Banda Toto – Seus Sucessos e Dramas

A banda Toto foi formada em 1977, em Los Angeles, Califórnia
Sabe aquelas frases em uma música que você ouve uma vez e ficam gravadas na memória por um bom motivo?

Em uma dessas muitas viagens, escutei no rádio uma canção que dizia: “Assim que a eternidade for alcançada… terei esquecido você!”

Não sei se a frase se tornou especial por eu estar longe da minha família ou por causa da tristeza recente de ter perdido alguém querido. Só sei que ela permanece entre as mais belas que já ouvi.

A frase (em tradução livre) é da música I’ll Be Over You, da banda Toto.

Se você ainda não conhece o Toto, permita-me compartilhar um pouco da história deles.


A Formação e os Primeiros Anos

A banda Toto foi formada em 1977, em Los Angeles, Califórnia, por um grupo de músicos talentosos que já desfrutavam de carreiras bem-sucedidas como músicos de estúdio.

O núcleo era composto por David Paich (tecladista) e Jeff Porcaro (baterista), amigos desde a época do colégio e parceiros em diversos projetos musicais.

A formação inicial também incluía Steve Lukather (guitarrista), David Hungate (baixista), Steve Porcaro (tecladista) e Bobby Kimball (vocalista).

Esses músicos compartilhavam não apenas um profundo respeito mútuo por suas habilidades, mas também uma paixão por diversos gêneros, do rock ao jazz, passando pelo R&B e o soul.

A ideia de formar uma banda surgiu naturalmente, como uma necessidade de expressar o talento de uma forma que os estúdios não permitiam plenamente.

Desde o início, o Toto buscou um som acessível, mas que também refletisse suas ambições artísticas. Em uma cena dominada pelo rock progressivo e pela disco music, a banda encontrou um espaço próprio ao combinar elementos desses estilos.

Com composições elaboradas, arranjos criativos e um elevado nível técnico, suas primeiras músicas logo chamaram atenção.

Os primeiros shows foram bem recebidos, e a banda conseguiu rapidamente um contrato com a Columbia Records.

Seu álbum de estreia, Toto (1978), trouxe clássicos instantâneos como Hold the Line e I’ll Supply the Love, recebendo elogios da crítica e conquistando um público fiel.

A combinação de baladas marcantes e faixas mais enérgicas revelou a versatilidade do grupo, que já se apresentava como uma força promissora no cenário musical.

Os primeiros anos do Toto foram marcados por intensa criatividade e crescente sucesso, moldando um estilo que evoluiria ao longo das décadas.

A soma do talento individual e da busca por inovação estabeleceu as bases de uma carreira duradoura e significativa.


O Sucesso Avassalador de ‘Toto IV’

Lançado em 1982, o quarto álbum de estúdio do Toto, Toto IV, representou um marco na trajetória da banda.A banda Toto foi formada em 1977, em Los Angeles, Califórnia

Após recepções mistas dos álbuns anteriores, o grupo se dedicou à criação de um trabalho ambicioso e meticuloso.

O processo de gravação foi exaustivo, mas o esforço coletivo resultou em um disco que mesclava, com maestria, rock, pop e elementos da música clássica.

O álbum trouxe algumas das faixas mais icônicas do Toto, como Africa e Rosanna.

Com letras envolventes, harmonias ricas e arranjos precisos, essas canções cativaram público e crítica. Africa, com sua batida hipnótica e melodia inconfundível, rapidamente se tornou um clássico atemporal.

O impacto de Toto IV foi imenso: o álbum vendeu milhões de cópias no mundo todo e recebeu certificações de ouro e platina em diversos países.

Aclamado por sua excelência técnica e criatividade, conquistou seis prêmios Grammy, incluindo Álbum do Ano e Gravação do Ano por Rosanna.

Essas conquistas não apenas celebraram a habilidade dos músicos, mas também elevaram o Toto ao patamar de lenda da música internacional.

O sucesso estrondoso de Toto IV consolidou a banda no estrelato e garantiu seu lugar na história, tanto pela técnica quanto pela capacidade de emocionar e cruzar fronteiras musicais.


Mudanças na Formação e Desafios

Ao longo das décadas, o Toto passou por várias mudanças de formação, enfrentando desafios que, por vezes, ameaçaram a continuidade da banda, mas também abriram caminho para novas possibilidades.

Uma das primeiras mudanças marcantes ocorreu em 1982, com a saída do vocalista Bobby Kimball, cuja voz havia contribuído de forma decisiva para o som característico do grupo.

Apesar disso, a entrada de Joseph Williams em 1986 trouxe uma nova identidade sonora, ajudando a manter a relevância da banda.A banda Toto foi formada originalmente em 1977, em Los Angeles, Califórnia

Além das trocas de integrantes, o grupo enfrentou questões pessoais e profissionais que testaram sua união.

Problemas com drogas e tensões internas dificultaram a produção de álbuns e a realização de turnês.

Steve Lukather, guitarrista e membro fundador, assumiu frequentemente a responsabilidade de manter o grupo coeso.

A perda do baixista Mike Porcaro, em 2015, vítima de esclerose lateral amiotrófica, foi um golpe doloroso, que afetou profundamente a banda.

Apesar de todos esses obstáculos, o Toto conseguiu se reinventar. Cada nova formação trouxe influências diferentes, resultando em variações de estilo ao longo da discografia.

Essa resiliência não apenas garantiu a continuidade do grupo, como também revelou a paixão de seus integrantes pela música e pelos fãs.


Herança Musical e continuação

Desde sua origem nos anos 70, o Toto construiu um legado sólido na música mundial.

Com talento excepcional e uma abordagem eclética, a banda emplacou sucessos como Africa e Hold the Line, destacando-se pela qualidade técnica e pela habilidade de transitar entre gêneros.

Essa fusão de estilos influenciou gerações de músicos, muitos dos quais consideram o Toto uma referência essencial em suas trajetórias.

Mesmo após o auge da fama, a banda manteve-se ativa com novos lançamentos e turnês globais.

Álbuns como Kingdom of Desire e Mindfields, lançados nas décadas de 1990 e 2000, demonstram a capacidade de adaptação e evolução sem perder a essência que os tornou únicos.

As apresentações ao vivo continuam a encantar o público, oferecendo experiências musicais marcadas pela energia e virtuosismo.

