Minha Experiência no Kwai e no TikTok

Redes sociais. Vale a pena?

Minha Experiência no Kwai e no TikTok

Um experimento sobre conteúdo reflexivo nas redes sociais

Com a chegada da data de encerramento das atividades do nosso blog cultural Jeito de Ver -História e Cultura decidi uma nova experiência.

O nosso site prioriza a cultura e as reflexões.

Durante algumas semanas, decidi testar uma hipótese simples: conteúdo reflexivo tem espaço nas redes sociais?

Postei os mesmos textos — sobre paternidade, solidão, música, filosofia — no TikTok e no Kwai. O que descobri foi revelador, preocupante e, no fim, libertador.


O Experimento

Decidi postar vídeos com textos reflexivos em ambas as plataformas, nas mesmas condições, e comparar resultados.

Usei os seguintes textos;

  • “E então nasceu uma menina” (sobre paternidade inesperada)
  • “Solidão” (reflexão filosófica)
  • “O louco e a lua” (poesia)
  • “Rosa Negra” (divulgação de talento local)

A meta inicial era alcançar 1.000 visualizações em 30 dias.

E por fim, me desdobrando em mil partes entre trabalho secular, pesquisas e a mais nova experiência… encontrei a resposta.


Os Números

TikTok

  • Paternidade: 127 visualizações (3 dias)
  • Solidão: 119 visualizações (4 dias)
  • Padrão: Todos os vídeos travavam entre 119-127 views
  • Engajamento: Baixíssimo
  • Conclusão: O algoritmo simplesmente não distribui conteúdo reflexivo

Kwai

  • Paternidade: 1.032 visualizações (24 horas)
  • Solidão: 1.042 visualizações (24 horas)
  • Padrão: Consistentemente ~1.000 views nas primeiras 24h
  • Engajamento: 130 curtidas (19,2% de taxa)
  • Meta: Alcançada em 1 dia (esperava 30)

Proporção: Kwai performou aproximadamente 8x melhor que TikTok.

Você talvez diga: os números da segunda plataforma são bem superiores ao da primeira, não é verdade?

Mas, vamos aos fatos:


A Descoberta Incômoda: Bots

Ao analisar as notificações do Kwai, percebi padrões suspeitos:

Sinais de comportamento automatizado:

  • Nomes como “theusg10”, “mlqq184”, “Osas578”, “tavvsq”
  • Perfis com fotos genéricas ou vazias
  • Apenas curtidas/compartilhamentos (nunca comentários específicos)
  • Horários espaçados mecanicamente

Estimativa conservadora: 60-80% das visualizações no Kwai eram bots.

Realidade ajustada:

  • Kwai: ~1.000 views → 300-400 humanos reais
  • TikTok: ~120 views → 100-120 humanos reais

Mesmo descontando bots, o Kwai ainda alcançava 3-4x mais pessoas reais. Isso é um fato!


Os Comentários (Poucos, Mas Reveladores)

Entre centenas de curtidas robóticas, alguns comentários genuínos apareceram:

Sobre paternidade:

“me arrependi da minha rejeição mas é difícil” ( se não for real, é um bot bem sentimental! – risos)

Sobre solidão:

“Os outros dizem que eu sou forte, só eu sei que eu tenho que passar”( esse apesar de parecer real, parece um bot bem resiliente!)

Esses momentos — raros, vulneráveis, humanos ou bots bem sentimentais — provavam que o conteúdo tocava quem realmente assistia.

Mas eram gotas no oceano de interações falsas.

Gotas incertas em um oceano real.


O Ambiente Tóxico

Além dos bots, percebi algo mais perturbador:

Kwai e TikTok são dominados por:

  • Fake news massivas (impulsionadas por bots partidários)
  • Discurso de ódio normalizado
  • Insinuações pornográficas disfarçadas
  • Polarização extrema (impossível ter diálogo com nuance)
  • Analfabetismo funcional (incapacidade de interpretar contexto)

Vamos ao passo três do Experimento;


Caso concreto: A Mecânica da Manipulação

Este episódio recente ilustra perfeitamente como funciona esse ecossistema tóxico.

