ENTREVISTA
O senhor Adalberto de Freitas é um senhor de características tímidas, de poucas palavras e riso fácil, uma pessoa de alma inquieta. Bem conhecido por seu apelido “Bugaiau”, tem seu nome intimamente ligado à história da Comunicação no município de Iaçu, pequena cidade no interior da Bahia.
Incentivador da arte, colecionador de histórias, criador da Rádio Rio Paraguaçu e idealizador do museu na cidade em que vive.
O site Jeito de ver teve o prazer de realizar a seguinte entrevista:
Jeito de ver. – Adalberto de Freitas Guimarães por ele mesmo.
Adalberto de Freitas. – “Sou Iaçuense, iniciei a minha carreira profissional como eletricista, Pai, avô e marido de uma incrível mulher, Rosângela Aragão, artista e amante da arte.
Sempre me interessei pela comunicação, as ideais saíram do papel a partir de 1984, com a criação do Som da Cidade”.
Jeito de Ver. – Poderia nos contar um pouco sobre o início? Por exemplo, quem foram os primeiros locutores? Qual a programação naquele início?
Adalberto de Freitas. – “Em 1984, lá início, o Som da cidade tinha três locutores. Eu, Ronaldo Ramos e meu filho Fábio. A programação tinha início às oito da manhã e se estendia até as onze horas, no primeiro turno.
À tarde, a programação tinha início a partir das 17 indo até as 19 horas.
Consistia de Músicas variadas, nacionais, regionais – dávamos também espaço para que músicos da terra divulgassem seus trabalhos. Era um prazer! Às vezes, também noticiávamos fatos urgentes e extras”.
Jeito de Ver. Como surgiu o som da cidade?
Adalberto de Freitas. “O som da Cidade surgiu por iniciativa própria. O nome original seria Serviço de Som – Som da Cidade.
Surgiu da necessidade, de uma grande carência de comunicação em nossa cidade. Daí nasceu a ideia de buscar patrocínio para que o serviço de som da cidade permanecesse em funcionamento. Deste modo, o som da cidade continuaria a levar informação ao povo carente.
O povo teria em sua cidade um veículo informativo”.
Jeito de ver. – Por quanto tempo o Som da Cidade esteve em atividade?
Adalberto de Freitas. – “Olha, o Som foi implantado em 20 de Dezembro de 1984 e teve suas atividades encerradas em 31 de Dezembro de 2005”.
Jeito de ver. – Gostaria de destacar o seu incentivo a arte.
No ano de 1991, Eu e quatro amigos ( Dilson, Valdomir, Pedrinho e Juarez) tentávamos gravar uma demo para a Banda Acordes, banda que se perdeu no tempo, como tantas outras. Lembro-me bem do estúdio gentilmente cedido.
Adalberto de Freitas. – “Como sempre atendia a outros grupos e pessoas, não iria me furtar em ajudar aos amigos da Banda Acordes. Ainda lembro”.
Jeito de Ver. – Realmente, era difícil esquecer de como a gente tocava mal, mal pra caramba!
Adalberto de Freitas. – ( Risos )
Jeito de ver. – Com o fim do Som da Cidade, mais uma vez, o senhor se inovou criando agora a rádio Rio Paraguaçu FM.
Como é que foi esse novo projeto?
Adalberto de Freitas. – “Bem, foi criada uma associação denominada Associação Comunitária Ação e Cidadania em 30 de Junho de 1998. Os primeiros locutores neste novo desafio seria o experiente Ronaldo Ramos, meus filhos Fábio e Rafael Guimarães.
A programação consistia em divulgações, entrevistas, ações culturais, religiosas e esportivas.
O patrocínio contava com a participação do comércio e apoio do Poder Público, havendo uma expansão na programação e variação de conteúdo que se entendia das seis da manhã até as 21 horas.
Por exemplo, aos sãbados, trazíamos uma programação especial, dedicada a uma parte muitas vezes negligenciada pelas rádios tradicionais, os idosos. O programa “Canções da Velha Guarda” que trazia os grandes cantores da Era do Rádio e era muito elogiado. Aos Domingos ,às seis, um pouco de música italiana e logo depois, a Jovem Guarda – num programa pra cima.
Procurávamos atender todos os gostos”.
Jeito de Ver. – De fato, costumava escutar com meu Pai o programa dos sábados e, como apaixonado pela Jovem Guarda, a programação das manhãs de domingo.
Por quanto tempo a rádio vem exercendo suas atividades?
