Eu sou da América do Sul, eu sei vocês não vão saber!
Sou do mundo, sou Minas Gerais…
-“Para Lennon e McCartney”
A obra de Fernando Brant, Márcio Borges e Lô Borges, integrantes do Clube da Esquina, mostra que, mesmo sob influência de seus ídolos, o grupo possuía contribuições valiosas para o cenário musical.
Eles apresentaram uma mistura inovadora de ritmos que se equiparava à música do circuito anglo-saxão.
Isso fica sutilmente evidente na canção, que por meio de sua mensagem e diálogo, propõe uma troca cultural dos músicos com seus ídolos, refletindo a possível frustração do grupo em reconhecer seu potencial musical, limitado apenas pela barreira geográfica em comparação ao resto do mundo.
De fato, o Clube da Esquina é reconhecido como um dos movimentos musicais mais ricos e belos da história.
Início do Movimento
Há cerca de 60 anos, nasceu em Minas Gerais o movimento conhecido como Clube da Esquina.
Essa expressão artística e cultural emergiu da amizade entre Milton Nascimento e os irmãos Márcio Borges e Lô Borges.
O primeiro encontro entre eles foi mágico: Lô Borges, com apenas dez anos, ouviu sons vindos dos andares de baixo e se deparou com Milton tocando uma belíssima canção.
Assim começou uma amizade que marcaria a música brasileira.
Analisando o contexto cultural e político
Durante a década de 1970, o Brasil vivia sob um regime militar autoritário.
A censura era forte, mas houve resistência artística e cultural.
Mesmo diante da intensa repressão ao talento e à liberdade de expressão, a letra de “Clube da Esquina II” faz um apelo à liberdade, insistindo que, apesar das adversidades, não se deve desistir de um sonho, pois “sonhos não envelhecem!”
O Clube da Esquina, com suas letras poéticas e melodias envolventes, tornou-se um símbolo de liberdade e criatividade em meio à repressão.
O Clube da Esquina é um termo usado para se referir a um grupo de músicos, compositores e letristas que surgiu na década de 1960 em Belo Horizonte.
O movimento teve figuras proeminentes como Milton Nascimento, Toninho Horta, Wagner Tiso, Lô Borges, Beto Guedes e Márcio Borges.
As influências do Clube da Esquina são vastas.
Milton Nascimento incorporou elementos da música afro e latino-americana. Lô Borges e Beto Guedes reinventaram os Beatles e o rock progressivo, enquanto Toninho Horta mesclou características do jazz com a Bossa Nova.
Essas influências são evidentes em todos os aspectos do movimento, abrangendo desde a composição e arranjos musicais até as letras, processos de gravação em estúdio e as performances ao vivo.
O álbum “Clube da Esquina” (lançado no início dos anos 70) é um dos maiores clássicos da música brasileira. Canções como “Trem Azul,” “Cais,” “Nuvem Cigana” e “Clube da Esquina No. 2” marcaram época e emocionaram gerações.
A melodia envolvente e as letras profundas abordavam temas como amor, política e justiça social.
Os primeiros discos de Milton Nascimento, embora não sejam estritamente de Bossa Nova, apresentam uma sonoridade muito próxima desse estilo, com arranjos orquestrados e o formato de canção “voz e violão.”
Na medida em que Milton agregava cada vez mais pessoas na produção de seus discos, a sonoridade foi se diferenciando.
O disco “Clube da Esquina” (1972) é tido como o marco inicial do movimento, com arranjos que expandem o horizonte das músicas para uma sonoridade próxima da música erudita e jazzística.
Discografia
Embora o Clube da Esquina não tenha sido uma banda formal, vários discos são considerados parte de seu legado devido à unidade sonora que apresentavam:
- Clube da Esquina (1972): Com influência das odisseias dos mineiros, o disco queria mudar o mundo, inseminado por jovens com explosão de inventividade musical.
- Clube da Esquina II (1978): Neste disco, Milton Nascimento e amigos organizaram uma produção musicalmente rica, com produção
de Ronaldo Bastos.
O impacto político do Clube da Esquina foi significativo, embora o movimento não tenha sido explicitamente político.
Durante a década de 1970, a música popular era uma das formas de resistência e expressão da sociedade.
Artistas como Milton Nascimento e Lô Borges usaram sua música para transmitir mensagens de esperança, amor e crítica social.
Canções como “Cais” e “Trem Azul” abordavam temas universais, mas também carregavam uma mensagem implícita de resistência contra o regime.
A diversidade musical do movimento refletia a diversidade cultural e étnica do Brasil, promovendo a valorização das raízes brasileiras.
O Clube da Esquina influenciou muitos artistas da Música Popular Brasileira.
Seu nome foi inspirado no cruzamento das ruas Divinópolis e Paraisópolis, localizado no bairro Santa Tereza, em Belo Horizonte.
Mesmo após décadas, sua sonoridade e poesia continuam a encantar e inspirar novas gerações.
O Clube da Esquina foi além das esquinas de Belo Horizonte e se estabeleceu como um ícone na música brasileira, exaltando a diversidade, a amizade e a inovação.
Não só deixou sua marca na música do Brasil, mas também atuou como um delicado instrumento de resistência e esperança em épocas turbulentas, criando um legado que continua a ecoar nos dias de hoje.
Leia também: A música como produto e arte – uma história! ‣ Jeito de ver
Confira também A história de Clube da Esquina (uol.com.br)
Explore nossa seleção musical que apresenta canções icônicas dos artistas do Clube da Esquina e de outros que se inspiraram nesse movimento singular.