A história – Uma questão de memória

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UMA QUESTÃO DE MEMÓRIA

 

Guardar a memória pode soar como algo comum, mas algumas histórias podem fazer essas poucas palavras ganharem contornos incríveis.

A quem pertencem as histórias?

Nascer, crescer, se apaixonar, viver parecem papéis que desempenhamos ao longo da vida, pois uma hora, deixamos tudo e quando somos lembrados – alguém contará aquilo que hoje acreditamos ser a nossa história.

E nessas andanças, uma questão de memória voltou à minha mente.

 

Não me lembro bem os nomes ( olha aí, outra questão de memória) mas isso aconteceu há algum tempo.

Ele jovem, apaixonou-se pela primeira vez por aquela moça que seria o grande amor da sua vida.

Ela, fingia não gostar, e nos anos 50, um pouco de charme ajudava a valorizar a conquista. O fato é que eles se conquistavam no dia a dia.

O que no início era uma paixão adolescente, agora eram planos para o futuro.

Trabalhar na ferrovia, construir uma casa, ter filhos, anexar à casa um bar, onde ele pudesse encontrar os amigos, brincar e ouvir músicas.

Um ambiente familiar.

E os anos foram generosos.

O carinho que compartilhavam agora receberia mais um, o primeiro filho ( para ser mais exato, a primeira filha).

E logo um segundo, terceiro, quarto…quantos, filhos.

Muitos filhos eram sinal de prosperidade ( ou quem sabe, falta de televisão, como diziam os maldosos).

E filhos crescidos, sonhos realizados – era hora de olhar os dias passarem.

Ele aposentado, ela fazendo músicas…é assim era a vida.

Mas a vida traz surpresas.

As surpresas da vida

Assim é a vida. É a história…

Sua companhia de vida adoeceu, e mesmo o amor não curou ou preservou a sua vida por mais tempo.

Tristeza para todos.

Os filhos agora viam o vazio da ausência da mãe e o peso que está fazia ao seu pai.

E se uniram…

Cresceram, casaram…construíram suas próprias casas…

Agora a rotina do pai era acordar cedo, todos os dias e se dirigir ao comércio – anexo da casa.

E os tempos, passam sem pedir licença e a tristeza se acalmou no cantinho da casa, mas as memórias dele procuravam um espaço para descansar…

E ele passou a esquecer da própria história…

Mas, não esqueceu seu amor, seus filhos e o comércio que construiu.

Todos os dias…

De manhã…

Estava lá, reconhecendo cada espaço que juntos construíram.

Até que um dia, aquilo era uma das poucas coisas que lembrava.

E é tudo questão de memória…

Sentindo a distância no pensamento do velho pai, os filhos preservavam cada centímetros do estabelecimento que ainda vivia no pensamento do seu pai.

Sentiam que nos instantes ele que ele estava ali, ele se reconhecia e ainda que inconsciente, revivia todo amor que motivou aquela construção.

Somos uma questão de memória…

Leia também: Do começo ao fim… ( Como a vida é ) ‣ Jeito de ver

Estamos também no Clube dos Autores

Crônicas do Cotidiano, por GILSON DA CRUZ CHAVES – Clube de Autores

O Que É, Afinal, a Liberdade?

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Liberdade e seus conceitos

A Liberdade

“Liberdade” é um conceito amplo e multifacetado, mas, em termos gerais, pode ser definida como:

A condição de poder agir, pensar e escolher de acordo com a própria vontade, sem coerção ou restrições arbitrárias, desde que isso não viole os direitos dos outros.

Ela pode ser vista de diferentes perspectivas:

  • Filosófica: a capacidade do ser humano de autodeterminar-se, tomar decisões conscientes e assumir a responsabilidade por elas.

  • Política: o direito de participar da vida pública, expressar opiniões, escolher governantes e viver sem opressão.

  • Jurídica: o conjunto de direitos garantidos por leis e constituições que protegem o indivíduo contra abusos.

  • Psicológica: a sensação interna de autonomia, de não estar preso a medos, traumas ou condicionamentos que limitam as escolhas.

Para nossa própria proteção, a liberdade não pode ser absoluta. Ela precisa caminhar lado a lado com os direitos e deveres.


O direito de todos

Imagine, então, se num planeta habitado por mais de 8 bilhões de pessoas, distribuídas em 193 países reconhecidos e dois observadores permanentes, um único indivíduo decidisse que é superior e deliberadamente resolvesse conquistar e escravizar os outros.

Ou, numa escala maior, se um país decidisse invadir nações de menor poderio militar para se apossar de terras e riquezas.

Do ponto de vista do conquistador, ele provavelmente definiria sua própria liberdade como o direito de “defender” seus interesses.

Mas, e quanto aos países violados? Para onde vai o direito à liberdade deles?

Em nome da “liberdade”, muitas justiças já aconteceram — e muitas injustiças também.


Entendendo cultura

Deste lado do mundo, muitos acreditam que no Oriente as pessoas não têm liberdade para protestar contra autoridades por medo de governos autoritários.

