A Favela Ainda Não Venceu. Ainda…

Cristo Redentor e as Favelas

O que é favela?

Quando falamos em “favela” imaginamos um aglomerado de moradias populares, geralmente em encostas, surgidas de ocupações espontâneas.

Segundo os dados do Censo de 2022 divulgados pelo IBGE, aproximadamente 16,4 milhões de pessoas vivem em favelas no Brasil, o que representa 8,1% da população do país.

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Essas pessoas estão distribuídas em 12,3 mil favelas, localizadas em 656 municípios.

Para que possamos ter uma dimensão desta magnitude, se todas as favelas brasileiras formassem um estado, seria o terceiro mais populoso do país, ficando atrás apenas de São Paulo e Minas Gerais.

O que são guetos?

Embora haja alguma semelhança, os “ghettos” (guetos) de outros países têm características diferentes das favelas brasileiras, pois, ao passo que as favelas brasileiras são assentamentos informais autoconstruídos, que surgem por ocupação de terrenos (muitas vezes em áreas de risco) e crescem sem planejamento oficial, os guetos internacionais são bairros formais degradados, ou seja, foram construídos legalmente, mas sofreram desinvestimento, abandono e segregação racial e econômica ao longo do tempo.

As semelhanças compartilhadas entre ambos estão na concentração de pobreza, marginalização social, falta de serviços adequados, estigmatização e segregação espacial das populações mais vulneráveis.

O termo “slum”, usado na África e na Ásia, que significa assentamento precário, é provavelmente a tradução internacional mais precisa para favela.

Podemos dizer que a palavra gueto está mais relacionada a um fenômeno urbano.

Qual a origem das favelas no Brasil?

A origem das favelas no Brasil tem raízes históricas profundas, ligadas a questões sociais, econômicas e raciais.

O primeiro registro de favela documentada surgiu no Rio de Janeiro, no Morro da Providência.

No final do século XIX, após a Guerra de Canudos ou Massacre de Canudos (1896-1897), muitos soldados do Exército retornaram ao Rio de Janeiro sem receber o pagamento prometido.

Sem ter onde morar, ocuparam o morro mais próximo à região central, no bairro da Providência, que passou a ser conhecido como “Morro da Favela”.

O nome vem de uma planta espinhosa, abundante no sertão nordestino, comum na região de Canudos, no interior da Bahia. Adotar este nome seria uma lembrança do sofrimento e da resistência vivida ali.

E as favelas cresceram…

Outro fator que contribuiu para o surgimento e crescimento de favelas foi, por incrível que pareça, a Abolição da Escravatura.

A libertação dos escravizados ocorreu sem nenhuma política de integração, moradia ou reparação.

Milhares de pessoas negras recém-libertas ficaram sem terra, emprego ou moradia, concentrando-se nas periferias urbanas.

A urbanização acelerada que se deu no final do século XIX e início do século XX mostrou que as cidades não estavam preparadas para absorver a população que migrava do campo.

Reformas urbanas excludentes, como a do prefeito Pereira Passos no Rio de Janeiro (1902-1906), demoliram cortiços e habitações populares no centro para “modernizar” a cidade, expulsando a população pobre para os morros.

Enfim, mais uma vez, um novo êxodo rural, desta vez a partir dos anos 1940-1950, quando pessoas fugiam da seca do Nordeste, buscando oportunidades nas grandes cidades, encontraram nas ocupações informais a única alternativa habitacional disponível.

Uma nota importante:

Uma característica política era a preocupação com os interesses dos ricos e a falta de empatia pelos mais pobres. (Por que será que às vezes penso que o termo “era” não é apropriado?)

A reforma no Rio de Janeiro ficou conhecida como “Bota-abaixo”, justamente pela maneira brutal e autoritária como foi conduzida.

Milhares de pessoas, todas pobres, em sua maioria negras, foram expulsas sem qualquer compensação financeira, forçadas a migrar para os morros.

