Apenas mais um homem invisível

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Acordava todo dia antes do sol e seguia para mais um dia de rotina.

O caminho era longo, repetivivo – as mesmas pedras, as mesmas plantas, as mesmas pessoas que cantavam para espantar o sono enquanto a cidade dormia.

As manhãs transbordavam de angústia, com prazos, clientes nervosos, patrões enfurecidos e de respostas ríspidas.

Cada instante era um exercício de sobrevivência, enquanto pensava na vida dos dependentes, desapontados por não alcançarem o luxo.

O salário do fim do mês, cobria-lhes o sustento, mas não criavam asas. E as contas cresciam.

E todos o dias, neste exercício de fé, guardava dentro de si a frustração de não entender onde era mais infeliz:

Se na rotina estressante do trabalho ou no desapontamento do lar.

E sua vida foi um mero disfarce, ninguém o viu de verdade!

Ninguém jamais viu o seu verdadeiro sorriso.

Leia mais Preencha com detalhes o quadro do seu dia! ‣ Jeito de ver

 

A prisão da alma – uma mente cativa

A imagem do desânimo.

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Ele saiu de casa determinado a acabar com o mundo

não retribuía aos acenos

não sorria,

esbravejava com  quem o cumprimentava.

Ele partiu de casa, determinado a revidar contra o mundo

todas as injustiças que a vida lhe impôs:

as perdas, a solidão, a timidez

golpeava o ar, como a um adversário imaginário.

Saiu de casa

apenas para fazer o mesmo:

sua rotina, sua pressa, sua raiva

e não queeria mudar.

Saiu

apenas por sua obrigação

por um nada, por um fim de mês

pela raiva…

 

E teve um péssimo dia…

Pois estava preso…

numa mente cativa!

Gilson Cruz

Veja mais em O Milagre da Atitude: O sentido no Cotidiano ‣ Jeito de ver

 

A difícil arte de envelhecer juntos.

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Envelhecer não é tarefa fácil.

Não me refiro apenas ao envelhecimento natural que vem com o tempo, mas ao processo em que, apesar das histórias que carregamos, tentamos disfarçar com tinturas e atitudes que não combinam mais com o nosso verdadeiro eu.

Como assim? A pessoa não deve tentar se manter jovem ou cuidar da aparência?

Permita-me explicar…

Na infância, somos naturalmente engraçados, desde o jeito de andar até as primeiras palavras e a inocência que nos define. Esta fase é frequentemente a mais bela da vida, enquanto a inocência ainda nos envolve.

No entanto, a infância passa rápido e, às vezes, resiste em dar lugar à adolescência, e essa transição pode ser difícil.

Durante a adolescência, as primeiras paixões podem ser tão comuns quanto músicas ruins em dia de feira – uma experiência inevitável!

Essas primeiras paixões vêm acompanhadas de solidão, insegurança, medo e, muitas vezes, baixa autoestima.

Parece que estamos em um curso intensivo para enfrentar a vida adulta e suas responsabilidades, e talvez para encontrar a companhia que estará ao nosso lado até o fim.

Não estou sendo romântico (apesar de ser naturalmente assim…), mas é exatamente como nos sentimos.

Durante a fase adulta, nossas percepções da realidade mudam. Os sonhos de criança e a dor que se curava com um beijo carinhoso já não têm o mesmo efeito.

As paixões eternas da juventude podem se tornar velhas lembranças, nem sempre tão belas quanto antes.

Percebemos que nem todos os sonhos se realizam e que a vida é uma mistura de ganhos e perdas.

Essas experiências moldam quem somos.

Envelhecer é lembrar que o livro da vida ainda está aberto e deve ser escrito com alegria e vontade – até que a tinta se acabe.

Às vezes, perdemos nossos sonhos e ambições. Na tentativa de esquecer o que não pode acontecer, podemos tentar apagar tudo o que remete ao passado, o que pode nos afastar das pessoas que amamos.

Esquecemos das virtudes que nos aproximavam e começamos a olhar com desprezo até mesmo para aquilo que nos alegrou por muito tempo.

Não sabemos mais o que amamos, o que esperamos ou por que amamos e esperamos.

Nos tornamos pessoas impacientes!

Assim, quando a velhice chega, pode parecer que toda a nossa história, com erros e acertos, não valeu a pena. Tornamo-nos rabugentos e solitários.

Sim, a consciência da brevidade da vida pode encurtar a nossa visão. Não enxergamos mais horizontes e passado, que são rascunhos da nossa história. As linhas escritas parecem esboços inúteis.