O contexto:

O presidente, ao abordar o tema do tráfico de drogas, tentou argumentar sobre a relação entre consumo e mercado ilegal.

A fala foi mal articulada — como tantas declarações presidenciais ao longo da história brasileira — e rapidamente virou munição política.

A extrema direita investiu pesadamente em bots para amplificar e distorcer a declaração, transformando um erro de comunicação em trending topic manipulado.

Minha tentativa de diálogo:

Comentei em um dos perfis que exploravam o tema: “Presidentes brasileiros costumam dar declarações infelizes. Lembram quando outro presidente, durante a pandemia, ao ser questionado sobre o número de mortos, respondeu que não podia fazer nada porque ‘não era coveiro’?”

Meu ponto era simples e apartidário: todos os presidentes, independente de espectro político, cometem gafes públicas. Não estava defendendo nem atacando — estava pedindo coerência crítica e contexto histórico.

A reação:

Grupo 1 (partidários de extrema-direita):
Interpretaram minha comparação como “defesa” do presidente atual. Ataques imediatos, sem leitura atenta.

Grupo 2 (analfabetos funcionais):
Não entenderam a analogia. “Por que você está falando de coveiro?” — Incapacidade de conectar dois momentos históricos semelhantes.

Grupo 3 (bots):
Amplificaram automaticamente qualquer comentário que gerasse indignação, independente do conteúdo.

Grupo 4 (pensadores — raríssimos):
Silêncio. Minorias racionais não fazem barulho em ambiente de guerra algorítmica.

O que isso revelou:

Ninguém quis entender. Todos queriam lacrar.

O mundo dos algoritmos não há espaço para:

  • Comparações históricas (exigem memória)
  • Pensamento crítico equilibrado (não serve à polarização)
  • Nuance (algoritmos premiam preto-e-branco)
  • Diálogo (só existem trincheiras)

A mecânica da manipulação ficou clara:

  1. Declaração polêmica (real ou distorcida)
  2. Investimento em bots (milhares de perfis falsos repetem narrativa)
  3. Algoritmo amplifica (indignação = engajamento = lucro)
  4. Consenso artificial (parece que “todo mundo pensa assim”)
  5. Impossibilidade de contexto (quem tenta é atacado por ambos os lados)

Percebi naquele momento: não estou dialogando com pessoas. Estou alimentando máquinas de raiva projetadas para impedir pensamento.


O nível intelectual médio é baixíssimo. E não é acidente — é projeto sistêmico alimentado por algoritmos que premiam indignação, não reflexão.


A pergunta verdadeira não era: “Meu conteúdo funciona?”

Era: “Vale a pena?”


As Conclusões

1. Conteúdo reflexivo TEM espaço (tecnicamente)

  • Kwai prova que algoritmo pode distribuir
  • Pessoas reais podem se emocionar e comentar
  • Taxa de engajamento genuíno é alta (quando acontece)

2. MAS o espaço é contaminado

  • Inflado por bots (números falsos)
  • Tóxico por design (fake news, ódio, pornografia)
  • Insustentável financeiramente (custo > retorno)
  • Destrutivo emocionalmente (ambiente caótico)

3. O problema não é o conteúdo — é a plataforma

  • TikTok sufoca reflexão (algoritmo ultra-competitivo)
  • Kwai infla artificialmente (bots + sistema de recompensas)
  • Ambas priorizam viralidade sobre qualidade
  • Ambas são mercenárias (não há lealdade, gratidão ou memória)

4. Há outro caminho

  • Livros (permanentes, tangíveis, dignos)
  • Leitores de livro ≠ usuários de TikTok
  • Qualidade > quantidade
  • Paz mental > números inflados

A Decisão

Decidi desinstalar e abandonar definitivamente os aplicativos da experiência.

Vou deixar os vídeos postados — como garrafas lançadas ao mar. Quem se perder naquele caos e tropeçar numa reflexão, talvez encontre algo que o ajude a crescer.

