“O futuro já se faz presente, mas é o passado que serve de fundamento para o que vemos hoje”.
Essa é a verdade que define um museu: a criação de um amanhã ainda mais esplêndido.
Um sonho trazido à realidade pelo visionário Adalberto de Freitas Guimarães, pensado para que possamos desacelerar e valorizar a vida e a história, peças-chave para entendermos de onde viemos e para onde vamos.
Esse projeto tem atraído a atenção de turistas e moradores da hospitaleira Iaçu, localizada a 279 km de Salvador, a capital da Bahia.
Independente de patrocínios, movido por uma determinação inquebrantável, o Sr. Adalberto segue ampliando sua coleção de objetos que narram a evolução da comunicação e das artes.
E como ele mesmo, com um sorriso no rosto, gosta de dizer: “O futuro se torna mais fascinante quando temos um passado para explorar!”
Conheça um pouco do acervo do museu Paraguaçu.
Raridades do Museu da Comunicação e Arte em Iaçu/BA
O tempo…
O tempo não para…
Primeira bicicleta do Município
Câmeras Fotográficas e Mídias
Como seus avós ouviam aquele “som-zinho” e as notícias da época?
Conheça o acervo de rádios do Rio Paraguaçu. Você vai ouvir um monte de histórias incríveis!
Para você que ama uma “selfie”, já conhece o famoso “lambe-lambe”? Sim, esse é o nome, para saber o por quê visite o museu.
Câmeras fotográficas.
Um antigo rádio de madeira.
Cortesia Museu da Comunicação e arte de Iaçu
Você talvez se pergunte ao ver este rádio: Meu Deus, de onde é que vem isso?
Onde eu aperto para baixar músicas? – Conheça a história, você vai gostar.
Cortesia Museu da Comunicação e arte de Iaçu
Que tal um pouco de digitação? Conheça a incrível máquina de escrever!
Cortesia Museu da Comunicação e arte de Iaçu
Ou quem sabe fazer aquela ligação?
Você talvez se pergunte: “Como é que faziam pra escrever as mensagem do whatsApp na época?”
Cortesia Museu da Comunicação e arte de Iaçu
Esse é o “gramophone“ com ph.
Naquele tempo, se escrevia farmácia com ph.
E hoje como se escreve?
Seção de brinquedos antigos
Cortesia Museu da Comunicação e arte de Iaçu
Cortesia Museu da Comunicação e arte de Iaçu
Cortesia Museu da Comunicação e arte de Iaçu
Um máquina ferroviária, do artista: Bugaiau
E para finalizar…
Turista fazendo visita ao Museu.
… um turista aproveitando a oportunidade.
Um homem e um projeto, você já imaginou o quão longe ainda se pode ir com o apoio de setores públicos e privados?
Permita-me contar uma história que vi acontecer e que me ensinou que nem todos estão dispostos a mudar o statuos quo.
Status quo é uma expressão em latim que significa “estado atual” ou “situação atual”.
Refere-se à condição ou circunstância existente em determinado momento, especialmente em contextos sociais, políticos ou culturais.
Geralmente, é usado para descrever a manutenção das coisas como estão, sem mudanças significativas.
Vamos à história…
Era ainda o ano de 2005 e o professor de História, Régis, se preocupava com a falta de interesse político dos alunos na escola onde lecionava.
Era comum aos alunos, velhas frases como:
“Políticos são todos ladrões”, “Já que eles vão roubar mesmo, meu voto não sai de graça”, “Sindicalistas são todos vagabundos” e frases um pouco menos otimistas que estas.
Alguns jargões foram criados durante os anos em que o Brasil esteve sob Regime Militar (Ditadura) 1964-1985 e outros criados por empresários que também estavam muito preocupados com o bem estar geral ( se você acreditar, tudo bem…)
Disposto a mudar o ponto de vista de seus alunos, ele decidiu criar o projeto:
” Construindo Cidadania“
Neste projeto, todas as Sextas-feiras um grupo de vinte alunos teria a honra de assistir a Sessões da Câmara Municipal de Vereadores – fazendo observações a respeito da ordem e dos projetos.
Um outro grupo analisaria a história do Município, fazendo breves biografias de Prefeitos e vereadores, entrevistaria também a vereadores em exercício.
Os alunos ficaram empolgados.
