
Imagem de Sarah Richter por Pixabay
Silocimol: o imã de R$ 450 que prometia curar até a alma
(e por que você não precisa dele)
Eu confesso: por um segundo, quase acreditei.
Uma conhecida me enviou um áudio de quatro minutos — daqueles cheios de entusiasmo e nenhuma pausa para respirar — dizendo que o tal “Silocimol” era o milagre científico dos últimos cinquenta anos.
Segundo ela, o negócio regenerava cartilagem, revertia osteoporose, curava dor articular e ainda “doava elétrons” para as células. Tudo isso por módicos R$ 390 a R$ 520, dependendo do kit e da coragem do comprador.
Pedi estudos.
A resposta veio com a delicadeza de um tapa:
— “Ah, você é do contra… minha tia melhorou 100% da artrose.”
Insisti. Mandaram um PDF de 2014. Uma suposta experiência com ratos.
Observei que os testes não eram revisados por terceiros, independentes.
Foi aí que comecei a pesquisar — de verdade — e descobri que, entre tantas promessas mágicas que rondam o Brasil, o Silocimol segue firme como um dos maiores casos de marketing pseudocientífico ainda em circulação em 2025.
O que é o Silocimol, afinal?
Não é suplemento.
Não é silício orgânico.
Não é tecnologia avançada.
É um aparelhinho plástico com dois ímãs.
Você encaixa na garrafa de 20 litros ou na jarra da cozinha.
A promessa é que a água passa por ali, os “clusters” se quebram, ela fica “hexagonal”, mais leve, mais pura, mais poderosa… e, como se fosse pouco, ainda cura tudo.
Pena que não funciona.
A “ciência” usada para justificar isso
O único estudo citado é de Geraldo Balieiro (2014–2015), usando água magnetizada em ratos que, supostamente, ganharam densidade óssea.
Detalhes que convenientemente somem dos panfletos:
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O estudo foi, provavelmente, financiado pela própria empresa Timol (poucos dados disponíveis)
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Nunca foi replicado em humanos.
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Nunca publicado em revista científica séria, só apresentado em congressos.
E quando olhamos para o que realmente importa — revisões sistemáticas recentes (2023–2025) sobre água magnetizada — o resultado é um silêncio absoluto:
zero evidência confiável para qualquer benefício real.
E mais: a própria física já resolveu essa questão há décadas. Campos magnéticos fracos, como os desses ímãs domésticos, não têm força para alterar a água de modo permanente. Isso é consenso desde os anos 90.
Silício orgânico é outra coisa
A confusão intencional começa aqui.
Vendedores misturam tudo, jurando que o Silocimol “gera silício orgânico” na água. Não gera. É mentira.
O silício orgânico de verdade — aquele que aparece em Exsynutriment, Nutricolin, BioSil, SiliciuMax — tem alguma evidência modesta para:
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melhora discreta da pele, cabelo e unhas;
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pequeno impacto em marcadores ósseos.
Mas nada miraculoso. E, para a maioria das pessoas, a ingestão normal já basta: água mineral, aveia, banana, cerveja.
Suplementar só faz sentido em casos específicos e com orientação.
E o que diz a lei?
O Sylocimol vive em seu habitat natural: a zona cinzenta.
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Não é alimento → escapa das regras de suplementos.
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Não é dispositivo médico → escapa da Anvisa.
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Mas promete cura → cai como uma luva na definição de propaganda enganosa (art. 37, CDC).
Histórico simpático com a Anvisa:
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2014 – Suspensão total da fabricação e venda.
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2016 – Proibição de propaganda por alegações terapêuticas falsas.
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2022 – Nova proibição de publicidade, incluindo o “mineralizador” Top H+.
A jogada agora é dizer que “não cura nada”, que “só melhora a qualidade da água”. E deixam para os revendedores a parte suja: prometer cura nos grupos de WhatsApp.
É aí que mora o crime.
O negócio por trás do milagre
Estrutura clássica de marketing multinível:
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custo real de produção: R$ 30–50;
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revenda por R$ 390–520;
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comissão gorda de 30–50% + bônus por recrutamento.
Resultado?
Quem vende muito ganha muito.
Quem compra… fica com um ímã caro decorando o galão.
Conclusão honesta
Você não precisa do Silocimol — nem da versão turbinada, nem da versão “premium”.
Se quiser silício orgânico real, compre de farmácia de manipulação, por R$ 80–140, e com orientação profissional.
Se tem osteoporose ou artrose, o caminho continua sendo o que funciona:
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cálcio
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vitamina D
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bifosfonatos/denosumabe
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exercício físico
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fisioterapia
E, claro: denuncie sempre que alguém prometer cura milagrosa.
Prints → Anvisa ou consumidor.gov.br.
Cada denúncia cria um tropeço no caminho deles.
“-Eu quase paguei R$ 450 num imã de geladeira fantasiado de laboratório” disse uma cliente, que preferiu não se identificar.
Você não precisa repetir a cena.
E para quem continuar dizendo que “a ciência esconde o silício” — envie este texto.
As tias do WhatsApp… que Deus as ajude (nota de fé). Elas vão precisar.
Antes de ceder ao impulso ou desespero de comprar qualquer coisa peça tempo para pesquisar. Muitos espertos ficam ricos às custas de pessoas mal informadas.
Pesquise sempre.
Lembre a decisão de comprar é sua… mas, não espere milagres!
Leia também: Depressão – como ajudar? (Informativo) ‣ Jeito de ver
Matérias adicionais:
Propaganda enganosa de cura para idosa – Timol Produtos Magnéticos – Reclame Aqui
Crônicas do Cotidiano, por GILSON DA CRUZ CHAVES – Clube de Autores
