
Enquanto a música tocava
Dentre as poucas coisas que consigo me lembrar, estão ainda os cabelos negros, dançando ao som da música, e eu torcia para que a música jamais acabasse.
Era como se o sonho fosse real e estivesse lá, ao alcance das mãos.
Queria chamá-la para dançar, mas… era eu quem estava cantando e tocando, enquanto ela, sozinha, acompanhava a melodia com os mais belos gestos.
O mundo não existia ao redor; esquecia-se a praça, a estrela, o céu. Havia apenas o encanto — a música nunca fora tão bela.
Os lábios sorriam como se a eternidade tivesse sido alcançada, e, por um momento, também acreditava que algo deveria ser eterno; por isso, seguia os passos dela.
Cada passo, cada movimento das mãos, como se eu também estivesse naquele mesmo lugar, fora do palco.
E, enquanto a música andava, tive o tempo inteiro em minhas mãos; pude brincar, contar histórias e acreditar que ele estaria sempre naquele lugar, aconchegado e também feliz, pois nem sempre coisas assim acontecem no tempo.

Tive o tempo em minhas mãos
Era uma vez…
E o tempo parecia dormir tranquilamente enquanto planejava o fim do show…
Parada, em frente ao palco, aqueles olhinhos verdes passaram a esperar, agora, o fim da música, que insistia em não findar.
E, ao fim daquele show, o tempo acordou.
Subitamente, na pressa de recuperar o tempo perdido, levou tudo o que havia pela frente: o amor, o encanto, a música, a inspiração.
Restou apenas um cantor, sem música.
Um poeta, sem inspiração, sem histórias para contar.
Uma memória vaga, que machuca ao ver, na distância, o tempo carregando, nas mesmas mãos, aquela que dava sentido à festa…
Que balançava os cabelos negros — lindos cabelos negros — ao som da música…
E ali, sem ela, a música e a dança perdiam a razão…
Era o fim do baile.
Leia também O baile (Um último encontro) ‣ Jeito de ver
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Imagens geradas por IA.
Comentário (1)
Márcia| 13 de julho de 2025
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