Essa experiência é comum a todos, e a forma como a encaramos pode fazer a diferença.

Os sonhos não precisam ser os mesmos, assim como a aparência também não é mais a mesma.

No entanto, a velhice não significa o fim da capacidade de amar e de sentir alegria. É uma oportunidade para repensar.

Houve perdas e ganhos!

Saber rir, aceitar os novos traços e fios descoloridos pode ser o caminho para abraçar a si mesmo e valorizar as pessoas que amam você.

Não são tinturas ou procedimentos estéticos que nos manterão jovens para sempre!

Envelhecer e permanecer jovem é lembrar que o livro da vida ainda está aberto e deve ser escrito com alegria e vontade – até que não haja mais tinta.

Leia o conto Versos sem destino ( um conto ) ‣ Jeito de ver

Clube dos 27 – Não há glamour na tragédia

Clube dos 27 - A glamourização da tragédia.

O que é o Clube dos 27? (Imagem: Pinterest)

Clube dos 27 – Não há glamour na tragédia

Amy Winehouse, Kurt Cobain, Robert Johnson, Brian Jones (membro fundador dos Rolling Stones), Janis Joplin, Jimi Hendrix, Jim Morrison (do The Doors) – o que eles têm em comum?

Artistas de sucesso do mundo da música que tiveram suas vidas interrompidas aos 27 anos. Daí a origem do termo “Clube dos 27”.

A criação de termos como “Clube dos 27” visa dar uma áurea de glamour, magia e mesmo mistério ao fato trágico de que pessoas públicas foram trituradas pela máquina da indústria da música.

Não há glamour algum na morte da jovem Amy Winehouse, que teve uma vida conturbada e seu talento natural explorado por todos ao seu redor.

Seu estilo único de cantar, que trazia um misto da dor do Soul dos anos 60 e a energia pulsante do Jazz dos anos 40, numa roupagem moderna e eletrizante, chegou ao fim no dia 23 de julho de 2011.

Ela ingeriu altas doses de álcool.

Consegue imaginar quão perturbada estava a mente dessa jovem cantora?

Não há beleza em se perder tão jovem!

Brian Jones, membro fundador dos Rolling Stones, foi afastado da banda que criou, pois já não conseguia mais cumprir compromissos, nem ter o mesmo desempenho como músico, devido ao seu vício em drogas.

No dia 3 de julho de 1969, foi encontrado morto em sua piscina. A suspeita é que o uso de drogas tenha facilitado sua morte.

Consegue imaginar o drama ou desespero causado pelo vício em drogas?

Artistas virtuosos como Jimi Hendrix (18/09/1970), Jim Morrison (3/07/1971) e Janis Joplin (4/10/1970) tiveram morte similar.

O desespero de escapar, por instantes, dos seus pesadelos, ou de esquecer as pressões do sucesso, resultou no abreviamento de suas vidas e, consequentemente, carreiras.

Robert Johnson, chamado de Rei dos Delta Blues, morreu de sífilis em 16 de agosto de 1938.

Alguns defendem a ideia de que morrer no auge é uma maneira de eternizar-se, ser lembrado como jovem – jovem para sempre! Essa ideia romantiza todo o sofrimento e desespero escondidos em cada segundo das vidas dos biografados.

É um pensamento explorado pelas indústrias que continuam lucrando com os espólios de artistas que, sob a resposta primária de não serem esquecidos, geram bilhões em lucros.

O fato de alguns perderem a liberdade de sair às ruas por causa de fotógrafos clicando cada centímetro de seus passos, que gostariam de voltar para casa após os shows e receber o abraço de alguém que sentisse amor de verdade por eles, é tão romântico quanto o vazio que deixaram em suas famílias.

Romantiza o fato de que perderam também a liberdade criativa e se tornaram reféns de uma indústria que suga cada gota de suor e sangue criado cuidadosamente para seus personagens.

Romantiza o fato de que muitos se perderam em seus personagens.

E enquanto isso, meros sonhadores romantizam a eternidade não usufruída pelos artistas, que não tiveram o prazer de ver seus filhos correndo no jardim, envelhecer ao lado da pessoa amada e se tornarem apenas meros adultos quadrados – mas, amados de verdade.

Não há beleza em se perder tão jovem.

Leia também: Propaganda musical e Empobrecimento cultural ‣ Jeito de ver

Clube dos 27 – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

Quando tudo não é o bastante

Vivemos numa teia.

