Poucos goleiros foram tão bons na história do futebol, quanto o João Rodrigues, lá do XV de Setembro, embora muito poucos o saibam.
Mas, XV de Setembro? Não seria mais apropriado e significativo o XV de Novembro, data em que, foi proclamada a República naquele país?
Creio que ou o Sr. José Rodrigues não era muito bom em memorizar datas, ou quem sabe, na hora de registrar o nome do clube, Aurelino, o escrivão, não escutou muito bem, e por causa da animação de ver o novo time da cidade ganhar corpo, as conversas fluíram sem que ninguém percebesse o erro na bendita data!
Apenas na hora de inscrever o XV no campeonato é que perceberam o erro no nome.
Mas, apesar disso, João Rodrigues, que por coincidência era filho do senhor José, dono time, era o goleiro.
Sim, apesar desta coincidência, antes que alguém fale de nepotismo, ele realmente era um grande goleiro!
Enquanto a atitude da maioria dos goleiros era reativa, este parecia adivinhar o que os pobres atacantes dos times adversários fariam.
Os jogadores mais inteligentes ficavam frustrados, pois nenhuma invencionice ou improviso dava certo. – A bola não passava!
E como diziam, sem saber: “Ele pegava até pensamento!”
Mas, o pior é que isso era verdade! Não sei como, mas ele realmente conseguia ler os pensamentos dos atacantes, quando estes diziam no íntimo: “Vou jogar o corpo para a direita e cavar no meio…”, ou intencionavam humilhar o goleiro num drible da vaca espetacular.
Ele era mestre em frustrar planos!
Como numa dessas maravilhas ou milagres ele lia os pensamentos de seus adversários, por mais que inteligentes ou habilidosos que fossem!
Era estarrecedor! Nem mesmo ele sabia o por quê de suas habilidades!
Na primeira partida, muita emoção, daquelas de fazer defunto gritar: “ÊEEEba”, que foi contra o 2 de Novembro, o time estava sendo massacrado. Não à toa o 2 de Novembro era famoso por enterrar seus adversários!
A pressão intensa e os gritos da torcida anunciavam a tragédia. O XV perderia fatalmente – mesmo com a atuação quase perfeita da zaga que não permitia maiores avanços.
Mas, aos 44 minutos do segundo tempo o melhor jogador do campeonato, o Mestre Jorge (que nas outras horas era um excelente professor!) teve a sorte de ver a bola passar pela zaga e deixá-lo frente a frente com o João. A bola fatal passou pela zaga, a muralha do time do seu José, no úlitmo minuto, e Jorge poderia então se consagrar.
E o improvável aconteceu!!!
Apenas João Rodrigues no centro da meta e todo o espaço do mundo para colocar a bola…
De repente, Jorge para…e visivelmente transtornado senta com ares de tristeza.
Ninguém entendia o por quê!
Realmente, era inexplicável!
Mas, a entrevista pós jogo, revelou parte do mistério.
Naquele momento – todos os pensamentos do artilheiro foram apanhados!
Ele nem mesmo sabia o que fazia em campo!
O abatimento após o lance serviu de incentivo para o 15, e aos 46:58 do segundo tempo, veio o gol da vitória.
Sua primeira vitória, logo na estreia, na casa do adversário!
E assim se deu por todo o campeonato, os atacantes do Barra Rasa, agiam como se não tivessem um objetivo em campo.
O Barra Funda, que era o time do irmão do Barra Rasa, achou que tinha aprendido do fracasso do time irmão, da parte mais rasa e na surdina resolveu pagar um extra ao juiz para facilitar a sua vida, e como precisava da vitória – gastou, e não foi pouco!
Aos 43 minutos do segundo, num lance normal em que nem o Rolando Júnior se atiraria ao chão – Romualdo, o juiz, apitou e apontou para a marca da cal, sinalizando pênalti.
A torcida vibrou, apesar do lance vergonhoso!
O XV de Setembro protestou – mas, o juiz manteve-se irredutível!
E Mauro Foguete, o principal batedor, ajeitou a bola, escolheu o canto e correu para a cobrança do pênalti.
Os nove metros que o separavam da consagração pareciam nove quilômetros!
E ele correu…e no último passo…esqueceu de tudo!
E num chute infantil o goleiro defendeu sem o mínimo esforço.
Insatisfeito, o juiz apontou uma irregularidade inexistente, e outro jogador foi selecionado e…
Pimba!
Perdeu os pensamentos!
E o mesmo aconteceu com o todo o elenco do time adversário!
E com o Barra mentalmente esgotado, desmoralizado, o XV num ataque rápido conseguiu a vitória.
Não havia mais adversários.
E na partida final do campeonato, o time com erros no nome, mas já campeão, enfrentaria o time menos temido.
O Inerte Futebol Clube.
Diziam que os jogadores do Inerte F.C eram quase mentecaptos, que serviam como postes em algumas ocasiões.
O XV de Setembro já comemorava antecipadamente a vitória.
O Inerte era tão ruim, que os jogadores eram conhecidos pela burrice e improdutividade em campo. Perderam todas as partidas pelo placar mínimo de 13 a zero!
E a partida começou e de cara Tinho, o lunático, conseguiu fazer o impossível! Marcou o primeiro gol no XV.
O apanhador de pensamentos ficou perdido, sem saber o porquê.
O pior estava por vir, Leopoldo, que era apelidado de Pordo por alguns e de Potro por outros, converteu todos os chutes em gol!
João Rodrigues estava arrasado, não entendia porque errava tanto!
O XV de Setembro foi campeão, mesmo levando 11 gols do Inerte F.C.
E assim se deu…
O goleiro do XV de Setembro não conseguia segurar nada que fosse de proveito da mente dos jogadores do Inerte F.C.
João Rodrigues aprendeu…não havia nada a pegar daquelas mentes…
E passou então a estudar melhor seus adversários para o próximo campeonato, pois entendeu que de algumas mentes NADA SE APROVEITA!
Gilson Cruz
Veja também
Quiprocuó Esporte Clube – Falando de futebol ‣ Jeito de ver
Zé da Ladeira – uma história de futebol. ‣ Jeito de ver
Descubra mais sobre
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.
Comentário (4)
Aline| 22 de fevereiro de 2024
Kkkkkk mt bom
Adenilson Jr.| 22 de fevereiro de 2024
Essas suas metáforas meu amigo, sensacional. Rsrsrs
Gilson Cruz| 22 de fevereiro de 2024
Obrigado de coração, meu amigo.
Gilmar Chaves| 25 de fevereiro de 2024
Realmente, a mente sábia precisa ser entendida para o aproveitamento e enriquecimento alheio (como no caso do goleiro), enquanto a mente que não faz questão de pensar de nada valerá, Pois, não se aprende e não se cresce com uma mente “inerte”.