Eu não sabia que seria aquela a última vez que iria te ver
Chovia
O baile que começaria às oito, achava que provavelmente seria adiado
pois a eletricidade em nossa pequena cidade não tem um bom relacionamento com qualquer tipo de chuva
A escuridão queria um pouco mais de espaço
Imaginei…
Ela não deve vir…
Os sapatos e o vestido brancos
E o laço vermelho nos cabelos…
Não queria imaginar os teus olhos
A chuva ficava ainda mais forte
E ainda assim o baile começava
E a banda começava a tocar aquela música
Lá dentro os pares, já não sentiam medo
Dançavam
Deslizavam pelo salão
E eu te imaginava …
Confesso, não estava desapontado
Nem todos tinham carro naquele tempo…
E quanto a mim… nem bicicleta!
Mas, não queria que a chuva fria te molhasse
E a música continuava
E na chuva resolvi dançar sozinho, na chuva
Girava…
Escorregava na rua lisa
De olhos fechados
Aproveitava a festa sozinho
Lá mesmo, lá fora, na chuva
E antes mesmo de a música acabar
abria os meus olhos,
E lá estavas tu…
Me olhando
Sorrindo
De rostinho molhado
De vestido molhado
De sapatinhos molhados…
E de repente, te estenderia a minha mão
E vinhas…
E lá, sob a chuva
Mas, sobre as nuvens
dançávamos… até o fim
da música, da noite
No que seria a última vez.
Gilson Cruz
Veja mais em: O tempo ( Contador de histórias) – Jeito de ver.
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