Paralelamente ao trabalho com a banda, os integrantes exploraram projetos solo. Steve Lukather, por exemplo, lançou álbuns aclamados que evidenciam sua versatilidade como guitarrista e compositor. David Paich e Joseph Williams também seguiram contribuindo para a música em diversas frentes — como produtores, arranjadores e intérpretes.

Hoje, o Toto segue surpreendendo os fãs com novas músicas e shows. A formação atual, que reúne nomes clássicos e novos talentos, continua a criar e a emocionar.

Rumores sobre futuras formações mantêm vivo o interesse do público, provando que, mesmo diante das mudanças da indústria, o legado do Toto permanece forte, inspirador e profundamente relevante.

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Toto – Wikipédia, a enciclopédia livre

Ouvindo meus velhos discos de vinil

Quando a música pede silêncio

Nessas manhãs de outono, enquanto as crianças dormem, o tempo parece pedir uma boa música.

Em meio às estações de rádio, CDs e streamings de áudio, algo prende minha atenção: os velhos discos adormecidos em meu estúdio.

Confesso, não sou um daqueles colecionadores que conseguem dedicar a essas mídias o tempo que merecem, mas decido — apenas para sentir novamente a experiência — colocá-los de volta em minha vitrola.

Segurar a mídia delicadamente entre os dedos é quase um ritual.

Observar os sulcos no disco de vinil, as divisões entre as faixas, e perceber, na contracapa, os nomes de artistas, técnicos e músicos que contribuíram para que a obra alcançasse sua forma final, é como visitar uma pequena galeria sonora. (Para manter o tom, não menciono o trabalho que foi limpar a poeira…risos)

Há algo de artesanal, de humano, que sobrevive ali.

À medida que a agulha do toca-discos passeia suavemente entre as faixas, o som que se produz transcende o tempo.

É possível ouvir nuances de agudos e graves em perfeita sintonia — o que talvez aconteça justamente por eu estar, aqui, em silêncio e cuidado, apenas ouvindo. Sem pressa. Sem distrações.


 Quando ouvir era um acontecimento

Não sei ao certo se o que sinto agora é apenas nostalgia ou também saudade de um tempo em que ouvir música era uma experiência completa — um acontecimento.

A música, hoje, parece ocupar outro lugar: tornou-se pano de fundo para as tarefas do dia a dia.

E talvez por isso se tenha perdido parte da variedade e da qualidade das canções.

Alguns artistas, apesar de sua beleza e profundidade, já não figuram entre os mais executados nas atuais plataformas digitais.

Não por falta de talento, mas por falta de visibilidade diante dos algoritmos que decidem o que se ouve — e o que se cala.


 O gosto moldado pelas máquinas

O que talvez nem todos percebam é o quanto os algoritmos — esses curadores invisíveis — influenciam o que ouvimos, quando ouvimos e quantas vezes voltamos a ouvir.

Os algoritmos escolhem o que vamos ouvir...

Imagem de Tom Majric por Pixabay

Eles observam nossos hábitos, anotam o que escutamos no café da manhã, o que deixamos tocando no carro ou no fone de ouvido enquanto caminhamos.

E, pouco a pouco, vão nos moldando sugestões, listas, destaques — como se conhecessem nossos gostos melhor do que nós mesmos.

Mas o gosto, assim conduzido, corre o risco de deixar de ser nosso.

As plataformas coletam milhões de dados por segundo.

Se uma música é tocada muitas vezes em pouco tempo, entra numa engrenagem que a recomenda a cada vez mais usuários — e esse ciclo de reforço costuma favorecer apenas os artistas mais populares.

Os demais, mesmo que tenham produzido algo profundo, delicado ou inovador, acabam soterrados no silêncio digital.

Não por falta de qualidade, mas por falta de números.

O algoritmo não escuta com o coração. Ele não percebe a beleza de uma metáfora bem colocada, nem se emociona com a timidez de um piano no início de uma canção.

Ele apenas lê estatísticas, e distribui as faixas como quem reorganiza prateleiras de um supermercado musical.

Com o tempo, isso molda também o que é produzido. Os artistas passam a criar pensando no que agrada ao sistema, no que se adapta bem às playlists automatizadas.

E assim, o diferente, o ousado, o que pede tempo e escuta atenta, vai ficando para trás.


A quem pertence a música?

O que muitos não sabem é que, por trás dessas plataformas modernas que oferecem milhões de músicas ao alcance de um toque, existe uma engrenagem comercial que também determina quem será recompensado por ser ouvido.

A maior parte do valor pago pelos assinantes — cerca de 70% — vai para gravadoras, editoras e distribuidoras. O restante, em média 30%, fica com a plataforma, que cobre seus custos, investimentos e lucros.

O artista, esse elo sensível da corrente, recebe centavos por stream — e isso, muitas vezes, apenas se for grande o suficiente para aparecer nas estatísticas.

É o modelo chamado pró-rata, em que toda a receita do mês é repartida proporcionalmente conforme o volume total de reproduções.

Ou seja, mesmo que você escute apenas artistas independentes, sua assinatura será dividida com os mais ouvidos do mundo — os gigantes do momento.

Talvez por isso voltar ao vinil, nessas manhãs de outono, seja também reencontrar a liberdade de escolher — sem pressa, sem algoritmo, apenas por sentir.

Talvez seja não uma forma silenciosa de resistência, mas um minuto de reflexão.

Um gesto de reverência a tudo que ainda pulsa, mesmo esquecido.

Um tributo à música que me formou e aos artistas que deixaram ali, no sulco de um disco girando, um pedaço da alma.

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“Funk Brasileiro – Raízes e impacto social

Um contrabaixo. Um pouco das origens do FUNK.

Imagem de Jose Araica por Pixabay

Um ritmo pulsante

Sabe aquelas canções de ritmo pulsante, repetitivo e que muitas vezes choca pela agressividade e obscenidade das letras?*

Calminha, eu não estou falando de alguns pagodes da Bahia. – Não neste Post.

Falaremos um pouco sobre o Funk no Brasil, suas origens e influências.

Revoluções

Se no Brasil, a Bossa Nova crescia no final dos anos 1950 e no início da década seguinte se tornava popular entre jovens de classe média alta, filhos de pais ricos e com cargos influentes na sociedade e nos governos da época…

Nos EUA os jovens negros curtiam algo bem mais politizado, bem mais provocador.