Imagem de Gabi por Pixabay

Aranhas, não gosto muito de aranhas…

Mas, o que é que isso tem a ver com  o título?

Vamos ao texto.

Saber que nem sempre conseguiremos alcançar  as nossas metas parece fácil.

Por exemplo, às vezes, percebemos que o esforço por algo valeu à pena. Quando os resultados são perceptíveis, nós ficamos felizes.

Mas, em algumas situações tudo que fazemos se parece um  mero rascunho, sim, as coisas parecem não estar no lugar correto…  ficamos desanimados. E agora?

Isso acontece quando sentimos a falta de encorajamento, elogios e apoio.

O encorajamento é o ato de inspirar, motivar ou dar apoio a alguém, incentivando a continuar em direção a seus objetivos ou a superar desafios. A falta desse apoio pode gerar sentimentos de insegurança e desânimo.

Elogios podem ser definidos como expressões de apreço, admiração ou reconhecimento dirigidas a alguém por suas habilidades, realizações ou comportamento positivo.

A competitividade atual tornou a chamada “crítica construtiva” mais comuns que elogios sinceros. Isso talvez porque o crítico muitas vezes se apresente como alguém em uma posição superior à do criticado.

O elogio quando dado de forma correta pode surtir efeitos bem mais positivos do que as chamadas críticas construtivas. Quando o elogiado entende o motivo do elogio, isso o motivará a repetir ou melhorar ainda mais o desempenho.

O elogio quando dado de forma correta pode surtir efeitos bem mais positivos do que as chamadas críticas construtivas.

Por outro lado, o que fazer quando há algo a ser aprimorado?

Mostrar o caminho, dar o exemplo  é muito mais produtivo do que gastar todo o vernáculo do mundo em “críticas construtivas”.

E enfim, apoio.

Este pode ser definido como suporte físico, moral ou emocional para ajudar a alguém em necessidades, nos objetivos ou desafios. Fornecendo recursos, encorajamento, orientação ou assistência prática.

A falta destes três elementos pode gerar a sensação de que todo o esforço, não foi o bastante.

Aprender que nem sempre se chegará ao fim do percurso é essencial para ter um conceito correto a respeito de si mesmo. Mas, não se deve desprezar aquilo que foi alcançado ou parcialmente alcançado.

No dia a dia, aplique o princípio dos três elementos citados (encorajamento, elogio e o apoio). Seja você mesmo aquilo que se espera nos outros. As boas atitudes, também são contagiantes!

Lembre, na teia em que vivemos, cada movimento afetará, de forma  positiva ou negativa, a vida de quem nos cerca.

Que cada vibração que dermos nesta teia espalhe a energia necessária para que cada um possa espelhar e espalhar a mesma força  também aos demais.

Leia também: A beleza da individualidade ‣ Jeito de ver

 

O mistério dos pedalinhos mágicos

Pedalinhos, Gramado

Imagem de Pedro Dias por Pixabay

Para lembrar a infância…

O Pedalinho Mágico

Aquele pobre menino tinha um sonho, apesar da tristeza de crescer naquele lugar.

Longe do frio de sua casa, encontrava paz naquele refúgio distante dos sons da cidade e dos gritos de sua família.

Era o seu paraíso…

De fato, era um lugar encantador.

A grande casa amarela, rodeada de árvores refletidas no lago, era uma imagem para se guardar na memória e nunca mais esquecer.

Dizia-se que o encanto daquele lugar trazia paz às mentes conturbadas que visitavam aquele ambiente paradisíaco. Pessoas de todos os cantos traziam suas dores, medos e preconceitos, e sentavam-se à beira do lago…

Mas o verdadeiro encanto se revelava ao deslizar sobre aquelas águas. As memórias se dissipavam e as pessoas se renovavam ao partir dali…

Quem descobrisse o poder daqueles pedalinhos se tornaria rei…

E ele descobriu.

Veja também  De pernas pro ar ( Um conto) ‣ Jeito de ver

Viver Plenamente o Presente

É natural estar um pouco inseguro quanto ao futuro.

Tantas são preocupações: contas, educação de filhos, saúde, emprego… CHEGA! Se eu tiver que  listar tudo aqui,  vou acabar esquecendo da vida!

Os problemas e preocupações atuais podem nos afetar de modo a nos tornar pessimistas ao planejar o futuro.

Mas, como olhar para o futuro?

Bem, o problema talvez esteja em “olhar” para o futuro e esquecer de sentir o presente.

O presente está sempre em movimento, como um garçom te trazendo emoções básicas e bárbaras, na mesma bandeja, para o seu seu dia.

