há investigações que sugerem que as mulheres que estão e se sentem sozinhas têm até cinco vezes mais probabilidades de contrair cancro da mama do que as mulheres que são socializadas e/ou na família.

Perturbam o sono e influenciam o sistema nervoso: as pessoas solitárias têm níveis elevados de cortisol, em comparação com as pessoas socialmente ligadas.

Causa a pior eficácia dos tratamentos médicos, uma vez que a “adesão” da pessoa aos tratamentos medicamentosos desce a pique.” – A solidão: epidemia do século XXI | CENIE

O problema pode estar nos motivos por trás da solidão: timidez, depressão, ansiedade, síndrome do pânico – o menu é vasto.

Especialmente os jovens são vulneráveis à solidão.

O COMÉRCIO DA “AMIZADE”

Desde a pandemia, muitos jovens passaram a sentir os efeitos do estresse causado pelo longo período de isolamento e do uso de máscaras. A depressão, a falta de confiança, a vulnerabilidade e a carência afetiva têm sido bem comuns.( Pesquise o texto no post Redação Sobre Jovens deslocados, os efeitos do estresse sobre os jovens no século 21 | Carnaval de Redação)

E em meio a esta crise de saúde pública surgiu um novo e revolucionário produto: A Amizade líquida.

Isso mesmo, líquida em economia: Que pode ser convertida em dinheiro!

O comércio de amizades virtuais, sim – pagar para se ter amizade de alguém, agora é possível.

Influenciadores deste universo, que é a internet, fazendo o que sabem fazer, lucrar com tudo o que seja possível!

Mas, qual seria o valor de uma amizade nestes termos?

Trinta a Duzentos Reais Mensais de acordo com o plano, funciona ou menos assim: “Se você quiser ter o prazer de dizer que conhece o Influencer e que se comunica com o mesmo o plano pode ser o comum, o mais barato. Mas, no plano VIP você poderá dizer que o artista é seu (sua) amigo (a).

Se você não tem cartão de crédito, pode pedir aos seus pais…” – nas palavras de um influencer.

BAIXA AUTOESTIMA

É triste dizer que muitos jovens, solitários e sem amor próprio, abraçaram essa ideia, não percebem o valor que estão recebendo em troca quando precisam pagar para serem aceitos por alguém.

As mentes jovens não percebem o desprezo que recebem de tais influenciadores digitais. Não percebem a superficialidade de quem está ali, olhando apenas um produto rentável  que se abre, se derrete, que não imaginando que quando as telas se apagam, ela deixa de existir.

Não percebem que eles valem tanto quanto pagam por suas amizades.

Mas, por que isso tem acontecido?

A pandemia e mesmo a tecnologia nos afastou das pessoas reais e os celulares se tornam melhores amigos; com isso apagam-se vizinhos, colegas de escola e companheiros de profissão. Pessoas a quem não se precisa pagar para se existir e podem ser muito mais interessantes em suas histórias e lições de vida.

– Reaprender a olhar nos olhos de quem existe é o verdadeiro desafio!

A baixa autoestima tem sido um problema a ser trabalhado, e a ajuda de pais, verdadeiros amigos e profissionais de saúde pode ser útil nesta difícil jornada de crescimento e amadurecimento.

 

 Informativo

 

Leia mais em Depressão – como ajudar? (Informativo) ‣ Jeito de ver

Contos de Carnaval (uma história com H)

Máscaras de carnavais e bailes de fantasia. Um texto bem humorado sobre o carnaval no interior.

Imagem de Adriano Gadini por Pixabay

A cidade se aglomerava e de repente Dona Margarete gritava: –“Eu falei Faraó…”

Automaticamente a multidão seguia naquela mais que animada romaria, cantando: “Ê Faraó… Ê Faraó…”

– Mas, sou capaz de apostar que a maioria das pessoas não sabia cantar metade daquela letra complicada e imensa!

Os compositores eram realmente geniais!

Para a multidão o importante  mesmo era tentar cantar as frases ou mesmo as sílabas que conseguiam lembrar, esbarrar nos outros, dançar e na maioria das vezes, apenas pular!

E por falar em dançar, a cada nova estação, uma nova dança: A dança da galinha, o Fricote, o Tchu-tchu, a manivela...não dá pra lembrar de tudo!

Esse era o Carnaval na capital e no interior da Bahia!

