Gilson Cruz
Você lembra das frases seguintes nesses clássicos nacionais ?
“Meu coração, não sei por quê, bate feliz...” – Carinhoso, Braguinha (Letra) e Pixinguinha (Melodia)
“Eu pensei que todo mundo fosse filho de…” – Boas Festas, Assis Valente
“Agora eu era o herói e o meu cavalo…” – Chico Buarque( letra) Sivuca (Melodia)
“Veja… e não diga que a canção está perdida. Tenha…” – Tente Outra Vez, Raul Seixas/Paulo Coelho/Marcelo Motta
O que elas têm em comum? Todas foram compostas antes da década de 1980.
“Carinhoso” teve sua primeira gravação instrumental em 1928 e a versão cantada foi gravada pela primeira vez em 1937 por Orlando Silva. – Carinhoso – Pixinguinha
“Boas Festas“, de Assis Valente, retrata a injustiça social do ponto de vista de uma inocente criança e foi composta em 1932. – Posts | Discografia Brasileira
A melodia de “João e Maria“, criada por Sivuca na década de 1940, ganhou letra de Chico Buarque em 1976, narrando uma história de amor juvenil que não teve final feliz. – João e Maria (canção) – Wikipédia, a enciclopédia livre (wikipedia.org)
A mensagem otimista de “Tente Outra Vez”, composta por Raul Seixas, Paulo Coelho e Marcelo Motta, surgiu em 1975.
Essas músicas marcaram época, mas hoje vemos um cenário diferente na música popular brasileira.
Atualmente, muitas canções abordam temas superficiais, separações e amores desfeitos com vozes padronizadas ( e às vezes, vozes bem desagradáveis), dificultando a diferenciação entre os artistas.
A falta de inovação, de qualidade e o jabá
Opiniões variadas refletem a preocupação com a qualidade atual da música brasileira. Victor, da dupla Victor e Léo, criticou a pornografia e a sensualidade excessiva nas letras das músicas sertanejas atuais, considerando-as impróprias para crianças.
Estilos como funk, axé e pagode também enfrentam um período desafiador, carecendo de inovação e qualidade. Muitas músicas atuais não refletem uma visão crítica da sociedade, desvalorizando a mulher, incentivando a violência e comercializando atitudes e comportamentos.
Onde estão os novos poetas, escritores, compositores e críticos que movimentavam e motivavam uma geração inteira?
Por décadas, as gravadoras usavam o “jabá” – pagamento para que certas músicas tocassem nas rádios – para promover determinados artistas. Essa prática, deplorável, ainda existe, mas em formas ainda mais obscuras.
Hoje, existe um “jabá 2.0”, onde artistas sertanejos boicotam cantores de outros estilos, como revelou uma ex-empresária da Anitta, expondo o poder do dinheiro do agro na indústria musical. – Ex-empresária de Anitta viraliza ao expor poder do sertanejo e influência do agro na música | Diversão | O Dia (ig.com.br)
Essa influência do agronegócio também se reflete nos empresários de muitos cantores sertanejos universitários, criando uma aliança lucrativa. – Agro, sertanejo e direita: uma aliança antiga e lucrativa (intercept.com.br).
A música de qualidade fica em segundo plano diante dessa manipulação, deixando de ser executada nas principais estações, que perdem sua essência e são substituídas cada vez mais por plataformas de streaming.
Apesar da corrente e da falta de divulgação massiva, boas músicas e excelentes músicos existem e resistem!
Novos e antigos cantores ainda compõem belas músicas, dê uma chance a si mesmo de usufruí-las, estão disponíveis nas mais variadas plataformas.
Leia mais em A música como produto e arte – uma história! ‣ Jeito de ver
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Comentário (7)
NILMAR Chaves| 26 de abril de 2023
Infelizmente a decadência musical foi tanta que, atualmente, quanto mais degradante ou pornográfica for a música, mais sucesso ela faz. Alguns colegas costumam chamar certas músicas de “pornografia para cegos”. Temos ainda alguns nomes que poderiam fazer algum bem para a música brasileira: Tuca Oliveira, Victor Cupertino, Nós de Carvalho e ainda temos remanescentes da boa época da música. Mas infelizmente o dinheiro e falta de conhecimento/cultura fala mais alto. Só nos resta suspirar enquanto agradecemos por poder escutar as músicas de qualidade que ficaram gravadas
Gilson Cruz| 28 de abril de 2023
Obrigado pelo excelente comentário, Nilmar.
CLEBSON QUEIROZ DA SILVA| 26 de abril de 2023
Concordo em gênero e grau com toda a declaração citada acima. Sempre achei estranho esse “fenômeno” que o sertanejo universitário vem crescendo e dominando o mercado. O povo infelizmente não tem um gosto musical apurado e são manipulados pela mídia oportunista.
Gilson Cruz| 28 de abril de 2023
Muito obrigado por participar desta matéria, Clebson.
Aline| 27 de abril de 2023
Hoje a música se viraliza com um bom ritmo e dancinhas no tiktok
Adenilson Jr.| 24 de março de 2024
A decadência humana, chegou inclusive nas letras das canções, o saudoso sociólogo polonês chamado Zygmunt Bauman, em seu livro – As 44 cartas do mundo pós moderno- ele escreve: “quer conhecer a geração em que você vive? Observe o que estão cantando”, é inegável a influência da cultura, nas letras das canções produzidas, e também a letra das canções produzidas na sociedade, uma via de mão dupla, onde evidencia as fragilidades do atual caldo social.
Gilson Cruz| 24 de março de 2024
Muito obrigado, Junior. A sua participação engrandece o debate cultural e a sua percepção aguçada enobrece o nosso blog com seus comentários perfeitos.