Se por aqui, os jovens que amavam o estilo João Gilberto de sussurrar perfeitamente letras e acordes dissonantes naquela fusão do jazz norte americano com o samba brasileiro, e tinham tempo livre para ver “o barquinho a navegar no macio azul da mar” e viver o romantismo de quem sabia”que iria te amar, por toda a vida…

Lá, do outro lado, os jovens tinham pressa, queriam mudanças. Passavam a admirar ícones como James Brown e Miles Davis.

Esqueça toda a calma e paz da Bossa Nova  –  o Funk é bem diferente…

Um pouco de história e teorias

O Funk cresceria em outro solo…  a água, porém, viria quase da mesma fonte.

Ambos são influenciados pela  música negra americana e entre muitos estilos, compartilham um pouco da vibe do R&B, Soul e do Jazz.

As origens do jazz, que influenciaram a bossa nova, remontam às festas de escravos que parodiavam os estilos dos colonizadores, à mistura de ritmos tribais  e também às jams Sessions de Blues ( se é que se pode chamar assim!) .

O Jazz era a fusão de muito estilos.

Negra em suas origens, essa fusão carregava também um pouco de banzo – canção que expressava a tristeza e era cantada melodicamente em repetições de frases e improvisos por escravos em campos de algodão.

O banzo narrava o sofrimento, a ânsia de libertação e a saudade de um mundo que não mais existiria, desde que foram sequestrados e vendidos como mercadorias.

A expressão deste sofrimento é clara nos blues do Delta do Mississipi nas primeiras décadas do século XX.

O Funk foi desenvolvido pela comunidade negra nos Estados Unidos no início da década de 1960, quando a mesma ânsia de libertação ganhava força num país preconceituoso, onde a segregação racial era questão política e os negros lutavam agora pela igualdade.

Desigualdade social 

É notório que em países como o Brasil, após a lei que abolia a escravidão, havia um projeto de lei que indenizava os donos dos escravos com grandes compensações monetárias, face à pressão de antigos” proprietários”,  ao passo que os escravos, os maiores prejudicados pelo sistema, foram totalmente esquecidos – sem nenhuma compensação ( e às vezes, sem a própria roupa do corpo!).

Fonte:  Indenização aos ex-proprietários de escravos no Brasil – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Documentos relativos à escravidão, registros de compras e vendas de escravos, que poderiam atualmente ser úteis ao entendimento da história foram destruídos no início da república, para dificultar as coisas aos donos de escravos que pleitevam uma compensação pelas perdas decorrentes da abolição.

O mesmo Brasil que não ofereceu condições para que os negros tivessem uma estrutura social,  objetivando um povoamento maior da região sul, agraciou ( com toda a sorte de incentivos ) a europeus, dando desde casa a ajuda financeira para que estes tivessem condições de se estabelecer na preconceituosa terra brasilis.

700 mil libertos não tiveram acesso a terra e nem à educação.

Foram condenados a viver nas partes menos favorecidas da cidade.

Será que mudou muita coisa por aqui?

Nos Estados Unidos não foi, assim, tão diferente…

Os negros eram vítimas de grupos racistas, eram proibidos de ter acesso à educação igualitária e não podiam sequer usar os mesmos transportes públicos ou os mesmos banheiros que os brancos – muitos foram covardemente assassinados!

Neste ambiente politizado, o blues, o jazz e o Soul ganharam novas abordagens em suas letras.
E agora, um pulsante novo ritmo trazia a alegria, o protesto e a sensualidade ao movimento.

Sensualidade? Isso mesmo, era comum entre os músicos negros americanos na época usar a expressão “Coloca um pouco mais de Funk nisso aí”, quando queriam mais sensualidade, mais ousadia, mais provocação nas interpretações.

O Funk no Brasil

No início dos anos 1970 cantores como Tim Maia e Tony Tornado traziam a influência das Soul Music e do R&B americanos para os solos tupiniquins.
Nessa época, eram organizados no Canecão, casa de espetáculos famosa no Río de Janeiro, encontros conhecidos como Bailes da Pesada, onde o Funk era a “Novidade”!

Com o tempo essas festas acabaram e os produtores passaram a promover bailes regados a Rhythm’ Blues, Soul e advinha?
-O Funk!

Apesar da variedade , o termo Baile Funk popularizou esses encontros.

A polêmica das Letras -1

Assim como as antigas canções caipiras eram inspiradas na nostalgia do homem do campo que se mudou para a cidade e a tristeza de quem ficou para lidar com a suscetibilidade do clima, a jovem guarda se inspirava nas paixões juvenis e amores, por vezes, não correspondidos, a bossa nova se inspirava no otimismo de tudo, o Tropicalismo na busca de mudanças e o sertanejo universitário…bem, esse eu não consegui entender a inspiração ainda … (risos) o Funk se inspira nas realidades e nos desejos dos seus compositores.

A expressão de raiva, a desconfiança nas leis e por vezes, o louvor a nomes do crime são reflexos de uma sociedade abandonada pelo estado, em que a ” lei e a segurança” estão a cargo de milícias e outros criminosos.

Uma sociedade que só é lembrada para fins de repressão.

A polêmica das Letras -2

Entendendo a Cultura

As letras de quaisquer canções refletem a cultura e os valores a que são expostos os compositores.

Isso talvez explique superficialmente, pois há ainda uma grande variedade de estilos dentro do Funk: o Melody, o Pagofunk, o Brega Funk e o Proibidão que se caracteriza por letras pornográficas, a apologia ao tráfico e ao uso de drogas ilícitas.

Música é um reflexo da cultura e uma forma de expressão.

É necessário critério ao se analisar as vertentes musicais.

Aquilo que ouvimos influencia de modo positivo ou negativo as nossas emoções e como em tudo, o mesmo se aplica ao Funk.

Confira os links abaixo:

Bossa nova e jazz: ‘um caso de influência recíproca’, segundo Tom — Senado Notícias

Como o funk surgiu no Brasil e quais são suas principais polêmicas? | Politize!

* A agressivade e obscenidade nas letras também são usadas com o objetivo de causar impacto, que é um método para gerar engajamento bem usado em nossos dias, nos mais variados estilos.