No interior, havia a micareta (e no momento NERD do dia , lembro a você  que MICARETA vem de uma palavra francesa que significa “meio de quaresma” – período entre os dias 14 de Fevereiro e 28 de Março)  e o trio elétrico tocando canções  nordestinas animadas arrastando um monte de gente pela cidade, num tour bem divertido mas, barulhento pra caramba!

A banda Bamda Mel (isso mesmo, BaMda) puxava o “Prefixo de Verão” e pregava a paz na “Baianidade Nagô“, um “Cometa mambembe” atingia em cheio a multidão que  queria apenas ” botar o bloco na rua” enquanto o “Frenesi” balançava a massa.

E cabia tudo naquelas ruas  desde “Senegal’, “Moçambique”, “Madagascar” e  Bagdá”,  ó ó ó Bagdá… até o Egito, Egito ê!

Quando a rodinha apertava, Sara Jane, pedia que abrisse, mas era um “Auê” mesmo, quando faltava o freio no Trio Elétrico!

E por falar em falhas mecânicas, um dia os  freios do Trio Elétrico foram curtir no meio do povo e o caminhão desceu a ladeira abaixo desgovernado – acho que os músicos ou se empolgaram demais ou se borraram de tanto medo, pois o axé naquela hora soou como um perfeito heavy metal! Poucas pessoas tiveram as pernas quebradas e por bem pouco não estiveram entre aquelas que “não iam atrás do trio elétrico” por motivos óbvios, como cantava o Moraes.

Sim, o Trio Elétrico “sacudia, abalava” e aquele terremoto parecia não ter fim, a Reflexus pedia liberdade ao Mandela, o Olodum fazia o seu protesto, apresentava o Berimbau, cantava o “Samba do recôncavo” e o Araketu deixava muita gente mal acostumada

Mas, por que é que chamam aquele caminhão de TRIO ELÉTRICO?

Bem…veja a  história:

Tudo que então era possível, se dava porque em décadas anteriores , especialmente na década de 1950, dois amigos: Adolfo Antônio do Nascimento (Dodô), Osmar Alvares Macedo (Osmar) colocaram aparelhos de som no carro, um Ford 1929, conhecido como a Fobica. No início, eram conhecidos como a Dupla Elétrica.  Sim…mas, e o Trio? – EBC | Como foi inventado o Trio Elétrico?

A dupla se tornou Trio quando convidaram Temístocles Aragão para formar o que viria a ser chamado de Trio Elétrico.

E aí você imagina, quando a Fobica se aproximava trazendo o Trio Elétrico tocando especialmente Frevos, o povo gritava: –“Lá vem o trio Elétrico…

– Alguém entendeu que se referia ao carro, então a coisa  pegou!

Hoje as pessoas conhecem como Trio Elétrico  aqueles caminhões equipados de caixas de som.

Na década de 1970, o versátil Moraes Moreira passou a soltar a sua voz nos trios elétricos – se tornando o primeiro cantor desta área. E desde sempre, o mágico Armandinho Macêdo, um dos mais talentosos músicos da história (e ele já é uma história a parte) mostrava o que se era possível fazer numa guitarra, em especial – a guitarra baiana. – Armandinho (guitarrista) – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Na década seguinte, um pequeno príncipe surge cantando canções bem ritmadas, com belas letras ( e algumas que certamente se encaixam apenas naquela época) – indo num  Fricote até o chão.

A linda voz do Luiz Caldas fluía desde os contagiantes axés de “Tieta”, “Magia”, “Haja amor”, “Eu vou já” até as suaves “È tão bom” e “Flor Cigana”.

E era realmente tão bom, quando Beijos, Cheiros, Chicletes, Asas, Blocos Afros e muitas outros cantores incríveis desfilavam pela avenida com músicas, protestos e histórias – não só a Praça Castro Alves era do Povo, mas todas as praças pertenciam ao povo.

O tempo passa e as coisas mudam…

E as avenidas seriam então diferentes…

Os blocos agora podiam pagar cantores para animar seus associados, que protegidos por cordas e seguranças,  curtiriam então a sua festa na segurança do seu espaço privado na rua, (pois é, a “fantasia não seria eterna” como queria a Baianidade Nagô para os carnavais, os cantores também precisavam viver e animar o carnaval era o seu trabalho) já para aqueles que não pagavam, restaria  “aproveitar o espaço que sobrasse aos pipocas”.