Apenas desinstalarei os aplicativos.

Não com raiva. Não com frustração.

Com clareza.

Com a certeza de que a experiência valeu a pena.


Conclusão

Há sempre algo a aprender. E…

Sobre redes sociais:

  • São ferramentas, não comunidades
  • Algoritmos premiam o pior da humanidade
  • Números são ilusões (bots, manipulação, efemeridade)
  • Não se planta orquídeas em pântano

Sobre conteúdo reflexivo:

  • Tem valor — mas precisa do público certo
  • Comentários profundos > curtidas automáticas
  • 10 leitores atentos > 10.000 scrollers compulsivos
  • Livros são o formato correto para profundidade

Sobre mim:

  • Não preciso de aprovação algorítmica
  • Posso encerrar ciclos com dignidade

O Futuro

Vou focar no que importa:

✍️ Segundo livro: Crônicas do Cotidiano: Para Continuar a Estrada
(Sobre as mudanças que precisamos aceitar para continuar vivendo com qualidade)

🌐 Encerramento do site: Com dignidade, preservando memória cultural local, mas removendo contos e reflexões pessoais (que serão exclusivas do livro)

📖 Legado: Obra permanente, não posts efêmeros


Mensagem Final

Se você está lendo isso, provavelmente se pergunta a mesma coisa que eu me perguntei:

“Meu trabalho tem valor nesse mundo digital caótico?”

Resposta: Sim. Mas talvez não onde você está procurando.

Não desista do conteúdo. Desista da plataforma errada.

Não brigue com algoritmos. Construa algo permanente.

Não se contamine com toxicidade. Preserve sua paz.

A estrada é longa. Para continuar nela, às vezes precisamos mudar de caminho.


Gilson Cruz
Autor de “Crônicas do Cotidiano”
Iaçu, Bahia
2025


Nota técnica

Dados do experimento completo:

Métrica TikTok Kwai Proporção
Views médias 120 1.000+ 8,3x
Humanos reais (estimado) 100-120 300-400 3-4x
Bots (estimado) 10-20% 60-80%
Comentários genuínos 0-1 2-3
Taxa engajamento real <5% 10-15%
Custo emocional Médio Alto
Sustentabilidade Não Não

Conclusão científica: Conteúdo reflexivo alcança mais pessoas no Kwai, mas ambiente tóxico e inflação por bots tornam ambas plataformas inadequadas para trabalho sério de longo prazo.

Leia também: Discurso de Ódio nas Redes Sociais ‣ Jeito de ver

Brasil processa TikTok, Kwai e Meta em R$ 3 bilhões por exposição de menores nas redes | Tecnologia | Época NEGÓCIOS

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A Favela Ainda Não Venceu. Ainda…

Cristo Redentor e as Favelas

O que é favela?

Quando falamos em “favela” imaginamos um aglomerado de moradias populares, geralmente em encostas, surgidas de ocupações espontâneas.

Segundo os dados do Censo de 2022 divulgados pelo IBGE, aproximadamente 16,4 milhões de pessoas vivem em favelas no Brasil, o que representa 8,1% da população do país.

Imagem de anja_schindler por Pixabay

Essas pessoas estão distribuídas em 12,3 mil favelas, localizadas em 656 municípios.

Para que possamos ter uma dimensão desta magnitude, se todas as favelas brasileiras formassem um estado, seria o terceiro mais populoso do país, ficando atrás apenas de São Paulo e Minas Gerais.

O que são guetos?

Embora haja alguma semelhança, os “ghettos” (guetos) de outros países têm características diferentes das favelas brasileiras, pois, ao passo que as favelas brasileiras são assentamentos informais autoconstruídos, que surgem por ocupação de terrenos (muitas vezes em áreas de risco) e crescem sem planejamento oficial, os guetos internacionais são bairros formais degradados, ou seja, foram construídos legalmente, mas sofreram desinvestimento, abandono e segregação racial e econômica ao longo do tempo.