Adalberto de Freitas. – “De 14 de Agosto de 2001 até hoje” (Janeiro, 2023 – Mês da entrevista).
Jeito de Ver.: Infelizmente, a cultura e arte não são tratados como prioridades em municípios pequenos.
Como se dá a manutenção e patrocínio da Rádio Rio Paraguaçu FM?
Adalberto de Freitas. – “Atualmente, infelizmente, estamos sem patrocínio…”
(Um silêncio!)
Jeito de ver.- Observando nas dependências da Sede da Rádio Rio Paraguaçu, vemos já em andamento o Museu da Cultura em Iaçu. Como surgiu a ideia? Qual o combustível dessa paixão pela arte, pela cultura?
Adalberto de Freitas. – “A ideia surgiu mesmo antes da implantação da rádio. Apaixonado pela cultura e preservação memória de um povo. Nasceu assim a paixão por também criar um museu aqui em Iaçu”.
Jeito de ver. – É realmente, um belo museu. Já temos uma matéria a respeito.
E aí, temos novos projetos para o futuro?
Adalberto de Freitas. – “Sim, muitos projetos. O principal é o lançamento de um livro, o tema provisório “As histórias de Bugá”.
Neste livro, trago passagens biográficas, trago mais informações a respeito do Som da Cidade e da Rádio Rio Paraguaçu, os desafios, as lutas, as dificuldades para manter o projeto – muitas vezes nadando contra todas as correntes”.
Jeito de ver. “Dias de luta” define bem a biografia do Sr. Adalberto de Freitas, esse homem que tem seu nome intimamente ligado a comunicação no município.
A ideia de trazer um serviço de informação para a cidade, significaria a inclusão daqueles que moravam nas partes mais distantes.
A divulgação de artistas locais, a transmissão das sessões da Câmara Municipal mostrava o nível político do município, lá naquela época.
Notícias, músicas e acima de tudo, cultura.
O que poderia ser feito aqui em Iaçu para estimular o interesse de pessoas pela história, pela arte – visto que não é comum eventos que valorizem comunicadores, cantores, essa infinidade de artistas locais?
Festivais de arte? Pequenos eventos mensais com artistas locais?
Adalberto de Freitas. – “Tudo que venha ajudar a juventude e a todos no município, será bem vindo“.
Jeito de ver. – Realmente, tudo que possa trazer à juventude mais arte, seja a poesia, seja a música, sejam as danças, atividades esportivas – enfim, nos muitos meios de expressão.
A Rádio e Museu Rio Paraguaçu FM têm sido exemplos de perseverança de um homem, exemplo de o quanto a cultura luta para se manter .
A Rádio Rio Paraguaçu segue a sua luta sem patrocínios.
Acreditamos numa saída. E você já sabe qual… entrar em contato com a Rádio, pode ser o primeiro passo.
Aguardamos, o lançamento do livro e mais histórias do nosso amigo, Sr. Adalberto de Freitas, o sr. Bugaiau.
O site Jeitodever.com agradece.
Veja também:Um dia no museu Paraguaçu (Informativo) ‣ Jeito de ver
Comentário (2)
Paulo Santana Fernandes Junior| 16 de março de 2023
Pude, inclusive refutar, que estive essa semana no museu Paraguaçu! E segundo, nas palavras do receptivo e acolhedor, Adalberto, que me recebeu de prontidão: “O acervo do museu municipal e histórico não tem apoio de nem um órgão, seja ele, estadual, muito menos municipal”! Mas esperar o que de uma cidade que culturalmente não são investimentos suficientes para a cultura! Não sou da cidade, confesso, mas vejo, infelizmente, jovens, na sua grande maioria, vivendo uma vida ociosa! E vem a seguinte questão, ociosidade somada com uma idade jovem e morando na periferia, como moro, é oportunidade de agressão verbal e física por parte “das autoridades de segurança competentes”!
Enfim, foi um comentário e desabafo de um jovem que mora, vive e convive com essa fatídica realidade de uma cidade que Politicagem tem, mas culturalmente e desevolvimente falando, parou no tempo! Ótima entrevista meu amigo Gilson.👏🏿👏🏿👏🏿
Márcia Chaves| 4 de julho de 2023
Parabéns JEITO DE VER, excelente entrevista!
Sr. Bugaiau,exemplo de força e resistência! Nosso SOM DA CIDADE Patrimônio histórico de Iaçu. Eterno nas nossas memórias.