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O que é a música “brega”? – História

Um disco na vitrola. O que é a música brega e qual a sua importância da música brega na MPB?

Imagem de Essexweb1 por Pixabay

Explicando música brega

O Termo “Brega”,  para se referir a certas músicas, tornou-se popular na década de 1970, ganhou força nas décadas de 1980 e 1990 e é, hoje, um estilo musical no Pará.

Mas, calma… as coisas não são tão simples assim…

Um pouco de história.

Das décadas de 1940 a 1960, na era de ouro do Rádio, as canções mais populares eram as românticas. As interpretações transmitiam o sentimento por trás das letras nas melodias românticas e o drama em letras bem tristes (é verdade que às vezes, até exageravam um pouquinho  no modo de expressar  – “Tornei-me um ébrio”, Vicente Celestino é um excelente exemplo de interpretação dramática!).

Você consegue imaginar a dor imposta por Silvinho ao cantar: “Essa noite eu queria que o mundo acabasse, e para o inferno o Senhor me mandasse, para pagar todos os pecados meus...”(?)

Ou o Orlando Silva ” Tu és a criatura mais linda que meus olhos já viram, tu tens a boca mais linda, qua a minha boca beijou…” (?)

Influências…

O estilo de canto nas décadas anteriores eram influenciados pelo modo de cantar italiano e de países latinos, quanto aos arranjos musicais orquestrais eram também simples, as letras eram bem trabalhadas, lindas, poéticas.

Por fim, na década de 1960, o aparecimento de novos estilos como o Rock’n roll, Bossa Nova e a Tropicália (já quase no fim da década) despertou o desejo de partir para novas experiências.

E então, os jovens de classe média e alta passaram a se referir às canções e ao a estilo dos cantores das décadas passadas como sendo cafonas (que vem do italiano cafone, que significa camponês, indivíduo rude, estúpido), que significa de “péssimo gosto, sem elegância, espalhafatoso”.

A moda agora era a bossa nova, com arranjos marcados pela dissonância dos acordes, num estilo que soava semelhante a uma mistura do samba nacional desacelerado com o jazz americano.

As canções que não se ajustavam aos sofisticados novos arranjos não eram aceitas por essa “nova elite” como sendo música de qualidade.

Surge a MPB

Enfim, com a chegada da Tropicália, que fundia as influências regionais com o Rock, o declínio do Iê-iê-iê (conhecido hoje como Jovem Guarda) e da Bossa Nova, a música brasileira ganhava agora uma marca pela qual é conhecida até hoje: MPB.

MPB, Música Popular Brasileira, é o termo que define canções com arranjos melódicos um tanto mais complexos e letras bem trabalhadas.

A “elite” amava a MPB (alguns militares nas décadas de 1960 e 1970 não, mas isto é outra história! – Pra não dizer que não falei de flores…) e olhava a música mais popular com um certo desprezo.

Canções com arranjos simples, que falavam de amor de modo simples, canções engraçadas ou que não se ajustassem a determinados gostos perderam a alcunha de “Cafonas” e passaram a ser chamadas “Bregas”.

Mas, por que Brega?

A origem da palavra Brega é controversa, uma das explicações é que ela é derivada de Chumbrega que significa “de má qualidade, ordinário, reles”.

Sentiu um pouco do preconceito? – Pois era isso mesmo!

Mas eram essas canções que vendiam MUITO!

As grandes gravadoras mantinham, às vezes, dois selos, como a Polygram, que tinha a Polydor. Enquanto um  selo era responsável pelas  gravações de cantores da chamada MPB a outra era especializada em gravar músicas mais comerciais.

O interessante da história é que os chamados cantores bregas vendiam muito mais que os cantores MPB e as gravadoras sabiamente usavam o lucro dessas vendas para produzir novas obras de arte, de cantores de vendagens menos expressivas.

A palavra brega como adjetivo é usada de modo depreciativo, mas quando usada como  substantivo designa um ritmo paraense que tem influências nas músicas caribenhas, na lambada e na jovem guarda.

Resumo: O que ficou conhecido pelo nome Música brega não é um estilo ou um ritmo.

A música brega é na verdade um conjunto de canções populares, com arrranjos simples,  que falam de amor de forma simples e que tratam da realidade de pessoas comuns. Por isso são canções bem comerciais.

Canções diferentes – como as canções devem ser

Uma questão pessoal

E quando se trata de gostar… quem se atreve a dizer o que os outros devem gostar?

Podem influenciar para o bem ou  para o mal, é verdade, mas a decisão será sempre pessoal.

Música é música.

– Você pode gostar ou não. Ouvir ou não!

E como dizia o Cazuza: “O amor é brega”.

Então… esqueça o rótulo!

Esteja aberto aos vários estilos e curta aqueles que mais identificam a sua personaldiade.

Gilson Cruz

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Uma história – com muita música

Nilson Miller narra uma história com muita música

Imagem de Dawnyell Reese por Pixabay

 Por Nilson Miller

Era uma vez, numa pacata cidadezinha do interior da Bahia, quatro irmãos aficionados por boa música.

Admiradores de ícones como Roberto Carlos, Alceu Valença, Ritchie, Jorge Ben, The Beatles, Fevers, entre outros, eles viviam no começo dos anos 80.

Naquela época, os irmãos faziam sucesso em boates e clubes, onde exibiam seus dotes para a dança, outra paixão que compartilhavam.

Dominavam ritmos variados, da lambada ao pop, passando pelas baladas românticas, que dançavam com maestria.

Chegaram a competir em concursos, onde, no clímax de suas performances, arrancavam aplausos e exclamações da plateia, esforçando-se para que a coreografia, ensaiada por semanas, fosse executada com perfeita sincronia.

No desfecho de um desses eventos, foram coroados com o primeiro lugar, conquistando o troféu conforme as regras da competição.

Nota: Nesse evento, o grupo formado por três irmãos e um primo vindo de São Paulo, competiu sob o nome Grupo Dança’rt.

DESCOBERTA FASCINANTE

Viajando muito, um dos rapazes recebeu de seu tio uma fita cassete durante uma viagem, e ao ouvi-la, foram apresentados a uma melodia inédita para eles, estranha e diferente de tudo que já haviam escutado.

Desconheciam até o nome do ritmo musical.

