Um poema para Brenda (Com H de “hoje”)

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Brenda

Por que a luz se esconde à noite
E as palavras somem no silêncio?
Por que o riso se recolhe
no momento mais necessário?
Ah! Brenda
Se eu pudesse te explicar a vida
De modo simples,
Te diria que o céu é azul
Pra acalentar teus sonhos
E que a lua prata
Brilha para te mostrar o caminho…
E no final do caminho
Depois de cantarem os grilos
E as estrelas se esconderem
Há uma nova estrada…
Talvez, não tão diferente…
Pois diferentes são os olhares
Os passos e as esperas
A beleza estará sempre no olhar
As histórias,
nos passos…
E é na espera que se cresce e vive
o amor.
Te diria que a escuridão da noite
É prenúncio de um dia de luz
E que as palavras se calam…
Para que o silêncio

fale o que em palavras não se pode dizer…
Por isso, Menina
Olha o céu azul…
E se um dia estiver cinza…
Permita que o teu sorriso
O ilumine…
E lumine…
Brenda.

Leia também Quando o Amor Começa o Dia ‣ Jeito de ver

Do autor:

Um poema para Brenda (Com H de ‘hoje’)” é uma delicada reflexão poética sobre o crescer, o tempo e os sentimentos que se escondem nos silêncios da vida.

Com imagens que evocam a noite, o céu, a lua e o riso que às vezes se perde, o texto convida à escuta interior e ao acolhimento das dúvidas que surgem no caminho.

É um gesto de amor que procura suavizar as incertezas, lembrando que até os dias cinzentos podem ser iluminados por um sorriso.

Mais que um poema dedicado, é um lembrete de que a beleza está no olhar — e que, mesmo quando tudo parece calar, o amor continua a falar suavemente.

Você ainda pode sonhar (Acredite!)

Reflexão sobre sonhar e viver

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Você já percebeu que passamos uma boa parte de nosso tempo imaginando, planejando, carregando sonhos que alimentamos por toda a vida? Isso é mais que natural…

Não se trata de fugir da realidade, a nossa mente gosta de viajar.

Às vezes, nos pegamos sozinhos e, de repente, percebemos que a nossa mente nos levou a tempos e lugares incríveis. Visitamos pessoas que estão escondidas nos cantinhos mais ocultos da memória e, às vezes, refazemos velhas experiências.

A difícil tarefa de lidar com um mundo onde tudo se tornou descartável, desde pessoas até a arte, é desgastante. Por isso, as mentes inquietas buscam refúgio em outros horizontes…

Não se preocupe, você não está louco e nem está enlouquecendo… Permita-se sonhar um pouco!

“Ah! Mas enquanto eu ficar sonhando, o tempo passa. E tempo é dinheiro!”, você talvez pense.

Ninguém te disse para passar o dia inteiro sonhando… Disse? (Risos)

Novos planos

Então, vamos lá… Permita-se realizar alguns sonhos, tais como aprender a tocar algum instrumento, cantar, escrever poesias, ler um pouco mais, ou aproveitar a sua família.

Está bem… Mas, se nada disso soar um pouco atraente aos seus ouvidos, pergunte-se: “O que realmente me atrai?”

Se sua resposta não incluir a alegria de quem te ama ou de quem você ama, talvez seja a hora de repensar. E, se nada disso for importante para você, o mundo não vai mudar — vai continuar exatamente o mesmo.

Pois as pessoas não costumam pensar na sociedade como um todo; pensam apenas em si mesmas (a família é pretexto!).

Se a sua resposta for diferente, você não é um mero sonhador. É um legítimo ser humano!

Então, permita-se sonhar, pois é a imaginação que nos ajuda a criar coisas novas e encontrar uma saída. Ainda é tempo:

Você ainda pode sonhar…

Leia também: Ajustando a rota – O caminho e o destino ‣ Jeito de ver

E deixei a porta aberta (novas emoções)

A poesia do recomeço, as portas abertas...

