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Varandas vazias e tradições perdidas

Imagem de Myriams-Fotos por Pixabay

Talvez seja apenas um saudosismo barato, daqueles que costumamos romantizar quando lembramos. Mas percebo hoje como as tradições perdem a força com o passar do tempo.

Na minha meninice, costumava achar estranho quando os vizinhos se sentavam nas varandas de suas casas e conversavam por horas a fio, enquanto nós, crianças da época, brincávamos de um monte de coisas…

Eram amarelinhas, bate-latas (em outros lugares, lateiro), esconde-esconde, futebol e outras brincadeiras que esgotavam nossas energias para que pudéssemos dormir!

Era possível ouvir os velhos conversando e, muitas vezes, gargalhando das velhas histórias… Bem, quando você tem dez anos, todos são velhos!

O fim de junho se aproximava, e não lembro se o tempo era frio ou se eu vivia “pegando fogo”…

O inverno talvez fosse diferente!

As festas juninas também…

Os ritmos predominantes nas rádios eram, religiosamente, o forró e o baião.

Destacavam-se nas rádios Luiz Gonzaga, Dominguinhos, Sivuca, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino, Marinês e Sua Gente, Genival Lacerda, que me trazia risos por causa de sua dança exótica, entre muitos outros…

Grupos de meninos saíam pelas casas perguntando: “São João passou por aqui?” Os moradores, seguindo a tradição, os presenteavam com os frutos da época, que iam desde amendoins, canjicas e laranjas até bolos de milho!

Com exceção do senhor Jailson, que, ao receber os meninos, levava-os até o portão e apontava para a esquina, dizendo: “Passou sim, e pelo tempo acabou de subir a esquina… Corram que vocês o alcançam!”

Normalmente, os meninos inocentes soltavam palavrões nada infantis! Pareciam monstrinhos no Halloween!

Mas tudo era encarado com bom humor!

Novos cantores entraram em cena, trazendo inovações e acrescentando novos instrumentos ao forró, e, aos poucos, o velho forró foi perdendo suas características.

Mas me emocionava ainda o modo como os novos cantores reverenciavam os pioneiros do baião e do forró…

E, com o tempo, tudo mudou!

Canções tradicionais foram perdidas no tempo, e hoje não se vive o momento. Lamento dizer, o momento é extremamente pobre!

As canções foram feitas para serem descartáveis e as pessoas se habituaram a isso, não por serem vítimas, mas para não serem diferentes!

As pessoas, assim como as músicas atuais, conservam a mesma essência.

Vivem apenas para exibir felicidades fabricadas em redes sociais e vender imagens… Não importa o passado ou o futuro – “consuma o presente”, e isso é diferente de “viva o presente”!

Viver o presente é saber usufruir um show, em vez de gravar no celular para assistir mais tarde em casa ou postar nos status!

Ou mesmo fazer selfies em frente a palcos apenas para mostrar que também esteve lá… Quando nada de especial fica gravado na memória para recordar um dia.

Ou até mesmo passar dias tentando memorizar letras de uma música que será esquecida nas manhãs seguintes, apenas para não se sentir fora do contexto!

E as varandas vazias esperam por pessoas que tenham o que conversar, enquanto seus filhos poderiam brincar juntos na varanda…

Muito tempo se passou desde aqueles antigos forrós e das conversas animadas entre vizinhos…

A comunicação atual se resume a breves conversas em aplicativos, à exibição da vida perfeita nas redes sociais e a pessoas idênticas cada vez mais solitárias, no meio da multidão…

O forró, assim como tudo o que chamam de velho, vai perdendo espaço para novos e pobres estilos, pois um dia algum bom publicitário disse: “O mundo é dos jovens…” e passou a ditar o que os jovens devem ouvir, para não serem taxados de ultrapassados!

E desde então, velhos tesouros passaram a ser desprezados em prol de latões que brilham sob holofotes.

