O mistério dos pedalinhos mágicos

Pedalinhos, Gramado

Imagem de Pedro Dias por Pixabay

Para lembrar a infância…

O Pedalinho Mágico

Aquele pobre menino tinha um sonho, apesar da tristeza de crescer naquele lugar.

Longe do frio de sua casa, encontrava paz naquele refúgio distante dos sons da cidade e dos gritos de sua família.

Era o seu paraíso…

De fato, era um lugar encantador.

A grande casa amarela, rodeada de árvores refletidas no lago, era uma imagem para se guardar na memória e nunca mais esquecer.

Dizia-se que o encanto daquele lugar trazia paz às mentes conturbadas que visitavam aquele ambiente paradisíaco. Pessoas de todos os cantos traziam suas dores, medos e preconceitos, e sentavam-se à beira do lago…

Mas o verdadeiro encanto se revelava ao deslizar sobre aquelas águas. As memórias se dissipavam e as pessoas se renovavam ao partir dali…

Quem descobrisse o poder daqueles pedalinhos se tornaria rei…

E ele descobriu.

Veja também  De pernas pro ar ( Um conto) ‣ Jeito de ver

Voo efêmero – um breve encontro

Borboletas no jardim.

Imagem de Bradley Howington por Pixabay

Soube da chegada das borboletas.

O sol estava lindo,

não demoraria.

Preparei o jardim

com as mais belas flores,

elas ficariam

E enquanto a relva ainda era verde

e o orvalho da manhã

acentuava as cores de alegria,

elas partiram…

Borboletas vivem brevemente.

Gilson Cruz

Leia também  O pequeno mundo de Lis ( Poema à Felicidade) ‣ Jeito de ver

Poema ao amanhecer do Outono

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Imagem de wal_172619 por Pixabay

Por Gilson Cruz

A calma nas ruas

e o gosto suave do frio que se aproxima

Que me trazem de volta o sabor do encontro das estações

Flores tímidas,  nordestinas

Olhar suave de menina…

Pessoas que passam nas mesmas ruas

sem contemplar o céu

Sem estrelas, sem lua, sem nada

como num branco papel

A ser preenchido com letras, palavras, com lágrimas

E quando se retirar o véu…

dele brotará um sol

e ventos, do olhar que fascina

que trazem das estações, o encontro

de flores tímidas, nordestinas

onde  se escondem atrás de nuvens, estrelas

e o brilho doce do olhar de menina.

Leia também  A pequena bailarina (pequenos versos!) ‣ Jeito de ver

 

Ecos da Eternidade: Versos do inverso

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Imagem de Лечение наркомании por Pixabay

Por Ranne Ramos

Digo sobre a morte com ênfase eterna
Num gosto intragável de amianto
Em tese profunda abandono a vida
Em grito silencioso sufoco o pranto

De alma degradada e aflita
Uma foice rompeu as minhas veias
Tenho um arame entrelaçado ao peito
E uma agonia morbida que me rodeia

Bebo o formol que me conserva
E fumo passados em tragos finos
Escrevo poesias com faca em minha carne
E o sangue que sobra eu rego destinos

O meu cadáver será esquecido
Em cheiro pútrido esperando virar pó
Em menos de uma semana os vermes
Comerão um corpo inchado sob o sol

Nos olhos fundos de uma alma fria
Estarão ecos em presságios funestos
Diante de todos negarei a vida
E ante ao caderno confessarei os versos

Perdido em uma densa floresta de ideias
Que em todo conceito é um repúdio a vida
Espero que meus ossos virem fogueira
Em minha carne apodrecida

Serei alimento para as flores
De um jardim frio e oculto
Estarei livre entre as gramas
Que rodeiam meu sepulcro

Parecem até espelhos abandonados
Algo vomitado sem nenhum critério
Mas é só um clamor tácito
De uma alma que vaga em um cemitério.

