A Primeira Impressão
Meu caro vizinho da casa 61
Sei que a vida anda apressada ultimamente, é verdade, e são raras as vezes que tenho a oportunidade de te encontrar — sem essa pressa maldita, tão comum às pessoas.
Mas quero te agradecer.
Confesso que, vendo a disposição e a força com que realizas tão bem os teus trabalhos, sempre acreditei que eras um Super-Homem.
Por isso, quando te cumprimentei com aquele simples “bom dia”, eu não esperava ouvir tantas histórias.
Saber que tu enfrentas sentimentos como a solidão, a depressão e problemas da natureza humana diariamente me ajudou a considerar melhor a minha vida. Eu, que vivo entre livros e músicas, que torço por um time que não ganha um título nacional desde 1989 e que sempre acreditei também não haver nada errado com o Senhor.
Percebi que, constrangido, narravas um pouco dos teus problemas de infância e quantas visitas ao hospital a tua saudosa mãe se via obrigada a fazer. Chorar ao recordar alguém que te amava e que também se importava tanto contigo não é crime. Fez muito bem!
Eu jamais saberia, é certo, que, apesar dessa força que mostras nos teus passos, há um ser humano mais forte ainda. Pois lidar com certos problemas pode ser desgastante e desanimador — e alguns, infelizmente, desistem no caminho.
Não, eles não são fracos! Eles lutaram, também!
Talvez, não encontrassem ouvidos sinceros, de pessoas que se importassem.
Hoje em dia, quando as pessoas perguntam “Como está?”, o fazem por formalidade, muitas vezes sem nenhum interesse nos outros. Querem ouvir a única resposta que as agrade, para se isentarem do peso de serem úteis!
Quando te cumprimentei e ouvi a tua história, ganhei muito mais do que motivos para acreditar.
Ganhei uma razão para continuar.
Lições de Alguém que Escuta
Disseste-me sentir a falta de teu pai, tua irmã, teus amigos — me identifiquei, pois os meus livros, apesar de maravilhosos, não compartilham os meus sentimentos.
Por favor, peço apenas que não desanimes ao encontrares aqueles que querem apenas ouvir um “estou bem”, por estarem ocupados demais com os seus próprios egos. É duro admitir, essas pessoas existem e pouco se importam com os outros. Vão te dizer que falar dos teus problemas é fraqueza, que existem coisas mais importantes pra pensar, mas não esmoreça.
Entenda: desabafar é também uma maneira de reorganizar os pensamentos, e aquele que te escuta, se for sincero, terá o privilégio de aprender e crescer junto contigo.
Te peço perdão por não ter me lembrado de perguntar o teu nome, mas a tua história de lutas e sofrimento ainda me comove e me inspira. Continue a luta.
Agradeço por ter confiado a tua história e a tua voz a um desconhecido que também nem sabias o nome. Acredito que todo o altruísmo foi teu. E, numa próxima ocasião, espero encontrar-te novamente e conversarmos um pouco mais, compartilharmos experiências e termos a chance de conhecer também a tua família, tocarmos algo em meu velho Di Giorgio e descobrirmos os teus talentos.
Agradeço e até uma próxima oportunidade,
Pedro,
Teu vizinho do Nº 15
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