As reformas priorizavam a estética e os interesses da elite, ignorando completamente os direitos e a dignidade da população pobre.

Depois de todo esse passeio histórico, que tal falarmos sobre o desenvolvimento cultural nas favelas?

O desenvolvimento cultural das favelas

Apesar de todo esse contexto sombrio, alguma coisa boa tinha de acontecer, não é verdade?

As favelas se tornaram verdadeiros caldeirões culturais no Brasil.

Na literatura, escritores como Carolina Maria de Jesus (com o Quarto de despejo) e, posteriormente, o movimento de literatura marginal/periférica deram voz às experiências das favelas.

Na arte-luta, embora a Capoeira seja bem anterior às favelas, foi nessas comunidades que ela encontrou espaço de preservação e prática, mantendo viva essa arte-luta afro-brasileira.

As favelas desenvolveram estética visual própria, transformando vielas e muros em galerias a céu aberto, por meio dos grafites.

O Hip Hop e o RAP (Rhythm and Poetry), embora de origem norte-americana, emergiram nas periferias paulistanas, narrando a realidade das favelas e quebrando o silêncio sobre violência policial, racismo e exclusão — um salve Racionais MC’s, entre outros.

A expressão maior das favelas: o Samba

O samba nasceu e se consolidou nas favelas e comunidades negras do Rio de Janeiro.

A casa da Tia Ciata, na Praça Onze (região que recebia a população removida), foi um dos berços do samba moderno no início do século XX.

Ali se reuniam descendentes de escravizados baianos, criando um espaço de resistência cultural onde o samba urbano se desenvolveu, misturando elementos africanos com influências brasileiras.

As escolas de samba surgiram também neste contexto comunitário das favelas e subúrbios cariocas — a primeira foi a Deixa Falar, em 1928, no bairro do Estácio.

Figuras históricas do samba como Donga, autor de Pelo Telefone, o primeiro samba gravado; Pixinguinha; Sinhô, apelidado de “O Rei do Samba”; Tia Ciata, a matriarca do samba; Heitor dos Prazeres; Ismael Silva, fundador da primeira escola de samba, a Deixa Falar, e compositor de Se você jurar; Geraldo Pereira e Cartola (Angenor de Oliveira), fundador da Mangueira e um dos maiores poetas do samba brasileiro — entre muitos outros, a lista é quase infinita.

A vida de cada um desses personagens inspiraria livros e livros, e trabalharemos posteriormente as biografias dessas pérolas brasileiras.

Cada um deles retratou a luta e a perseverança para lidar com as dificuldades impostas a um povo esquecido pela maioria dos governos brasileiros.

Com resignação e poesia, descreviam as mazelas e as alegrias de morar no morro.

A ausência do Estado e o crime

A ausência do Estado, ou a presença apenas através da repressão policial, criou um vazio que foi preenchido por organizações criminosas.

As favelas ofereciam vantagem tática — visibilidade e dificuldade de acesso para a polícia.

A vulnerabilidade social também se tornou um facilitador: a falta de perspectivas fez de jovens alvos fáceis para recrutamento.

Nas décadas de 1970-1980, com o crescimento do narcotráfico internacional e a chegada da cocaína no Brasil, facções criminosas passaram a se estabelecer nas favelas.

Por exemplo, o Comando Vermelho, nascido no sistema prisional nos anos 1970, foi pioneiro neste processo no Rio de Janeiro.

Posteriormente surgiram o Terceiro Comando e outras facções.

A ocupação pelo crime organizado é consequência do abandono histórico.

As facções ocuparam um espaço que o Estado se recusou a ocupar com educação, saúde, cultura, oportunidade e dignidade.

A violência não é a solução

A repressão policial jamais foi a solução. Crianças já não sabem mais quem são os “mocinhos ou os vilões” na história!

As consequências dessa situação são moradores reféns, entre a violência do tráfico e a violência policial.

Jovens negros e pobres são as principais vítimas — tanto como alvos da polícia quanto como mão de obra descartável na mão de criminosos.