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Saí
olhei a velha praça e as flores no jardim
Senti o sol morno, da Primavera
e o vento suave que vinha dos morros.
Iluminavam e abriam caminho

Os passarinhos não queriam acordar
Não cantavam por onde eu andava
Talvez percebessem a solidão
E a tristeza em meus passos
E eu contava os dias

Para esquecer um passado recente
e a esperança que morrera
no horizonte…
Para esquecer que estava só,
num mundo tão grande,
imenso

E as pessoas
que sorriam e viam o meu riso
não viam a dor em meus olhos…
Que imploravam,
ao menos uma mão
algo que desse sentido aos meus passos…

Mas, os dias passavam
e o tempo passava…

E quando na pressa de viver,
de dar sentido a tudo, 
e continuar vivendo…

Saí… na mesma direção

e abraçando a estrada, 

 deixei a porta aberta.

Gilson Cruz

Leia mais em  Motivos… ( Não desistir!) – Jeito de ver

O fim (Cenas de um último encontro)

Um barco num lago. O cenário de um fim, nesta poesia!

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As águas claras do pequeno lago, eram tão claras que ainda posso ver os peixinhos nadando entre as pequenas pedras onde costumávamos sentar nas manhãs de verão.

Eles não temiam, havia um silêncio ensurdecedor de quem não sabia explicar o que tinha acontecido ou mesmo o por quê.

Teu vestido branco, sandálias pretas combinavam com teus cabelos escuros, mas contrastavam com o vermelho em teu rosto.

Não sabia por onde começar e, muito menos, como terminar.

Estava tudo tão bonito naquele dia, tão perfeito, que a mera ideia de se desistir assustava.

E o “Bom  dia” foi frio, sem abraços.

E o diálogo, sem palavras.

E falar do passado, sem alegria, sinalizava – não haveria futuro.

E sentados juntos, no mesmo lugar, sem palavras, sem reações fingíamos contemplar a relva que cercava o pequeno lago, as flores brancas lá do outro lado e admirar os peixinhos prateados pelo reflexo de um sol aconchegante que se tornara, então, frio como o inverno que chegaria em poucos dias.

O que se ouvia, era o som do vento.

E sem palavras, levantamos, damos as mãos pela última vez, sem entender e saber explicar como tudo acabou.

Gilson Cruz

Veja atambém  Difícil (Poesia da saudade) › Jeito de ver

Um novo tempo – Parte 3 Refazer

Mãos em união.. A importância de se refazer, de estar sempre aprimorando o sistema educacional numa atividade conjunta.

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A educação, bem compreendida, não é apenas uma preparação para a vida; ela própria é uma manifestação permanente e harmoniosa da vida. Assim deveria ser com todos os estudos artísticos e, particularmente, com a educação musical, que recorre à maioria das principais faculdades do ser humano“.
(Willems, 1970, p. 10).

A música na educação

A educação musical tem importância na formação do indivíduo.

O ensino de música nas escolas traz efeitos beneficos à formação da personalidade do aluno, como veremos, assim como também o ensino com música.

Vocês já perceberam que logo no início de nossa caminhada pelo universo da educação começamos com atividades lúdicas ?

Atividades que suavizam o processo de descoberta de aprendizagem tais como brincadeiras e canções?

A música contribui para uma boa informação emocional, favorecendo a sensibilidade, a criatividade e o imaginário das crianças.

A aprendizagem com música favorece o desenvolvimento linguístico, a memorização e cria vínculos de amizade entre alunos e professores. – Revista Educação Pública – A importância da utilização da música na escola (cecierj.edu.br)

O foco do sistema educacional

Infelizmente, a educação com música tem sido abandonado pelo sistema ao passo que as crianças se tornam adolescentes, pois o sistema educacional não se concentra no aperfeiçoamento do indivíduo, como cidadãos capazes de viver e conviver numa sociedade cada vez mais distante, em vez disso, o sistema se concentra em preparar alunos para concursos e vestibulares.

As  consequências são uma sociedade cada vez mais solúvel, marcada pelo espírito de competição.

Com a evolução do sistema educacional o professor se transformou em algo além de um ensinador, um transmissor de conhecimento.Ele se transformou num orientador.

