O cantor sincero que ninguém ouviu!

Uma ficção sobre a indústria da música.

Imagem de Pexels por Pixabay

Sabe aquele tipo de cantor que tem tudo pra dar errado? Carlos Alvinegro era um desse tipo.

Apesar da bela voz, da barba bem feita e do incrível talento, ele tinha um probema: Era sincero demais!

Não, não. Sinceridade  não é aquilo que alguns confundem com grosseria. É a qualidade de dizer a verdade de forma honesta e sem falsidade, expressando os próprios sentimentos e pensamentos genuínos.

Ele sabia que ao longo do tempo suas canções vinham caindo de qualidade, mas o público continuava fiel – não importava as letras. Ele tinha o apoio total da gravadora e sobreviveu às mudanças da era digital, passou a investir também no Sertanejo.

Bem, são tantos caminhos do Sertanejo que não sei exatamente em qual ele entrou.

Os empresários adoraram e a partir daí houve uma transformação brutal no estilo e nas letras do Carlos. Passou a falar de bois, tratores, soja, do romantismo que era ser empresário e comprar um monte de amores…

Mas, Carlos odiava tudo aquilo.

Não se identificava com a música engessada, as letras hipócritas e não raro iniciava os shows com palavras de carinho ao público, que podiam ser facilmente mal interpretadas:

-“Essa canção eu não fiz e não estendo o que a letra quer dizer, mas se vocês gostam… deve significar alguma coisa! Vocês são demais!!!”

A voz suave e o jeito amável de dizer tais palavras cativavam o público.

Assim como era comum no mundo musical, Carlos não compunha as suas próprias músicas. Ele apenas interpretava aquilo que os empresários mandavam cantar. Letras rasas para um grande público raso!

E foi assim por muitos anos, até que ele cansou. Brigou com todo mundo! Ele queria fazer as suas próprias músicas, voltar ao seu estilo!

Mas, os empresários não gostaram da ideia. Explicaram: “Se você quiser sair… a gente cria outro! O povo nem vai perceber!”

Carlos, chateado, sentindo-se usado pelo sistema, decidiu: “Vou estragar tudo!”

E, num estádio lotado, de pessoas da cidade, vestindo roupas de couro sintético, com celulares apontando para o palco, mecanicamente como das outras vezes, em meio às luzes coloridas e escuras do palco ele cantou:

Ouça a letra:

E o povo chorava, aplaudia, pedia bis.

Não escutaram nada. O público já estava estragado!

E foi o último show do desiludido Carlos Alvinegro.

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Melodia com o auxílio do Udio.IA


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Comentário (2)

  • Gilmar Chaves| 24 de julho de 2024

    A pior de todas as emoções, é emocionar-se mesmo com aquilo que não se entende. É assim que muitos, encontram-se neste mundo musical. Aprendem a ouvir ritmos e não se interessam pela letra de verdade. A música pode não ter verdade, mas tem ritmo e, pra uma plateia pobre de entendimento, qualquer coisa que vier vale, ainda que bons músicos se esforcem para se fazer compreender. E assim continuam valendo cantores e músicas deploráveis. Viva à ignorância dos empresários! O que importa nesse sentido, é apenas o que vão ganhar e não o enriquecimento de uma plateia que poderia aprender a crescer numa verdadeira melodia, vindo palavras emocionantes, criadas de um coração sonhador.

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