As cores, a arte, os dramas estão lá para serem vistos e vividos e como não dá para viver o ontem – o presente pode ser um excelente presente! ( Trocadilho infeliz!)

Portanto, que tal se concentrar no que pode ser feito hoje?

Encarar o PRESENTE com um pouco de leveza é um meio de se reconhecer que há coisas que podem ser feitas agora e coisas que mesmo transpirando toda a angústia e vontade só poderão ser feitas amanhã, sem nenhum prejuízo ao mundo ( ou à sua saúde mental).

Seja responsável, não um chato perfeccionista, respeite o espaço dos outros – lembrando sempre que as pessoas não existem por sua causa e nem você por causa dela, e que mesmo assim vivemos numa teia, que o movimento de um abalará ainda que levemente o espaço do outro.

Respeite o espaço.

Sim, viver plenamente o presente (com responsabilidade), saber aguardar o momento certo (sem imediatismo desnecessário) e respeito ao espaço do outro, pois ele vem, o futuro sempre vem…

Seja otimista, isso ajuda a encarar a ansiedade com leveza, pois o futuro sempre chega, ainda que se feche os olhos.

Veja mais em: Trem da vida (uma mensagem simples) – Jeito de ver.

Um Professor (os desafios de um educador!)

Um professor. O texto sobre os desafios de ensinar História.

O Professor

Imagem de Pexels por Pixabay
Era ainda o ano de 2005 e o professor de História, Régis, se preocupava com a falta de interesse político dos alunos na escola onde lecionava.
Era comum aos alunos, velhas frases como: “Políticos são todos ladrões”, “Já que eles vão roubar mesmo, meu voto não sai de graça”, “Sindicalistas são todos vagabundos” e frases um pouco menos otimistas que estas.

Alguns jargões foram criados durante os anos em que o Brasil esteve sob Regime Militar (Ditadura) 1964-1985 e outros criados por empresários que também estavam muito preocupados com o bem estar geral ( se você acreditar, tudo bem…)

Disposto a mudar o ponto de vista de seus alunos, ele decidiu criar o projeto ” Construindo Cidadania” e neste, todas as Sextas-feiras um grupo de vinte alunos teria a honra de assistir a Sessões da Câmara Municipal de Vereadores – fazendo observações a respeito da ordem e dos projetos.

Um outro grupo analisaria a história do Município, fazendo breves biografias de Prefeitos e vereadores, entrevistaria também a vereadores em exercício.

Os alunos ficaram empolgados.

O questionário a ser aplicado aos vereadores locais trazia as seguintes perguntas: Nome completo e resumo biográfico, como se interessou por política? Quando se candidatou pela primeira vez? Quantos projetos teve o privilégio de elaborar e quantos foram aplicados no município?

Enfim, chega a manhã de Sexta-Feira, precisamente 10:30, e começaram os ritos na Sessão da Câmara.

O Presidente da casa iniciava com formalidades, as boas-vindas, quando silenciosamente os alunos sentavam e aguardavam com interesse o diálogo entusiástico de vereadores, os debates, o dedo no olho, o tapa na cara – opa! me empolguei um pouco, deixe-me voltar aos trilhos...

As cadeiras na câmara, destinadas ao público, estavam novinhas em folha! E agora sentiam a alegria de acomodar pessoas interessadas em política! – O problema é que os nobres não estavam preparados, e como não havia assunto a ser debatido a reunião foi cancelada, adiada para a semana seguinte.

E na semana posterior, as cadeiras da câmara sentiam-se úteis novamente, novos jovens aguardavam os vereadores que chegavam desconfiados e perguntavam: “Quem mandou esses baderneiros aqui?” –  baderneiros que não faziam baderna e que apenas aguardavam a reunião iniciar para entender pra quê raios servia um vereador.

E por falta de assunto e excesso de desconfiança a Sessão foi novamente adiada!

E os alunos ficaram perplexos! – Parte final

Ainda mais perplexo ficava o Professor Régis pois seria chamado e orientado pela coordenadora municipal de educação a encerrar seu projeto, pois os alunos viam causando transtornos às sessões da câmara daquela cidade.

Talvez os vereadores fossem tímidos demais para apresentar as suas propostas ou talvez não tivessem ideia alguma a respeito da utilidade dos seus cargos eletivos.

E o professor humildemente, se calou.

E os velhos jargões se tornaram ainda mais fortes.

ilson Cruz

Leia mais em: O tempo ( Contador de histórias) – Jeito de ver

 

 

 

 

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