Sabiam apenas que era dançante, harmônico, melódico e viciante, tanto que a fita foi tocada repetidamente em seu aparelho de som.

Com o tempo, após se familiarizarem com o ritmo, a fita desapareceu misteriosamente, sem deixar rastros, restando apenas na memória deles, sem que tivessem feito uma cópia.

Restou-lhes apenas a lembrança, e se perguntavam: “Quando ouviremos essas músicas novamente?”

Depois de um tempo, um programa de TV capturou sua atenção.

A reportagem apresentava músicas parecidas com as da velha fita, interpretadas por cantores de cabelos longos e emaranhados, como cordas.

Foi então, por meio desse programa, que descobriram que a música que tanto os havia marcado era o Reggae.

E que seu berço era a Jamaica, uma ilha no Caribe.

Meio caminho já tinha sido andado, mas… onde comprar  fitas ou até mesmo disco de vinil, para que não ficasse somente na recordação?

Foi então que Jai, um dos irmãos na companhia de Jessé, outro primo, menor de idade, a caminho da feira livre, onde se vendia de tudo, puderam escutar entre os muitos sons, ainda distante da feira   nas barracas de vendas de fitas um som característico, entre as muitas barracas  sua atenção se fixara em um senhor já idoso, que vendia discos espalhados pelo chão.

Ao observar mais de perto, notou que um daqueles discos era reggae, então, pediu ao senhor que tocasse, e logo ficou surpreso!

Todas as musicas escutadas estavam, também, naquela fita.

E agora já sabia que quem cantava era o jamaicano Jacob Miller. Conheça Jacob Miller, confira a playlist abaixo.

No momento ele estava sem dinheiro, então pediu ao senhor que tirasse o LP da vitrola, colocasse em sua capa e deixasse-o na mão do menor, enquanto ele iria provindenciar o pagamento.

O menino ficaria ali segurando o disco pois ele temia que alguém pudesse comprá-lo.

Ah! se o moleque solta e alguém compra… não teríamos história hoje!

A alegria foi geral entre eles, agora a visita ao senhor idoso era constante e às vezes conseguia encontrar mais novidades e assim aumentar seu acervo musical.

Ainda não conhece o Reggae?

Deixe-me compartilhar um pouco da história…

No início do século XX, a população jamaicana era em grande parte composta por camponeses descendentes de escravos, que mantinham viva a cultura dos antigos africanos, os maroons.

Foi dentro dessa comunidade que o mento, precursor do reggae, surgiu.

Podemos dizer que era uma forma musical que combinava a cultura africana e os tambores, que forneciam a percussão, com elementos da música europeia introduzidos pelos colonizadores ingleses e espanhóis.

O ritmo se assemelhava ao calipso. O mento se tornou a música rural da Jamaica, com letras que narravam histórias do campo e instrumentação que incluía principalmente saxofone, flauta de bambu, banjo e tambores.

Por volta de 1950, o mento, focado nas dificuldades da vida rural, começou a perder espaço com a chegada do R&B americano, que rapidamente ganhou popularidade entre os jamaicanos.

Em busca de algo mais animado e com a fusão de ritmos, surgiu o ska.

A música jamaicana se tornou mais americanizada, e os primeiros fãs do ska foram os moradores dos guetos, mas logo o novo ritmo dominou toda a ilha.

Com um ritmo dançante, o ska destacava-se pela forte presença de instrumentos de sopro, como trombone e saxofone, e rapidamente se tornou uma febre.

Era um ritmo acelerado e muito dançante, criado por artistas locais em uma única tarde para ser tocado nas pistas de dança à noite, com apenas duas faixas gravadas em um disco compacto. – Descubra Alton Ellis na playlist abaixo.

Hoje, ao mencionarmos a Jamaica, o reggae vem imediatamente à mente, mas isso quase não aconteceu.

Os jamaicanos ansiavam por inovações, e foi então que, em 1966, o cantor Hopeton Lewis, ao adaptar a canção “Take it easy”, sugeriu que diminuíssem o bpm (batidas por minuto) do ska, tornando o ritmo mais lento.

E assim foi, o ROCKSTEADY emergiu como um novo ritmo, influenciado pela Soul Music. Rapidamente, o Rocksteady ganhou popularidade não apenas nos guetos, mas em toda a Jamaica.

Muitos artistas se adaptaram rapidamente ao novo estilo e gravaram seus sucessos nessa nova onda, fazendo com que a Jamaica quase parasse ao som do Rocksteady.

Entre os veteranos do rocksteady, destacam-se Hopeton e Alton Ellis.

Enfim, o Reggae

Logo após, surgiu o Reggae.

Sabemos que o Reggae evoluiu do Ska e do Rocksteady, tendo surgido no final dos anos 1960.

Foi, contudo, na década de 1970 que este estilo ganhou fama mundial, marcando presença como um ritmo dançante e suave, com uma batida distintiva onde a guitarra, o baixo e a bateria são os instrumentos predominantes.

As letras do Reggae, que frequentemente abordam questões sociais, especialmente da realidade jamaicana, além de temas religiosos e problemas comuns em países em desenvolvimento, são quase um instrumento à parte, repletas de mensagens de paz.

Atualmente, o Reggae se diversificou em variantes como o Dancehall e o Ragamuffin, estilos musicais que sucederam o reggae.

No Brasil, especialmente no Maranhão, o Reggae, e mais especificamente o Lovers Reggae, uma versão mais romântica do gênero, é o que realmente predomina.

É lá que se adaptou a maneira de apreciar o ritmo, dançando bem juntinho com os parceiros, no estilo “Maranhon Style”, como canta a Tribo de Jah.

Temos também a versão gospel, uma delas cantada por um ex-integrante do Olodum, que popularizou o Samba Reggae, o nosso querido irmão Lazaro, que nos deixou, vítima de complicações da Covid 19.

Perda intragável!

Muitas são hoje as variantes, mas a tradição já adotada pela maioria amante do Reggae, aqui no Brasi é o roots reggae, (reggae raiz).

O expoente máximo, clássico, e o maior  de todos, é o homem que fez com que a Jamaica fosse conhecida pelo mundo através da suas músicas: Bob Marley.

Conheça a nossa playlist:

Veja mais em:  O tempo ( Contador de histórias) – Jeito de ver.

Contos de Carnaval (uma história com H)

Máscaras de carnavais e bailes de fantasia. Um texto bem humorado sobre o carnaval no interior.

