“E no futuro, os robôs substituirão o trabalho humano…
Ninguém mais será escravizado.
Todos terão tempo para dedicar à família, aos amigos… à vida.”
Assim, o primeiro trilhardário do planeta esbanjava seu otimismo para o futuro.
Suas imensas pastagens, antes cuidadas por humanos que reclamavam das péssimas condições de trabalho, que reclamavam do salário que não dava para comprar aquilo que eles ajudaram a plantar… e que adoeciam por causa disso – causando prejuízo ao amoroso patrão que, por anos, era, apenas, um pobre bilionário.
O mundo agora arruinado, população reduzida, ocupado apenas pelos que se beneficiaram da escravidão ao longo dos séculos, era um lugar tranquilo – sem pobres. Os rios e mares agora, tinham donos. Assim como os países e as cidades.
Marte não chegou a ser ocupado. A nave explodira com os primeiros bilionários que tentaram colonizar o planeta vermelho, ninguém soube o motivo. A base lunar também não fora ocupada, ficou apenas no sonho de veraneio de quem tinha muito a gastar.
Um pobre milionário talvez não tivesse os robôs da última geração e comprasse dos pobres bilionários, robôs usados.
Enquanto os pobres pobres, que passaram uma eternidade bajulando e comendo as migalhas, se resumiam ao que não mais se designavam humanos – eram subumanos. Agora, menos importantes que robôs, faziam o impossível para sobreviver…
As máquinas do futuro eram condicionadas, assim como os pobres do passado. Não tinham direito a sonhar, às aspirações que todo ser humano precisa ter para crescer, para se realizar. Recebiam ordens e distrações necessárias à cegueira de uma vida sem sentido – enquanto eram gradativamente substituídas! E, mais tarde, enquanto as máquinas faziam o trabalho, as fontes de energia cessaram – e elas pararam!
Pararam como humanos, mortos pelo cansaço e pela exploração.
Os subumanos foram então lembrados… quais escravos!
E voltaram a ser escravos, que se queixavam, que reclamavam – que eram condicionados, programados para isso! E a vida continuou assim, sem rumo, até o fim – até que o pesadelo acabasse!
Gilson Cruz
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