O mundo era um pouco menos estranho
Não tínhamos tanto medo, não desconfiávamos do escuro
A velha praça era mal iluminada,
podíamos ver estrelas
e ouvir as meninas cantando,
Elas ensaiavam uma canção de setembro
Era lindo ouvi-las cantar…
Os casais caminhavam de mãos dadas, tanta vida pra viver
e o tempo parecia parar, para que eles passassem
e para que também ouvissem as meninas naquela canção de setembro
Os bares desligavam seus aparelhos sonoros
para que as vozes tomassem o ambiente,
as pessoas sabiam que seria apenas uma música na hora, na história
por isso, não tinham pressa…
e por coincidência, era setembro.
Maldito tempo,
por que tinha que passar, ainda que devagar? Maldito tempo!
Quem dera aquele momento fosse eterno
e as pessoas não vivessem como vivem hoje, com essa pressa,
trancadas em telas de aparelhos, escravas da pressa e dessa impaciência…
Quem dera aquele tempo lançasse uma semente no vento,
e as pessoas aprendessem um novo instrumento
e cantassem juntas
e que não vivessem isoladas nesta multidão, como vivem hoje
Quem dera os músicos pudessem cantar nas ruas
e que poesias pudessem ser decantadas…
Sem pressa, no devido tempo…
E que as belas meninas, sentassem novamente, naquele mesmo lugar
na velha praça e cantassem novamente
e semeassem no ar, as velhas canções de setembro.
Gilson Cruz
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