 

Observação do site:

Este poema aborda temas sensíveis relacionados à morte, depressão e autodestruição. Recomendamos sensibilidade ao ler ou compartilhar, especialmente se você ou alguém próximo estiver enfrentando dificuldades emocionais.

Ao ler este texto, incentivamos a reflexão sobre saúde mental e a busca por apoio profissional, se necessário. Lembre-se de que você não está sozinho e que há recursos disponíveis para ajudar durante momentos difíceis.

 

Leia também: A esperança (Poesia de resistência) ‣ Jeito de ver

A Escola de Samba Unidos por Natureza

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Imagem de Monica Volpin por Pixabay

Mestre Arlindo estava preocupado.

Era o primeiro ano em que a Escola Unidos por Natureza disputaria o acesso à décima divisão das Escolas de Samba e não sabia sobre o quê escrever.

Isso porque todos os temas possíveis já estavam comprometidos e seriam abordados por outras agremiações, e nenhum barão do bicho iria querer colocar seu nome numa escola fraca. E convenhamos, repetir o tema dos outros era pedir pra sair!

Daí, o Sr. Martins, um dos compositores, teve a brilhante ideia de compor um samba enredo como nenhum outro.

Um samba que trouxesse toda a história do mundo, sem refrão ou frases repetidas.

E assim se deu, depois de duas longas semanas, o Samba Enredo estava pronto. Os compositores sofreram em pesquisas, mas, ufa! venceram o desafio!

Mas tinha um probleminha: Era um samba de 96 páginas e ninguém conseguiu memorizar absolutamente nada daquilo que foi escrito…

Daí uma nova brilhante ideia: a gente leva por escrito e canta.

E chega o grande dia:

A Portela da Fazenda trazia a ficção científica e mergulharia no mundo dos ETs, tanto que o ET Bilu foi convidado e aparentemente estava lá, foi o que deduziram pelos gritos do Alien: “Busquem conhecimento” enquanto levantavam os braços imensos. – A plateia veio abaixo.

A agremiação “O Salgueiro que você plantou” traria os seis mil anos de escravidão e para surpresa de todos, inclusive dos figurantes, os chicotes eram de verdade e estalavam nas costas, com a mesma cadência do samba enredo: “Mortes na senzala”.

– E o povo aplaudiu pensando que era encenação…

O Beija Flor do Jardim trazia a história da evolução política no país, é incrível como representaram fielmente os políticos e familiares ficando ricos e os pobres se contentando com migalhas.

Foram bem convincentes, tanto que o público passou a atirar pedras nos sambistas…

Outras escolas se seguiram como “Mocidade dependente dos pais”, “Viradouro da esquina”, “Vira Isabel”, todas com nomes que lembravam as do grupo principal.

A plateia já tinha decidido.

A apresentação extraterrestre tinha sido a melhor!

Enfim, chegou a hora mais esperada: “E com vocês, Unidos por Natureza” e o enredo…”

Esqueceram de passar o tema para o locutor, que gritou: – ” Vai lá!”

O Grupo dos cantores pegou apressado suas páginas com a letra do samba e os ritmistas puxaram a música…

Mas, como toda história tem um detalhe… Apanharam na pressa as páginas erradas, e não tinha mais volta.

E Arlindo, nervoso, suando frio, intestino revirando, grita: “Natureza chamou…”

E o público, se identificou de imediato com a letra, aplaudiu freneticamente, respondendo em coro:“Natureza chamou”

E eu me apressei… Eba Eba

Eu me apressei” – Respondiam emocionados…

Corri pra qualquer lugar

NA-NA-Natureza Quem tem um trono É Rei…”

E NO IMPROVISO MAIS BELO E SINCERO DA HISTÓRIA, O PÚBLICO INOCENTE FOI CONQUISTADO e os juízes não conseguiram dar menos que a nota máxima em todos os fundamentos.

O acesso à nona divisão estava garantido.