A função deste orientador é guiar o aluno, reconhecendo a pluralidade – trabalhando as dificuldades e  estimulando as virtudes do aprendiz.

No artigo anterior, observamos que em décadas passadas o foco educacional era preparar o indivíduo para os interesses de uma elite.

Hoje, porém, o foco deve estar na formação de cidadãos, de indivíduos capazes de contribuir para uma melhor sociedade.

Foco na individualidade

A falta de interesse na individualidade dos alunos fazia da escola um ambiente tenso, um lugar totalmente diferente do mundo apresentado às crianças no início da jornada escolar.

As consequências eram o desinteresse, a falta de estímulo e altos números de evasão escolar ao longo do ano letivo.

A educação é o pacto de um País com o futuro de seus cidadãos.

O quão sério o Estado considera este pacto é evidente nos investimentos na qualificação de  Professores, com salários compatíveis com a importância de seu ofício e principalmente quando se cria  condições favoráveis ao desenvolvimento de um bom trabalho – o que é essencial para resultados mais satisfatórios.

Aos Professores exige-se a criatividade. A capacidade de se adaptar a um mundo em constante movimento.

Paulo Freire, Patrono da Educação brasileira, filósofo, pedagogo e escritor descrevia a música como “uma ferramenta para auxiliar a aprendizagem de outras disciplinas”. Freire (1992).

A música na sociedade e no contexto escolar pode ser transformadora, portanto deve assumir um papel mais definido no ensino escolar. Microsoft Word – Documento em ANNIELLY – ARTIGO (uepb.edu.br)

A música e o autoconhecimento

O uso da música na educação, pode induzir ao autoconhecimeto .

Alunos podem ser estimulados a criar canções nos mais variados estilos narrando fatos históricos, criar paródias, contando versões imaginárias de histórias assim como saber em que contexto histórico de uma composição.

No estudo de um idioma estrangeiro, o uso da música pode trazer aos alunos a familiaridade com pronúncias e expressões idiomáticas, além de um novo estímulo para aprender a aplicação de verbos.

A arte de educar não deve ser encarada como uma competitição entre Professores X Professores ou Alunos X Alunos.

È uma atividade conjunta.

Harmonia interdisciplinar

O professor de História pode tornar a Geografia ainda mais interessante por lembrar fatos relacionadas a sítios geográficos, assim como um Professor pode tornar o estudo do idioma inglês ainda mais atrativo por relacionar as diferenças.

Numa cidade da Bahia, um Professor de Inglês foi convidado a contribuir numa Escola de poucos recursos, onde não havia sequer material de apoio.

Era praxe naqueles dias a Prefeitura atrasar o pagamento do salário dos Professores em três meses. A cada três meses, pagava-se um!

Um desrespeito aos profissionais! Mas, isto já é outro assunto!

Percebendo a dificuldade dos alunos em especial em assimilar a pronúncia da maioria das palavras, aquele professor decidiu trabalhar o idioma com músicas, acompanhado por um violão.

A aula consistia em gramática, o texto da canção relacionado a aplicação da gramática e a música para facilitar a memorização da pronúncia das palavras.

A reação dos alunos, adolescentes, era incrível! Participavam com entusiasmo e de certo modo  acreditavam que algo novo estava acontecendo. Que o idioma era agora algo inetressante!

A novidade choca e nem sempre é compreendida.

Ao fim do ano letivo numa reunião geral , convocada pela diretora da escola, com todos alunos e professores da época, ele foi  colocado no centro e despedido sumariamente com as seguintes palavras: ” O trabalho deste professor não se enquadra ao que se espera nesta escola. Ensinar não é brincadeira! Não precisamos dele!” ( Ah! era eu esse professor – risos!)

A discussão de estratégias

Não houve discussão sobre uma melhor maneira de se usar a música.

Em sua preparação para a Profissão ele aprendera que deveria se criar meios para estimular a aprendizagem.

Os métodos pedagógicos incentivam a criatividade, mas o medo de criar, de inovar, era e tem sido a prática mesmo nos dias atuais.

Com o tempo, foi admitido numa escola onde uma direção diferente incentivava o trabalho com a música.

