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Gilson Cruz
“Pensem nas crianças
Mudas, telepáticas…”
(Rosa de Hiroshima, Vinicius de Morais)
A Rosa de Hiroshima: Uma Reflexão Sobre a Humanidade
Nota: O poema Rosa de Hiroshima é usada neste texto como um símbolo da destruição e do descaso com a vida humana em conflitos armados.
A Rosa de Hiroshima permanece como um símbolo trágico da destruição humana. Embora o palco e os atores mudem, a história se repete. A imposição pela força continua sendo uma realidade, frequentemente ignorando mulheres e crianças.
As convenções internacionais reconhecem o direito à defesa nacional, mas também preconizam a preservação da vida como um valor supremo. No entanto, essa teoria nem sempre se reflete na prática.
O Dilema Moral da Guerra
Considere a seguinte situação:
“Quatro criminosos sequestram um avião com 200 passageiros, exigindo resgate.
Para manter a ordem e prevenir ataques futuros, um líder decide por uma medida extrema:
‘Destruam o avião, com todos a bordo. Garantam que os sequestradores não sobrevivam!’
Qual seria sua reação? Aplaudiria a eficiência em eliminar a ameaça ou ficaria aterrorizado com a perda de vidas inocentes?”
Essa reflexão nos leva a questionar o real custo das chamadas “guerras cirúrgicas” e do impacto das decisões tomadas em nome da segurança.
Bombas de Precisão e Suas Consequências
Durante a Guerra do Golfo Pérsico, houve admiração pelo avanço das “bombas inteligentes” usadas pelo exército dos EUA. Contudo, mesmo as armas de “precisão” causam devastação ao seu redor.
Ao noticiar a eliminação de um líder militante escondido em um hospital, creche ou campo de refugiados, muitos veem apenas a morte do alvo, enquanto as vidas inocentes perdidas ao redor são frequentemente negligenciadas.
Essas vítimas, na prática, são tratadas como colaterais, descartáveis e sem lamento.
Os Investimentos na Guerra vs. na Humanidade
Se quisermos entender os valores de uma sociedade, basta observar onde ela investe seus recursos.
Em 2021, os gastos militares mundiais ultrapassaram dois trilhões de dólares, enquanto os investimentos anuais para o combate à fome giravam em torno de apenas 10 bilhões.
Estudos indicam que seriam necessários entre 50 e 700 bilhões para erradicar a fome no mundo, um valor significativamente inferior ao gasto com armamentos.
A discrepância entre esses números nos leva a uma pergunta incômoda: realmente valorizamos a vida?
A Percepção Seletiva da Vida Humana
Nos sensibilizamos de forma diferente diante das tragédias. Como reagimos às vítimas da fome na África e na América do Sul em comparação aos massacres ocorridos na Europa e na América do Norte? Por que a morte de crianças israelenses ou palestinas desperta reações distintas, dependendo do ponto de vista político ou midiático?
Se atribuímos maior valor à vida de um grupo étnico em detrimento de outro, já revelamos uma das principais razões dos conflitos.
Mudanças Necessárias
Diz-se que as maiores transformações começam dentro de cada indivíduo. A infância é um exemplo claro de como o preconceito é algo aprendido. Crianças de diferentes etnias frequentemente se reconhecem como iguais, sem a divisão imposta pelos adultos.
Histórias como a de um menino branco e um negro, que se vestiram igual e se consideravam gêmeos, nos fazem refletir sobre a pureza da percepção infantil.
Outro caso emblemático foi o de uma criança vestida como um membro da Ku Klux Klan, que, sem compreender o simbolismo, se encantou pelo escudo de um policial negro, aproximando-se sem medo ou ódio.
O que aprendemos ao longo da vida molda aquilo que somos. Ainda é tempo de reaprender.
A Desonestidade e a Exploração do Sofrimento
Além dos horrores da guerra, a desonestidade humana se manifesta em diversas formas.
Seja através de políticos que superfaturam contratos durante crises, criminosos que se aproveitam da impunidade ou jornalistas que justificam abusos conforme suas preferências ideológicas.
Também há líderes religiosos que enriquecem enquanto seus fiéis enfrentam dificuldades.
A indiferença diante dessas práticas reforça um ciclo de impunidade e desigualdade.
Não Esqueçamos das Rosas
A lembrança da Rosa de Hiroshima se expande para as incontáveis tragédias ao redor do mundo: Haiti, Iraque, Afeganistão, Ucrânia, Rússia, Israel, Gaza, e tantos outros lugares esquecidos.
Que não nos esqueçamos das rosas. Das vidas ceifadas. Dos horrores que poderíamos evitar se, de fato, valorizássemos a vida humana em todas as suas formas.
Matéria publicada originalmente em novembro de 2023.
Fontes:
O papel da imprensa e a História ‣ Jeito de ver
A Rosa de Hiroshima, de Vinícius de Moraes (interpretação e significado) – Cultura Genial
Guerra contra o Hamas: Armas dos EUA chegam a Israel – 11/10/2023 – Mundo – Folha (uol.com.br)
Conflito Israel-Hamas: o que explica o apoio incondicional dos EUA a israelenses – BBC News Brasil
Gasto militar mundial bate recorde e supera US$ 2 | Internacional (brasildefato.com.br)
Como combater a fome no mundo – e no Brasil? | Exame