O estigma de favela como local de criminalidade se perpetua, quando na realidade a imensa maioria dos moradores são trabalhadores honestos.

E o pior: políticos usam o suposto combate ao crime com violência como plataformas políticas, alimentando o ciclo de violência, quando deveriam investir mais em educação e em projetos de integração.

Cortam-se os galhos, mantêm-se as raízes!

Diante da falta de esperança, alguns buscam um lugar no céu — que é vendido descaradamente por pregadores gananciosos.

Apesar da beleza e da alegria que insiste em brilhar e motivar cada um dos muitos trabalhadores das favelas — ainda há muito o que se melhorar.

Ainda há a desigualdade, o sofrimento, o estigma e a influência do crime organizado — mesmo na arte!

A favela ainda não venceu!

Não como cantam alguns funkeiros, que narram o seu sucesso pessoal e migração para bairros nobres da cidade como sendo uma vitória coletiva.

A FAVELA AINDA NÃO VENCEU!

Ela continua a lutar…

Leia também A População Carcerária no Brasil ‣ Jeito de ver

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A Cultura da Tortura: Análise

Ilustração de um instrumento de tortura.
Cadeira de tortura

Imagem de Hans por Pixabay

A Cultura da Tortura: Da Inquisição às Investigações Policiais

Vamos refletir, neste post, sobre a cultura da tortura — seu surgimento, a figura dos falsos heróis e os paralelos entre práticas inquisitoriais e as caças às bruxas.

Enquanto alguns ainda tentam justificar a tortura como método de interrogatório, outros questionam sua eficácia e legitimidade. Afinal, haveria alguma justificativa real para sua aplicação?

A proposta aqui é simples: compreender, de modo direto, como essa cultura se perpetuou ao longo do tempo — inclusive em regimes como o nazismo — e como tantos torturadores se ampararam na ideia de que apenas “cumpriam ordens”.

Franz Stangl, comandante do campo de extermínio de Treblinka, disse certa vez em uma entrevista:

“Minha consciência está limpa. Eu estava simplesmente cumprindo meu dever…”

A Reação e o Clamor por Justiça

A reação imediata à barbárie é o clamor por justiça. A ausência de punição gera revolta.

É muito comum ouvirmos relatos de pessoas que decidiram “fazer justiça” com as próprias mãos, por meio de linchamentos.

Programas de televisão populares entre 1980 e 2010 exploravam crimes terríveis com sensacionalismo, apresentando histórias de forma a fazer o telespectador sentir a injustiça vigente no país.

Diante deste cenário, as pessoas clamam por mudanças.

Daí surgem falsos heróis, repetindo padrões históricos de séculos e séculos.

Na ânsia de “solucionar rapidamente” um crime e satisfazer o desejo de sangue da população, métodos cruéis foram aplicados em muitos inocentes.

Falsos Heróis

Este é um trecho do texto presente no livro
Crônicas do Cotidiano – Um Novo Jeito de Ver
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Leia também: Contos de fadas – Um novo jeito de ver! ‣ Jeito de ver

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Dia dos Namorados: Amor e… marketing

alt="Fundo romântico para Dia dos Namorados com corações"
Que tal conhecer um pouquinho da história do Dia dos Namorados?

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“Não é só com beijos que se prova o amor”

Que tal começarmos este texto com este slogan bem fofinho?

É verdade que o amor é demonstrado e vivido das mais variadas formas, mas o slogan acima não se referia necessariamente a essas “mais variadas formas…”

Antes de entrarmos neste assunto, que tal conhecer um pouquinho da história do Dia dos Namorados?

Uma história de amor, fé, festa e… muito, muito marketing.


Valentine’s Day e Dia dos Namorados: uma história de amor, fé, festa e… marketing

Todo mês de junho, vitrines se enchem de corações, promoções e promessas de amor.

No hemisfério norte, o clima é parecido — só que acontece em fevereiro.