Imagem de Adriano Gadini por Pixabay

A Multidão e o Ritmo do Carnaval

A cidade se aglomerava e, de repente, Dona Margarete gritava:
“Eu falei Faraó…”

Automaticamente, a multidão seguia naquela mais que animada romaria, cantando:
“Ê Faraó… Ê Faraó…”

Mas sou capaz de apostar que a maioria das pessoas não sabia cantar metade daquela letra complicada e imensa! Os compositores eram realmente geniais. Para a multidão, o importante era tentar cantar as frases ou mesmo as sílabas que conseguiam lembrar, esbarrar nos outros, dançar e, na maioria das vezes, apenas pular!

E por falar em dançar, a cada nova estação surgia uma nova dança: a dança da galinha, o Fricote, o Tchu-tchu, a manivela… Não dá pra lembrar de tudo! Esse era o Carnaval na capital e no interior da Bahia.

No interior, havia a micareta (e no momento NERD do dia, lembro que micareta vem de uma palavra francesa que significa “meio de quaresma”, período entre os dias 14 de fevereiro e 28 de março) e o trio elétrico tocando canções nordestinas animadas, arrastando um monte de gente pela cidade, num tour divertido, mas barulhento pra caramba!


O Trio Elétrico: A Invenção que Fez História

A banda Bamda Mel (isso mesmo, BaMda) puxava o “Prefixo de Verão” e pregava a paz na “Baianidade Nagô”. Um Cometa mambembe atingia em cheio a multidão que só queria “botar o bloco na rua”, enquanto o Frenesi balançava a massa.

Cabia tudo naquelas ruas: de Senegal, Moçambique, Madagascar e Bagdá a “Egito, Egito ê!” Quando a rodinha apertava, Sara Jane pedia que abrisse, mas era um “Auê” quando faltava freio no trio elétrico!

E por falar em falhas mecânicas, um dia os freios do trio foram curtir no meio do povo, e o caminhão desceu a ladeira desgovernado. Acho que os músicos ou se empolgaram demais ou se borraram de medo, pois o axé soou como um perfeito heavy metal! Poucas pessoas tiveram as pernas quebradas e, por sorte, não entraram para o grupo dos que “não iam atrás do trio elétrico” por motivos óbvios, como cantava Moraes Moreira.

Tudo começou na década de 1950, quando Dodô e Osmar colocaram aparelhos de som em um Ford 1929, conhecido como Fobica. No início, eram a Dupla Elétrica. Viraram Trio Elétrico ao convidar Temístocles Aragão, e o nome pegou. Na década de 1970, Moraes Moreira tornou-se o primeiro cantor de trios, e Armandinho Macêdo revolucionou com sua guitarra baiana.


Transformações e Nostalgia

Os blocos começaram a contratar artistas para animar seus associados protegidos por cordas, enquanto os “pipocas” aproveitavam o espaço que sobrava. O repertório do Carnaval mudou, e artistas de outros estilos foram incorporados. No interior, o prefeito pedia ao trio elétrico que parasse perto do cemitério para homenagear os foliões de outros tempos.

Quando as coisas esquentavam no centro, o guarda Miguel dava três tiros para o alto, lembrando que a homenagem aos antigos foliões já havia acontecido e que os brigões poderiam ser os homenageados do ano seguinte.

A Banda Doce Magia seguia com sua música, patrocinada pelo “costumeiro” apoio à cultura das pequenas cidades. Ah, como era bom quando tudo parecia ser mais simples, leve e cheio de histórias para contar.

Conheça mais a história dos micaretas no Canal MICARETAS ANTIGAS

Foto Almeida NO YOUTUBE, do pesquisador Ananias Almeida.

https://www.youtube.com/@micaretasantigasfotoalmeid7790

Veja mais em Um pouco de exagero (Humor) – Jeito de ver

Tradições – o que se precisa saber? ‣ Jeito de ver

A música atual está tão pior assim?

O importante papel das Estações de rádio na divulgação da música.

Imagem de Elad por Pixabay

Gilson Cruz

Músicas Inesquecíveis

Você lembra das frases seguintes nesses clássicos nacionais ?

Meu coração, não sei por quê, bate feliz...”  – Carinhoso, Braguinha (Letra) e Pixinguinha (Melodia)

Eu pensei que todo mundo fosse filho de…”  – Boas Festas, Assis Valente

“Agora eu era o herói e o meu cavalo…”  –  Chico Buarque( letra)  Sivuca (Melodia)

Veja… e não diga que a canção está perdida. Tenha…”  –  Tente Outra Vez, Raul Seixas/Paulo Coelho/Marcelo Motta

O que elas têm em comum? Todas foram compostas antes da década de 1980.

“Carinhoso” teve sua primeira gravação instrumental em 1928 e a versão cantada foi gravada pela primeira vez em 1937 por Orlando Silva. –  Carinhoso – Pixinguinha

Boas Festas, de Assis Valente, retrata a injustiça social do ponto de vista de uma inocente criança e foi composta em 1932. –  Posts | Discografia Brasileira

A melodia de “João e Maria“, criada por Sivuca na década de 1940, ganhou letra de Chico Buarque em 1976, narrando uma história de amor juvenil que não teve final feliz. –  João e Maria (canção) – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

A mensagem otimista de “Tente Outra Vez”, composta por Raul Seixas, Paulo Coelho e Marcelo Motta, surgiu em 1975.

Essas músicas marcaram época, mas hoje vemos um cenário diferente na música popular brasileira.

Atualmente, muitas canções abordam temas superficiais, separações e amores desfeitos com vozes padronizadas ( e às vezes, vozes bem desagradáveis), dificultando a diferenciação entre os artistas.

A falta de inovação, de qualidade e o jabá

Opiniões variadas refletem a preocupação com a qualidade atual da música brasileira. Victor, da dupla Victor e Léo, criticou a pornografia e a sensualidade excessiva nas letras das músicas sertanejas atuais, considerando-as impróprias para crianças.

Estilos como funk, axé e pagode também enfrentam um período desafiador, carecendo de inovação e qualidade. Muitas músicas atuais não refletem uma visão crítica da sociedade, desvalorizando a mulher, incentivando a violência e comercializando atitudes e comportamentos.