E até hoje, esse é o samba mais famoso das escolas que por ali desfilaram…

Leia também:  Um E.T em meu quintal (Um dia estranho) ‣ Jeito de ver

Maio – histórias e curiosidades deste mês

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Imagem de Ronny Overhate por Pixabay

 

Maio, derivado do latim “Maius”, foi nomeado em honra à deusa grega Maia. Este mês tem suas raízes na Roma Antiga e homenageia a deusa romana Maia, ligada ao crescimento vegetal e à fertilidade.

Maia, conhecida como mãe de Hermes, foi associada na mitologia romana à deusa da fertilidade Bona Dea, cujas festas eram celebradas em maio. O poeta Ovídio propõe uma segunda origem para o nome, sugerindo que maio vem dos “maiores” (do latim “maximus”, uma forma abreviada de Maius Juppiter), referindo-se aos mais velhos, enquanto junho seria dos “iuniores”, os mais jovens (Fasti VI.88), embora seja uma etimologia popular.

Para os romanos, maio era um mês importante, marcando o início da primavera e o período de preparação para o plantio e festividades em honra às divindades da fertilidade e da agricultura.

Essa tradição romana persistiu ao longo dos séculos, influenciando a nomenclatura dos meses em vários calendários modernos.

Curiosidades:

O Dia do Trabalho, celebrado em 1º de maio, também é conhecido como Dia do Trabalhador. Esta data homenageia a luta dos trabalhadores de Chicago em 1886 por uma jornada de trabalho mais curta, de 13 a 17 horas para 8 horas diárias. A França foi o primeiro país a declarar o 1º de maio um feriado em honra aos trabalhadores, seguido por outros países. No Brasil, o dia foi oficializado em 1925.

Dia das Mães (segundo domingo de maio):
A celebração do Dia das Mães tem origem na Grécia Antiga, em homenagem a Reia, mãe dos deuses. No Brasil, a primeira celebração foi em 12 de maio de 1918 pela Associação Cristã de Moços de Porto Alegre e se tornou oficial em 1932, durante o governo de Getúlio Vargas.

Dia Internacional da Família (15 de maio):
A data foi criada em 1993 pela Assembleia Geral da ONU para destacar a importância da família no desenvolvimento individual.

Maio é um mês repleto de celebrações significativas:
O Dia da Literatura Brasileira, em 1º de maio, homenageia grandes escritores como José de Alencar, autor de “O Guarani”, “Iracema” e “Ubirajara”.

O Dia Nacional da Ética, em 2 de maio, ressalta a importância de manter princípios éticos em todos os aspectos da vida.

Em 3 de maio, o Dia Internacional da Liberdade de Imprensa celebra o direito dos jornalistas e comunicadores de divulgar notícias livremente, sem censura.

Também em 3 de maio, o Dia do Pau-Brasil presta tributo à árvore que deu nome ao nosso país.

Para os amantes da música, a canção “My Girl”, de Smokey Robinson, famosa na voz do grupo The Temptations, traz nos versos iniciais: “I’ve got sunshine on a cloudy day, when it’s cold outside I’ve got the month of May” (“Tenho um raio de sol em um dia nublado, quando está frio lá fora, tenho o mês de maio”  – Tradução livre).

Enquanto o hemisfério sul vivencia o outono em maio, o norte se alegra com a primavera, trazendo novas cores e fragrâncias, e um ar mais romântico.

Não espere a primavera para começar de novo; o bom é sempre retomar… esse ciclo deve ser contínuo!

Curta o mês de maio!

Fonte: Wikipedia

Leia mais:  O último calendário – uma crônica ‣ Jeito de ver

 

 

 

Eu odeio chavões… e não sei o porquê!

 

Aconteceu hoje um divisor de águas em minha vida e para abrir este texto com chave de ouro resolvi comprar a briga e assumir que odeio chavões.