O repertório do Carnaval mudou e artistas de outros estilos passaram a ser convidados para  novos públicos: sertanejo, rock’n roll, tango… ( acho que o tango, ainda não)-  prática talvez iniciada lá, quando o freio do caminhão falhou na ladeira e os músicos carnavalescos emularam perfeitamente o primeiro heavy metal num carnaval…

Enquanto isso, no interior, o velho Prefeito pedia ao Trio Elétrico, para que nesse tour musical através da cidade, parasse próximo ao Cemitério e a banda tocasse em homenagem aos velhos foliões…que certamente, jaziam sem muita ansiedade ou entusiasmo, nos túmulos…

E no Centro, quando as coisas esquentavam e as pessoas confundiam a dança com a briga, o guarda Miguel dava três tiros para cima, talvez para lembrar que a homenagem aos velhos foliões já tinha acontecido naquele dia e que se não parassem , os valentões seriam os  homenageados do ano seguinte…

E a Banda Doce Magia fazia a sua  música, com o patrocínio costumeiro dado à cultura em pequenas cidades…

Conheça mais a história dos micaretas no Canal MICARETAS ANTIGAS

Foto Almeida NO YOUTUBE, do pesquisador Ananias Almeida.

https://www.youtube.com/@micaretasantigasfotoalmeid7790

Veja mais em Um pouco de exagero (Humor) – Jeito de ver

Tradições – o que se precisa saber? ‣ Jeito de ver

Ouvir estrelas (Poesia clássica)

Um casal na noite. "Ouvir Estrelas". Uma das mais belas poesias de Olavo Bilac.

Imagem de Mihai Paraschiv por Pixabay

“Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto…

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: “Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?”

E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas.”

(Poesias, Via-Láctea, 1888.)

Olavo Bilac

Conheça   O poeta ( Uma poesia simples) – Jeito de ver

Olavo Bilac (Olavo Braz Martins dos Guimarães Bilac), jornalista, poeta, inspetor de ensino, nasceu no Rio de Janeiro, RJ, em 16 de dezembro de 1865, e faleceu, na mesma cidade, em 28 de dezembro de 1918. Um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, criou a cadeira nº. 15, que tem como patrono Gonçalves Dias. – Olavo Bilac | Academia Brasileira de Letras

O ontem ( um conto simples )

Um homem no tempo. Uma reflexão sobre a imutabilidade do passado.

Imagem de LIMAT MD ARIF por Pixabay

Acordei meio desesperado, era o dia do meu casamento e quase perdi o horário, de novo.

Levantei às pressas e vi que as coisas estavam bem diferentes.

A casa, a cama, a escrivaninha, o gato, a cachorrinha – não eram mais os mesmos…

Corri até a sala que não era mais a mesma e vi o calendário que não era mais o mesmo, que marcava uma data, que lógico… não era mais a mesma.

As mesmas pessoas passavam com a mesma pressa, fugindo do mesmo calor – torcendo pelas mesmas nuvens de chuva, que certamente não desaguariam …

Parecia o ontem…

Então resolvi fazer um exercício, pensei:  – “Acho que já vi este dia…”

E comecei a narrar as coisas de que me lembrava…

“Daqui a pouco, a vizinha vai colocar o lixo no lugar errado novamente…”

“Seu Carlos, o carteiro, vai me trazer a mesma carta… e também vai reclamar do sol e vai me falar de sua aposentadoria que esta se aproximando…”

“Meu amigo Tomaz, retornará da maratona – com mais uma medalha…”

“Ranne fará novamente ( ou pela primeira vez) aquele blues…”

“Paulinho me convidará para o lançamento do livro “Minhas poesias”…”

“O ônibus vai atrasar novamente, então vai dar tempo…”

E as coisas iam acontecendo conforme eu previa – ou sei lá, conforme eu já tinha visto.

Rodrigo me dizia: -“Cara, pensa bem…”

E enquanto ele falava novamente, as mesmas coisas, a minha mente narrava os passos seguintes daquele dia…

O carro atrasado…

Minha mãe desesperada…

A incerteza do futuro…

A certeza de que eu não saberia mais narrar o amanhã.

E novamente. o carro das oito passou às onze e meia, em ponto! Meu Deus, não atrasou nem um segundo!