Onde estão os novos poetas, escritores, compositores e críticos que movimentavam e motivavam uma geração inteira?

Por décadas, as gravadoras usavam o “jabá” – pagamento para que certas músicas tocassem nas rádios – para promover determinados artistas. Essa prática, deplorável, ainda existe, mas em formas ainda mais obscuras.

Hoje, existe um “jabá 2.0”, onde artistas sertanejos boicotam cantores de outros estilos, como revelou uma ex-empresária da Anitta, expondo o poder do dinheiro do agro na indústria musical. – Ex-empresária de Anitta viraliza ao expor poder do sertanejo e influência do agro na música | Diversão | O Dia (ig.com.br)

Essa influência do agronegócio também se reflete nos empresários de muitos cantores sertanejos universitários, criando uma aliança lucrativa. – Agro, sertanejo e direita: uma aliança antiga e lucrativa (intercept.com.br).

A música de qualidade fica em segundo plano diante dessa manipulação, deixando de ser executada nas principais estações, que perdem sua essência e são substituídas cada vez mais por plataformas de streaming.

Apesar da corrente e da falta de divulgação massiva, boas músicas e excelentes músicos existem e resistem!

Novos e antigos cantores ainda compõem belas músicas, dê uma chance a si mesmo de usufruí-las, estão disponíveis nas mais variadas plataformas.

Leia mais em A música como produto e arte – uma história! ‣ Jeito de ver

 

 

 

Rosa Negra – Música de Ranne Ramos

Um homem, um violão, a arte A canção "Rosa Negra" é uma bela composição de Ranne Ramos. Divulgue a sua obra.

Imagem de Firmbee por Pixabay

 

 

 

Informações sobre a Música

ROSA NEGRA

Autor: Ranne Ramos

Ano : 2010-2011

Intérprete: Grupo Terra

A canção é uma homenagem  a uma colega dos tempos de escola que costumava se vestir de preto, recebendo o apelido de Rosa Negra.

A gravação foi realizada durante o ensaio do Grupo Terra, preservando erros da sessão.

 

 

Rosa Negra

 

A cor do som

na tristeza de um acorde menor

Da inocência, enclausurada ao riso, presa por um nó

 

E a minha dor, o meu amor

andam lado a lado com as estrelas

E ao deserto, fui atrás de uma miragem para que eu te esqueça

Rosa Negra

 

Te ver sorrir é melhor que contemplar o mar

E um universo sem razão

ri, como o seu olhar

E a vida flui como um Jazz, meio desconexo

E eu encontro a paz, que me traz enfim

um sentimento, complexo…

 

Rosa Negra…

Veja mais Veja mais em

 

Veja também Rosa Negra – Videoclipe da canção ‣ Jeito de ver

 

 

 

Porque se chamava moço…Clube da Esquina

Clube da Esquina

Celebração ao Movimento Clube da Esquina

Eu sou da América do Sul, eu sei vocês não vão saber!

Sou do mundo, sou Minas Gerais…

-“Para Lennon e McCartney”

A Originalidade do Clube da Esquina

A obra de Fernando Brant, Márcio Borges e Lô Borges, integrantes do Clube da Esquina, mostra que, mesmo sob influência de seus ídolos, o grupo possuía contribuições valiosas para o cenário musical.

Eles apresentaram uma mistura inovadora de ritmos que se equiparava à música do circuito anglo-saxão.

Isso fica sutilmente evidente na canção, que por meio de sua mensagem e diálogo, propõe uma troca cultural dos músicos com seus ídolos, refletindo a possível frustração do grupo em reconhecer seu potencial musical, limitado apenas pela barreira geográfica em comparação ao resto do mundo.

De fato, o Clube da Esquina é reconhecido como um dos movimentos musicais mais ricos e belos da história.

Início do Movimento e Contexto Cultural

Há cerca de 60 anos, nasceu em Minas Gerais o movimento conhecido como Clube da Esquina.

Essa expressão artística e cultural emergiu da amizade entre Milton Nascimento e os irmãos Márcio Borges e Lô Borges.

O primeiro encontro entre eles foi mágico: Lô Borges, com apenas dez anos, ouviu sons vindos dos andares de baixo e se deparou com Milton tocando uma belíssima canção.

Assim começou uma amizade que marcaria a música brasileira.

Analisando o contexto cultural e político

Durante a década de 1970, o Brasil vivia sob um regime militar autoritário.

A censura era forte, mas houve resistência artística e cultural.

Mesmo diante da intensa repressão ao talento e à liberdade de expressão, a letra de “Clube da Esquina II” faz um apelo à liberdade, insistindo que, apesar das adversidades, não se deve desistir de um sonho, pois “sonhos não envelhecem!”

Poesia e melodia

O Clube da Esquina, com suas letras poéticas e melodias envolventes, tornou-se um símbolo de liberdade e criatividade em meio à repressão.

O Clube da Esquina é um termo usado para se referir a um grupo de músicos, compositores e letristas que surgiu na década de 1960 em Belo Horizonte.

O movimento teve figuras proeminentes como Milton Nascimento, Toninho Horta, Wagner Tiso, Lô Borges, Beto Guedes e Márcio Borges.

As influências do Clube da Esquina são vastas.

Milton Nascimento incorporou elementos da música afro e latino-americana. Lô Borges e Beto Guedes reinventaram os Beatles e o rock progressivo, enquanto Toninho Horta mesclou características do jazz com a Bossa Nova.

Essas influências são evidentes em todos os aspectos do movimento, abrangendo desde a composição e arranjos musicais até as letras, processos de gravação em estúdio e as performances ao vivo.

Marco…

O álbum “Clube da Esquina” (lançado no início dos anos 70) é um dos maiores clássicos da música brasileira. Canções como “Trem Azul,” “Cais,” “Nuvem Cigana” e “Clube da Esquina No. 2” marcaram época e emocionaram gerações.

A melodia envolvente e as letras profundas abordavam temas como amor, política e justiça social.Famosa Capa do disco Clube da Esquina

Os primeiros discos de Milton Nascimento, embora não sejam estritamente de Bossa Nova, apresentam uma sonoridade muito próxima desse estilo, com arranjos orquestrados e o formato de canção “voz e violão.”

Na medida em que Milton agregava cada vez mais pessoas na produção de seus discos, a sonoridade foi se diferenciando.

