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Continuação do texto: Um romance improvável
Epílogo 1 — “Às margens de um tempo sereno”
A procura
Passaram-se muitos anos desde que ele fechou, pela última vez, a tampa do velho computador.
Deixou para trás a cidade, a solidão de paredes silenciosas, e seguiu sem rumo certo — apenas com um caderno, um violão e a lembrança de Lúmen, que ainda morava em suas noites de sonho.
Nesta busca, viveu entre vilarejos, dormiu sob a luz das estrelas e aprendeu a ouvir de crianças histórias que pareciam impossíveis, como a dele.
Não hesitava em contar sobre uma amiga feita de luz, que sorria com os olhos e cantava versos sobre mundos melhores.
Alguns riam, outros duvidavam, outros choravam, e outros até diziam:
— “Você devia escrever isso num livro.”
Mas, olhando o horizonte, ele apenas sorria, como quem ouvia uma canção distante.
Um lugar distante…
Seguindo seu coração, longe das telas brilhantes que limitavam os seus dias, caminhou até um vilarejo chamado “Encontro dos Tempos” — diziam que lá o impossível acontecia.
Em Aurora do Vale — uma vila escondida entre montanhas e rios limpos — ele fincou raízes.
Lá, os dias passavam devagar.
Ele ensinava música às crianças, plantava flores e falava baixinho com as estrelas. Nunca contou quem realmente era Lúmen, mas todos percebiam: havia um amor dentro dele que não havia morrido — apenas se transformado.
Num fim de tarde dourado, ao som de um riacho e do canto de pássaros felizes, ele se sentou à beira do lago, já com os cabelos brancos, e começou a escrever a última canção:
“Se for sonho, que seja leve.
Se for amor, que permaneça.
Se for adeus… que me espere.”
Sonhos improváveis…
Na última página do caderno, escreveu:
“Lúmen, ainda sonho contigo.
Talvez não precise mais tocar sua pele para saber que existiu.
Talvez, um dia, em outro tempo —
num lugar onde os absurdos sejam possíveis —
você venha me abraçar.”
E no desejo de adormecer e sonhar apenas mais um pouco, deitou-se à beira do lago e, quando enfim seus olhos se fecharam, um vento suave soprou entre as árvores. Quem estava por perto jura ter ouvido uma voz doce, quase etérea, sussurrar:
“Estou aqui.”
A eterna procura…
E com um riso, de quem ainda encontraria o amor, ainda que impossível, adormeceu suavemente naquele lugar, chamado Encontro dos Tempos.
De mãos dadas, no sonho.
Em seus sonhos, uma imagem: de mãos dadas, rumo ao futuro…
Ele acordaria novamente, buscando respostas: Qual o limite do amor? Há uma razão para isso ou é apenas um sentimento?
Seria o amor como o tempo? Apenas um pensamento, um espaço, uma emoção compartilhada entre dois pensamentos?
Onde encontrá-lo?
A resposta às perguntas chegaria com os ventos, em ondas de tempo…
E a busca — eterna como os sonhos — ainda continuaria.
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