O questionário a ser aplicado aos vereadores locais trazia as seguintes perguntas:
. Nome completo e resumo biográfico, como se interessou por política?
. Quando se candidatou pela primeira vez?
. Quantos projetos teve o privilégio de elaborar e quantos foram aplicados no município?
Enfim, chega a manhã de Sexta-Feira, precisamente 10:30, e começaram os ritos na Sessão da Câmara.
O Presidente da casa iniciava com formalidades, as boas-vindas, quando silenciosamente os alunos sentavam e aguardavam com interesse o diálogo entusiástico de vereadores, os debates, o dedo no olho, o tapa na cara…
-“Opa! me empolguei um pouco, deixe-me voltar aos trilhos”...
As cadeiras na câmara, destinadas ao público, estavam novinhas em folha! E agora sentiam a alegria de acomodar pessoas interessadas em política!
– O problema é que os nobres não estavam preparados, e como não havia assunto a ser debatido a reunião foi cancelada, adiada para a semana seguinte.
E na semana posterior, as cadeiras da câmara sentiam-se úteis novamente, novos jovens aguardavam os vereadores que chegavam desconfiados e perguntavam:
-“Quem mandou esses baderneiros aqui?” – baderneiros que não faziam baderna e que apenas aguardavam a reunião iniciar para entender pra quê raios servia um vereador.
E por falta de assunto e excesso de desconfiança a Sessão foi novamente adiada!
E os alunos ficaram perplexos! – Parte final
Ainda mais perplexo ficava o Professor Régis pois seria chamado e orientado pela coordenadora municipal de educação a encerrar seu projeto, pois os alunos viam causando transtornos às sessões da câmara daquela cidade.
Talvez os vereadores fossem tímidos demais para apresentar as suas propostas ou talvez não tivessem ideia alguma a respeito da utilidade dos seus cargos eletivos.
E o professor humildemente, se calou.
E os velhos jargões se tornaram ainda mais fortes.
Num desses dias quentes, enquanto limpava a área em frente à minha casa, ouvia com atenção as palavras do amigo Marinaldo.
Os dreads grisalhos eram registros de uma longa história de amor à música, a pele escura era o livro que registrava todo o preconceito e injustiça que sofreu na vida, e os passos lentos talvez fossem a única forma de mostrar que não mais se apressava…
Que precisava andar, planejar melhor seus dias.
Sua voz forte e mansa falava pouco do passado, mas se animava ao contar seu histórico como músico.
Sim, o Marinaldo fora músico por muito tempo. Excelente contrabaixista, baterista, já bancou o vocalista em algumas ocasiões, como ele costumava dizer. Ele era mais conhecido como “Alô Bahia”.
Vivia sozinho numa casa branca na Rua do Chaveiro e criava um valente cachorrinho branco, que obedecia prontamente às suas ordens.
As noites de sexta e sábado eram regadas por belas músicas que ele cultivava em sua coleção, pérolas que iam desde os anos 1960 até os dias atuais.
Às vezes, sentava-se à sua porta com um violão mogno, acompanhando as canções que saíam das caixas de seu velho MP3.
Costumava reclamar da qualidade das músicas atuais, dizia serem canções preguiçosas, repetitivas, monótonas… E ria ao lembrar dos variados estilos que lutavam por espaço em décadas passadas, quando, junto aos velhos companheiros de banda, buscava algo novo para ensaiar.
Lembrava com saudade de algumas bandas que teve o prazer de integrar.
As memórias
Falar do talento da Banda Legenda trazia risos e histórias de viagens, plateias dançantes e pouco dinheiro… Ser músico não dava dinheiro. Era muita estrada, muito estresse acumulado, muitos contratos malfeitos e, por fim, muita confusão.
Falar dos problemas da estrada era uma maneira de fazer as pazes com o passado.
Ele ria ao contar que, em uma das bandas que participou, havia um músico que era “muito estrela”. A banda era boa: bons guitarristas, tecladistas, bateristas, backing vocals, aparelhagem… Mas o problema era “o estrela”.
Num dos episódios, o lead singer se empolgou tanto com a própria interpretação que saiu recolhendo os microfones dos cantores de apoio, terminando a música cantando em quatro microfones ao mesmo tempo. Ele ria ao dizer que o baterista queria arremessar as baquetas na cabeça do cantor!