Mas o que muitos talvez não saibam é que tanto o Valentine’s Day quanto o nosso Dia dos Namorados têm origens bem mais curiosas (e contraditórias) do que parecem.

Entre cabras sacrificadas, santos apaixonados, poetas medievais e publicitários criativos, o amor encontrou muitas formas de se expressar ao longo dos séculos. E vale a pena olhar com carinho essa trajetória.


🌿 Entre rituais e rebeldias

Antes de tudo virar cartão com glitter, havia festa pagã e sangue de bode.
Na Roma Antiga, existia um festival chamado Lupercália, celebrado todo mês de fevereiro.

Os sacerdotes sacrificavam cabras e cães, depois saíam pelas ruas com tiras desses animais, tocando suavemente nas mulheres para garantir fertilidade.

A cena pode parecer estranha hoje, mas era uma mistura de rito de purificação, culto à fertilidade e homenagem a deuses como Juno, ligada ao casamento, e Pan, ligado à natureza e aos instintos.

Mas foi no século III, ainda em Roma, que surgiu o nome que daria origem à celebração moderna: Valentim.

Um padre que desafiou as ordens do imperador Cláudio II, que havia proibido os casamentos achando que soldados solteiros eram melhores guerreiros. Valentim discordava — e seguia celebrando casamentos às escondidas.
Descoberto, foi preso. Na prisão, apaixonou-se pela filha do carcereiro, que era cega.

Diz a lenda que ele curou sua visão e, antes de ser executado (em 14 de fevereiro de 270), escreveu-lhe uma carta com a assinatura que atravessaria séculos: “Do seu Valentim.”


Quando a Igreja entra na dança

A Lupercália incomodava os cristãos.

Em 496, o papa Gelásio I oficializou o Dia de São Valentim, apagando aos poucos os traços pagãos da festa e transformando-a em uma celebração cristã.
Coincidência (ou não): a data foi marcada para 14 de fevereiro, o dia da morte do mártir.

Com o tempo, São Valentim virou o patrono dos apaixonados — embora, em 1969, o Vaticano tenha removido seu nome do calendário oficial, alegando falta de provas sobre sua história.

Mas, a essa altura, o amor popular já estava muito além da burocracia religiosa.


Do canto dos pássaros aos cartões rendados

Na Idade Média, o romantismo ganhou força.

Poetas como Geoffrey Chaucer, na Inglaterra, começaram a associar o 14 de fevereiro ao tempo do acasalamento dos pássaros — uma espécie de primavera emocional.
Era o início do chamado amor cortês, onde nobres trocavam cartas, poemas e pequenas lembranças.

Na França, chegou a existir uma “Corte do Amor”, com concursos poéticos celebrando os encantos da paixão.

Já no século XIX, a revolução foi industrial: nos Estados Unidos, Esther Howland, filha de donos de papelaria, criou os primeiros cartões de Valentine em larga escala.

Em seu primeiro ano, vendeu o equivalente a cinco mil dólares — uma pequena fortuna na época.

Corações, rendas e cupidos viraram padrão. O amor começava a andar de mãos dadas com o comércio.


E no Brasil? Santo Antônio e a jogada de mestre

Enquanto o resto do mundo celebra o amor em fevereiro, aqui no Brasil a data foi plantada com criatividade e estratégia.
Em 1948, o publicitário João Doria (pai do ex-governador de São Paulo) foi chamado para aquecer as vendas de junho — um mês considerado fraco para o comércio.

Inspirado no sucesso do Dia das Mães, criou o Dia dos Namorados, marcado para 12 de junho, véspera do dia de Santo Antônio, o conhecido “santo casamenteiro”.

O slogan da campanha era direto e afetuoso:
“Não é só com beijos que se prova o amor.”

Funcionou. Hoje, o 12 de junho é a terceira data mais lucrativa do varejo brasileiro, atrás apenas do Natal e do Dia das Mães.