Antes de mais nada, permita-me explicar, chavões são aquelas expressões ou frases que de tão repetidas perdem o efeito, se tornam ridículas e atingem em cheio a minha paciência.

Acreditar que ao expressar este descontentamento chegaremos a um denominador comum seria chover no molhado!

Mas, vou entregar de mão beijada e sem meias palavras , colocar um ponto final nessa história.

está inserido no contexto que alguns buscam um lugar ao sol fazendo uso deste recurso, mas vou fazer uma colocação: isto apenas  empobrece o texto! É um erro gritante!

Então, vamos por a casa em ordem e para preencher esta lacuna, vamos fazer uso do leque de opções existentes, essa fonte inesgotável que é a língua viva, e ela tem poder de fogo!

Estaremos em pé de igualdade ao fazer bom uso dela!

O que foi propriamente dito não foi para gerar polêmica.

Mas decidi por as cartas na mesa, a mão na massa e nesta reta final, até porque já é tarde, e a rainha da noite, que brilha no infinito me lembra da hora de dormir para a chegada do astro rei!

Para encerrar com chave de ouro este texto chato, vamos ser mais criativos e andar dentro das quatro linhas!

Leia também Qual o seu idioma? – Tem certeza? ‣ Jeito de ver

 

Um chavão é uma ideia ou conceito geral que é usado repetidamente, muitas vezes de firma automática, sem pensar muito sobre seu significado. Tem cara de clichê, que é uma expressão ou frase que se tornou tão comum que perdeu seu impacto original e pode até parecer banal.

 

A vida e obra de Mary Star

Marilene Santos, como tantas outras crianças, nasceu num lar pobre, carente de amor. Seus pais trabalhavam o dia inteiro, dedicando pouco tempo a ela.

Nas manhãs, Marilene costumava ouvir no rádio as canções que sonhava um dia cantar. Rádios não têm rostos, apenas vozes – muitas vozes. E Marilene tinha uma linda voz.

Sua voz doce combinava naturalmente com quase todo estilo musical, e nos karaokês da vida, a cidade descobria um novo talento – batizaram-na de Mary Star, pois ela certamente seria uma estrela que brilharia acima dos holofotes!

Mary evoluiu, estudou música e inspirada em sua própria vida, compôs canções de superação, amores não correspondidos e esperança. Mary certamente estava destinada a ser uma estrela!

Na pequena cidade onde morava, havia poucos cantores. Breno se destacava por fazer mais apresentações. Se você quer saber, ele não tinha uma voz agradável, mas tinha um ótimo empresário que sabia colocar o seu produto em todos os eventos, e assim ganhou fama.

Talvez o fato de seu empresário ser filho do administrador público tenha ajudado um pouco em sua carreira. Mas, se for para subir na vida, toda ajuda é bem-vinda!

Mary, porém, acreditava que um dia seria descoberta por seu talento. Quem sabe um dia, um empresário também se encantaria com a sua voz, e ela poderia então viver daquilo que amava…

Com o seu violão, no meio da praça, microfone ligado, enquanto alguns passavam e depositavam moedas de pequeno valor no case depositado à frente do palco improvisado, Mary soltava a voz em busca de mais um sonho!

E um dia, o sonho esteve prestes a acontecer!

Num desses belos domingos, alguém ouviu a sua voz e também se encantou!

Mary transbordava de alegria, sua voz estaria nos rádios, ela brilharia nos programas de televisão.

E o teste para a gravadora Beauty Records foi agendado para a semana seguinte.

Ela escolheu suas melhores composições, seus melhores amigos e músicos e, antes da hora marcada, se apresentou na Beauty Records!

Muito bem ensaiado, as gravações foram feitas em apenas um Take. Músicos, cantores e produtores entusiasmados!

Por fim, Mary foi chamada para assinar o tão desejado contrato.

Ansiosa, ela leu apressadamente as primeiras linhas e seus olhos marejaram.

À medida que a leitura avançava, entrou na sala Deisy, uma linda jovem, também aspirante à carreira no universo musical. Mary não percebeu.