As semelhanças compartilhadas entre ambos estão na concentração de pobreza, marginalização social, falta de serviços adequados, estigmatização e segregação espacial das populações mais vulneráveis.

O termo “slum”, usado na África e na Ásia, que significa assentamento precário, é provavelmente a tradução internacional mais precisa para favela.

Podemos dizer que a palavra gueto está mais relacionada a um fenômeno urbano.

Qual a origem das favelas no Brasil?

A origem das favelas no Brasil tem raízes históricas profundas, ligadas a questões sociais, econômicas e raciais.

O primeiro registro de favela documentada surgiu no Rio de Janeiro, no Morro da Providência.

No final do século XIX, após a Guerra de Canudos ou Massacre de Canudos (1896-1897), muitos soldados do Exército retornaram ao Rio de Janeiro sem receber o pagamento prometido.

Sem ter onde morar, ocuparam o morro mais próximo à região central, no bairro da Providência, que passou a ser conhecido como “Morro da Favela”.

O nome vem de uma planta espinhosa, abundante no sertão nordestino, comum na região de Canudos, no interior da Bahia. Adotar este nome seria uma lembrança do sofrimento e da resistência vivida ali.

E as favelas cresceram…

Outro fator que contribuiu para o surgimento e crescimento de favelas foi, por incrível que pareça, a Abolição da Escravatura.

A libertação dos escravizados ocorreu sem nenhuma política de integração, moradia ou reparação.

Milhares de pessoas negras recém-libertas ficaram sem terra, emprego ou moradia, concentrando-se nas periferias urbanas.

A urbanização acelerada que se deu no final do século XIX e início do século XX mostrou que as cidades não estavam preparadas para absorver a população que migrava do campo.

Reformas urbanas excludentes, como a do prefeito Pereira Passos no Rio de Janeiro (1902-1906), demoliram cortiços e habitações populares no centro para “modernizar” a cidade, expulsando a população pobre para os morros.

Enfim, mais uma vez, um novo êxodo rural, desta vez a partir dos anos 1940-1950, quando pessoas fugiam da seca do Nordeste, buscando oportunidades nas grandes cidades, encontraram nas ocupações informais a única alternativa habitacional disponível.

Uma nota importante:

Uma característica política era a preocupação com os interesses dos ricos e a falta de empatia pelos mais pobres. (Por que será que às vezes penso que o termo “era” não é apropriado?)

A reforma no Rio de Janeiro ficou conhecida como “Bota-abaixo”, justamente pela maneira brutal e autoritária como foi conduzida.

Milhares de pessoas, todas pobres, em sua maioria negras, foram expulsas sem qualquer compensação financeira, forçadas a migrar para os morros.

As reformas priorizavam a estética e os interesses da elite, ignorando completamente os direitos e a dignidade da população pobre.

Depois de todo esse passeio histórico, que tal falarmos sobre o desenvolvimento cultural nas favelas?

O desenvolvimento cultural das favelas

Apesar de todo esse contexto sombrio, alguma coisa boa tinha de acontecer, não é verdade?

As favelas se tornaram verdadeiros caldeirões culturais no Brasil.

Na literatura, escritores como Carolina Maria de Jesus (com o Quarto de despejo) e, posteriormente, o movimento de literatura marginal/periférica deram voz às experiências das favelas.

Na arte-luta, embora a Capoeira seja bem anterior às favelas, foi nessas comunidades que ela encontrou espaço de preservação e prática, mantendo viva essa arte-luta afro-brasileira.

As favelas desenvolveram estética visual própria, transformando vielas e muros em galerias a céu aberto, por meio dos grafites.

O Hip Hop e o RAP (Rhythm and Poetry), embora de origem norte-americana, emergiram nas periferias paulistanas, narrando a realidade das favelas e quebrando o silêncio sobre violência policial, racismo e exclusão — um salve Racionais MC’s, entre outros.

A expressão maior das favelas: o Samba

O samba nasceu e se consolidou nas favelas e comunidades negras do Rio de Janeiro.

A casa da Tia Ciata, na Praça Onze (região que recebia a população removida), foi um dos berços do samba moderno no início do século XX.