E entrei no mesmo ônibus, rumo à mesma cidade.

Passando pelas mesmas curvas, ouvindo as mesmas queixas do motorista, que dizia ao Fabrício – o jovem cobrador:

-“A gente não vai ter tempo nem pra almoçar…”

As mesmas pequenas cidades passavam e as mesmas pessoas embarcavam. Por um momento, pensei: -“Acho que vou fazer algo diferente…vou mudar este dia!” – Comecei a contar piadas, entreter os passageiros que riam, a cantar com os bêbados que se divertiam nas últimas poltronas…

E quando me dei conta, foi exatamente isso o que fiz, ontem!  Eu estava preso!

Desesperado, pensei em sair do carro, sair correndo e quando levantei, percebi – o ontem não se muda, ainda que acorde nele!

Não daria para mudar o ontem, o ontem já estava moldado.

O futuro ainda era incerto…

Então, resolvi deixar o o ontem acontecer.

Novamente, coloquei o lixo da vizinha no lugar certo, agradeci ao Seu Carlos e desejei a felicidade que ele merecia, após tantos anos de serviço…- Eu não sabia que seu coração não resistiria por mais quatro anos, o futuro era incerto.

Ele faleceria aos 54 anos.

Chorei novamente com o blues na voz do Ranne e me emocionei novamente com as poesias do Paulinho.

Contemplei cada curva da estrada, rindo do incentivo do Rodrigo.

E quando cheguei ao destino, o destino me aguardava.

Chateada, estressada, com uma irmã maluquinha pela casa, enlouquecendo todo mundo…

E as coisas aconteceram novamente naquele ontem cheio de surpresas, que eu não poderia mudar –  mesmo que tentasse por milhares de vezes.

E assim para sempre seria a minha vida.

O futuro certamente traria novas histórias, que seriam contadas num  dia – como um dia, o ontem.

Veja mais em: O tempo ( Contador de histórias) ‣ Jeito de ver

O poeta ( Uma poesia simples)

Observando o Por do Sol. Uma poesia sobre a melancolia e o drama do poeta.

Imagem de PublicDomainPictures por Pixabay

O poeta anda triste…

Mas, será que ele resiste?

Ainda existe…

Tem caminhado em estradas do passado

é por onde tem andado…

por onde anda cansado

Talvez, seja um mero artista

um autista

um equilibrista neste misto de emoções

de mundos particulares reais,

de imaginário de amores irreais

Ficará louco!?

Se não, por pouco…

Mas, ainda existe…

Por que resiste

Em poesias rejeitadas em troças

de risos zombeteiros, de gargalhadas

de compaixão às avessas

de falsas paixões

de doces ciladas.

O poeta anda calado

sumido…

Apenas o vento, o tem ouvido

Mas, resiste…

Ainda existe…

Talvez iludido, não vê sentido.

Ele escreve, fala

quando a tristeza aperta,

quando a saudade aperta,

a inspiração alerta

e do sonho desperta…

Mas, quem ouve o poeta?

Quem ouvirá o poeta?

Que ainda existe…

que ainda resiste?

As perguntas voam nos ventos

em novas poemas, com o tempo.

Leia mais em Ouvir estrelas (Poesia clássica) – Jeito de ver

Entendendo o fanatismo – um tema em debate

A mídia alimenta o fanatismo. Há um trabalho de propaganda, empresários investem muito dinheiro na preparação imagem pública do cantor.

Imagem de Pexels por Pixabay

 

 

O artigo a seguir aborda de maneira superficial o fenômeno da idolatria a determinados artistas. Os artigos relacionados adicionam profundidade e estão disponíveis para consulta para ampliar o conhecimento. O site Jeito de Ver faz essa recomendação.

 

Um grupo de K-POP tinha um show agendado para o dia 25 de maio de 2018, no Allianz Park. Não era o BTS (o grupo mais famoso do estilo), mas os fãs aguardavam ansiosamente a apresentação, com uma antecedência razoável de 90 dias, acampando nas cercanias do local. Os repórteres talvez se perguntassem: “De onde vem esse povo? Onde vivem? Do que se alimentam? Tomam banho?” – O fato é que os fãs não medem esforços para estar perto dos seus ídolos.

Curioso é que, frequentemente, a histeria não vem da música em si, mas do efeito manada, onde o importante é seguir a tendência. Muitos jovens buscam fazer parte de um grupo para evitar se sentirem excluídos ou diferentes.