O resultado foi satisfatório. A assimilação de assuntos e socialização entre os alunos eram bem evidentes, mesmo numa escola sem recursos.

O ambiente era de cooperação mútua!

As lições

O tempo passou e a experiência mostra que a música hoje, usada em vários cursos, é um excelente auxílio à educação.

Aos professores, nesta sociedade transformada, cabe o diálogo, o acordo e o apoio como classe, cujo objetivo maior é o aprimoramento de uma sociedade presente e futura.

Que os métodos do passado sejam apenas recordações de coisas que não precisam sequer, de uma  repetição.

Que não tenham medo de embarcar neste Novo Tempo, cujo perigo maior é estacionar ou regredir !

Leia também   Um novo tempo – Parte 2 ( Repensar) – Jeito de ver

A música contribui para uma boa informação emocional, favorecendo a sensibilidade, a criatividade e o imaginário das crianças. A aprendizagem com música favorece o desenvolvimento linguístico, a memorização e cria vínculos de amizade entre alunos e professores. – Revista Educação Pública – A importância da utilização da música na escola (cecierj.edu.br)

Num dia de São João (Tragédia)

Um campo de futebol. Um poema sobre uma tragédia.

Imagem de brokerx por Pixabay

 

Poderia ter acontecido de qualquer jeito:
Caindo de um muro,
escorregando numa casca de banana,
saltando de um avião,
deslizando lua abaixo,
escapando das nuvens ou dando braçadas no oceano.

Limpando dinossauros,
brincando com escorpiões,
ou desafiando os senhores da guerra…
Talvez isso fosse exagero, é verdade.

Poderia ser em qualquer lugar:
Andando pelas ruas, fugindo de espadas,
se escondendo das bombas
ou buscando férias em Júpiter.

Não no céu…
O céu não é para todos.
Naquela noite, o céu era dos fogos de artifício.

Poderia ter sido de qualquer jeito ou em qualquer lugar:
Abraçando a noiva, sorrindo ao irmão,
dando bom dia ao vizinho,
beijando a testa da mãe.

Poderia ser na cama,
nas ruas, no trabalho,
nos ares, nos mares, ou até no campo…

Pois é,
morreu num campo!

E desde então,
não joguei mais futebol.

Gilson Cruz

Veja também Flores pobres (Sonhos interrompidos) ‣ Jeito de ver

Um novo dia, um novo tempo

Uma moça caminha na praia. Um texto sobre aproveitar "cada" novo tempo.

Imagem de Ri Butov por Pixabay

Um novo dia, um novo tempo.

Encarar cada dia como um novo dia, nos dá a chance de criar novas expectativas e olhar o mundo numa perspectiva diferente.

O ontem talvez não tenha sido o melhor dia da minha vida, é verdade,  talvez o meu humor não fosse aquele que eu gostaria de ver nos outros ou talvez a tristeza minasse a minha coragem de sair da cama.

É, o dia pode não ter sido bom.

Mas, hoje é um novo dia.

Você não precisa resolver tudo hoje…resolva apenas o possível, e aquilo que não for possível resolver – guarde para o amanhã. Não perca a sua noite, seu sono, sua vida por isso.

Seja sempre honesto com você mesmo, com seus amigos e até com aqueles que você não conhece. Dizem que o melhor travesseiro é uma boa consciência, então, presenteie a si mesmo com este presente.

O novo dia é a sua chance de viver um novo tempo.

Leia mais em As pequenas escolhas ( Reflexão) – Jeito de ver

Sozinho ( Poema de Solidão)

Um poema sobre solidão

Imagem de Peter H por Pixabay

 

O mundo é grande

a solidão é grande

mas o medo, é imenso!

Não tão imenso quanto este universo

em que me paraliso

me escondo…

Me escondo no medo do que já aconteceu

e daquilo que não pude mudar.

E temo o futuro…

Volto às mesmas noites de solidão

que já estavam resolvidas

mas, que sozinho na imensidão dessa pequena casa

me esconde,  me paralisa…

Lembro as estações,

quando amei a Primavera, sofri no inverno, morri nos verões…

e que o mundo continuava grande,

e a solidão, imensa…

Quando a noite passou

E os pensamentos ganharam asas

e ganharam o universo…

deixando todo o medo pra trás.