Ali se reuniam descendentes de escravizados baianos, criando um espaço de resistência cultural onde o samba urbano se desenvolveu, misturando elementos africanos com influências brasileiras.

As escolas de samba surgiram também neste contexto comunitário das favelas e subúrbios cariocas — a primeira foi a Deixa Falar, em 1928, no bairro do Estácio.

Figuras históricas do samba como Donga, autor de Pelo Telefone, o primeiro samba gravado; Pixinguinha; Sinhô, apelidado de “O Rei do Samba”; Tia Ciata, a matriarca do samba; Heitor dos Prazeres; Ismael Silva, fundador da primeira escola de samba, a Deixa Falar, e compositor de Se você jurar; Geraldo Pereira e Cartola (Angenor de Oliveira), fundador da Mangueira e um dos maiores poetas do samba brasileiro — entre muitos outros, a lista é quase infinita.

A vida de cada um desses personagens inspiraria livros e livros, e trabalharemos posteriormente as biografias dessas pérolas brasileiras.

Cada um deles retratou a luta e a perseverança para lidar com as dificuldades impostas a um povo esquecido pela maioria dos governos brasileiros.

Com resignação e poesia, descreviam as mazelas e as alegrias de morar no morro.

A ausência do Estado e o crime

A ausência do Estado, ou a presença apenas através da repressão policial, criou um vazio que foi preenchido por organizações criminosas.

As favelas ofereciam vantagem tática — visibilidade e dificuldade de acesso para a polícia.

A vulnerabilidade social também se tornou um facilitador: a falta de perspectivas fez de jovens alvos fáceis para recrutamento.

Nas décadas de 1970-1980, com o crescimento do narcotráfico internacional e a chegada da cocaína no Brasil, facções criminosas passaram a se estabelecer nas favelas.

Por exemplo, o Comando Vermelho, nascido no sistema prisional nos anos 1970, foi pioneiro neste processo no Rio de Janeiro.

Posteriormente surgiram o Terceiro Comando e outras facções.

A ocupação pelo crime organizado é consequência do abandono histórico.

As facções ocuparam um espaço que o Estado se recusou a ocupar com educação, saúde, cultura, oportunidade e dignidade.

A violência não é a solução

A repressão policial jamais foi a solução. Crianças já não sabem mais quem são os “mocinhos ou os vilões” na história!

As consequências dessa situação são moradores reféns, entre a violência do tráfico e a violência policial.

Jovens negros e pobres são as principais vítimas — tanto como alvos da polícia quanto como mão de obra descartável na mão de criminosos.

O estigma de favela como local de criminalidade se perpetua, quando na realidade a imensa maioria dos moradores são trabalhadores honestos.

E o pior: políticos usam o suposto combate ao crime com violência como plataformas políticas, alimentando o ciclo de violência, quando deveriam investir mais em educação e em projetos de integração.

Cortam-se os galhos, mantêm-se as raízes!

Diante da falta de esperança, alguns buscam um lugar no céu — que é vendido descaradamente por pregadores gananciosos.

Apesar da beleza e da alegria que insiste em brilhar e motivar cada um dos muitos trabalhadores das favelas — ainda há muito o que se melhorar.

Ainda há a desigualdade, o sofrimento, o estigma e a influência do crime organizado — mesmo na arte!

A favela ainda não venceu!

Não como cantam alguns funkeiros, que narram o seu sucesso pessoal e migração para bairros nobres da cidade como sendo uma vitória coletiva.

A FAVELA AINDA NÃO VENCEU!

Ela continua a lutar…

Leia também A População Carcerária no Brasil ‣ Jeito de ver

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E então nasceu uma menina – Amor sem roteiro

Bem chateada…

E então nasceu uma menina
Canção do amor sem roteiro

Você diz: Um dia serei pai.

Ensinarei ao meu filho amar os livros,
a ouvir a música,
a tocar instrumentos, e juntos nos divertiremos em momentos juntos.

Brincaremos de bola e ele usará as cores do meu time.

