Mestre Arlindo estava preocupado.
Era o primeiro ano em que a Escola Unidos por Natureza disputaria o acesso à décima divisão das Escolas de Samba e não sabia sobre o quê escrever.
Isso porque todos os temas possíveis já estavam comprometidos e seriam abordados por outras agremiações, e nenhum barão do bicho iria querer colocar seu nome numa escola fraca. E convenhamos, repetir o tema dos outros era pedir pra sair!
Daí, o Sr. Martins, um dos compositores, teve a brilhante ideia de compor um samba enredo como nenhum outro.
Um samba que trouxesse toda a história do mundo, sem refrão ou frases repetidas.
E assim se deu, depois de duas longas semanas, o Samba Enredo estava pronto. Os compositores sofreram em pesquisas, mas, ufa! venceram o desafio!
Mas tinha um probleminha: Era um samba de 96 páginas e ninguém conseguiu memorizar absolutamente nada daquilo que foi escrito…
Daí uma nova brilhante ideia: a gente leva por escrito e canta.
E chega o grande dia:
A Portela da Fazenda trazia a ficção científica e mergulharia no mundo dos ETs, tanto que o ET Bilu foi convidado e aparentemente estava lá, foi o que deduziram pelos gritos do Alien: “Busquem conhecimento” enquanto levantavam os braços imensos. – A plateia veio abaixo.
A agremiação “O Salgueiro que você plantou” traria os seis mil anos de escravidão e para surpresa de todos, inclusive dos figurantes, os chicotes eram de verdade e estalavam nas costas, com a mesma cadência do samba enredo: “Mortes na senzala”.
– E o povo aplaudiu pensando que era encenação…
O Beija Flor do Jardim trazia a história da evolução política no país, é incrível como representaram fielmente os políticos e familiares ficando ricos e os pobres se contentando com migalhas.
Foram bem convincentes, tanto que o público passou a atirar pedras nos sambistas…
Outras escolas se seguiram como “Mocidade dependente dos pais”, “Viradouro da esquina”, “Vira Isabel”, todas com nomes que lembravam as do grupo principal.
A plateia já tinha decidido.
A apresentação extraterrestre tinha sido a melhor!
Enfim, chegou a hora mais esperada: “E com vocês, Unidos por Natureza” e o enredo…”
Esqueceram de passar o tema para o locutor, que gritou: – ” Vai lá!”
O Grupo dos cantores pegou apressado suas páginas com a letra do samba e os ritmistas puxaram a música…
Mas, como toda história tem um detalhe… Apanharam na pressa as páginas erradas, e não tinha mais volta.
E Arlindo, nervoso, suando frio, intestino revirando, grita: “Natureza chamou…”
E o público, se identificou de imediato com a letra, aplaudiu freneticamente, respondendo em coro:“Natureza chamou”
“E eu me apressei… Eba Eba”
“Eu me apressei” – Respondiam emocionados…
“Corri pra qualquer lugar
NA-NA-Natureza Quem tem um trono É Rei…”
E NO IMPROVISO MAIS BELO E SINCERO DA HISTÓRIA, O PÚBLICO INOCENTE FOI CONQUISTADO e os juízes não conseguiram dar menos que a nota máxima em todos os fundamentos.
O acesso à nona divisão estava garantido.
E até hoje, esse é o samba mais famoso das escolas que por ali desfilaram…
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