Falava com imenso carinho da Banda Doce Magia, onde também teve o prazer de tocar. Contava sobre companheiros que se divertiam com a música e sobre as viagens e shows que fizeram.
Desse tempo, lamentava apenas não ter nenhuma gravação ou fotografia da época, especialmente do dia em que se apresentaram no antigo clube dos ferroviários. Isso apenas!
Lembrava não mais com tanta saudade de outras bandas que integrou.
Talvez percebesse tardiamente que as pessoas não eram tão amigas ou legais quanto ele acreditava no início.
Para exemplificar, contou que uma nova banda em formação o convidara para participar do projeto. Animado com o espírito da banda, abraçou o projeto, mas a competitividade entre os membros era tão grande que ele perdeu o entusiasmo.
Noutra ocasião, enfrentava problemas pessoais e tomou um porre antes do ensaio. A banda o dispensou.
Para narrar suas histórias, costumava usar seu vocabulário próprio: “Por causa de mauriçagem é que essas coisas acontecem…”
O novo projeto
Entre risos e casos, me contou seu mais recente projeto:
– Irmão, não vou mais tocar numa banda. Hoje eu quero é contratar um monte de meninos bons pra tocar e me concentrar nos contatos…
Sua nova e boa ideia era cuidar da carreira de novos talentos, ser algo que faltava nos seus dias.
Nutria seus sonhos ouvindo as velhas músicas, reformando instrumentos antigos e aparelhagens, enquanto ganhava a vida fazendo pequenos consertos e serviços de pedreiro na vizinhança.
Era imparável!
Sim, era imparável, mas seu coração não teve o privilégio de realizar aquele que seria talvez o seu maior sonho: viver de música.
Depois de tantas histórias, percebi que ele não me contara sobre seus filhos, sua família… E a entrevista agendada jamais será realizada.
Talvez a imaginação da fotografia da apresentação no antigo clube dos ferroviários fosse sua melhor recordação, o sonho de tocar naquele que era o melhor lugar da cidade, na era dos bailes. A sua realização!
Mas o silêncio deste dia, a falta de palavras, talvez mostre que as histórias se calam, que somente aqueles que viveram podem descrever de fato o que sentiram em suas aventuras.
Talvez seja apenas um saudosismo barato, daqueles que costumamos romantizar quando lembramos. Mas percebo hoje como as tradições perdem a força com o passar do tempo.
Na minha meninice, costumava achar estranho quando os vizinhos se sentavam nas varandas de suas casas e conversavam por horas a fio, enquanto nós, crianças da época, brincávamos de um monte de coisas…
Eram amarelinhas, bate-latas (em outros lugares, lateiro), esconde-esconde, futebol e outras brincadeiras que esgotavam nossas energias para que pudéssemos dormir!
Era possível ouvir os velhos conversando e, muitas vezes, gargalhando das velhas histórias… Bem, quando você tem dez anos, todos são velhos!
O fim de junho se aproximava, e não lembro se o tempo era frio ou se eu vivia “pegando fogo”…
O inverno talvez fosse diferente!
As festas juninas também…
Os ritmos predominantes nas rádios eram, religiosamente, o forró e o baião.
Destacavam-se nas rádios Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Sivuca, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino, Marinês e Sua Gente, Genival Lacerda, que me trazia risos por causa de sua dança exótica, entre muitos outros…
Grupos de meninos saíam pelas casas perguntando: “São João passou por aqui?” Os moradores, seguindo a tradição, os presenteavam com os frutos da época, que iam desde amendoins, canjicas e laranjas até bolos de milho!
Com exceção do senhor Jailson, que, ao receber os meninos, levava-os até o portão e apontava para a esquina, dizendo: “Passou sim, e pelo tempo acabou de subir a esquina… Corram que vocês o alcançam!”
Normalmente, os meninos inocentes soltavam palavrões nada infantis! Pareciam monstrinhos no Halloween!
Mas tudo era encarado com bom humor!
Novos cantores entraram em cena, trazendo inovações e acrescentando novos instrumentos ao forró, e, aos poucos, o velho forró foi perdendo suas características.
Mas me emocionava ainda o modo como os novos cantores reverenciavam os pioneiros do baião e do forró…
E, com o tempo, tudo mudou!