Serei Pai.

E meu filho amará a escola que hoje é bem diferente da minha escola… há liberdade!

Você diz: Serei Pai e meu filho…

E de repente, nasce uma menina!

E assim mesmo você se derrete e esquece todos os planos.

Você não a ensina a amar os livros…
Você lê pacientemente com ela, cada palavra.
O tom de sua voz reflete aquilo que seu coração deseja dizer.

Você não a ensina a ouvir músicas,
mas dança com carinho as mesmas canções esquecidas
que seus pais cantavam pra te ninar.

E aos poucos, suas canções favoritas encontram um novo universo.

Ela não se interessará por violões, pianos, contrabaixos…
Mas, de que importa?

É um Novo Mundo.

Segura suas mãozinhas enquanto ela corre para chutar a bolinha
no espaço reduzido da varanda.

No dia de ir para a escola, seu coração se quebra.
Vê os olhinhos marejados de medo diante da ausência, do universo desconhecido.

Você diz: Serei Pai…

E se descobre todos os dias…

E descobre o amor ao ver nascer
o sonho que vier…

Leia também: Um poema para Brenda (Com H de “hoje”) ‣ Jeito de ver

Queridos

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E mais surpresas:

Dhan Nascimento – YouTube

O louco e a lua (Contos de solidão)

O louco e a lua

Iluminado, sob um céu estrelado, ele se perdia entre o brilho da lua e das estrelas e o sopro do vento norte.
As pessoas diziam: “É um louco”, pois com as mesmas velhas roupas sujas, maltrapilhas, e um bastão castigado pelos anos, vivia o seu dia a andar pelas ruas da cidade.
Todos sabiam o seu nome, mas os anos pareciam não passar.

Ninguém percebia em sua face um novo traço ou em seus cabelos uma nova cor, mas sabiam que dia após dia, pelas ruas da cidade estaria ele, caminhando lentamente, como que contando seus passos…
… pois talvez não houvesse histórias pra contar.

Mas, por quanto tempo ele esteve lá?
Quantas vezes presenciou o nascer e o pôr do sol? Ou quantas estrelas conseguiu contar?
Talvez soubessem de onde veio, mas onde iria?
Ria ao sentir-se amado e irritava-se quando se sentia ameaçado.
Queria saber as horas… mas, para quê?
Sem passado pra contar, qual seria seu futuro?

Talvez buscando esse futuro saiu pelas ruas, olhando as estrelas pela última vez.
E as pessoas, ao acordarem da paz de seus sonhos, viam uma rua vazia… cheia de pessoas vivendo a pressa de seus dias.
Onde está ele?
Perguntaram-se no abrigo de seus lares, enquanto a lua vigiava o silêncio esquecido do louco que a amava.

E os dias se passaram…

Não se formaram grupos de buscas como em sociedades organizadas, é verdade. Mas todos queriam saber.
E foi sob o sol de inverno, vazio de lembranças e de pensamentos, que o encontraram.

Todos se lembraram dele.
Escreveram mensagens de conforto a uma família de que não se ouvia falar.
Muitos choraram nas ruas.

E nos dias que se seguiram, procurando e enviando preces desde o abrigo de seus lares, receberam o desfecho da história do louco…
Mas, que apenas a lua viu.


Leia também: Pobre Pedro ( e o tempo que passou.) ‣ Jeito de ver


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Mas, apenas a lua viu. A lua testemunha.

Imagem de Bruno por Pixabay

Pobre Pedro ( e o tempo que passou.)

alt= Homem solitário à beira do mar.

Imagem de Engin Akyurt por Pixabay

Sinopse
A poesia “Pobre Pedro” retrata a solidão e o abandono de um homem incompreendido pela sociedade. Entre julgamentos apressados e a indiferença cotidiana, Pedro, fragilizado pelo desemprego e pela doença, vê a vida escapar em silêncio. Uma narrativa poética que expõe o contraste entre a dureza dos olhares alheios e a dor invisível de quem sofre sozinho.