🌍 O amor em outras línguas

Em outros cantos do mundo, o amor também encontra jeitos inusitados de se manifestar:

  • Dinamarca: Homens mandam bilhetes anônimos rimados (gaekkebrev). Se a mulher adivinhar quem enviou, ganha um ovo de Páscoa.

  • África do Sul: Mulheres usam corações com o nome do pretendente costurado na manga da roupa.

  • Filipinas: Casamentos coletivos gratuitos são tradição em 14 de fevereiro.

  • Finlândia e Estônia: Comemoram o Dia da Amizade — amor em todas as formas.


💘 Entre o afeto e a vitrine

Pode parecer contraditório: uma história de santos, rituais, amor cortês… terminando em vitrines de shopping.

Mas talvez aí esteja justamente o charme dessas datas: elas se reinventam.

Hoje, 59% dos espanhóis dizem gastar, em média, €95 no Valentine’s Day.

E no Brasil, em 2025, os restaurantes e floriculturas seguem cheios no dia 12 de junho.
O amor pode até não ter preço — mas, no mundo moderno, ele tem data marcada, slogan, embalagem… e lugar garantido no calendário do coração (e do comércio).


P.S. É verdade que, em tempos de algoritmos (Tinder, Bumble), o clima de romance perdeu um tanto de seu encanto, e as pessoas, como num “capitalismo emocional tecnológico”, consomem seus afetos, assistem até enjoar e clicam no próximo… não se permitindo viver um pouco mais uma história.

Uma velha frase, talvez distorcida em minha memória — acredito que seja do Ailton Krenak, embora me lembre muito as citações do Goulart — dizia mais ou menos assim:
“A vida não é útil, não se come. Mas, sem ela, a gente não come, não ama.”

É estranho como, mesmo em tempos tecnológicos, geramos bilhões de curtidas românticas por dia e tudo o que, às vezes, sonhamos é com um olhar sincero, diferente, que dure mais de 30 segundos.

Pois é…apesar de tudo…precisamos de amor!

Veja também Romântico (Uma poesia simples) ‣ Jeito de ver

Texto revisado por I.A.

A verdade por trás das Privatizações

A verdade por trás das Privatizações


Em tempos de discussões acaloradas sobre o papel do Estado e o avanço das privatizações, torna-se essencial compreender as nuances desse processo e seus reais impactos sobre a sociedade. Este texto apresenta uma análise comparativa entre diferentes países, abordando dados, exemplos e reflexões sobre como a privatização nem sempre significa mais eficiência ou melhor atendimento ao público.

As Privatizações e a Ampliação do Capitalismo na Atualidade

É difícil fornecer números precisos e atualizados para o número de empresas públicas e privadas em cada país, pois estes números podem variar dependendo da fonte e da definição de empresa pública ou privada.

No entanto, é possível oferecer uma visão geral com os dados mais relevantes.

Inglaterra

Empresas Privadas:

A Inglaterra possui uma economia de mercado liberal, caracterizada por um vasto número de empresas privadas.

Empresas Públicas:

Apesar da predominância privada, o Reino Unido mantém importantes empresas públicas, como o National Health Service (NHS), além de empresas de transporte público e outras organizações de serviços essenciais.

Espanha Barcelona

Empresas Privadas:

A Espanha conta com um setor empresarial privado diversificado e fundamental para a sua economia.

Empresas Públicas:

O país mantém algumas empresas públicas de relevância, como a empresa de telecomunicações estatal Telefónica, além de outras entidades ligadas a setores estratégicos.

Itália

Empresas Privadas:

A Itália abriga um grande número de empresas privadas, incluindo marcas globais renomadas como Ferrari e FIAT.

Empresas Públicas:

O Estado italiano também participa de setores importantes, com empresas como a companhia de energia ENEL, além de outras ligadas a infraestrutura e serviços públicos.

França

Empresas Privadas:

O setor privado francês é vibrante e diversificado, com forte presença em setores como luxo, tecnologia e indústria.