Voei.

Na imaginação, nos pensamentos..

e o mundo já não era mais tão grande!

Já não estava sozinho…

 

Veja mais em: Amar novamente (acreditar sempre) ‣ Jeito de ver

 

 

 

 

RECORDAÇÕES ( Um momento de reflexão)

Recordar... é viver ou sofrer na saudade.

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Estação ferroviária de Queimadas, Bahia.

GChaves

Recordar… é viver ou sofrer na saudade.

Às vezes nos encontramos em pensamentos perdidos, também conhecidos como lembranças. Pensamentos esses que nos levam a lugares distantes, tão distantes que nos remetem ao passado. E desse passado, memórias de momentos bons e ruins da vida (ruins porque certas lembranças doem, certas saudades doem, doem muito!).

Pelo menos é sempre assim comigo. Ainda mais quando se trata de momentos vividos, da infância. Até pequenas mensagens tocam fortemente no peito, e a sensação de aperto me traz quase sempre lágrimas nos olhos.

Parte de uma mensagem poética, da qual não conhecia o autor, mas conhecia a pessoa que com carinho me enviou por saber da minha sensibilidade a bons textos, diz assim:
“Como era belo esse tempo
De tão doces ilusões,
De tardes belas, amenas,
De noites sempre serenas,
De estrelas vivas e puras;
Quadra de riso e de flores
Em que eu sonhava venturas,
Em que eu cuidava de amores”.
(Casemiro de Abreu)

Quando deparei com a linda mensagem, minha mente retrocedeu, obrigou-me a percorrer por lugares vividos, e no espaço entre o meu peito, uma fenda se abriu, sugando a minha resistência de adulto e me aprisionou, fazendo com que sentisse como uma criança insegura, que carece do afago de mãe, aquela atenção que só o amor materno prestaria.

Dentre os caminhos em recordações percorridos, estive na primeira cidade do interior. Anteriormente, a minha família residia na capital e, por circunstâncias que desconhecia, nos mudamos. Imagine, na mente e visão infantil, a transferência de um lugar agitado para um lugar onde a viagem de mudança foi feita dentro de um trem de passageiros “que hoje raramente existe”, observando o movimento e o som da estrada de ferro, bem como as admiráveis paisagens naturais, os lugares passados, as novas denominações a cada parada, pois as paradas eram nas cidades onde tinham estações.

Alguns lugares até mesmo neblinavam e tornavam impossível observar além de alguns poucos metros. Ahhh!!!!… como era gostoso e ao mesmo tempo assustador! Expectativas causam euforia e medo!

Enfim, chegando ao novo destino, ‘cidade do interior’, tudo era novo. Novas visões de um novo lugar: estação, balaustrada, depósito de máquinas e vagões, caixa d’água com a sigla da rede ferroviária “LB-Leste Brasileira”. Até o ar, percebia-se, era diferente, mais suave, era saudável. Andorinhas e cardeais sobrevoavam, compartilhando com harmonia do mesmo espaço ao céu.

Adiantando alguns dias na nova morada, uma casa enorme, cheia de quartos, até mesmo no quintal ‘que era imenso!’, e também muitas árvores frutíferas.

E o rio?! Conheci até mesmo um rio, pois então só tinha noção realística do mar, água salgada. Não mudei da água para o vinho ‘literalmente’, mas mudei da água salgada para a água doce, as águas do Rio Itapicuru. E lá, às margens do rio, encontrava-se um lugar muito bem frequentado: a INGAZEIRA, área onde a população frequentava por ter árvores frondosas, que eram muito bem aproveitadas como trampolim.

Realmente, como era belo esse tempo, de tão doces ilusões, de tardes belas, amenas…

Ahhh!!!! Queimadas! De Salvador-Bahia, lugar agitado, onde não se confiava segurança aos filhos na rua, para Queimadas-Bahia, lugar onde o contato com a natureza lhe permitia até mesmo tirar leite de vacas (no meio da rua). Mas isso fará parte de uma próxima recordação.