A música, como arte, deveria ser valorizada ainda mais com o tempo, isso é fato!

Novas canções, como novas obras de arte, deveriam enriquecer o acervo, mas, como produtos descartáveis que são, durarão até o dia seguinte ou, quem sabe, até a próxima semana!

As tradições foram apagadas… Não sei se morreram ou se foram apenas esquecidas.

Enquanto isso, varandas vazias esperam por pessoas que tenham o que conversar, enquanto seus filhos brincam juntos na varanda…

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Tradições – o que se precisa saber?

Tradições e histórias natalinas revisadas.

Imagem de Pexels por Pixabay

Gilson Cruz

Velhas tradições perdem força e às vezes são esquecidas..

Era comum em  épocas específicas do ano, pessoas se  movimentarem no intuito de  preservar os ritos dos antepassados.

O mundo mudou, é verdade. Por isso, que tal analisar um pouco das origens de algumas tradições e festividades?

Por exemplo, era comum nas cidades do interior da Bahia o Micareta.

Analisando as origens

Nas origens da Micareta destacam-se duas festas: uma chamada de serração da velha e outra que leva um nome francês: mi-carême.

Vamos analisar a mi-carême.

A mi-carêmi, (que significa meio de quaresma) festa de origem francesa, aconteceu muito mais tarde, no início do século XX, inspirada na Belle Époque , símbolo de elegância, que ditava a moda no mundo.

No carnaval de rua no Brasil, importava-se o lance-parfum francês.  Não demorou muito para aparecerem iniciativas visando implantar no Rio de Janeiro, a Mi-carêmi.

Fonte:  SciELO – Brasil – Da mi-carême ao carnabeach: história da(s) micareta(s) Da mi-carême ao carnabeach: história da(s) micareta(s).

Uma nota importante é que ainda hoje alguns trajes carnavalescos lembram a moda da Belle Époque.

A micareta na Bahia, aparece datada do início do séulo XX, em 1908, possívelmente em Jacobina, quando em Salvador e Feira de Santana, ainda não existiam as folias da mi-carême.

Fontes adicionais:

HIstória da Micareta http://www.feiradesantana.ba.gov.br

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O terno de reis

No início do primeiro mês do ano, homens com roupas chamativas, pandeiros de fitas saíam pelas casas levando canções…  e como dizia o Tim Maia: “Hoje é dia de Santo Reis..”.

Qual a origem do Terno de Reis?

“O terno de Reis é inspirado na passagem bíblica dos Três Reis Magos (que na verdade não eram reis, eram astrólogos)  onde um trio viajou para presentear o menino Jesus, que havia nascido em Belém”.

“O terno de Reis consiste em um grupo de cantores que realizam visitas às suas casas, anunciando o nascimento de Jesus”.

Veja mais: – ‘Oh de casa, nobre gente’: você conhece a tradição do Terno de Reis? – GAZ – Notícias de Santa Cruz do Sul e Região

É importante considerar que embora afirmem se inspirar em determinados acontecimentos, tais tradições não se apegam ao registro bíblico e baseiam-se em versões passadas de geração em geração.

Estrela de Natal

Examinando a Bíblia:

O Evangelho de São Mateus capítulo 2 versículos 1 – 19 percebemos que os astrólogos observaram uma estrela que primeiro os conduziu a Herodes, o Rei, que estava interessado em matar aquele que seria o Messias em vez de levá-los diretamente ao menino.

Saber do nascimento do Messias levou ao então Rei Herodes a ação de ordenar o extermínio de todos os meninos de até dois anos de idade.

Aquela estrelinha de Natal  não estava bem intencionada. Não acha?

E por falar em  Natal…

Que tal um examinar um pouco das origens desta festividade?

O Natal

Qual a origem do Natal?

Muitos historiadores localizam a primeira celebração do Natal em Roma, no ano de 336 d.C, no entanto tal festiidade já era celebrada, segundo alguns registros na Turquia, no dia 25 de Dezembro, em meados do século II”. 