Empresas Públicas:

Ainda assim, a França mantém estatais estratégicas, como a empresa de energia EDF, além de outras importantes para a segurança e o bem-estar nacional.

Japão

Empresas Privadas:

O Japão é reconhecido mundialmente por sua economia altamente competitiva, repleta de empresas privadas que lideram setores como tecnologia, automóveis e eletrônicos.

Empresas Públicas:

Entretanto, o país mantém empresas públicas significativas, sobretudo em áreas como transporte público e energia, assegurando serviços essenciais para a população.

Estados Unidos

Empresas Privadas:


Os EUA concentram um número colossal de empresas privadas, incluindo grandes corporações multinacionais e milhões de pequenas e médias empresas. Estima-se que existam cerca de 33 milhões de empresas no país.

Empresas Públicas:

Apesar de sua imagem de economia liberal, os Estados Unidos possuem aproximadamente 7.000 estatais em níveis federal, estadual e municipal, responsáveis pela oferta de serviços públicos variados.


O Protecionismo dos Países Desenvolvidos

Os países mais desenvolvidos preservam como estatais empresas de importância estratégica.

Mesmo economias marcadas pelo capitalismo e pela livre iniciativa mantêm sob controle público setores essenciais como energia, transporte, saúde e segurança, reconhecendo que tais áreas são fundamentais para a soberania nacional e o bem-estar coletivo.

No Brasil, por exemplo, apesar das pressões privatizantes, existem empresas públicas como a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT).

A ECT, que por muitos anos gerou lucro ao governo federal, cumpre sobretudo uma função social e estratégica: conectar pessoas em todo o território nacional, assegurando o transporte de encomendas, correspondências, urnas eletrônicas e prestando auxílio emergencial em casos de tragédias, como ocorreu recentemente no Rio Grande do Sul.

Esse exemplo ilustra como a presença estatal em determinados setores é fundamental, não apenas para garantir eficiência, mas para assegurar direitos sociais, apoio em emergências e a coesão nacional.

Por outro lado, muitos países em desenvolvimento optam por uma estratégia oposta, abrindo suas economias a investimentos estrangeiros e privatizando empresas estatais.

Embora essa abertura seja vista como uma forma de atrair capital e tecnologia, também pode gerar vulnerabilidades, principalmente frente à competição global.

Um exemplo marcante dessas diferenças políticas está na proteção agrícola: a União Europeia e os Estados Unidos impõem barreiras rigorosas para proteger seus produtores, enquanto países como o Brasil têm reduzido restrições comerciais em busca de novos mercados.

Estatísticas recentes mostram que tarifas aplicadas por economias desenvolvidas em produtos agrícolas permanecem significativamente mais altas do que as praticadas por países em desenvolvimento.

Essas políticas refletem uma complexa dinâmica entre proteção e abertura, com impactos não apenas econômicos, mas também sociais e ambientais.


Privatizações: Eficácia ou Lucro?

Um dos argumentos mais frequentemente promovidos na imprensa para defender a privatização é a premissa de que a transferência de serviços públicos para mãos privadas resulta em maior eficiência e qualidade.

Contudo, tal narrativa frequentemente encobre os verdadeiros interesses financeiros envolvidos.

Privatizações em setores como saúde, educação e saneamento básico revelam que, na prática, a busca pelo lucro frequentemente se sobrepõe ao bem-estar social.

Exemplos claros podem ser observados na privatização de empresas de energia, onde a prometida eficiência se confronta com tarifas mais elevadas e redução no acesso.

São Paulo no Brasil sofreu vários apagões elétricos embora o sistema esteja privatizado há alguns anos. Uma possível causa dos apagões e atraso na solução foi a redução do número de trabalhadores de manutenção.

Outro caso emblemático é a privatização de serviços de água e esgoto: em diversos países, essa medida gerou deterioração no atendimento, cortes de custos que comprometeram a segurança sanitária e ampliaram problemas sociais e de saúde pública.