Gilmar Chaves 23/05/2023

Leia mais  O tempo ( Contador de histórias) – Jeito de ver

O ontem ( um conto simples )

O Início do dia

Acordei meio desesperado, era o dia do meu casamento e quase perdi o horário, de novo.

Levantei às pressas e vi que as coisas estavam bem diferentes.

A casa, a cama, a escrivaninha, o gato, a cachorrinha – não eram mais os mesmos…

Corri até a sala que não era mais a mesma e vi o calendário que não era mais o mesmo, que marcava uma data, que lógico… não era mais a mesma.

As mesmas pessoas passavam com a mesma pressa, fugindo do mesmo calor – torcendo pelas mesmas nuvens de chuva, que certamente não desaguariam …

Parecia o ontem…

Então resolvi fazer um exercício, pensei:  – “Acho que já vi este dia…”

E comecei a narrar as coisas de que me lembrava…

“Daqui a pouco, a vizinha vai colocar o lixo no lugar errado novamente…”

“Seu Carlos, o carteiro, vai me trazer a mesma carta… e também vai reclamar do sol e vai me falar de sua aposentadoria que esta se aproximando…”

“Meu amigo Tomaz, retornará da maratona – com mais uma medalha…”

“Ranne fará novamente ( ou pela primeira vez) aquele blues…”

“Paulinho me convidará para o lançamento do livro “Minhas poesias”…”

“O ônibus vai atrasar novamente, então vai dar tempo…”

E as coisas iam acontecendo conforme eu previa – ou sei lá, conforme eu já tinha visto.

Rodrigo me dizia: -“Cara, pensa bem…”

E enquanto ele falava novamente, as mesmas coisas, a minha mente narrava os passos seguintes daquele dia…

As mesmas coisas

O carro atrasado…

Minha mãe desesperada…

A incerteza do futuro…

A certeza de que eu não saberia mais narrar o amanhã.

E novamente. o carro das oito passou às onze e meia, em ponto! Meu Deus, não atrasou nem um segundo!

E entrei no mesmo ônibus, rumo à mesma cidade.

Passando pelas mesmas curvas, ouvindo as mesmas queixas do motorista, que dizia ao Fabrício – o jovem cobrador:

-“A gente não vai ter tempo nem pra almoçar…”

As mesmas pequenas cidades passavam e as mesmas pessoas embarcavam. Por um momento, pensei: -“Acho que vou fazer algo diferente…vou mudar este dia!” – Comecei a contar piadas, entreter os passageiros que riam, a cantar com os bêbados que se divertiam nas últimas poltronas…

E quando me dei conta, foi exatamente isso o que fiz, ontem!  Eu estava preso!

Desesperado, pensei em sair do carro, sair correndo e quando levantei, percebi – o ontem não se muda, ainda que acorde nele!

Não daria para mudar o ontem, o ontem já estava moldado.

O futuro ainda era incerto…

Então, resolvi deixar o o ontem acontecer.

Novamente, coloquei o lixo da vizinha no lugar certo, agradeci ao Seu Carlos e desejei a felicidade que ele merecia, após tantos anos de serviço…- Eu não sabia que seu coração não resistiria por mais quatro anos, o futuro era incerto.

Ele faleceria aos 54 anos.

Chorei novamente com o blues na voz do Ranne e me emocionei novamente com as poesias do Paulinho.

Contemplei cada curva da estrada, rindo do incentivo do Rodrigo.

E quando cheguei ao destino, o destino me aguardava com um lindo sorriso.

Chateada, estressada, com uma irmã maluquinha pela casa, enlouquecendo todo mundo…

E as coisas aconteceram novamente naquele ontem cheio de surpresas, que eu não poderia mudar –  mesmo que tentasse por milhares de vezes.

E assim para sempre seria a minha vida.

O futuro certamente traria novas e belas histórias, que seriam contadas num  dia – como um dia, o ontem.

Veja mais em: O tempo ( Contador de histórias) ‣ Jeito de ver