Contos de fadas – Um novo jeito de ver!

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Imagem de Flavio Botana por Pixabay

Quem nunca ouviu um daqueles contos que se desenrolam com um começo alegre, um desastre, o confronto entre o bem e o mal, uma reviravolta e, por fim, um desfecho feliz?

Os contos de fadas nos transportam para um mundo de fantasia e nos dão a esperança de que tudo terminará bem.

Ultimamente, algumas dessas histórias foram reimaginadas, e certos personagens mudaram suas características originais; por exemplo, a Branca de Neve não é mais tão indefesa quanto nas versões da Walt Disney, e o Pinóquio já não é o menino de madeira ingênuo de antes.

Muitos exemplos poderiam ser mencionados.

Essas mudanças causaram estranheza em muitos, mas não deveriam, já que essas mesmas histórias são adaptações de lendas muito mais antigas. Conforme as gerações passam, essas adaptações ajudam a manter as histórias vivas. Por isso, os contos de fadas são valiosos para compreender o contexto histórico.

Por exemplo: “Estudiosos contemporâneos calculam que cerca de 50 mil mulheres foram executadas acusadas de bruxaria. Algumas foram queimadas vivas, pois acreditava-se ser essa a forma mais dolorosa de execução.” A caça às bruxas perdurou por mais de quatro séculos. – Lista de pessoas executadas por acusação de bruxaria –Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

De acordo com o Portal Catarinas, ao examinarmos o contexto histórico da Idade Média, percebemos que as bruxas atuavam como parteiras, enfermeiras e assistentes. Elas possuíam conhecimento e compreensão sobre o uso de plantas medicinais para tratar doenças e epidemias nas comunidades onde viviam, o que lhes conferia um significativo poder social. Frequentemente, essas mulheres representavam a única opção de cuidados médicos para outras mulheres e para os pobres, atuando como médicas não oficializadas por um extenso período. Elas aprendiam a profissão umas com as outras e transmitiam esse saber para suas filhas, vizinhas e amigas.

“De acordo com Ehrenreich e English (1984, p. 13), as bruxas não emergiram espontaneamente, mas foram o resultado de uma campanha de terror perpetrada pela classe dominante. Embora poucas dessas mulheres fossem de fato bruxas, a histeria coletiva levou muitas das acusadas a acreditar que realmente eram bruxas e que tinham um “pacto com o demônio”.

“O estereótipo das bruxas era representado principalmente por mulheres com aparência desagradável ou deficiência física, idosas e mentalmente perturbadas, mas também incluía mulheres atraentes que feriam o ego dos poderosos ou despertavam desejos em padres celibatários e homens casados. – A “caça às bruxas”: uma interpretação feminista – Portal Catarinas

Na análise histórica, torna-se evidente a extensão da crueldade da classe dominante, e os contos de fadas, ao retratarem bruxas, refletiam essa noção medieval propagada por essa elite.

Um exemplo notório, o conto da Cinderela, quando examinado sob uma perspectiva histórica, pode revelar aspectos de uma cultura perpetuada através dos séculos.

Bem, resumindo a história: Cinderela, ainda criança, tornou-se órfã e foi criada por uma madrasta malvada, com duas irmãs que também a humilhavam. Segue-se a intervenção das fadas madrinhas, o baile, o encontro com o príncipe, a meia-noite, a fuga, o sapatinho de cristal deixado na escadaria, a busca do príncipe pela dona do sapatinho, o reencontro e o “felizes para sempre”. E assim, graças ao bom Pai, chega-se ao FIM.

Essa narrativa romântica, popularizada pelos estúdios Walt Disney, é na verdade uma adaptação de contos muito mais antigos e nem sempre tão encantadores.

Na versão de Walt Disney, as irmãs de Cinderela feriram seus pés ao tentar calçar o sapato de cristal. Em uma versão mais antiga da história, narrada pelos irmãos Grimm, as moças chegaram a cortar os próprios pés para que coubessem no sapato.

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Imagem de Sarah Penney por Pixabay

A narrativa chinesa de Yeh-Shen, datada de 617-907 d.C. durante a Dinastia Tang, segue um enredo similar.

A jovem órfã, maltratada pela madrasta e pela meia-irmã, recebe a ajuda de um peixe mágico (equivalente à fada madrinha), participa do festival, encontra o príncipe, perde um sapatinho e, por fim, encontra o amor verdadeiro.

Mas, e o pezinho?

O sapatinho perdido evoca a tradição chinesa dos pés pequenos, também conhecidos como pés de lótus.

Nessa prática, os pés das mulheres eram intencionalmente deformados e mantidos pequenos por meio de bandagens apertadas. Esse costume teve início na Dinastia Song (960-1279 d.C.) e continuou até o começo do século XX.

Mulheres de famílias nobres tinham seus pés atados desde a infância, visando obter os pequenos e curvos pés que eram considerados elegantes e desejáveis na cultura chinesa daquele tempo.

Consegue imaginar a dor e os danos permanentes que essa prática causava aos pés das mulheres? Muitas tinham dificuldades enormes até para caminhar! Essa prática foi proibida no início do século XX. No entanto, ainda persiste na imaginação de muitos a ideia de que os pés devem ser pequenos, ignorando a diversidade física (como se a mentalidade ainda estivesse na Dinastia Song).

Analisar contos de fadas pode nos ajudar a compreender o drama do envelhecimento em uma sociedade que valoriza mais a aparência do que as qualidades.

Por um momento, podemos ver nas palavras da rainha: “Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?” o reflexo daqueles que lutam para manter a juventude através de cirurgias e procedimentos estéticos, que muitas vezes apenas revelam a inevitabilidade da idade e que é possível ser belo na velhice.

Quem nunca ouviu um conto de fadas? Que tal agora refinar…mudar para “um novo jeito de ver”?

Veja também  Junho – Da mitologia à modernidade ‣ Jeito de ver

Comentário (7)

  • Chaves| 11 de abril de 2024

    É muito importante olhar por outros ângulos. Alguns fatos sobre determinadas histórias eu n sabia 👏👏

  • Ranne| 12 de abril de 2024

    Há necessidade de legitimar uma minoria as vezes perpassa a originalidade da obra.

  • Gilmar Chaves| 14 de abril de 2024

    As histórias por trás dos contos de fadas revelam traços impressionantes de uma realidade cruel, pois, até mesmo fazem com que boas ações se transformem e pessoas que a praticaram se tornassem mal vistas.
    A questão do pezinho nos mostra uma cultura dolorosa por anos que algumas pessoas sofreram ou ainda sofrem pra manter um formato meio que “perfeito” para o desejo de alguma sociedade um tanto perversa!
    Quanta boa informação! Valiosa para quem tem curiosidade, como é o meu caso!
    Parabéns pelo site jeito de ver!

  • The Ear Therapist| 17 de abril de 2024

    Achei interessante o conceito original das “bruxas”. Se fôssemos olhar o cenário atual, é equivalente aos profissionais que são terapeutas naturalistas, como por exemplo os fitoterapeutas, que dominam as plantas medicinais para os mais diversos tratamentos.
    Ainda hoje a sociedade ocidental olha com certa medida de preconceito para os profissionais que atuam na medicina alternativa, que por sinal aqui no ocidente é chamada de Terapia Complementar (para não reconhecer como uma medicina).

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