Pobre Pedro

O galo cantou,
Despertador gritou,
O vizinho resmungou,
Mas Pedro não acordava.

O cachorro latia,
O circular se contorcia,
E mesmo com o barulho do dia,
Ele não despertava.

Pobre Pedro,
Do emprego dispensado,
Vivia agora abatido,
Sempre havia trabalhado.

O olho sequer
Fechava,
A realidade em confusão
Com os sonhos que sonhava.

“Que noite foi essa?” — diziam.
“Irresponsável, curtiu à beça,
Vive sem pressa…”
E ele, nem se importava.

Deixaram pra lá,
Pra que se importar?
Saíam dizendo:
“Vagabundo, vai trabalhar!”
E o pobre Pedro nada fazia.

Os dias passaram,
Já não se importavam
Se o sol nascia,
Se as portas fechavam.

Maldiziam:
“O boêmio,
O irresponsável,
O vagabundo,
O pobre Pedro…

… o defunto.”

Sozinho nas agonias,
Sem ajuda, sem nada,
Viu a vida escapar pela janela,
Enquanto o dia passava.

Pobre Pedro…
Ninguém o entendia.

Se você é apaixonado por poesias recomendo um excelente blog:

Blog dos Poetas – Poemas selecionados de escritores famosos e consagrados

Leia também Um bom rapaz – uma crônica. ‣ Jeito de ver

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Escrever ( Os motivos da vida)

Imagem de Pexels por Pixabay

📝 Se você gosta das nossas postagens e deseja apoiar o blog, em breve lançaremos o e-book “Crônicas do Cotidiano” — uma coletânea com alguns dos melhores textos do site, acompanhados de comentários inéditos e reflexões que ampliam o olhar sobre o cotidiano.

ESCREVO

Escrevo

Pois tive sonhos

Que se realizaram

E outros

Que não se puderam concretizar…

que não aconteceram

Escrevo como quem sonhou.

 

Escrevo

Pois vi lindos Campos verdes

E maravilhosos céus azuis

E nos dias tristes de chuva

Deixei esfriar o ímpeto

De buscar lugares ao sol

Escrevo sim…

Como quem sofreu

 

Escrevo

Pois amei

E vi o amor fugir

e desaparecer sem palavras

Sem gestos de ternura

ou palavras de silêncio

Escrevo

Como quem já amou…

 

Escrevo

Como quem contemplou as madrugadas

E se enamorou da lua

Mas, que abraçou o Sol.

Que aceitou os sonhos

Que acolheu a tristeza

E que ainda acredita…

Escrevo

Como quem viveu…

 

Por isso escrevo.

Pois os momentos passam

Os sentimentos passam

Os dias …

Passam

Mas, quanto às palavras…

Elas ficam.

E Ficarão para sempre

Para sempre.

Leia também A ilusão do brilho… Vaga-lume. ‣ Jeito de ver

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A ilusão do brilho… Vaga-lume.

alt="Ouriço escondido entre folhas secas no outono"

Imagem de Anthony Jarrin por Pixabay

Introdução:

Às vezes, é no silêncio da noite e na simplicidade de um jardim que surgem as reflexões mais profundas.

Entre formigas silenciosas, grilos repetitivos e o brilho passageiro de um pirilampo, este pequeno texto convida à contemplação da vida que pulsa discretamente à nossa volta — e dentro de nós.

Nesta breve alegoria, o vaga-lume se torna símbolo da efemeridade do brilho, da ilusão de grandeza, e da fragilidade dos instantes em que buscamos ser mais do que somos.

Será que, ao brilhar, deixamos de ver o mundo?
Será que a verdadeira duração da vida está nos momentos em que apenas existimos, sem precisar encantar?

Convido você a vagar por esse jardim noturno de pensamentos, onde até a menor luz pode carregar um universo de sentidos.

 

A ilusão do brilho… Vaga-lume

Na escuridão da noite, no pequeno jardim, brilha o pirilampo.

De vaga luz, flutuando entre outros que apenas se encantam com o seu luzir confunde-se com o piscar das estrelas no infinito.