Tal conceito vende a ideia de que há mais liberdade no Ocidente: “aqui eu posso xingar o prefeito, o governador, o presidente”.

Mas que tal entender o outro lado?

“Respeitar os pais e os mais velhos é a raiz da humanidade.” — Os Analectos I.2
“Trate-os com seriedade e eles o respeitarão. Mostre que você honra seus pais e seu governante, e que se importa com o bem-estar daqueles que estão sob seus cuidados, e o povo lhe será leal.” — Os Analectos

Em muitos países da Ásia, a cultura é fortemente influenciada pelo Confucionismo, em que o respeito aos mais velhos é tradição — e isso se reflete no modo como lidam com as autoridades.

De fato, há relatos de países do Oriente Médio que reprimem manifestações de forma violenta.

Mas nem sempre é preciso olhar tão longe: manifestações legítimas também são suprimidas violentamente bem debaixo de nossos olhos.

Por exemplo, uma manifestação de estudantes em São Paulo, no Brasil, foi dissolvida com ação violenta da polícia.

Fonte: Brasil de Fato

Ou, como acontece atualmente nos Estados Unidos, manifestações a favor de imigrantes considerados ilegais — que estão sendo privados de liberdade e enviados a prisões degradantes — são combatidas com violência semelhante.

Liberdade apropriada

O conceito de liberdade tem sido frequentemente apropriado por pessoas que não prezam pela liberdade dos outros.

O uso de fake news para controlar pelo medo e pela desinformação é um dos recursos mais usados hoje. Outro é invocar a “liberdade” para atacar minorias ou desfavorecidos — algo que se repete através da história.

Mesmo na atualidade, ainda há quem advogue a superioridade de uma raça sobre as demais.

Cada vez mais, de modo velado, autoridades e grupos adotam ideologias que ecoam a filosofia nazista de superioridade racial. E quando alguém se considera superior, já sabemos aonde isso pode levar…

Liberdade para matar?

Chegamos então a um ponto crítico: a liberdade para matar.

Essa expressão pode chocar, não é verdade?

Muitos preferem suavizá-la como “direito à defesa”. Mas é importante lembrar: as armas foram criadas para matar, para dominar, intimidar — a defesa é apenas uma consequência.

Quando um país, atendendo ao lobby da indústria armamentista, aprova a venda de armas como itens triviais de consumo, o que fica subentendido?

Nos Estados Unidos, cerca de 120 pessoas são mortas diariamente por armas de fogo — quase 48 mil por ano.

Em tempos de ódio e polarização alimentada por fake news, a tendência é que esse número aumente.

No Brasil, pessoas foram assassinadas por estarem celebrando a vitória de um presidente eleito pela maioria.

Em outros casos, pessoas que defendem o direito de menosprezar ou excluir outras acabam sendo traídas por sua própria intolerância.

Já em outros casos, pessoas inocentes são assassinadas por supostos defensores da liberdade.

Exemplos reais

A menina Luana Rafaela, de 12 anos, morreu após ser baleada durante uma comemoração pela vitória de Lula à Presidência, em Belo Horizonte.

Ela foi uma das vítimas de Ruan Nilton da Luz, apoiador de Jair Bolsonaro, que também matou o advogado Pedro Henrique Dias, de 28 anos, e feriu outras três pessoas.

O crime, ocorrido no bairro Nova Cintra, é investigado como duplo homicídio com motivação política.

Fonte: O Globo

Na Bahia, um mestre de Capoeira foi assassinado por alguém que também dizia valorizar a Liberdade.

Fonte: Carta Capital

Recentemente, o assassinato de um influente extremista de direita repercutiu no mundo: ele foi morto por um de seus próprios seguidores.

O editorial da Gazeta do Povo lamenta o assassinato de Charlie Kirk, ativista conservador morto durante uma palestra nos EUA, e alerta para os perigos da violência política alimentada pela desumanização do adversário.

Ele defendia a execução pública e foi morto à vista de centenas de pessoas!

Fonte: Gazeta do Povo

Conclusão

Costumo dizer que alimentar o ódio é regar a semente da própria destruição.

Sociedades que usam a liberdade como escudo para normalizar discursos de ódio e facilitam o acesso a instrumentos de violência, sejam eles quais forem, estão armando as próprias forças que um dia poderão devorá-las.

Liberdade, como qualquer outro bem, deve ser bem usada — de modo civilizado e inteligente.

O ataque a minorias pode ser caracterizado como um abuso do direito à liberdade, pois o objetivo dela é a convivência.

Não haverá consenso enquanto não houver respeito mútuo.

Quando o diálogo civilizado perder o significado, surgirão os gritos de raiva. Quando os gritos perderem a força… a violência será o provável resultado.

A liberdade absoluta será sempre um conceito tolo e ilusório.

Leia também a reflexão: Presos ( Onde está a tua liberdade?) ‣ Jeito de ver

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© Gilson da Cruz Chaves – Jeito de Ver Reprodução permitida com créditos ao autor e ao site.