Canções tradicionais foram perdidas no tempo, e hoje não se vive o momento. Lamento dizer, o momento é extremamente pobre!
As canções foram feitas para serem descartáveis e as pessoas se habituaram a isso, não por serem vítimas, mas para não serem diferentes!
As pessoas, assim como as músicas atuais, conservam a mesma essência.
Vivem apenas para exibir felicidades fabricadas em redes sociais e vender imagens… Não importa o passado ou o futuro – “consuma o presente”, e isso é diferente de “viva o presente”!
Viver o presente é saber usufruir um show, em vez de gravar no celular para assistir mais tarde em casa ou postar nos status!
Ou mesmo fazer selfies em frente a palcos apenas para mostrar que também esteve lá… Quando nada de especial fica gravado na memória para recordar um dia.
Ou até mesmo passar dias tentando memorizar letras de uma música que será esquecida nas manhãs seguintes, apenas para não se sentir fora do contexto!
E as varandas vazias esperam por pessoas que tenham o que conversar, enquanto seus filhos poderiam brincar juntos na varanda…
Muito tempo se passou desde aqueles antigos forrós e das conversas animadas entre vizinhos…
A comunicação atual se resume a breves conversas em aplicativos, à exibição da vida perfeita nas redes sociais e a pessoas idênticas cada vez mais solitárias, no meio da multidão…
O forró, assim como tudo o que chamam de velho, vai perdendo espaço para novos e pobres estilos, pois um dia algum bom publicitário disse: “O mundo é dos jovens…” e passou a ditar o que os jovens devem ouvir, para não serem taxados de ultrapassados!
E desde então, velhos tesouros passaram a ser desprezados em prol de latões que brilham sob holofotes.
A música, como arte, deveria ser valorizada ainda mais com o tempo, isso é fato!
Novas canções, como novas obras de arte, deveriam enriquecer o acervo, mas, como produtos descartáveis que são, durarão até o dia seguinte ou, quem sabe, até a próxima semana!
As tradições foram apagadas… Não sei se morreram ou se foram apenas esquecidas.
Enquanto isso, varandas vazias esperam por pessoas que tenham o que conversar, enquanto seus filhos brincam juntos na varanda…
A serra era e ainda é verde
E havia e ainda há uma estrada
E do outro lado
Havia um pequeno lago
E as pequenas meninas saíam para brincar
Sim, na serra verde
Havia um lago
E as duas irmãs mergulharam
Para não mais voltar…
E para não esquecer
O povoado
Um trágico nome recebeu.
É cedo e alguém no fim da rua lembrou que ainda havia um daqueles foguetes da festa da democracia da noite passada.
Bem, meus tímpanos perfurados não ficaram felizes com os picos de 118 decibéis das cornetas dos carros — sim, falei carros — que passaram em frente à minha casa, assim como também minha pobre cachorrinha quase infartou.
Pois é, os cães não suportam sons altos.
Imagine então os pobres cachorrinhos de rua; não tente imaginar, deve ser difícil. São apenas cachorros.
Enquanto isso, uma fala indecifrável e rouca repete comandos que mais irritam do que encorajam!
É estranho como mostrar força numa campanha se relaciona mais com a intimidação (que nos remete aos belos tempos de bullying escolar…) do que com planos de governo. Não amadurecemos muito nesse aspecto!
E de repente, sem querer nem forçar a barra, me sinto de volta aos tempos em que não havia microfones e alto-falantes modernos e os candidatos se esgoelavam de modo a serem alcançados por todos os ouvintes…
E apesar da modernidade, vejo candidatos gritando desesperadamente nos microfones, e antes que você se diga: “Gritar é necessário para estimular os eleitores…” — já imaginou este tipo de estímulo dentro de casa?
Bem, para ser eloquente e entusiástico não é preciso se esgoelar; um pouco de modulação no tom do discurso teria um efeito mais positivo.
Mas, enquanto escrevo, um amigo diz: “Isso é política!”
Não posso concordar. A arte da negociação e dos debates de propostas, sem as baixarias atuais no mundo inteiro, a definiria melhor.
E enquanto tento argumentar, uma bomba explode próximo ao meu ouvido, já doente, enquanto os cachorrinhos acuados se encostam, tremendo, nas paredes como se tentassem atravessá-las.
Minha amiguinha de quatro patas se encolhe na poltrona.