É sabido que muitas fãs dos Beatles – e olha que eles tinham belas músicas – costumavam ir aos shows apenas para ver os meninos de Liverpool e ter o prazer de se descabelar, espernear – e, se desse tempo, desmaiar um pouquinho – pois ninguém é de ferro!

Durante o célebre concerto no Shea Stadium em 1965, os membros da banda relataram que a histeria foi tão intensa que não conseguiam ouvir-se no palco. Esse foi o primeiro concerto de rock and roll realizado em um estádio ao ar livre.

Contudo, aguardar por um grupo durante tanto tempo para, talvez, obter um minuto de atenção ou desabafar emoções reprimidas durante a breve apresentação do grupo – não é a maior excentricidade de um fã.

Por exemplo, um admirador tatuou a imagem e o nome de sua artista predileta em seu corpo.

Outro fã invadiu o apartamento de sua cantora preferida, que por sorte não se encontrava em casa.

Em 2023, milhares de fãs reuniram-se em condições quase insalubres para um concerto da mesma cantora. O calor extremo, a comoção e a proibição de levar água própria contribuíram (ou resultaram) em uma parada cardiorrespiratória em uma das fãs, que faleceu durante o espetáculo.

No mesmo evento, jovens submeteram-se à humilhação de usar fraldas geriátricas para manterem-se em suas posições diante do palco.

CONSEQUÊNCIAS PIORES

Infelizmente, o amor de um fã pode tornar-se doentio, e o sentimento de posse o leva a fazer mais do que as loucuras mencionadas acima. Alguns chegaram a matar seus ídolos.

O ex-beatle John Lennon foi assassinado no dia 8 de dezembro de 1980, aos 40 anos, quando voltava para o seu apartamento, no edifício Dakota, em Nova York. O assassino, Mark David Chapman, era fã dos Beatles e atirou cinco vezes pelas costas com um revólver calibre 38. Quatro tiros acertaram Lennon, que morreu no hospital. O assassino ficou no local segurando o livro ‘O Apanhador no Campo de Centeio’, de J. D. Salinger. O assassino foi preso e condenado à prisão perpétua, onde está até hoje

O QUE LEVA ALGUÉM AO FANATISMO?

Inicialmente, existe um esforço de marketing; empresários despendem grandes somas em dinheiro para moldar a imagem pública de um cantor, que será exibido em diversos programas, recebendo elogios de apresentadores (que são pagos para isso!) e terá o investimento em sua imagem recompensado assim que o público aderir à ideia promovida.

Quanto mais um artista é visto em programas de televisão ou vídeos patrocinados em plataformas digitais, mais as pessoas se habituam à sua presença, tornando-o parte do inconsciente coletivo.

Um segundo aspecto é abordado no site A Mente Maravilhosa; um artigo notável afirma:

“Os ídolos simbolizam tudo aquilo que se deseja ser ou possuir. Assim, o fenômeno do fã é mais frequente entre adolescentes, que estão em fase de construção de identidade e em busca de referências para tal. Com essa identificação, surge também um processo de empatia.”

A palavra ‘fã’ origina-se de ‘fanatismo’, do latim ‘fanaticus’, que denota devoção ou fanatismo.

“Segundo a psicóloga Celise, tanto o amor quanto a idolatria podem caracterizar o sentimento de um fã. A diferença reside na maneira como essa admiração é vivenciada. É comum que as pessoas elejam modelos a seguir, não só na música, mas também entre escritores, atores ou, conforme menciona Celise, youtubers.”

O entusiasmo de um fã pode, ocasionalmente, ofuscar sua percepção sobre a qualidade musical do artista.

Portanto, um dos primeiros passos na carreira é angariar fãs.

Muitos artistas, após se estabelecerem e acumularem riquezas, começam a desvalorizar seus fãs.

Eles são como as pedras que pavimentam o caminho para o sucesso e fortuna dos artistas, que frequentemente simulam apreciar a devoção de seus seguidores.

Esse princípio também se aplica aos fãs de certos influenciadores, que não oferecem conteúdo substancial, apenas imagens, corpos e vozes fabricadas.

Contudo, devido à falta de amor, autoestima e ao desejo de pertencer a um grupo, muitos vivem um amor platônico eterno por imagens idealizadas.

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