As formigas em silêncio, constroem as suas vidas.

Os grilos cantam as mesmas canções, falta-lhes inspiração?

No jardim a vida continua e enquanto pisca, não vê o mundo ao redor…

Vaga-lume….

Pirilampo…

Vives bem mais enquanto não brilhas…

O teu brilhar é passageiro

Dias? Semanas?

Teu céu finito…

Não és uma estrela.

Vaga…

Vaga-lume.

Leia também: Voo efêmero – um breve encontro ‣ Jeito de ver

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Reconciliação (Coisas do passado)

Imagem de Otávio Trinck por Pixabay

Reconciliação (Coisas do passado)

Dona Maria
Sentada à porta
Na porta
algumas chaves
E entre as chaves
a mais antiga,
de aro bordado
e de cor escura
Que lhe abre os segredos

No baú escuro
Fotografias desbotadas
Memórias desbotadas
de momentos felizes
E segredos velados
De uma noite sob o luar
O convite para dançar
Até o adeus repentino…
de momentos
Que se prefere esquecer.

Dona Maria
suspira
revira a fotografia
Procura personagens
presos na memória
Até onde a memória vai ?
Não tão longe quanto os sonhos…

Do baú escuro
Retira a fotografia
e beija silenciosamente…
Olhando para o céu
suspira como numa prece
Como num desabafo
Por apenas mais um momento
Um reencontro.
rogando a paz
para o presente
para o futuro…e dorme
no mundo que sonhou encontrar…

Fazendo as pazes com o passado.

Leia mais: Varandas vazias e tradições perdidas ‣ Jeito de ver

 

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A Cultura da Tortura: Análise

Ilustração de um instrumento de tortura.
Cadeira de tortura

Imagem de Hans por Pixabay

A Cultura da Tortura: Da Inquisição às Investigações Policiais

Vamos refletir, neste post, sobre a cultura da tortura — seu surgimento, a figura dos falsos heróis e os paralelos entre práticas inquisitoriais e as caças às bruxas.

Enquanto alguns ainda tentam justificar a tortura como método de interrogatório, outros questionam sua eficácia e legitimidade. Afinal, haveria alguma justificativa real para sua aplicação?

A proposta aqui é simples: compreender, de modo direto, como essa cultura se perpetuou ao longo do tempo — inclusive em regimes como o nazismo — e como tantos torturadores se ampararam na ideia de que apenas “cumpriam ordens”.

Franz Stangl, comandante do campo de extermínio de Treblinka, disse certa vez em uma entrevista:

“Minha consciência está limpa. Eu estava simplesmente cumprindo meu dever…”

A Reação e o Clamor por Justiça

A reação imediata à barbárie é o clamor por justiça. A ausência de punição gera revolta.

É muito comum ouvirmos relatos de pessoas que decidiram “fazer justiça” com as próprias mãos, por meio de linchamentos.

Programas de televisão populares entre 1980 e 2010 exploravam crimes terríveis com sensacionalismo, apresentando histórias de forma a fazer o telespectador sentir a injustiça vigente no país.

Diante deste cenário, as pessoas clamam por mudanças.

Daí surgem falsos heróis, repetindo padrões históricos de séculos e séculos.

Na ânsia de “solucionar rapidamente” um crime e satisfazer o desejo de sangue da população, métodos cruéis foram aplicados em muitos inocentes.

Falsos Heróis

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Leia também: Contos de fadas – Um novo jeito de ver! ‣ Jeito de ver

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Como Ler um Poema? ( Como a vida deve ser)

Sem complicações…

Assim como a vida, os poemas não precisam ser complicados.

Um mundo de palavras, histórias e sentimentos cabe nas poucas palavras de um pequeno poema…

e cada um conta a sua história.

Se você sofreu, amou, perdeu, superou — tudo pode estar lá, nas pequenas palavras.

Mas… como ler um poema?

Este é um trecho do texto presente no livro
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© Gilson da Cruz Chaves – Jeito de Ver Reprodução permitida com créditos ao autor e ao site.