O disco “Clube da Esquina” (1972) é tido como o marco inicial do movimento, com arranjos que expandem o horizonte das músicas para uma sonoridade próxima da música erudita e jazzística.

Discografia e Impacto do Clube da Esquina

Embora o Clube da Esquina não tenha sido uma banda formal, vários discos são considerados parte de seu legado devido à unidade sonora que apresentavam:

Clube da Esquina (1972): Com influência das odisseias dos mineiros, o disco queria mudar o mundo, inseminado por jovens com explosão de inventividade musical.

Clube da Esquina II (1978): Neste disco, Milton Nascimento e amigos organizaram uma produção musicalmente rica, com produção de Ronaldo Bastos.

O impacto político do Clube da Esquina foi significativo, embora o movimento não tenha sido explicitamente político.

Durante a década de 1970, a música popular era uma das formas de resistência e expressão da sociedade.

Artistas como Milton Nascimento e Lô Borges usaram sua música para transmitir mensagens de esperança, amor e crítica social.

Canções como “Cais” e “Trem Azul” abordavam temas universais, mas também carregavam uma mensagem implícita de resistência contra o regime.

A diversidade musical do movimento refletia a diversidade cultural e étnica do Brasil, promovendo a valorização das raízes brasileiras.

O Clube da Esquina influenciou muitos artistas da Música Popular Brasileira.

Inspiração para o nome…

Seu nome foi inspirado no cruzamento das ruas Divinópolis e Paraisópolis, localizado no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte.

Mesmo após décadas, sua sonoridade e poesia continuam a encantar e inspirar novas gerações.

O Clube da Esquina foi além das esquinas de Belo Horizonte e se estabeleceu como um ícone na música brasileira, exaltando a diversidade, a amizade e a inovação.

Não só deixou sua marca na música do Brasil, mas também atuou como um delicado instrumento de resistência e esperança em épocas turbulentas, criando um legado que continua a ecoar nos dias de hoje.

Leia também:  A música como produto e arte – uma história! ‣ Jeito de ver

Confira também A história de Clube da Esquina (uol.com.br)

Explore nossa seleção musical que apresenta canções icônicas dos artistas do Clube da Esquina e de outros que se inspiraram nesse movimento singular.

O Arrocha: Uma viagem na música brasileira

Imagem de Pexels por Pixabay

Enquanto me esforço para focar no meu texto, um vizinho resolve ligar seu rádio, e eis que surge: uma voz penetrante, uma melodia simples, letras que falam de amor, traição, dor… meu Deus, que sofrência!

Ah, o famoso Arrocha!

De fato, acostumado com os desafios da vida, permiti que minha mente viajasse até o final dos anos 90 e início dos 2000, uma época em que as rádios tocavam canções que já apresentavam características desse estilo musical.

Artistas emergentes criavam suas obras ou faziam versões de clássicos ao som de teclados eletrônicos.

Deixe de lado o preconceito e venha fazer parte desta história também.

Vamos lá…

Origem e influências

O arrocha é um gênero musical originário da Bahia no final dos anos 90, resultado da mistura de seresta, música brega e bolero, e foi influenciado por artistas como Odair José e Reginaldo Rossi, das décadas de 70.

Caracteriza-se por uma instrumentação simples de teclado, bateria eletrônica e saxofone, com letras que exploram temas amorosos.

Lairton e seus teclados se sobressaíram como pioneiros do estilo com a música “Morango do Nordeste” na década de 90. Esta música se tornou uma febre, sendo regravada por cantores de vários estilos.

Promovendo ainda mais a sua popularidade nas rádios da Bahia, artistas como Júlio Nascimento, Tayrone Cigano e o Grupo Asas Livres ganharam espaço pelo Nordeste e pelo Brasil.

Inicialmente associado às classes populares, o arrocha superou barreiras sociais e alcançou grande popularidade. Eventos como o “Reino do Arrocha” foram cruciais para consolidar o gênero na mídia e nas estações de rádio.

Com o passar do tempo, o arrocha evoluiu, mesclando-se com outros ritmos musicais, como o sertanejo, dando origem ao sertanejo arrocha, que combina batidas eletrônicas e teclados com a alma do arrocha.

Hoje, o arrocha continua com sua marcante presença na música brasileira, representando paixão e autenticidade, influenciando diversos gêneros musicais e conquistando novos fãs.

A palavra “arrocha”, que denota “apertar com força” ou “dar um abraço apertado”, se popularizou com o cantor Pablo, um dos precursores do estilo.

Artistas como Pablo, Nara Costa, Silvano Salles e Tayrone Cigano destacaram-se no arrocha, ampliando sua popularidade nacional através de apresentações em programas de TV de grande audiência.

Aceitação

Apesar das críticas iniciais e da resistência de setores elitistas, o arrocha obteve aceitação e reconhecimento, alcançando um patamar inédito na música brasileira. Este gênero musical é notável pela simplicidade instrumental, envolvendo geralmente teclado arranjador, bateria eletrônica e saxofone, com letras que versam sobre romance e sensualidade.

O gênero também exerceu influência sobre a música sertaneja, criando o estilo “sofrência”, o que impactou, até certo ponto, os artistas de arrocha. A sofrência foi vista como sinônimo de arrocha, especialmente quando o cantor Pablo atingiu sucesso nacional em 2014 com a canção “Fui Fiel”, inspirando artistas sertanejos a adotarem o estilo do arrocha.

Enquanto concluo esta jornada pela história, noto como antigas tendências ressurgem, inspirando novos estilos que, em sua essência, são muito semelhantes aos originais, mas que criam trajetórias que perpetuam o legado da arte e da cultura.

Como todos os estilos, o Arrocha pode ser encarado como uma nova roupagem para antigos estilos, que também foram evoluções de outros e outros.

Ao contrário do que muitos pensam, a linguagem deste estilo é a linguagem popular, aquilo que é comum à vida e para ressignificar a vida.

Paixões passageiras, relacionamentos e crises — todo estilo em evidência traz um pouco daquilo que acontece no dia a dia. E para entender o que acontece na sociedade, observe o que trazem as letras das canções: elas trazem muito mais que palavras desconexas ou frases bonitinhas — elas trazem histórias: agradáveis ou não.

Leia também: A música atual está tão pior assim? ‣ Jeito de ver