Diante disso, é essencial questionar o discurso que associa privatização à eficácia.

Muitas vezes, o impacto sobre as comunidades é negativo, revelando uma discrepância entre interesses financeiros e necessidades sociais.


Privatização e Subornos: Uma Relação Perigosa

Embora as privatizações devessem ser pautadas pela transparência e pelo interesse público, frequentemente tornam-se palco para práticas corruptas, incluindo o suborno.

A relação entre interesses privados e contratos públicos pode obscurecer processos legítimos, transformando a privatização em vetor de corrupção.

Na América Latina, por exemplo, várias privatizações de serviços públicos foram celebradas sob promessas de eficiência, mas acabaram beneficiando financeiramente apenas um seleto grupo, graças a esquemas de subornos e favorecimentos.

Essa conivência entre empresas e autoridades compromete a integridade das instituições democráticas e gera um ciclo vicioso onde a corrupção se perpetua, tornando a sociedade mais desconfiada das reformas.

É, portanto, imperativo estabelecer regulamentações rigorosas e mecanismos de accountability, para que a privatização não se converta em um instrumento de corrupção, mas em uma ferramenta legítima de desenvolvimento social e econômico.


Reflexões Finais sobre o Futuro das Privatizações

O futuro das privatizações segue como um tema de intensos debates.

Nota-se uma crescente polarização entre os defensores dos modelos privatizantes e aqueles que alertam para seus impactos sociais.

Embora se reconheça que a privatização possa proporcionar eficiência e inovação, ela também pode agravar desigualdades e limitar o acesso a serviços essenciais, especialmente em sociedades já fragilizadas.

Nesse contexto, o papel da sociedade civil é crucial: comunidades precisam estar vigilantes e ativamente engajadas nos processos de privatização, buscando garantir que os interesses coletivos sejam protegidos.

Assim, vislumbra-se um futuro onde as privatizações não sejam apenas instrumentos de capital, mas caminhos que conciliem eficiência econômica com justiça e inclusão social.

O desafio é construir um paradigma que reconheça a necessidade do lucro, mas que, acima de tudo, valorize e proteja o bem comum.

O que a experiência mostra neste respeito? Que na maioria das vezes as privatizações são efetuadas sem consulta pública e que empresas são sucateadas e vendidas por valores abaixo do mercado.

Privatização X Serviço Público

A privatização nem sempre significa melhoria nos serviços ou no atendimento ao público, pois os interesses das empresas privadas geralmente estão voltados ao lucro, e não à garantia de acesso universal e de qualidade.

Muitas vezes, após a privatização, há aumento das tarifas, redução de investimentos em áreas menos lucrativas e precarização das condições de trabalho, afetando diretamente a população mais vulnerável.

Setores essenciais como energia, saneamento e transporte, quando privatizados sem uma regulação eficiente, acabam transformando antigos monopólios públicos em monopólios privados, prejudicando a concorrência e ampliando desigualdades regionais.

A experiência internacional e brasileira demonstra que a eficiência prometida com a privatização depende de vários fatores, como a presença de uma agência reguladora forte, a existência de concorrência real e o compromisso social da empresa.

– O que na maioria das vezes não acontecem em países em desenvolvimento!

Casos como o das ferrovias britânicas, a telefonia no Brasil e o saneamento em algumas cidades revelam que a busca por lucro pode comprometer a qualidade e a acessibilidade dos serviços. Estudos indicam que não há evidência conclusiva de que a privatização, por si só, melhore a eficiência ou beneficie a população.

Assim, a decisão de privatizar deve ser sempre acompanhada de um debate público qualificado, com avaliação dos riscos e garantias de proteção aos direitos coletivos.

Leia também: Os Riscos da Privatização da Educação ‣ Jeito de ver

Revisão ortográfica e gramatical por IA.

© Gilson da Cruz Chaves – Jeito de Ver Reprodução permitida com créditos ao autor e ao site.