A nação estava atordoada.
Não era a primeira vez que o Quiprocuó Esporte Clube disputava o Campeonato Nacional, mas desta vez parece que não iria ter pra ninguém.
Antes, o modesto time se contentava em fazer um bom campeonato e a bela e fiel torcida comparecia, para torcer e se emocionar nas vitórias difíceis e nas duras derrotas. Pais, Mães e Filhos estavam lá para ver seus atletas favoritos dando o máximo. Nem sempre se ganhava, mas o passeio com os amigos valiam mais que qualquer placar.
-“Semana que vem, tem mais” – diziam.
Mas, o tempo passou…
Agora, surgiu um novo Quiprocuó.
Futebol envolvente, tic-tacs, rápidos, certeiros e goleadas que fariam um 7 X 1 qualquer parecer resultado de jogo amador.
A torcida crescia, se emocionava a cada lance, O Quiprocuó E.C não decepcionava.
Todos vibravam…
O FC Mambembe não quis tomar 7 X 1, para não compararem com a Seleção Canarinho, seria muita humilhação, então no sétimo gol do Timaço partiu pra violência. E o campo se transformou num imenso ringue. Mas, o Quiprocuó esperto, saiu do campo deixando os mambembes na vergonhosa guerra solitária.
A nova torcida do Quiprocuó gostou da ideia e partiu para a batalha. Infelizmente, em cem anos, o primeiro torcedor morria. Não, ele não morria pelo seu time.
Não vamos trocar as coisas!
Como a Justiça desportiva não punia a ninguém exemplarmente, o campeonato continuou. E na partida seguinte, o Quiprocuó entrava em campo com um uniforme preto, simbolizando o luto, com a faixa: “Esporte é vida, vamos viver”.
Essas frases imbecis que visam sensibilizar as pessoas por uns instantes, para fazer de conta que algo mais que o dinheiro importa aos dirigentes… Mas, o Quiprocuó não tinha nada a ver com isso…
Quando chovia parecia que as portas celestiais se abriam nas traves adversárias, era 10X1 nos Chockenses do Sul, 9X 2 nos Pernetas Celestes e a maior goleada que se viu dizer até hoje 45 X 1 no Vendidos ProBet ( acho que esse foi realmente vendido!) – Mas, não se investigou quem ganhou milhões com esse resultado, então valeu!
O campeonato estava nas mãos, mas algo parecia não estar certo.
De repente, o Time das massas entrou então no campo sem nenhuma disposição.
As pernas dos jogadores pareciam não obedecer aos comandos da mente.
E o técnico se desesperava.
As partidas do Quiprocuó se tornaram tão chatas, mas tão chatas, que o narrador decidiu narrar a festa da torcida.
“Olha lá, Olha lá…os Quiprocuenses dão espetáculo…” – Gritava um entusiasmado locutor
“Que festa… Que festa…é só alegria!” – Dizia outro.
“Olha lá, o Quiprocuense veio trajado de Superman… Essa torcida é Show!” – Dizia o mais apaixonado narrador.
Enquanto isso, o time esquecia o futebol – ganhava jogando feio, futebol não é arte, o importante era ganhar – nem que fosse jogando aquela bolinha! Mas, isso não importava, a torcida garante o espetáculo!
E a nova torcida captou a mensagem!
Eles eram mais importantes que o futebol.
A cada partida uma nova coreografia, uma nova música e até uma confusão generalizada para gerar notícias. E mais e mais pessoas se machucavam e mais e mais morriam.
“Quiprocuó, é um time amado
Que nasceu pra ganhar,
Podemos morrer por ti
morrer de tanto te amar…!”
Sim, até na música para o time a torcida fazia a sua propagandinha – pois, estava em evidência.
E o Campeonato acabou, Quiprocuó venceu aquele campeonato, os melhores jogadores foram embora para ooutros times, dirigentes ficaram milionários e com o tempo aquele time promissor deixou de existir.
E o píor é que ninguém percebeu! Nem os loucutores esportivos que se acostumaram a elogiar as torcidas organizadas e que deixaram os times de lado notaram o fim do Quiprocuó!
Mas, a torcida organizada do Quiprocuó ainda existe e faz jus ao nome do time.
Ainda canta, faz coreografias, briga e mata, sim mata jovens que não sabem o que é apreciar um esporte.
Jovens que se sentem poderosos em grupo e não hesitam em agredir e até mesmo matar quem usa uma cor diferente.
Ah! O Quiprocuó não quis financiar torcedores violentos…não quis pagar para ter uma torcida de fachada – por isso deixou de existir. Pois os torcedores tradicionais não mais iam aos estádios. Tinham medo!
E hoje, mesmo com os estádios vazios, a torcida se reúne para louvar a si mesma e fazer a festa.
Para um campo vazio!
E canta ao nada…
Pois pra quê um time, quando a torcida torce por si mesma?
Veja mais em Zé da Ladeira – uma história de futebol. – Jeito de ver.
Palavras de 2023 – o ano que passou! ‣ Jeito de ver
Definição. Quiprocuó : engano, erro que consiste em tomar uma coisa por outra.
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