E entre as muitas frases enroladas nas nove páginas, uma calou fundo na alma de Mary.

“A artista Marilene Santos, conhecida como Mary Star, aceita de livre e espontânea vontade ceder as gravações e o uso de sua voz a favor da Beauty Records, que se encarregará de impulsionar a sua arte por meio de Deise, que se chamará Deisy Star. Receberá um salário mensal estipulado por esta gravadora, por cinco anos ou pelo tempo que durar o contrato”.

Sem entender a cláusula, perguntou a Fred Brandão, dono da Beauty Records:

-“Por que eu mesma não posso interpretar as minhas canções?”

A resposta do diretor soou fria, mas era a mais absoluta verdade no mundo da música:

-“Marilene, você canta bem e tem boas músicas! Mas isso é menos do que necessário para fazer sucesso! Você precisa ter uma aparência sexy, pois isso vende. A Beauty Records já tem a sua cota de diversidades preenchidas por aquilo que a sociedade e os meios de comunicação cobram. Não há necessidade de mais.”

Doeu ouvir aquelas palavras.

-“O único modo de você viver de sua arte é aceitando essa proposta! É pegar ou largar!”

Atordoada, sem entender nem mesmo o que sentia, Marilene recolheu as partituras, desejando rasgá-las. Seus olhos lacrimejavam enquanto ela e os músicos se dirigiam à saída do escritório.

Ao chegar em casa, ligou a televisão, enquanto o apresentador (logicamente pago) anunciava a mais bela voz do país: Breno Silva, agora com a alcunha: Breno Silva, o Romântico!

Enquanto a voz fraca e desafinada ecoava pela sala… Marilene sentou-se nos degraus em frente à sua casa e entendeu o porquê de tantos cantores ruins aparecerem tanto na mídia.

Talvez você me pergunte: “Onde posso encontrar a Mary Star? Talvez ainda haja uma chance…”

Ela pode ser encontrada nas belas vozes que lutam por um lugar ao sol, sem o apoio de empresários, de políticos e de pessoas que idolatram cantores ruins… por serem belos!

Mary ainda canta nas praças…

Leia também: A música atual está tão pior assim? ‣ Jeito de ver

De Degraus e Silêncios – Um Pai Solitário

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Imagem de Paul Sprengers por Pixabay

Sentado sozinho, nos degraus em frente a sua casa, ele passava os dias.
Há pouco tempo, seu filho deitado num velho sofá, na sala, dormindo, confiando no poder amoroso da cura, na presença dos pais.
Ainda sonhava com os tempos em que um beijo no machucado aliviava as dores e fechava as feridas, embora isso já fosse há mais de quarenta anos no passado.
Mas, filhos não envelhecem…
E sentado sozinho nos degraus, o pai não olha para trás, para não lembrar do amor de sua mocidade, já cansada de carregar o peso do tempo, indo e vindo entre a cozinha e a sala onde o eterno menino dormia.
Relembra as primeiras quedas, os abraços e os planos para o futuro…
E acredita no ciclo natural…em que os mais velhos preparam o mundo para os novos.
Mas, desta vez não foi assim…
E ele sentado nos degraus, sem olhar para trás, tenta questionar o tempo. Como se estivesse ansiosamente esperando uma resposta do futuro.
Pois desta vez, a sala vazia e o silêncio na cozinha, lembram quantas adversidades um homem só – neste mundo tão grande – pode enfrentar, sem entender o motivo.
E ele jamais entenderá…

Gilson Cruz

Veja também Noites de outono (Poema Simples) ‣ Jeito de ver

Solidão: o que é, causas, sintomas e tratamento (indicedesaude.com)

Canções do Silêncio e das Estrelas

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Imagem de 2341007 por Pixabay

O que mais tortura um escritor se não a falta do que escrever?
Bem, quando se refere a este trabalho até a falta de inspiração é objeto de escrita.