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)

A Bíblia não menciona a data do nascimento de Jesus Cristo, então como se chegou ao 25 de Dezembro?

Num esforço de unificar e incorporar os recém-convertidos pagãos ao “cristianismo”,  a igreja ressignificou algumas festividades pagãs, dando-as uma nova roupagem.

O Natal teve a sua origem em festas pagãs que eram realizadas na antiguidade.

Nesta data, os romanos celebravam a chegada do inverno (solstício do inverno).

Eles cultuavam o Deus Sol, (Natalis Invicti Solis) e ainda realizavam dias de festividade com o intuito de renovação.

Fonte: História do Natal: origem, significado e símbolos – Toda Matéria (todamateria.com.br)

Os Presentes

A tradição de dar presentes é atribuída, por muitos, a uma celebração tradicional na religião pagã da Roma Antiga: a Saturnália, festa em celebração a Saturno, no período do solstício do inverno.

Na mesma época do ano em que se celebra o Natal.

Uma explicação socioeconômica sobre a prática de troca de presentes neste período é que os  Estados Unidos para  impulsionar indústria se empenhou em adotar a tradição de tornar familiar a celebração de Natal.

Existem ainda várias outras teorias- Veja no link Origem dos presentes de Natal – Brasil Escola (uol.com.br).

Porém, a face perversa deste período de festas é a acentuação das desigualdades socias.

O Natal, as desigualdades, a guerra

Crianças ricas, celebram a chegada de um  Papai Noel que trazem  brinquedos desejados.

Crianças pobres sonham com um  Papai Noel que lhes dê apenas o mínimo, que muitas vezes se traduz em algum alimento ou um dia de paz.

Observa-se, também nesta época, pessoas que durante todo o ano, foram indiferentes aos sofrimentos alheios mostram um pouco de empatia aos necessitados.

É certo que as ajudas são bem vindas, mas seriam mais apreciadas se não fossem limitadas a apenas uma vez no ano.

Há um antigo relato de uma guerra que parou num dia de Natal.  Os soldados se confraternizaram, brincaram juntos – como humanos!

E no dia seguinte…as matanças e o ódio voltaram, com mais força.

Retornanaram  à hipocrisia dos seus mundos no segundo dia, do mês seguinte .

O ciclo se repete…

Enquanto este ciclo egoísta se repete todos os anos.

Na letra da canção Happy Xmas (War is Over) ( Feliz Natal – A Guerra acabou),  o cantor pergunta “E, então, é Natal, o que você tem feito?'”  há um protesto contra a Guerra do Vietnã.

O coro infantil: “War is over, if you want it”  ( A guerra acabou, se você quiser ), transmite a ideia de que a paz é possível, se as pessoas escolherem  buscá-la.

E os conflitos desde então, mostram que os homens não têm se empenhado por ela.

Uma canção brasileira sobre o Natal

Há uma triste mensagem na canção Boas Festas, de Assis Valente.

Nela uma criança pobre, não entende porque  o Papai Noel dela não atende a seus pedidos.

A melodia alegre confunde as pessoas, ocultando uma letra melancólica e desesperada.

Já faz tempo que pedi, mas o meu Papai Noel não vem

Com certeza, já morreu. Ou, então, felicidade é brinquedo que não tem”. – Boas Festas, 1932.

O objetivo deste site é fornecer apenas uma visão geral dos fatos de modo a estimular a reflexão.

Conclusão

As tradições trazem histórias.

Desde influências das culturas portuguesa e francesa na origem das micaretas ao terno de reis, às origens pagãs por trás do Natal e a troca de presentes.

O conhecimento de tais histórias é o fôlego da cultura, que se mantém viva e serve de base para a arte, a educação e a formação do homem.

Contos de Carnaval (uma história com H) ‣ Jeito de ver

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