Me fogem ideias, me faltam palavras..

Poderia falar sobre aquele jovem senhor que cuidava de sete cachorrinhos e que diariamente repetia a Deus que ficaria rico. Que seria um dia cantor de músicas internacionais e ficaria famoso e ganharia também numa dessas loterias da vida.

As estações pareciam longas e intensas…

O fato é que todos os dias, antes mesmo de o sol sorrir, ele, acompanhado de seus amiguinhos, revirava os recicláveis para lotar o seu carrinho e extrair das sobras dos restaurantes o alimento dos pequenos companheiros.

Alguns poucos anos se passaram e num desses invernos os cachorrinhos vagavam pelas ruas, procurando amizade e consequentemente um pouco de alimento…

Cães também comem, é verdade!

O amigo dos cães desaparecera! – Ele abandonara os seus amiguinhos.

Segundo alguns diziam: “A vida lhe sorriu”.

Diziam alguns, que aquele homem, sem nome, estava agora bem de vida.

“Que Deus lhe ouvira as preces…”

Que bom!  Mas, não diz isso aos cachorrinhos… estavam sozinhos agora!

Agora que as noites de inverno passavam, os bares da cidade passaram a contar com música ao vivo.

A praça lotada, pessoas felizes aplaudiam a linda voz do cantor que sonhava em um dia, poder mostrar seu talento a públicos maiores.

E depois de horas, a apresentação chegava ao fim.

Namorados passeavam a contemplar um último brilho da lua e quem sabe levar um último beijo de boa noite.

E enquanto todos se deslocavam para suas casas, satisfeitos, não percebiam os mesmos cães deitados ao redor do que seria um novo amigo.

As noites de inverno não são românticas, nem mesmo nos nordestes do Mundo.

Por isso, as pobres criaturas envolviam agora o seu Novo dono, alguém de olhar triste e pele sofrida, que para fugir da vida ou das memórias, adormecia no meio da praça e despertava como o auxílio daquilo  que o inebriava.

Há alguém que não leve consigo um passado? Alguns o temiam, acreditavam ser um fugitivo –mas, todos são fugitivos de algum modo!

Não falava muito sobre família, amigos – nada.

Apenas dizia ao Carteiro que esperava um cartão, que viria de um antigo lugar, chamado Mimoso. Sem falar muito mais a respeito.

Diziam nas ruas que conversar com bêbados ou cuidar deles é trabalho para heróis e que nem mesmo ambulâncias seriam deslocadas quando se tratasse de acidentes com eles.

Línguas maldosas!

Mas, o fato é um dia o encontrei dormindo, cansado de esperar o movimento lento das coisas e enquanto ele dormia, coloquei em suas mãos um desses lanches que não sustentam um dia inteiro, mas que era bem melhor que o álcool.

É estranho perceber que hoje, não consigo lembrar o nome dele.

Mas, num dia desses cansado de viver esperando, por ninguém sabe exatamente o quê, seu coração decidiu parar…

Aqueles que criticavam o seu modo de vida…estavam atônitos…de certo modo, tristes.

Me faltam palavras para descrever o que senti. Sei que a vida lhe foi breve.

Quando percebo como alguns sobrevivem com tão pouco, sinto a vergonha alheia de ver como alguns estão dispostos a prejudicar centenas de outras pessoas em fraudes para fins e atitudes egoístas.

Não ouvi anúncios de sepultamento. Alguém talvez chore a sua falta e lamente a sua vida ausente.

O universo porém, continuará frio e inóspito. Não se apagarão estrelas por ele…

O verão chegaria há apenas quatro dias…e novamente os pets andariam sozinhos… nas mesmas praças.

Enxotados e maltratados, como pessoas ignoradas.

Me tortura a alma, não saber o que dizer.

Gilson Cruz

Veja também Retratos da vida – o que deixamos passar ‣ Jeito de ver

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